Translate

10 setembro 2024

Aprendendo com o esporte

De Tim Harford

(...) o esporte de alto desempenho espera aprender com os geeks, há também a possibilidade de que os geeks possam aprender com o esporte. O esporte é muito mais restrito do que a vida, o que ajuda os cientistas sociais a procurar respostas claras e nítidas para perguntas preocupantes sobre como indivíduos e equipes se comportam.

O economista Ignacio Palácios-Huerta vem fazendo esse argumento há muitos anos e publicou recentemente um documento de trabalho intitulado “The Beautiful Dataset”, pesquisando um amplo cenário de tópicos econômicos que foram abordados usando dados do esporte.

(...) Outro exemplo é se um mercado livre tende a reduzir a discriminação injusta. Pode, em teoria: afinal, recusar-se a contratar pessoas boas com base em raça ou gênero não é apenas repugnante, mas um vício caro. Mas na prática? É difícil de dizer.

A história do beisebol oferece uma pista: depois de 1947, as equipes da liga principal foram autorizadas a contratar jogadores negros. Muitos gerentes desdenharam essa ideia. Aqueles que eram mais abertos poderiam contratar bons jogadores negros de forma barata e ganhar uma vantagem na liga. Será que eles fizeram? A resposta, de acordo com um estudo de 1974: sim. . . mas com lentidão ultrajante.

O pênalti no futebol é um ótimo exemplo da simplicidade de algumas situações esportivas. A maioria dos atacantes terá um lado mais forte, mas favorecê-lo demais é se tornar previsível. O atacante pode apontar para o lado mais fraco em vez disso. Então, o atacante deve apontar para a esquerda, ou para a direita? E já que o goleiro tem que adivinhar para onde mergulhar, para onde eles devem seguir?

A situação, argumenta Palacios-Huerta, é perfeita para testar uma base da teoria dos jogos: o teorema do Minimax, provado pelo brilhante matemático John von Neumann em 1928. Depois de olhar para centenas, e depois milhares, de pênaltis, Palacios-Huerta concluiu que tanto os atacantes quanto os goleiros jogam de acordo com a estratégia teórica ideal, equilibrando perfeitamente a vantagem da imprevisibilidade e a vantagem de favorecer o lado mais forte.

09 setembro 2024

Declínio do uso de informações contábeis no crédito

Declínio do uso de informações contábeis na concessão de crédito. Eis o resumo:

Usando um conjunto de dados que abrange 3 milhões de demonstrações financeiras de mutuários comerciais, documentamos um declínio substancial, quase monotônico, no uso de demonstrações financeiras atestadas (DFA) pelos bancos em empréstimos ao longo das últimas duas décadas. Duas forças de mercado ajudam a explicar essa tendência. Primeiro, os avanços tecnológicos fornecem aos credores acesso a uma variedade crescente de fontes de informações sobre mutuários que podem substituir as DFA. Segundo, os bancos estão cada vez mais competindo com credores não bancários, que dependem menos das DFA na triagem e monitoramento. Nossos resultados ilustram como a adoção de tecnologia e as mudanças na estrutura do mercado de crédito podem tornar as DFA menos eficientes do que fontes de informação alternativas para triagem e monitoramento.

Aqui o artigo original.

Iluminação Pública e Crime: Menos Luz Pode Ser Mais Eficiente?

Um longo artigo da The Atlantic (Turn Down the Streetlights) discute se existe uma associação entre a iluminação pública e a atividade criminosa. O senso comum costuma nos dizer que, em locais onde há uma boa iluminação, o número de roubos e furtos reduz substancialmente. Assim, o estado, ou as empresas de concessão pública, deveriam instalar postes de iluminação para reduzir a atividade criminosa. Parece bastante adequado, e algumas pesquisas conduzem a esse resultado. Uma meta-análise (https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.4073/csr.2008.13) publicada em 2008 sugere que realmente existiria uma relação entre as duas variáveis. Contudo, a pesquisa indicou que não é a iluminação a responsável pelo resultado, mas o que ela representa em termos de orgulho da comunidade e controle social informal. Um projeto da cidade de Nova York instalou holofotes em 15 conjuntos habitacionais e recebeu uma avaliação adequada do NBER (https://www.nber.org/system/files/working_papers/w25798/w25798.pdf).

A questão é que existem impactos secundários causados pela iluminação, como a privação do sono e os efeitos sobre o meio ambiente. O fato de os estudos serem localizados, muitas vezes em comunidades mais pobres, também não ajuda. Existem pesquisas, em Calgary e no Reino Unido, que mostram que o efeito da iluminação pode não existir ou ser inverso ao esperado. O texto desafia a crença comum de que mais luzes nas ruas reduzem crimes, mesmo que os resultados sejam contraditórios. Talvez, nesse caso, menos iluminação possa, em alguns contextos, ser mais eficiente.

Ao ler o texto, pensei que o financiamento de um grande estudo, mesmo que experimental, poderia ser muito interessante para os cofres públicos. Através de uma ampla pesquisa, se chegarmos à conclusão de que "menos é mais", isso pode representar, no longo prazo, uma grande economia de recursos públicos.

08 setembro 2024

Sobre o mercado editorial

Veja como funciona o mercado editorial no exterior. Pesquisadores realizam seus trabalhos originais, financiados por iniciativas privadas, dinheiro público, entre outros. Após concluírem seus estudos, enviam os artigos para periódicos acadêmicos, geralmente com fins lucrativos. Esses periódicos revisam os trabalhos utilizando mão de obra gratuita, ou seja, os próprios pesquisadores. Se o artigo é aceito, os autores precisam pagar uma taxa de publicação, que é ainda maior se quiserem que o artigo fique em "acesso aberto". Posteriormente, as universidades compram esses artigos por meio de assinaturas de periódicos. É um sistema injusto, no qual as editoras científicas são as grandes beneficiadas.




Apesar das falhas, esse ciclo é difícil de ser rompido. As editoras atuam de forma rigorosa contra qualquer tentativa de burlar o sistema. Para quem deseja mais detalhes, veja a história de Aaron Swartz

Defensor da cultura livre, Swartz contrapôs-se à prática adotada pelo repositório JSTOR, de remunerar as editoras e não remunerar os autores, cobrando pelo acesso aos artigos e limitando esse acesso à comunidade acadêmica. Em 2011, foi preso pela polícia do Instituto de Tecnologia do Massachusetts (MIT) sob acusações de invasão, depois de conectar seu computador à rede da universidade em um armário aberto e não sinalizado e configurá-lo para baixar sistematicamente artigos acadêmicos do repositório JSTOR, usando uma conta de usuário fornecida pelo próprio MIT para seu uso pessoal. Em seguida, promotores federais o acusaram de transmissão eletrónica para a prática de fraude, além de crime de invasão de computadores, sujeito a uma pena máxima acumulada de até 1 milhão de dólares em multas, 35 anos na prisão e confisco de bens.

Swartz rejeitou um acordo onde ele ficaria preso por seis meses em uma prisão federal. Dois dias depois da promotoria negar uma contraproposta feita por ele, foi encontrado enforcado em seu apartamento no Brooklyn, em um aparente suicídio. Após a sua morte, a promotoria federal de Boston retirou as acusações.

Uma reação ao controle das editoras surgiu com os sites de pré-impressão, onde os pesquisadores podem arquivar suas pesquisas antes de serem capturadas pelos periódicos. No entanto, as grandes editoras reagiram. A Elsevier, por exemplo, comprou a SSRN. Outro exemplo é o Sci-Hub, que disponibiliza artigos gratuitamente, ajudando cientistas a acessar textos de forma livre.
No passado, houve uma reação contra essa situação através de boicotes. A Universidade da Califórnia anunciou o corte de assinaturas da Elsevier  , seguido pelo MIT . Anos depois, ambas as instituições parecem não sentir falta do acesso a esses periódicos. Um relato recente mostra o caso do MIT. Como está a situação do MIT ?

Estão se saindo bem. Se alguém no MIT precisa de um artigo da Elsevier, geralmente pode consegui-lo pedindo diretamente ao pesquisador por e-mail, baixando de sites de pré-impressão ou até do site do próprio pesquisador. Quando isso não funciona, o empréstimo entre bibliotecas permite que outras instituições enviem os artigos em um ou dois dias. Para necessidades urgentes, a biblioteca compra o acesso a artigos individuais por meio de um serviço sob demanda.


E como isso afeta a pesquisa no Brasil? Algumas áreas acadêmicas brasileiras têm forte conexão com o exterior, o que faz com que o país pague altos valores para garantir que seus pesquisadores tenham acesso aos artigos internacionais. Embora o custo seja menor comparado a outros países, o Brasil, sendo mais pobre, continua favorecendo as grandes editoras.

Em algumas áreas, como a contabilidade, existe uma cultura de acesso aberto nos periódicos nacionais. No entanto, com a expansão da internet e a pressão por publicações, o número de periódicos aumentou excessivamente. Com o tempo, muitos passaram a atrasar suas publicações, e alguns até deixaram de operar. A Capes tem sido vista como vilã ao forçar a publicação em periódicos que seguem métricas estrangeiras. Para os periódicos locais, isso significa obter o “aval” de entidades que cobram taxas elevadas. Sem recursos, esses periódicos tendem a se concentrar em poucos títulos ou fechar. Já existem casos de periódicos comprados por entidades com fins lucrativos. Para sobreviver e serem citados, alguns exigem que os artigos sejam traduzidos para o inglês, com o custo arcado pelo pesquisador.
Além disso, a qualidade do atendimento aos autores tem piorado, e é cada vez mais comum um artigo demorar mais de um ano para obter resposta de um periódico nacional. Recentemente, tive um artigo que levou 500 dias e passou por cinco revisões antes de ser rejeitado. Esse prazo é muito longo no meio acadêmico, além de ser desrespeitoso para o pesquisador.

Diante desse cenário, publicar no exterior acaba sendo uma opção mais atraente, mesmo que custe mais de mil dólares para publicar um artigo.

Como medir o impacto líquido de um bilionário?

De um comentário sobre o livro Billionaire Nerd Savior King:

Bill Gates tem mais de 200 funcionários que gerenciam as casas de sua família, fazendas de cavalos, refeições, segurança, jatos e viagens. Outros 150 estão focados em gerenciar sua fortuna pessoal, juntamente com os ativos de sua fundação. Mas esse não é o único tipo de ajuda que ele tem à sua disposição: ao longo do livro, Das faz referência às dezenas de profissionais de relações públicas, especialistas em criação de conteúdo e consultores de estilo que trabalham em sua equipe pessoal, na fundação ou em outros lugares do reino de Gateshood – todos os quais estão no negócio de nos fazer perceber Gates e os tópicos que o cercam, da maneira que ele deseja. 


Ou seja, a reputação é um bem comprável. Se você tem um sentimento geralmente caloroso e confuso sobre Bill Gates e seu trabalho de filantropia, vale a pena examinar de onde vem esse sentimento. Foi a partir de um artigo de notícias? Um publicitário provavelmente agendou a entrevista com um jornalista amigável. Foi um post no blog que ele escreveu? Gates tem escritores e editores fantasmas à mão para polir aqueles para ele. Um vídeo do YouTube? Editado. Um podcast? Preparado com treinamento de mídia e entrevistas simuladas. Esta não é uma prática nefasta, mas é industrial. E é algo que precisamos considerar sempre que calculamos quem era Gates. Ele é um produto de mídia, afinal – não apenas uma pessoa. 

Recomendo a leitura do texto para responder a pergunta do título do post. Mas certamente a mensuração do impacto líquido será influenciada por este grande número de funcionários que Gates tem a disposição. 

05 setembro 2024

Os melhores episódios de séries

A revista Rolling Stones divulgou a relação dos melhores episódios de séries de todos os tempos. São 100 episódios, mas a presença do The Office americano (mas não o inglês) e a ausência de Narcos pode levantar suspeita da qualidade. Você pode conferir no link. Mas o episódio de melhor qualidade é ...


O poder da televisão dramática, plenamente realizado. A maior vantagem desse meio sobre o cinema é a quantidade de tempo que temos para passar com os personagens e suas histórias, episódio após episódio, ano após ano. Muitos dos episódios desta lista têm tanto impacto justamente por conhecermos tão bem os personagens e os conflitos naquele ponto. Nenhum é tão devastador, ou tão meticulosamente preparado, quanto "Ozymandias", a hora em que todas as coisas terríveis que Walter White (Bryan Cranston) fez ao longo de mais de cinco temporadas finalmente explodem em seu rosto. Tio Jack (Michael Bowen) e sua gangue de neonazistas matam Hank (Dean Norris) e roubam o dinheiro de Walt. Skyler (Anna Gunn) e Flynn (RJ Mitte) se recusam a fugir com Walt, e quando ele vê o terror nos olhos deles diante do monstro em que se tornou — vê a verdade fria e cruel da sua situação, em vez da mentira que tem contado a si mesmo sobre ter feito todas essas coisas terríveis por sua família — ele sequestra a bebê Holly e foge. Até mesmo uma trama há muito adormecida — Jesse (Aaron Paul) descobriria que Walt foi responsável pela morte de Jane, e se sim, como reagiria? — tem um desfecho incrível quando Walt casualmente conta a Jesse sobre isso, apenas para torcer ainda mais a faca antes de deixar seu ex-parceiro para ser morto (ou assim ele pensa) pelos capangas de Jack. "Ozymandias" (escrito por Moira Walley-Beckett e dirigido por Rian Johnson) lidera nossa lista não só por como constrói em cima do que veio antes, mas por ser uma hora de narrativa perfeita por si só, repleta de momentos inesquecíveis: Hank dizendo a Walt que Jack decidiu matá-lo 10 minutos atrás; as calças perdidas de Walt do episódio piloto reaparecendo no momento mais baixo de seu dono; uma Skyler desesperada gritando na rua após Walt roubar sua filha; e tantos outros. O melhor de todos os tempos. —A.S.

As maiores empresas do mundo por empregados (e do Brasil também)

As maiores empresas do mundo por empregados:


1. Walmart - 2.100 mil

2. Amazon - 1.525

3. Foxconn (Taiwan) - 826,6

4. Accenture - 750

5. Volkswagem - 656,1

6. Tata Consultancy Services - 601,5

7. DHL Group (Deutsche Post) - 594,9

8. BYD - 570,1

9. Compass Group (Reino Unido) - 550

10. Jingdong Mall (China) - 517,1

E agora a relação do Brasil:

62. JBS - 270 mil

265. BRF - 100 mil

327. Banco do Brasil - 86 mil

355. Assai - 80 mil

392. Banco Bradesco - 74,2

408. Multiplan - 70,4

444. Hapvida - 66

513. Raia Drogasil - 57,3

531. Santander - 55,2

563. Simpar - 51 mil

(Bem interessante a presença de algumas empresas na lista acima)