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09 janeiro 2025

Ministro usa os termos deficit e prejuízo (lucro) para apoiar o regime de competência nas estatais

Eis a notícia da Istoé Dinheiro:


O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, negou na segunda-feira (30) que as estatais tenham registrado um déficit recorde. Ele abordou o assunto horas após o Banco Central divulgar um levantamento que apontou déficit [1] de R$ 6,04 bilhões de janeiro a novembro deste ano, envolvendo 13 empresas estatais não dependentes do Tesouro. É o maior valor para o período já apurado na série histórica, iniciada em 2002.

Haddad recomendou que fossem observados os esclarecimentos prestados pelo Ministério Gestão e Inovação em Serviços Públicos (MGI). Ele contestou a afirmação de que as empresas registraram déficit. “Não é verdade. Às vezes, a contabilidade das estatais [2] não é a mesma da contabilidade pública. Então, quando você faz investimento, às vezes aparece como déficit, o que não é”, afirmou Haddad.

A ministra da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, já havia defendido que a avaliação da saúde financeira das empresas estatais fosse feita com base na contabilidade empresarial [3]. Para ela, a metodologia usada pelo Banco Central não é mais adequada para uma melhor compreensão do cenário.

“O resultado do Banco Central é apurado mensalmente, e ele leva em consideração apenas as receitas e despesas naquele ano”, disse a ministra, também nesta segunda-feira (30), durante apresentação das linhas gerais da nova Medida Provisória (MP) que trata de salários de servidores federais, carreiras e cargos. De acordo com Dweck, muitas empresas têm feito investimentos com recursos acumulados [4] de anos anteriores que estavam em caixa e, dessa forma, o déficit apurado não configura prejuízo [5].

A ministra ressaltou que, das 13 empresas listadas na apuração do Banco Central, nove delas registraram lucro. Ela cita que, em função disso, houve inclusive [6] o pagamento de altos dividendos aos acionistas.

“Estatais devem ser avaliadas pelo resultado da contabilidade empresarial [7]. Na contabilidade empresarial, aí sim, você considera quando ela realiza o investimento. Esse gasto é diferido no tempo, porque ele tem um tempo de amortização. Ele não entra como uma despesa cheia no ano.”

Segundo Dweck, algumas dessas empresas estatais receberam aportes do Tesouro em 2019 ou 2020, o que teria gerado um superávit na conta delas nesses anos. Os recursos, no entanto, teriam ficado em caixa. Isso porque durante o governo de Jair Bolsonaro diversas estatais foram incluídas no Plano Nacional da Desestatização. Consequentemente, passaram a ter restrições para realizar investimentos.

“Quando as retiramos do Plano Nacional da Desestatização [8], as empresas puderam voltar a realizar despesas com investimento. Isso gera, do ponto de vista contábil da contabilidade pública, um resultado de déficit. Mas não significa que elas tenham prejuízo.”

Eis meus comentários

[1] O termo déficit é típico da contabilidade pública ou do terceiro setor. Na contabilidade privada, o termo correto seria prejuízo. Então, o Banco Central usou as normas do setor público. 

[2] Pelo texto, eles queriam dizer regime de caixa e regime de competência. E indicar que nas estatais teríamos o regime de competência; regime de caixa seria igual a contabilidade pública. Parece que é isso. 

[3] Novamente, contabilidade empresarial seria sinônimo de regime de competência. 

[4] Ou seja, usaram o valor do caixa existente para o investimento. 

[5] Uma coisa é você dizer que usou seu caixa para fazer investimento. A outra é indicar que o investimento não configura deficit, pois os valores são ativados e, posteriormente, amortizados. Mas a pretensa relação de causa e efeito é questionável. A confusão fica maior por usar déficit e prejuízo na mesma frase. 

[6] Pagou-se dividendos e isso seria uma "prova" que tiveram lucro, não deficit. Nem sempre é possível afirmar isso. 

[7] Se as estatais devem ser avaliadas pela contabilidade empresarial, qual o sentido de não estarem fazendo? Basta normatizar ou é complicado isso? 

[8] E aqui ficamos sabendo que as empresas foram retiradas do Plano, como se fosse uma vantagem. Lembrando que investimento a fundo perdido, na "contabilidade empresarial", seria levado para resultado direto. 

Muito, muito confuso. 

Os líderes das empresas Big Four


As maiores empresas de contabilidade do mundo são conhecidas como as Big Four: Deloitte, EY, KPMG e PwC, em ordem alfabética. Nos anos 1980, esse grupo era formado por oito empresas, mas, devido a processos de fusão e à falência de uma delas, o número foi reduzido para quatro, originando o nome Big Four.

Um ponto importante é que, juntas, as quatro maiores empresas empregam 1,5 milhão de pessoas, impactando diversos setores. Em geral, são reconhecidas pela qualidade dos serviços prestados, embora também ganhem destaque quando cometem grandes falhas. Atualmente, as Big Four enfrentam desafios significativos, como mudanças regulatórias — incluindo pressões para redução do oligopólio — e a necessidade de se adaptar a um futuro em que a inteligência artificial desempenhará um papel relevante.

Em 2024, duas das quatro empresas nomearam novos líderes. Em julho, a PwC escolheu Mohamed Kande (quarto, na fotografia) como líder global para um mandato de quatro anos. Ele é o primeiro negro a liderar uma Big Four. Nascido na Costa do Marfim, mudou-se para a França aos 16 anos. Agora, os 370 mil funcionários da PwC têm um líder oriundo da área de consultoria. O principal desafio da empresa é se recuperar dos escândalos recentes na Austrália e na China.

A Deloitte é liderada por Joe Ucuzoglu (primeiro, da esquerda para direita) desde janeiro de 2023. A empresa, com 460 mil funcionários, tem à frente um executivo dos Estados Unidos, que também possui experiência na SEC (Securities and Exchange Commission).

A EY é comandada pela estadunidense Janet Truncale desde julho de 2024. Ela é a primeira mulher a liderar uma Big Four, um marco para quem iniciou sua carreira na empresa como estagiária em 1991.

Por fim, a KPMG conta com Bill Thomas (terceiro na foto) como seu líder mais antigo: desde 2017, ele ocupa o cargo de chairman global, agora em seu segundo mandato. Canadense, Thomas lidera uma empresa com 275 mil empregados.

Baseado na BI

Uma consequência do uso de dinheiro em Roma Antiga: redução no QI da população


Pode parecer surpreendente, mas há uma certa lógica nessa ideia. Durante o Império Romano, o chumbo era amplamente utilizado em diversas aplicações, incluindo a produção de moedas que movimentavam a economia. Os romanos também empregavam esse material em aquedutos, utensílios de cozinha e até como adoçante para vinho.

O declínio do Império Romano foi resultado de vários fatores, como a expansão militar excessiva, a corrupção política, a instabilidade social e os constantes ataques de tribos vizinhas. Contudo, é possível que outro elemento tenha desempenhado um papel nesse processo: o envenenamento por chumbo.

Uma pesquisa recente (via aqui), publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, analisou amostras de gelo do Ártico que cobrem o período entre 500 a.C. e 600 d.C., coincidente com a ascensão e queda de Roma. As emissões de chumbo geradas pela atividade humana ficaram registradas no gelo. Por meio de uma modelagem sofisticada, os cientistas descobriram que o pico de poluição ocorreu por volta de 180 a.C. Esse nível de contaminação pode ter causado uma redução estimada de 2 a 3 pontos no QI médio da população da época.

Escrita científica cada vez mais difícil de ler


A revista The Economist (via aqui)analisou 347 mil resumos de teses em inglês, publicados entre 1812 e 2023. Esse é um número impressionante. Utilizando o índice Flesch — uma métrica tradicional que avalia a dificuldade de leitura —, foi possível acompanhar como a legibilidade dos textos evoluiu ao longo do tempo. Sem surpresa, os resultados mostram que os textos têm se tornado cada vez mais difíceis de ler.

No índice Flesch, uma pontuação de 100 indica que o texto pode ser compreendido por alguém com cerca de 10 anos de idade. Pontuações abaixo de 30 significam que o texto é muito difícil de ler. Para comparação, um artigo típico do New York Times possui uma pontuação de 50.

Uma descoberta notável é que os trabalhos nas áreas de ciências humanas e sociais apresentavam uma pontuação média de 37 na década de 1940, mas esse número caiu para apenas 18 em 2020.

Ciência e IA


Para Tyler Cowen:

A IA conhecerá quase toda a literatura acadêmica e será melhor em modelar e resolver a maioria dos problemas quantitativos. Será melhor em especificar o modelo e executar os exercícios estatísticos reais. Os seres humanos provavelmente supervisionarão essas funções, mas a maior parte disso consistirá em acenar com a cabeça ou experimentar alguns prompts diferentes.

Os humanos vão reunir os dados. Eles farão o trabalho de laboratório ou se aproximarão das empresas (ou do IRS?) para acessar novos dados. (...)

“A ciência como um programa de emprego para os cientistas” cairá ainda mais em desuso. Resta saber o quanto isso vai desfavorecer a descoberta humana fortuita.

Redução do número de empresas na bolsa no maior mercado do mundo

 

O gráfico mostra que ao longo do tempo, o número de empresas com ações na bolsa no maior mercado mundial reduziu, enquanto as empresas fechadas tiveram um aumento substancial. As razões? A questão da regulação é importante para explicar o que ocorreu nos últimos anos. Mas há outra explicação: as empresas com ações negociadas na bolsa estão crescendo por conta de fusões e aquisições. Assim, parte da redução pode ser explicada por esse motivo. 

08 janeiro 2025

Precisamos pensar nos indicadores de desempenho financeiro? Ou nos intangíveis?


O Financial Accounting Standards Board (FASB), responsável por regular a contabilidade no maior mercado de capitais do mundo, publicou um convite para comentários chamado ITC. O objetivo é receber opiniões sobre os principais indicadores de desempenho financeiro, conhecidos como Financial KPIs. Os interessados têm até o final de abril de 2025 para enviar suas contribuições.

Os KPIs financeiros são medidas calculadas a partir de dados contábeis e incluem indicadores amplamente utilizados, como o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), o fluxo de caixa livre, o crescimento orgânico das vendas e o lucro líquido ajustado.

Por enquanto, o FASB não possui uma posição oficial sobre os KPIs financeiros. No entanto, essa consulta pode abrir caminho para discussões futuras e, eventualmente, incluir o tema em sua agenda. Em consultas anteriores, o FASB já havia recebido sugestões para explorar o assunto, mas enfrentou divergências sobre como o projeto deveria ser estruturado e até que ponto deveria avançar.

Ao mesmo tempo, o Fasb também lançou uma ITC para tentar entender a percepção sobre os intangíveis. E isso inclui tanto os ativos já reconhecidos, como aqueles que não estão reconhecidos como tal nas demonstrações contábeis. Atualmente, a contabilidade dos intangíveis depende de como o ativo é adquirido. Lembrando que essa é a principal crítica de Baruch Lev no seu livro The End of Accounting.