O analista pode, por aproximação, ajustar as demonstrações
contábeis de uma empresa para considerar, para fins de análise, as operações de
leasing, quando estas não são ativadas.
Considere, a título de exemplo, que uma empresa informar
possuir alguns bens arrendados. A única informação disponível é o valor anual
da parcela paga com arrendamento, no valor de R$1,77 milhão. Para determinar o
valor do ativo a ser incluído na demonstração é necessário saber: (1) o número
de períodos do pagamento, (2) o número de períodos onde o valor já foi pago, (3)
a taxa de juros da operação, (4) o valor da opção no caso do exercício da
compra, (5) o tipo de amortização (constante, SAC etc) e (6) a vida útil do
ativo.
Somente com a informação da parcela paga não é possível determinar
o valor do ativo. Entretanto, em muitos casos, esta será a única informação
disponível. Para fazer a estimativa do valor podemos fazer as seguintes
suposições:
(1)
Número de períodos do pagamento – corresponde a
quantidade de prestações para o financiamento do ativo. Este valor é necessário
para determinar o valor presente do ativo. Uma possibilidade é estimar que o
número de períodos do pagamento fosse a vida útil do ativo, que deverá ser
estimada mais adiante;
(2)
Número de períodos onde o valor já foi pago –
refere-se a quantidade de períodos já pagos. Como se trata de uma compra
financiada este número refere-se aos meses (ou anos) em que o bem está sendo
usado pela empresa. Para uma empresa em expansão contínua pode-se imaginar que
a todo ano estará sendo incorporado um número igual de ativos. Se isto for
verdadeiro, pode-se considerar aqui um valor correspondente a metade da vida
útil dos ativos existentes;
(3)
Taxa de juros da operação – corresponde ao valor
cobrado pela arrendadora para fazer a operação. Se esta taxa não for
evidenciada, pode-se assumir que seu valor é compatível com a taxa de juros
cobrada por outros financiamentos. Neste caso, uma alternativa para o analista
é obter o custo de empréstimo do passivo e, a partir deste valor, agregar um adicional
pelo fato de se tratar de uma operação de leasing, não um empréstimo.
(4)
Valor da opção de compra – em geral o valor da
opção de compra no arrendamento financeiro é relativamente reduzido em relação
ao valor de mercado, induzindo a empresa que fez a operação comprar o bem. De
qualquer forma este valor pode ser diferente de zero. Entretanto, em razão do
fato de que o valor da opção é proporcionalmente reduzido, pode-se assumir zero
neste item;
(5)
Tipo de amortização – o tipo de amortização pode
influenciar no valor estimado para bem. Uma simplificação é considerar
pagamentos constantes, que facilita bastante o cálculo. Mas quando o sistema de
amortização conduz a uma parcela inicial é maior nos primeiros anos, isto tende
a apresentar um valor superestimado. Uma alternativa é verificar o tipo de
amortização mais usado nas operações de arrendamento realizadas para empresas
do setor onde atua a empresa;
(6)
Vida útil do ativo – necessária para determinar
algumas estimativas dos itens anteriores, mas também para obter o valor da
depreciação do ativo.
Para exemplificar os cálculos, considere a situação onde a
empresa efetua um pagamento de R$1,77 milhão de parcela anual de leasing. Para
determinar o valor do ativo, iremos considerar uma amortização constante (item
5, anterior), que facilita os cálculos. Um levantamento das demonstrações
contábeis mostrou que esta empresa possui um custo da dívida de 12%.
Levantamentos realizados no mercado permitiram estimar que o custo de uma
operação de arrendamento não diferente de maneira significativa dos
empréstimos. (Caso isto não fosse verdadeiro, seria necessário acrescentar, ou
subtrair, um percentual destes 12%).
Também utilizando as demonstrações contábeis, evidenciou-se
que em geral os ativos depreciáveis da empresa possuíam uma vida útil de dez
anos. Esta informação pode ser obtida nas notas explicativas, onde é possível
obter a discriminação da vida útil dos ativos e sua respectiva depreciação.
Como a empresa tem adotado uma política de crescimento contínuo, estimou-se que
os ativos existentes possuem cinco anos de vida útil.
Com estas informações temos:
(1)
Número de períodos do pagamento = igual a dez
anos
(2)
Número de períodos onde o valor já foi pago = cinco
anos
(3)
Taxa de juros da operação = 12%
(4)
Valor da opção de compra = zero
(5)
Tipo de amortização = constante
(6)
Vida útil do ativo = dez anos
O valor presente é dado por uma anuidade, com valor de
R$1,77, a 12%, em dez anos. Numa planilha pode-se obter isto facilmente:
= VP (12%; 10; 1,77)
Que corresponde a R$10 milhões. Entretanto, como metade da
vida útil já transcorreu, o valor contábil do ativo será de R$5 milhões, sendo
a depreciação anual de R$1 milhão. Já o valor do passivo que ainda falta quitar
pode ser obtido numa planilha eletrônica como sendo o valor presente dos R$1,77
milhão, por cinco anos, a 12%.
Nesta empresa, haverá um acréscimo de R$5 milhões no ativo,
em razão da incorporação de um novo bem. No passivo é necessário considerar um
valor de R$6,4 milhões, em lugar da prestação anual que seria paga, de R$1,77.
Ou seja, o passivo irá aumentar em R$4,63 milhões. Sendo o ativo antes do
ajuste de R$30 milhões, para um passivo de R$15 milhões, os novos valores
seriam:
Ativo = 30 milhões + 6,4 milhões = 36,4 milhões
Passivo = 15 milhões + 4,63 – 1,77 = 17,86
Patrimônio Líquido = 36,4 – 17,86 = 18,54
Endividamento Antes do Ajuste = 15 / 30 = 50%
Endividamento Após o Ajuste = 17,86 / 36,4 = 49,1%