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11 abril 2022

Além do débito e do crédito

Este talvez seja o retrato mais famoso da nossa área. Pintado em 1495, por Jacob de Barbari, mostra a figura de um religioso e no fundo um estudante. Esta pintura está atualmente em Nápoles, Itália, e na mesa é possível notar instrumentos matemáticos e o religioso está demonstrando o Teorema de Euclides.

O nosso personagem, um frade franciscano, ficou conhecido na sua época por ser um bom matemático. Tendo nascido em uma pequena cidade da Toscana, atual Itália, depois de ter completado sua educação, ensinou como professor particular e tornou-se professor de matemática. Foi na matemática que ele escreve algumas das suas obras mais conhecidas. Foi também graças a matemática que o nosso frade ensinou, colaborou e tornou-se amigo de Leonardo da Vinci.

Além de ter escrito sobre matemática, recentemente descobriu que o Frei também escreveu um livro de xadrez. A obra foi publicada e ainda se discute de os desenhos não seriam de autoria de da Vinci. O seu livro mais famoso foi publicado em Veneza, em 1494. Era uma obra didática, para ser adotada nas escolas, sobre matemática. Era o primeiro trabalho impresso sobre álgebra da sua época. O livro fez um grande sucesso no seu tempo.

Com dez capítulos sobre tópicos de matemática, onde os sete primeiros cobriam um sumário de aritmética da sua época. O oitavo era sobre álgebra contemporânea. O nono capítulo tópicos relevantes para o comércio, em 150 páginas. O último era sobre geometria. Mas foi o nono capítulo que tornou o livro, e seu autor, conhecido.

Usando o sistema numérico hindu-arabico, com língua usada nos negócios – não o latim, a obra não tem nenhum conteúdo original. Na verdade parte do conteúdo foi copiada. E isto tem gerado um grande debate sobre a contribuição do seu autor para a matemática e os negócios.

Mas o livro, cujo título resumido é atualmente conhecido como Summa, era o trabalho matemático mais abrangente da sua época. Profundo e claro, foi um sucesso de vendas, sendo traduzido para diversas línguas. No capítulo sobre negócios, o seu autor, Frei Luca Pacioli, faz a primeira descrição publicada de técnicas usadas por mercadores. Mesmo não tendo sido o primeiro trabalho escrito sobre estas técnicas, foi o mais influente na sua descrição. Foi talvez a primeira padronização de regras contábeis da história. De tão relevante, a obra deu a Pacioli o título de “pai da contabilidade” e muitos acreditam que ele “inventou” a contabilidade.

As partidas dobradas, de onde se origina os temos débito e crédito, teve na Summa, em Pacioli, seu grande autor. A descrição do ciclo contábil, o uso de diários e livros, a necessidade de que a soma dos débitos seja igual a soma dos créditos e o uso da particula “a” para indicar o lançamento a crédito são oriundos da Summa. O livro foi referência no ensino das partidas dobradas até o século XVI. E sua essência continua até os momentos atuais.

Só mais uma informação, antes de prosseguir. No mundo, o dia 10 de novembro é conhecido como sendo o Dia Internacional da Contabilidade. A razão da escolha da data é a seguinte: trata-se do dia da publicação do Summa, o livro que comentamos anteriormente.

Gostaria de lembrar então que o livro mais importante da nossa contabilidade é um livro de matemática. E que seu autor, foi um religioso, matemático, jogador de xadrez, conhecedor de pintura, professor e astrólogo.

A figura a seguir possuem uma relação com a nossa contabilidade, mas expandiram os nossos horizontes. A porcelana Wedgwood, fundador foi avó de Darwin, é conhecida por uma série de inovações. Oleiro, empreendedor, pioneiro no marketing, nas vendas “garantidas”, dos catálogos, da entrega grátis e muitas outras inovações, Wedgwood também foi relevante para a contabilidade por perceber que o cálculo dos custos de produção poderiam ser úteis para sua empresa. Inicialmente ele teve sucesso sem a necessidade de uma informação contábil.

Mas uma recessão fez com que surgisse a necessidade de compreender melhor seus custos para tomar decisões. Conta-se que ele sofreu um desfalque de um funcionário e por isto interessou pela contabilidade. Com ele tivemos o cálculo do custo de cada etapa de fabricação do produto, com processos de alocação. Compreendendo bem os conceitos de economia de escala e custo perdido, o oleiro mostrou para o mundo como podemos usar a informação contábil para tomada de decisão.

Acho que as duas história, de um matemático e de um oleiro, são suficientes para deixar uma clara mensagem: o conhecimento contábil esteve sempre associado a pessoas que possuíam um conhecimento de outra área de deram uma grande contribuição para nosso campo.

Mas há um ponto importante aqui: se por um lado a contabilidade desenvolveu graças as pessoas de outras áreas – caso de Pacioli e Wedgwood –, por outro lado podemos dizer que a própria contabilidade buscou, em outros campos, o conhecimento necessário para expandir seus horizontes. Esta ideia de que a contabilidade não é algo fechado, que começa e termina no sistema de partidas dobradas, é que precisamos ter. Na verdade, não sabemos onde começa a contabilidade – o método das partidas dobradas é somente uma etapa dentro de um ciclo maior, que é a busca pela mensuração que começou na história antiga, assim como não sabemos onde termina. O mundo é muito mais amplo que a origem dos recursos e seu destino.

(Da Palestra da nova turma do mestrado da UFG)

Gerenciamento de impressão

 

Do relatório da Fundação IFRS. É impressão minha ou o gráfico parece indicar que a receita caiu - no gráfico - mais do que na vida real e a despesa subiu bem mais?

Rir é o melhor remédio

 

Explicando minha pesquisa

10 abril 2022

Onde divulgar a questão ambiental?


As propostas que estão surgindo sobre o processo de divulgação das informações contábeis usualmente possuem como sugestão um relatório junto das demonstrações. Esta tem sido a posição do ISSB, assim como o EFRAG. Talvez seja uma solução intermediária, onde no futuro os valores mensurados sejam de fato incorporados entre os elementos - ativo, passivo, receitas e despesas - das informações contábeis. 

Mas esta posição não é consensual na contabilidade. Há defensores de que exista o reconhecimento das mudanças ambientais no balanço patrimonial da entidade. Esta é a posição da Corporate Accountability Network (via aqui) (irei chamar de Rede esta entidade a partir de agora), que considera necessário uma efetiva integração entre os relatórios. Isto não atenderia, segundo esta posição, a maioria da sociedade. 

O modelo proposto de Rede é que as mudanças ambientais vejam incorporadas através das emissões realizadas pela entidade, através da estimativa do custo para eliminar esta emissões, de forma a atingir o objetivo de alteração climática. Somente com este custo seria possível, segundo a Rede, ter uma preocupação permanente, expresso por um número no balanço de cada entidade. Isto corresponderia a um passivo, que impediria a entidade de pagar dividendos, até que o objetivo da sustentabilidade seja alcançado.

Para que isto seja possível, provavelmente deverá existir uma mudança nos conceitos de passivo que atualmente consideramos. Também seria necessário uma ênfase maior de que o usuário da informação não é o financiador, mas a sociedade. Seria uma revolução na contabilidade financeira. 

Eis o final:

We argue that accounting for these provisions for the cost of adapting to environmental change on an ongoing basis will provide users of financial statements with the data they need to monitor the reporting entity’s success in becoming net-zero compliant. In the process we turn issues relating to environmental change into hard accounting data capable of being recorded within the audited books and records of any PIE. As a result the Board of any such PIE will have to focus its attention on this issue since it has direct impact on its financial reporting.

Rir é o melhor remédio

 

Olhando para a janela