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19 março 2025

Preconceito racial nas avaliações

A coluna de Fernando Reinach (15 de março, O preconceito racial em avaliações, Estado de São Paulo) traz uma pesquisa interessante sobre preconceito racial e o processo avaliativo. Em uma empresa que faz a intermediação entre clientes e pessoas que prestam serviços domésticos, a avaliação dos prestadores era feita com a tradicional escala de notas de 1 a 5. No entanto, a análise da empresa revelou que os clientes levavam em consideração, de maneira sutil e inconsciente, a cor do prestador. Assim, mesmo que a qualidade do serviço fosse boa, as estrelas concedidas não faziam jus aos profissionais negros. Os dados mostraram que os prestadores brancos recebiam nota máxima em 90% a 95% das vezes, enquanto os negros atingiam cinco estrelas em 85% a 90% dos casos.




Ao mudar a escala para um sistema binário — com um polegar para cima (satisfeito) e um polegar para baixo (insatisfeito) —, a diferença na avaliação desapareceu. Esse dado é interessante, pois sugere uma forma de reduzir o impacto do preconceito.

Mas fico me perguntando: se essa solução fosse realmente eficaz e amplamente aceita, mecanismos de avaliação como os do Uber, do Booking e de outras empresas já não deveriam adotá-la? Qual seria a razão para não fazê-lo? Será que o tipo de produto ou serviço avaliado interfere na eficácia do sistema? Vale lembrar que a Netflix, no passado, usava um sistema de estrelas, depois mudou para um modelo binário e, atualmente, adota uma escala com três opções. Será que há algum fator que ainda nos escapa?

O uso de IA pelo Blog

A lição do Quartz, da postagem anterior, mostra os riscos do uso da IA. O Contabilidade Financeira tem utilizado ferramentas de inteligência artificial, especialmente em dois casos: a tradução de textos de outras línguas, uma rápida revisão ortográfica e gramatical (caso dessa postagem) e a eventual criação de figuras horríveis para ilustrar as postagens (idem). Nós usamos o ChatGPT e outras ferramentas de tradução, inclusive aquelas acopladas aos navegadores (Firefox e Vivaldi). Há uma revisão e uma tentativa de evitar textos inadequados, mas, eventualmente, alguns erros passam. Também pedimos para a IA fazer resumos de sites cujo acesso é negado ao usuário humano, mas apenas em casos excepcionais.

Em resumo, o Contabilidade Financeira ainda é um blog imperfeito, que comete muitos erros, mas é feito por seres humanos.

O uso da IA pelo Quartz

A G/O Media é uma empresa do setor de comunicação, conhecida pelo site de negócios Quartz. Durante anos, esse blog acompanhou o site de notícias por meio do agregador que utilizamos (inicialmente o Reader e, mais recentemente, o Feedly). O Quartz publicava notícias interessantes e mantinha um grande volume de postagens.

Com o tempo, no entanto, percebemos que as notícias do Quartz deixaram de despertar interesse e não eram mais relevantes para postagens no blog. Além disso, o número de notícias diárias era enorme e, após uma rápida análise do custo-benefício de continuar seguindo o site, decidimos deixá-lo de lado.


Agora, porém, me deparo com uma notícia interessante sobre o Quartz — e ela ressalta a necessidade de termos cuidado no uso da IA para produzir conteúdo.

Recentemente, o Quartz começou a publicar notícias e artigos gerados por IA sob a autoria do Quartz Intelligence Newsroom. Inicialmente, eram apenas atualizações sobre resultados financeiros de empresas, mas agora a IA passou a produzir notícias completas.

O problema é que a IA tem gerado informações imprecisas e, muitas vezes, citando conteúdos também gerados por IA. Além disso, não fica claro de onde a IA do Quartz obtém suas fontes. Segundo um texto do Futurism, o Quartz tem citado um site chamado Devdiscourse, que aparentemente é uma plataforma automatizada de notícias que gera resumos de artigos por meio de IA.

Considere um artigo publicado hoje pela IA do Quartz, intitulado "Fabricante do Ozempic, Novo Nordisk, limitará preços da insulina para encerrar um processo judicial". No topo do artigo, a "Intelligence Newsroom" cita três fontes, começando por um link para um artigo do Devdiscourse intitulado "Novo Nordisk limita preços da insulina em acordo histórico".

Assim como os artigos gerados por IA do Quartz, a publicação do Devdiscourse não tem um autor humano listado; em vez disso, é atribuída à "Devdiscourse News Desk", uma assinatura sob a qual o site publica uma quantidade impressionante de conteúdo. O artigo é curto e não indica qualquer reportagem original.

Ainda pior? Ele contém uma versão absurdamente malfeita do logotipo da farmacêutica Novo Nordisk, gerada por IA, com palavras incompreensíveis. O nome da empresa está claramente escrito errado como "NORDIISK", e abaixo dele aparece "STIAPLAME", uma palavra aparentemente inventada. (Quase todos os artigos do Devdiscourse parecem conter imagens geradas por IA igualmente distorcidas.)

Maior prejuízo acumulado da década

Eis algo curioso: qual é a empresa que tem o maior prejuízo acumulado na década? Segundo a Forbes, a resposta é a Boeing. No início do ano, a empresa anunciou um prejuízo líquido de 5,46 bilhões de dólares no quarto trimestre, indicando uma perda de 11,8 bilhões no ano. Assim, pelo sexto ano consecutivo, a empresa registra prejuízo.

E os "concorrentes" estão se saindo melhor: a Uber deve ter lucro, assim como a Carnival. Quando o parâmetro são os últimos 25 anos, a Boeing ocupa a sexta posição. Em primeiro lugar está a American International Group, que teve um prejuízo de US$ 162 bilhões em 2008 e 2009 — um valor bem superior ao acumulado da Boeing (US$ 39,4 bilhões). Em segundo lugar está a General Motors, que perdeu US$ 130 bilhões (R$ 767 bilhões) entre 2005 e 2008.

O resultado da Boeing é impressionante por três fortes motivos. Primeiro, a empresa atua em setores oligopólicos, onde é mais fácil estabelecer o preço de seus produtos. Segundo, a contabilidade de fabricantes de aviões é tão complexa que permite certa flexibilidade na gestão dos resultados. E, por fim, a empresa também é fornecedora de armas para o governo dos Estados Unidos, com contratos de fabricação vantajosos, muitas vezes baseados no custo.



As explicações para esse desempenho incluem má gestão — desde a fusão com a McDonnell Douglas, em 1997 — até os projetos fracassados de novos aviões, especialmente o 737 Max e o 787.

18 março 2025

O sentido das previsões

Esse é um tema que deveria atrair todos os contadores. Mas espera, a contabilidade não lida somente com o passado? Os mais experientes podem sorrir aqui, pois o espaço temporal da contabilidade é o passado, o presente e o futuro. Veja o caso da estimativa dos clientes que não irão pagar a empresa. Ao fechar o balanço, o contador levanta o valor da conta clientes e, baseado no passado e nos seus cabelos brancos, estima qual o percentual de clientes que não irá efetuar o pagamento. 

Mas eis o que diz Tim Harford:

Aqui está o problema com previsões: algumas estão certas, outras estão erradas, e quando finalmente descobrimos quais são quais, já é tarde demais. Isso leva ao que podemos chamar de paradoxo das previsões: o teste de uma previsão útil não é se ela se revela precisa, mas se leva a alguma ação útil antecipadamente. A precisão pode ajudar, mas também pode não ajudar. Ser avisado com antecedência não significa necessariamente estar preparado.

 

Ele cita como exemplo o furacão Ivan. Existia uma previsão de um furacão atingir uma cidade costeira dos Estados Unidos. E apareceu o furacão Ivan, que poderia provocar um grande desastre. Mas no último momento ele desviou sua rota e não aconteceu nada. A previsão deveria alertar as autoridades para um plano caso surgisse um outro furacão. As previsões mostravam que isso era um risco real. Mas não fizeram nada, até que outro furacão, o Katrina, apareceu e causou grandes danos. Esse é um exemplo de previsão que não foi útil, que não ajudou. 

Harford cita o caso do Brigham and Wome's Hospital, que não previu duas bombas em uma maratona. Mas quando isso aconteceu, o hospital tinha feito 78 grandes exercícios de emergência e estava bem preparado.

Gênero importa?

Eu gostei do início do texto: 

É desejável uma maior participação das mulheres nos órgãos de decisão das empresas? Diversos estudos destacam as diferenças de gênero na tomada de decisão, especialmente diante de riscos e padrões éticos. Note-se que, em média, as mulheres são mais versadas em risco (Jianakoplos e Bernasek, 1998; Eckel e Grossman, 20022002), mais sensíveis às considerações éticas (Gerasymenko, 2018) e mais propensas a relatar irregularidades (Brabeck, 1984 , Miethe e Rothschild, 19941994). Além disso, sua presença em cargos seniores parece melhorar o desempenho dos negócios (Adler, 2001; Carter et al., 2003 , Terjesen et al., 2016) e reduzir a má conduta financeira (Wahid, 2019; Arnaboldi et al., 2021).


e a conclusão é que

(...) os regulamentos de cotas de gênero nos conselhos de administração e políticas anti-poster interagem, influenciando a composição de gênero dos conselhos em empresas sancionadas por pertencer a cartéis. Evidências empíricas destacam que sanções e processos por cartéis são ferramentas eficazes para a reestruturação corporativa, enquanto as políticas vinculativas de gênero contribuem para uma maior paridade nos conselhos de administração. Assim, ambas as políticas complementam e promovem uma maior presença feminina nos órgãos de governo. Várias linhas abrem a partir de agora. Vamos tentar responder nos próximos trabalhos de pesquisa.

foto: aqui

Declínio do DEI nos relatórios contábeis


O gráfico mostra que o tema DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão) já não faz parte de muitos relatórios contábeis nos Estados Unidos. O governo Trump atacou fortemente a tendência, e as empresas recuaram diante da ameaça de investigação por parte da Justiça. O número de empresas que utilizaram essa linguagem caiu quase 60% em relação ao ano anterior.