Veja como funciona o mercado editorial no exterior. Pesquisadores realizam seus trabalhos originais, financiados por iniciativas privadas, dinheiro público, entre outros. Após concluírem seus estudos, enviam os artigos para periódicos acadêmicos, geralmente com fins lucrativos. Esses periódicos revisam os trabalhos utilizando mão de obra gratuita, ou seja, os próprios pesquisadores. Se o artigo é aceito, os autores precisam pagar uma taxa de publicação, que é ainda maior se quiserem que o artigo fique em "acesso aberto". Posteriormente, as universidades compram esses artigos por meio de assinaturas de periódicos. É um sistema injusto, no qual as editoras científicas são as grandes beneficiadas.
Apesar das falhas, esse ciclo é difícil de ser rompido. As editoras atuam de forma rigorosa contra qualquer tentativa de burlar o sistema. Para quem deseja mais detalhes, veja a história de Aaron Swartz
Defensor da cultura livre, Swartz contrapôs-se à prática adotada pelo repositório JSTOR, de remunerar as editoras e não remunerar os autores, cobrando pelo acesso aos artigos e limitando esse acesso à comunidade acadêmica. Em 2011, foi preso pela polícia do Instituto de Tecnologia do Massachusetts (MIT) sob acusações de invasão, depois de conectar seu computador à rede da universidade em um armário aberto e não sinalizado e configurá-lo para baixar sistematicamente artigos acadêmicos do repositório JSTOR, usando uma conta de usuário fornecida pelo próprio MIT para seu uso pessoal. Em seguida, promotores federais o acusaram de transmissão eletrónica para a prática de fraude, além de crime de invasão de computadores, sujeito a uma pena máxima acumulada de até 1 milhão de dólares em multas, 35 anos na prisão e confisco de bens.
Swartz rejeitou um acordo onde ele ficaria preso por seis meses em uma prisão federal. Dois dias depois da promotoria negar uma contraproposta feita por ele, foi encontrado enforcado em seu apartamento no Brooklyn, em um aparente suicídio. Após a sua morte, a promotoria federal de Boston retirou as acusações.
Uma reação ao controle das editoras surgiu com os sites de pré-impressão, onde os pesquisadores podem arquivar suas pesquisas antes de serem capturadas pelos periódicos. No entanto, as grandes editoras reagiram. A Elsevier, por exemplo, comprou a SSRN. Outro exemplo é o Sci-Hub, que disponibiliza artigos gratuitamente, ajudando cientistas a acessar textos de forma livre.
No passado, houve uma reação contra essa situação através de boicotes. A Universidade da Califórnia anunciou o corte de assinaturas da Elsevier , seguido pelo MIT . Anos depois, ambas as instituições parecem não sentir falta do acesso a esses periódicos. Um relato recente mostra o caso do MIT. Como está a situação do MIT ?
Estão se saindo bem. Se alguém no MIT precisa de um artigo da Elsevier, geralmente pode consegui-lo pedindo diretamente ao pesquisador por e-mail, baixando de sites de pré-impressão ou até do site do próprio pesquisador. Quando isso não funciona, o empréstimo entre bibliotecas permite que outras instituições enviem os artigos em um ou dois dias. Para necessidades urgentes, a biblioteca compra o acesso a artigos individuais por meio de um serviço sob demanda.
E como isso afeta a pesquisa no Brasil? Algumas áreas acadêmicas brasileiras têm forte conexão com o exterior, o que faz com que o país pague altos valores para garantir que seus pesquisadores tenham acesso aos artigos internacionais. Embora o custo seja menor comparado a outros países, o Brasil, sendo mais pobre, continua favorecendo as grandes editoras.
Em algumas áreas, como a contabilidade, existe uma cultura de acesso aberto nos periódicos nacionais. No entanto, com a expansão da internet e a pressão por publicações, o número de periódicos aumentou excessivamente. Com o tempo, muitos passaram a atrasar suas publicações, e alguns até deixaram de operar. A Capes tem sido vista como vilã ao forçar a publicação em periódicos que seguem métricas estrangeiras. Para os periódicos locais, isso significa obter o “aval” de entidades que cobram taxas elevadas. Sem recursos, esses periódicos tendem a se concentrar em poucos títulos ou fechar. Já existem casos de periódicos comprados por entidades com fins lucrativos. Para sobreviver e serem citados, alguns exigem que os artigos sejam traduzidos para o inglês, com o custo arcado pelo pesquisador.
Além disso, a qualidade do atendimento aos autores tem piorado, e é cada vez mais comum um artigo demorar mais de um ano para obter resposta de um periódico nacional. Recentemente, tive um artigo que levou 500 dias e passou por cinco revisões antes de ser rejeitado. Esse prazo é muito longo no meio acadêmico, além de ser desrespeitoso para o pesquisador.
Diante desse cenário, publicar no exterior acaba sendo uma opção mais atraente, mesmo que custe mais de mil dólares para publicar um artigo.