A pandemia trouxe um desafio para o docente: como manter a vontade de continuar transmitindo um conteúdo com entusiasmo. Uma das questões problemáticas é você falar um conteúdo e não poder olhar a reação dos discentes – quase todos mantém sua câmera desligada. E assim, toda semana, ligamos nossa câmera, abrimos o arquivo, geralmente uma apresentação de powerpoint, e começamos a falar. E falamos, falamos e falamos.
Em muitos momentos, no meio de algumas frases, dúvidas surgem na nossa mente. Ou novas ideias sobre o assunto, um novo paralelo, uma nova abordagem. Mas seguimos em frente. Provavelmente os alunos não viram este breve momento de pausa, pois estão com o som desligado ou fazendo outra coisa.
Recentemente tive uma experiência interessante. Comecei fazendo um exemplo em uma aula, usando uma planilha. Logo depois, fiz outro exemplo e para a compreensão de todos os aspectos da questão, aumentei um pouco a complexidade. O problema é que não aumentei somente um pouco, pois quando percebi o exemplo estava bem mais avançado do que gostaria. Ficava me questionando quando apareceria alguém para dizer que não estava entendendo a situação. Não apareceu. Será que estavam escutando o que estava passando em sala de aula virtual?
Hoje, alguns dias depois, leio que talvez o que aconteceu comigo em sala de aula virtual tem um nome: ignorância pluralística. Bregman, em Humanidade – um livro muito atual, para ser lido, para que possamos acreditar no ser humano – relata que Dan Ariely fez um pequeno experimento com isto. Durante uma aula, Ariely apresentou uma definição aparentemente técnica de um assunto. O que os alunos não sabiam é que os termos usados na definição foram gerados em um computador, de maneira aleatória, para produzir uma linguagem difícil, mas vazia. Os alunos ouviram e não reagiram. Ninguém comentou ou perguntou.
Individualmente, os alunos de Ariely acharam sua narrativa impossível de ser acompanhada, mas, ao verem os colegas ouvirem com atenção, consideraram que o problema era deles.
O problema é que isto parece inofensivo, uma mera experiência em sala de aula, mas explica problemas sérios. Usando o exemplo de Bregman, se você perguntar a um estudante se ele gosta de beber até cair, ele dirá que não. Mas pergunte se os colegas fazem isto, talvez digam que sim. Acho que tenho um exemplo melhor: quantas vezes você passou no sinal vermelho, dirigindo um automóvel, e falou para você que “todos fazem isto”.
Voltando a minha sala de aula, a ausência de manifestação de nenhum dos colegas talvez tenha levado a uma turma calada. E que levou o professor a acreditar que sua explicação foi maravilhosa – já que ninguém teve dúvida. (No meu caso, não pensei isto; pelo contrário, pensei “ninguém estava prestando atenção, pois se tivesse questionariam meu exemplo”)
No ensino presencial há alguns sinais que um professor consegue ver nos seus alunos. Não temos isto no Teams, quando a câmera está desligada. O processo de comunicação fica prejudicado.
Foto: Rachel Moenning