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25 novembro 2008

Nova Marca


(...) A fusão das duas instituições financeiras oferece uma oportunidade rara de acompanharmos no dia-a-dia como os condutores dessas marcas irão superar uma série de desafios e manter intactos dois ícones vencedores. Se do ponto de vista econômico, trata-se de uma complexa transação, do ponto de vista da imagem corporativa certamente será fonte para inúmeras lições.

O primeiro e mais complexo desafio é como fazer para que, juntas agora, as duas marcas possam valer ainda mais. Afinal, a lógica de uma fusão é fortalecer as operações, criar vantagens competitivas - e isso vale também para o bem intangível da marca. O ponto mais delicado, sabemos, é que fusões são feitas para aquilo que, com eufemismo típico, os financistas chamam de "capturar sinergias". Ou seja, cortar custos, eliminar sobreposições, ganhar eficiência. Isso se faz de inúmeras formas. A mais dolorosa é eliminando postos de trabalho.

Seguindo um planejamento cuidadoso, todo o arsenal de comunicação do negócio ressaltou na largada que a fusão não será seguida de demissões. Sinal de que a equipe dos dois bancos está atenta para preservar a marca de arranhões, mas a realidade dos próximos meses continuará sendo desafiadora, pois fusões só fazem sentido econômico graças às "sinergias", claro. (...)

Vida Executiva - Os desafios da mais nova megamarca - 21/11/2008 - Gazeta Mercantil
Caderno C - Pág. 9 - Mário Rosa



Apesar de interessante, destaco que "capturar sinergias" não é o que o autor afirma no texto.

Um Estudo de Caso em Controladoria

O texto a seguir foi originalmente publicado no New York Times (Citigroup Pays for a Rush to Risk, Eric Dash e Julie Creswell, 23/11/2008, Late Edition - Final, 1) e traduzido e publicado no Brasil pelo Estado de São Paulo. É um excelente estudo de caso sobre controladoria (ou talvez sobre auditoria).

Banco está pagando o preço por ter flertado com o risco
Eric Dash e Julie Creswell, The New York Times
O Estado de São Paulo - 24/11/2008

Em setembro de 2007, quando Wall Street enfrentava uma crise provocada pelas inadimplências hipotecárias, os executivos do Citigroup se reuniram para avaliar sua própria situação.

Velhas amizades impediram análise isenta de responsáveis por supervisão

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Veja a cronologia da crise financeira internacional

Ali, pela primeira vez, o presidente da instituição, Charles O. Prince III, soube que o banco tinha cerca de US$ 3 bilhões em ativos relacionados a hipotecas. E perguntou para Thomas G. Maheras, que supervisionava as operações do banco, se tudo estava correndo bem.

Maheras disse ao patrão que não existia nenhuma perspectiva de grandes perdas, de acordo com fontes presentes na reunião, que pediram para não ser identificadas.

Por meses, as garantias dadas por Maheras a outros executivos dentro do Citigroup acalmaram as preocupações internas sobre as vulnerabilidades do banco. Mas desta vez, uma equipe de administração de riscos foi criada para examinar com rigor os enormes ativos do banco vinculados a hipotecas.

Contudo, já era tarde; algumas semanas depois, o Citigroup anunciaria prejuízos de bilhões de dólares. Normalmente, um grande banco nunca permite que a palavra de um único executivo tenha tanto peso. Em vez disso, despacha seus gestores de risco para examinar ativamente tudo o que possa estar ocorrendo sorrateiramente e se proteger contra excessos no seu setor de empréstimos e operações no mercado financeiro.

Mas, segundo várias pessoas próximas do Citigroup, os administradores de risco nunca realizaram uma investigação com a profundidade necessária. Por causa das velhas amizades, fato que atrapalhou o seu julgamento, os encarregados de supervisionar as pessoas incumbidas dos negócios do banco, ávidas para aumentar os ganhos a curto prazo - e também as bonificações multimilionárias dos executivos -, não conseguiram pôr um freio em tudo isso.

Hoje, o Citigroup, que foi a maior e mais poderosa instituição financeira do país, se vê subjugado por US$ 65 bilhões em dívidas, baixas contábeis de ativos podres e provisões por conta de perdas futuras. Mais da metade desse valor provém de títulos lastreados por hipotecas criados pela equipe de Maheras - os mesmos produtos que inquietavam Prince, que chamou sua atenção na reunião de 2007.

As ações do Citigroup despencaram, atingindo seu preço mais baixo em mais de uma década, de US$ 3,77 na sexta-feira. A esse preço, a instituição vale hoje apenas US$ 20,5 bilhões, um queda significativa em comparação com os US$ 244 bilhões que ela valia há dois anos. Uma onda de demissões acompanharam esse mergulho, com 75.000 postos de trabalho já eliminados ou previstos para desaparecer, de um quadro de funcionários que chegava a 375.000 um ano atrás.

Sobrecarregado pelas perdas e pela crise de confiança, o futuro do Citigroup é tão incerto que as autoridades reguladoras em Nova York e Washington realizaram uma série de reuniões de emergência no fim da semana para discutir maneiras de ajudar o banco a se erguer.

E, como a crise de crédito parece entrar numa nova fase perigosa, apesar do pacote de US$700 bilhões, os problemas do Citigroup são emblemáticos da administração caótica e da pressa para ganhar dinheiro rápido, que tomou conta de Wall Street. Em todas as atividades bancárias, o lucro fácil e o mercado imobiliário em expansão levaram financistas conhecidos a negligenciar perigos a que se estavam se expondo.

Para os críticos, embora grande parte dos danos sofridos pelo Citigroup e pela economia de modo geral tenha sido provocada pela intensa atividade dentro do mercado financeiro e por uma supervisão negligente das operações , os membros do escalão mais alto do banco também são responsáveis. No início deste ano, num relatório enviado à instituição, o Federal Reserve (Fed) censurou o Citigroup por manter uma fiscalização das operações e controles de risco medíocres.

A ruína do banco já vinha sendo preparada há anos, e envolveu muita gente dentro da sua hierarquia, particularmente Prince e Robert E. Rubin, diretor e conselheiro sênior que tinham grande influência dentro da empresa. Segundo analistas, Prince e Rubin têm grande responsabilidade pelos problemas atuais da instituição, ao escolherem e favorecerem uma estratégia que levou o banco a assumir riscos financeiros muito maiores para expandir suas operações e lucrar ainda mais.

24 novembro 2008

Rir é o melhor remédio


Fonte: New Yorker

Links

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3. A diferença entre as finanças comportamentais e as finanças tradicionais (vídeo-propaganda)

4. Morreu Kiyoshi Ito, matemático com contribuição na teoria da probabilidade e em estudos sobre aleatoriedade

Citibank

Segundo notícias, o Tesouro dos EUA irá aportar 20 bilhões de dólares em capital no Citigroup, podendo absorver mais perdas. Mas os termos ainda não são claros.

Uma das possibilidades é criar uma entidade para absorver os créditos podres do Citi.

As notícias são desencontradas, sendo difícil afirmar o que é verdade.

Valor Justo

Considerações sobre o valor justo dos ativos
Gazeta Mercantil - 24/11/2008

Com alterações na legislação societária, promovidas pela Lei 11.638/07, um tema já muito abordado nas normas internacionais e aplicável às instituições financeiras passou a fazer parte da realidade das sociedades brasileiras em geral: o registro contábil de instrumentos financeiros seguindo o "fair value" (valor justo), que pode ser entendido como o valor pelo qual um ativo pode ser negociado, ou um passivo liquidado, entre partes interessadas, conhecedoras do negócio e independentes entre si, com a ausência de fatores que pressionem a liquidação da transação ou que caracterizem uma transação compulsória.

A nova legislação societária, no art. 183, determinou que os instrumentos financeiros, inclusive derivativos, direitos e títulos de créditos, devem ser avaliados pelo seu valor de mercado ou equivalente ("fair value"), em caso de aplicações destinadas à negociação ou disponíveis para venda.

Observe-se que esta prática já é aplicável para as instituições financeiras e outras entidades desde 2002. Assim, a atual alteração promove a uniformização de critérios contábeis para os agentes da atividade financeira, possibilitando que as duas partes envolvidas elejam o mesmo tratamento para uma mesma operação.

A exemplo da realidade brasileira, o "fair value" ganhou relevância nas normas internacionais nos últimos anos provocando discussões acaloradas acerca de seu conceito e forma de mensuração. A literatura destaca como principais vantagens de sua aplicação: (i) informações mais interessantes para investidores uma vez que a contabilidade espelharia o preço pelo qual ativos e passivos disponíveis para venda poderiam ser negociados, (ii) transparência em relação à substância econômica de ativos e passivos, (iii) desvinculação do valor de ativos e passivos a fatores específicos de uma entidade em particular, uma vez que estariam avaliados por razões de mercado, propiciando condição de comparação entre diferentes entidades.

Por outro lado, especialistas também destacam desafios relacionados à sua aplicação: (i) elevado grau de subjetividade dos critérios de mensuração, dependente de premissas,(ii) complexidade dos métodos de cálculo, (iii) reflexo imediato, nas demonstrações contábeis, de oscilações bruscas oriundas de momentos extremos, (iv) possibilidade de difusão nas demonstrações contábeis de eventuais equívocos de mensuração.

Em relação aos dois últimos itens, a crise financeira mundial é exemplo dos reflexos contábeis imediatos, extremamente relevantes, decorrentes da alteração brusca do valor de mercado de ativos ou passivos. Muitas perdas verificadas contabilmente não representam reflexos imediatos nos fluxos de caixa, mas geram dúvidas quanto à capacidade de sua realização pelas sociedades que as divulgam. A questão é tão relevante que no "projeto" aprovado pelo Senado dos EUA, há exigência de análise por parte da Comissão de Valores Mobiliários (SEC, na sigla em inglês) da relação direta entre a regra contábil do valor justo e a falência de várias instituições financeiras. Face à exigência, cabe ponderar que a contabilidade, por um lado, deve colher a fotografia fidedigna da situação patrimonial em determinada data-base, com transparência e uniformidade de critérios, por outro, o leitor dessa informação deve estar ciente que o efeito pode ser meramente transitório, não impactando de forma definitiva o resultado da empresa ou mesmo seu fluxo de caixa.

Em relação aos aspectos tributários, a norma atual para instituições financeiras e demais sujeitas à regra desde 2002 estabelece que os valores relativos à marcação a mercado de ativos e passivos que afetarem seus resultados só devem ter reflexo tributário quando efetivamente realizados. A medida confere justiça vez que impede que oscilações contábeis não configurem como ganhos ou perdas definitivas para fins de apuração das bases dos tributos (IRPJ, CSL, PIS e Cofins).

Em relação à alteração promovida pela lei societária, diferentemente do que ocorreu em 2002, em que a lei tributária imediata e adequadamente foi adaptada, não houve, até o momento qualquer alteração o que tem gerado dúvidas quanto à tributação de eventuais ajustes positivos e negativos oriundos da avaliação a mercado dos ativos e passivos detidos por sociedades não financeiras submetidas ao novo critério.

Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3 - Luciana Aguiar, Adriano Silva e Tatiana Fernandes - Gerentes da PwC


A definição do valor justo é do CPC 02.

LBV e Filantropia

No jornal O Globo:

Sete anos depois de protagonizar um dos maiores escândalos da filantropia brasileira, a Legião da Boa Vontade (LBV) tem hoje um histórico "limpo", graças à brecha jurídica que anulou todas as provas que apontavam para desvio de recursos e outras irregularidades, informa a repórter Leila Suwwan na edição desta segunda-feira do Globo. Há dois anos, sem alarde, conseguiu recuperar seu certificado de entidade beneficente (Cebas) e garantir a isenção tributária retroativa. E agora, com a edição da MP da Filantropia pelo governo, ganhou mais uma benesse: 15 recursos que ameaçavam a atual proteção contra as cobranças foram sumariamente extintos, sem chance de recurso pela União.

A brecha usada pelos advogados da LBV foi a falta de notificação, com três dias de antecedência, das diligências realizadas pelo INSS.
Brecha jurídica anula processo da LBV - O Globo - 24/11/2008



O que fez a LBV? O jornal faz um resumo dos problemas que foram encontrados na entidade no passado:


Numa série de reportagens publicadas a partir de março de 2001 — Prêmio Esso de Reportagem —, O GLOBO mostrou que a Legião da Boa Vontade (LBV), maior entidade não-governamental do país, desviava parte dos R$215 milhões que arrecadava anualmente para a assistência a crianças e idosos carentes a fim de garantir mordomias a seus dirigentes. O diretor-presidente da entidade, José de Paiva Netto, era o principal favorecido. Ele tinha à sua disposição seis moradias de luxo, algumas com piscina, circuito interno de TV e segurança, além de carros importados e jatinhos fretados.

O GLOBO também revelou o resultado de uma fiscalização extraordinária do INSS no ano anterior, que encontrou irregularidades em 350 das 400 unidades da LBV no país. Segundo a fiscalização, só em 2000 a LBV sonegou R$2 milhões em contribuições previdenciárias que ela descontou de seus 5.450 funcionários e não repassou ao INSS.

Além disso, a LBV devia mais R$8,4 milhões ao INSS referentes a períodos anteriores ao ano de 2000, e R$4,5 milhões pelo não recolhimento do FGTS de seus empregados. Foi constatado ainda que a entidade remunerava indiretamente seus dirigentes, o que é proibido por lei. Os fiscais comprovaram ainda que a LBV usou notas fiscais frias para justificar despesas de R$2,6 milhões. Segundo a fiscalização, a contabilidade da LBV registrava que as despesas em programas sociais não passaram de 3,5% do total gasto em 1999.

Em conseqüência da série de reportagens, a LBV teve o registro de entidade filantrópica cassado pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS). Em junho de 2001, o conselho indeferiu o pedido de renovação do registro de entidade filantrópica por irregularidades fiscais.
Império de mordomias