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16 agosto 2024

Novo livro de Nate Silver

Eu gostei do novo livro do Nate. Ele tem muitas histórias ótimas e uma abordagem interessante sobre as atitudes em relação ao risco, não apenas por si só, mas como elas interagem. O livro parece muito honesto; parece que foi escrito de coração. Não acho que o ângulo político tenha sido totalmente pensado, mas com uma pequena extensão (de Rio/Aldeia para Rio/Aldeia/Forte), ele meio que funciona. O livro é uma espécie de tour cultural de algumas pessoas que prosperam na incerteza—Nate foca não em pessoas que assumem riscos por desespero, mas sim em pessoas como ele (ou eu!) que se dariam muito bem na Aldeia ou no Forte, mas escolhem entrar no Rio porque é mais empolgante ou simplesmente porque parece mais real. Como essas pessoas incomuns se encaixam no restante da sociedade? É uma questão interessante que Nate dá alguns passos interessantes para responder. (Gellman em uma longa análise do novo livro de Nate Silver)


É bem verdade que Gellman, tendo publicado artigos com Silver no passado, poderia ser considerado uma opinião tendenciosa. Mas há algumas críticas no texto de Gellman, e isso chama a atenção, dando peso às suas considerações.

Para quem não conhece, Nate Silver ficou muito conhecido quando acertou o resultado das eleições nos Estados Unidos nos 50 estados. O acerto fez com que Silver fosse contemplado pela fama, que ele aproveitou publicando o livro O Sinal e o Ruído e sendo contratado para fazer previsões esportivas e políticas. Silver aplica a estatística bayesiana, que ele explica de forma bem clara em seu livro, e a agregação de pesquisas. Essas técnicas estão sendo usadas hoje em diferentes países, inclusive nas eleições brasileiras.

O Sinal e o Ruído é um livro muito bom, acessível ao leitor com pouco conhecimento de estatística e com uma redação bem agradável. Tenho indicado muito esse livro e já o citei aqui em diversos momentos. O novo livro, On the Edge, saiu agora e muito provavelmente deve ser traduzido para o português. Para os mais afoitos, é possível comprá-lo em formato digital. Enquanto isso, estou lendo Everything is Predictable, de Tom Chivers. Ainda estou com menos de 25% do livro lido, mas minha impressão é que A Teoria que não Morreria parece melhor na descrição da trajetória do Teorema Laplace-Pierce-Bayes do que o livro de Chivers. E que a explicação de Silver, no livro O Sinal e o Ruído, ainda é superior.

15 agosto 2024

O Impacto de Chernobyl: Lições e Consequências para a Energia Nuclear

Este é um tema fascinante e, por isso, polêmico. Muitas vezes, as decisões políticas tomadas após certos eventos podem ter consequências negativas, especialmente em relação a medidas regulatórias e políticas públicas. Um exemplo disso é a questão da energia nuclear. Nos anos 70, vários governos acreditavam que a energia nuclear poderia resolver a crise energética, o que levou à construção de muitas usinas nucleares. Durante esse período, o Brasil também fez planos para construir usinas nucleares em parceria com a Alemanha.

No final da década, ocorreu um acidente nuclear nos Estados Unidos, na usina de Three Mile Island. Pouco tempo depois, o desastre de Chernobyl lançou fumaça radioativa sobre vários países europeus.

Esses dois eventos levaram a uma redução na construção de novas usinas nucleares e a um aumento nas regulamentações públicas. O desastre de Chernobyl, em particular, teve um custo altíssimo, estimado em 68 bilhões de dólares. Até hoje, cerca de 6% dos gastos do governo da Ucrânia estão relacionados a Chernobyl, e um percentual semelhante é gasto na Bielorrússia. Em resumo, o impacto financeiro foi enorme.



Mas será que as medidas regulatórias adotadas após Chernobyl, como a redução ou eliminação da construção de novas usinas e o aumento das regulamentações, foram sensatas? Não construir novas usinas significa que as existentes estão envelhecendo, o que aumenta o risco de novos acidentes. Ou seja, em vez de diminuir o risco, essas medidas podem tê-lo aumentado. Vale lembrar que novas usinas provavelmente seriam construídas com tecnologia mais avançada. Desde a década de 1980, a construção de 90 reatores foi interrompida em todo o mundo. Além disso, é muito mais fácil construir uma usina de energia convencional do que uma usina nuclear, o que torna o investimento menos atrativo.

Em outras palavras, Chernobyl praticamente inviabilizou o setor de energia nuclear em muitos lugares. Em vez disso, os países continuaram a usar combustíveis fósseis e outras fontes de energia. Estudos mostram que, quando uma usina nuclear começa a operar, a poluição nas cidades próximas diminui significativamente, aumentando a expectativa de vida da população. Estima-se que a redução na construção de usinas nucleares após Chernobyl tenha resultado em uma perda de 318 milhões de anos de vida.


Como disse Alex Tabarrok: “Chernobyl causou muito mais mortes ao reduzir a construção de usinas nucleares e aumentar a poluição do ar do que por seus efeitos diretos, que foram pequenos, mas não insignificantes.”

Esse efeito negativo continuará por muitos anos, e os números só tendem a aumentar. Será que não deveríamos buscar uma discussão mais racional por parte dos responsáveis pelas políticas públicas? 

14 agosto 2024

Promessas Climáticas Corporativas: Realidade ou Contabilidade Criativa?


A contabilidade tradicional limitava-se a relatar o passado. Porém, nos dias de hoje, parte dos números que aparecem nas informações divulgadas está voltada para o futuro, como a estimativa de ganho em um processo judicial, a previsão sobre o fluxo de caixa que será gerado por uma unidade de negócio quando se faz um teste de recuperabilidade, entre outros. Quando saímos dos números do balanço patrimonial e da demonstração do resultado, a presença do futuro no conjunto de informações divulgado pelas empresas pode também incluir as promessas que estas fazem em relação ao desempenho futuro.

O surgimento da preocupação mundial com o clima demonstrou a existência de uma ligação entre as atividades humanas e o aquecimento global, o que inclui a necessidade de reduzir a queima de combustíveis fósseis. Como boa parte da queima de combustíveis é realizada pelas empresas, começou a existir uma pressão de investidores e reguladores sobre as entidades.

É nesse cenário que surgem as normas de sustentabilidade. Também se iniciou uma pressão para que as empresas pudessem contribuir com o esforço global no sentido de reverter a tendência de aquecimento global. E como isso poderia ser feito? Usualmente, o foco recai sobre as emissões realizadas pelas empresas.

Nos anos recentes, muitas empresas, especialmente aquelas de grande porte e com ações negociadas em bolsa, começaram a divulgar metas de redução de emissões. Isso pode ter ocorrido pelo desejo de agradar a certos grupos, por excesso de confiança, pressão social, desejo de manter a imagem, impulso emocional, medo de dizer "não", entre outras razões.

Com o tempo, tornou-se claro que muitas promessas feitas eram irrealistas. Veja, por exemplo, o que ocorreu com a Air New Zealand, uma empresa tradicional do setor aéreo. Em 2022, a empresa afirmou que sua meta de emissão de carbono seria uma redução de 29%. Isso é muito para um setor que utiliza a queima de petróleo para obter sua receita. E a meta parece ainda mais absurda quando se sabe que o setor adotou uma meta em torno de 5%. Como a Air New Zealand conseguiria obter tal redução? Parece que a única resposta possível seria através da redução do número de viagens realizadas pela empresa, o que significaria perder mercado. E vale lembrar que a redução da emissão de carbono nos aviões depende do desenvolvimento realizado pelos fabricantes de aeronaves, algo fora do controle da gestão da empresa. Poderíamos pensar que a empresa tem uma frota antiga e que uma eventual troca permitiria atingir a meta fixada.

Lembrando que a promessa foi feita em 2022. Atualmente, as empresas aéreas já estão se recuperando do choque da pandemia e o número de voos realizados voltou a crescer. A Air New Zealand decidiu então abandonar a meta de 2030 para as emissões de carbono. A alegação foi de que haveria atrasos na renovação da frota, conforme argumentou o executivo da empresa, Greg Foran.

Outro aspecto interessante nas promessas é que há uma observação atenta sobre o comportamento das empresas. Naturalmente, a atenção está voltada para seus principais representantes e o que eles estão fazendo para atingir as metas. Uma investigação do ProPublica revelou uma história interessante nesse sentido. O site analisou a Nike, mais especificamente o jato particular Gulfstream da empresa, e verificou que o mesmo utilizou várias vezes um campo de aviação perto da casa do CEO da empresa, John Donahoe. Em três anos e meio, o jato aterrissou mais de cem vezes.

Em seus discursos, Donahoe afirmava que a questão climática exigia uma ação urgente. Chegou a afirmar, em 2022, que "estamos [ele e a empresa] mais comprometidos do que nunca em ajudar a salvar o planeta". O interessante é que isso aparece nas demonstrações contábeis da empresa: os jatos particulares emitiram, em 2023, 20% a mais de carbono do que em 2015, o ano de referência nas metas divulgadas. Sim, os voos são uma pequena parte da contribuição da Nike para o aquecimento global. Mas você acreditaria em executivos que falam em redução de emissões e não fazem nada? E os detalhes divulgados pelo ProPublica incluem as viagens que Donahoe fez para um acampamento de verão para bilionários, pousos nas Ilhas Cayman, entre outros.

O caso da Nike, onde os voos do seu executivo foram mostrados em uma investigação, não é único. Algumas pessoas entendem que promessa feita deve ser cumprida. Algumas empresas estão buscando formas mais criativas de contornar os anúncios otimistas do passado. Uma forma criativa é através das emissões líquidas zero. Lembra da companhia aérea da Nova Zelândia que prometeu uma meta irreal? A maneira de fazê-lo seria através da substituição das aeronaves. Mas isso é muito caro e exige saída de caixa, o que, por sua vez, pode reduzir os bônus dos gerentes e as suas mordomias.

Uma forma alternativa para cumprir as promessas otimistas do passado é através da compra de créditos de carbono. Nesse caso, a empresa paga para alguém fazer o seu trabalho. Em muitas situações, pode ser uma boa solução para a sociedade. Por exemplo, a empresa paga a uma entidade sem fins lucrativos para plantar árvores ou ajudar alguém a instalar painéis solares. No entanto, a solução através da aquisição de créditos de carbono, que pode ser barata e rápida, é um caminho fácil demais. Recentemente, a Amazon informou que sua meta de 2030 de ter eletricidade limpa para seus escritórios, centros de dados e armazéns foi atingida. Mas o Google, também uma empresa de tecnologia, comunicou que não estava mais usando o termo “neutro em carbono” para suas operações e a razão disso foi a inteligência artificial. Agora, em vez de olharem as frases otimistas do passado, os investigadores estão observando também a forma como as metas são alcançadas. Afinal, ser neutro em carbono comprando créditos parece não ser tão difícil assim.

Há uma estimativa de que 78% da energia da Amazon nos Estados Unidos tenha como procedência fontes não renováveis. Assim, o anúncio da empresa de que antecipou uma meta de 2030 parece muito mais uma contabilidade criativa, mesmo que esteja investindo uma boa quantia em energia renovável e adotando outras políticas interessantes.

Parece que há uma aposta aqui: as promessas feitas no passado serão esquecidas ou a dificuldade em alcançar as metas climáticas poderá ser perdoada pelos investidores. Isso lembra muito os políticos que fazem falsas promessas, confiando na memória curta dos eleitores. Depois de receberem seus votos, as promessas são esquecidas ou minimizadas. Será esse o futuro das empresas que fazem falsas promessas climáticas?

13 agosto 2024

As atuais economias hiperinflacionárias


A mensuração na contabilidade utiliza como principal, mas não única, medida a unidade monetária. Como cada país possui sua moeda, que é usada no mercado interno e externo nas transações realizadas, a contabilidade trabalha com essa moeda. À medida que as transações internacionais começam a ganhar relevância, a força e a fraqueza das moedas se destacam nos eventos registrados pela contabilidade.

Nas economias onde a inflação é um problema, a contabilidade já desenvolveu alguns métodos para o tratamento das informações, de modo que o usuário possa ter uma melhor compreensão da situação de cada entidade. Se, entre os anos 70 e 90, o Brasil conviveu com elevados níveis de inflação, a contabilidade ainda foi útil, pois as informações foram preparadas para registrar os eventos que ocorriam nas entidades, com um tratamento específico para o aumento de preços. Mas, desde o Plano Real, nosso país não precisa mais aplicar mecanismos sofisticados para reduzir o impacto inflacionário.

(Aqui, um parênteses: há alguns poucos que ainda acham que a inflação no Brasil é alta o suficiente para necessitar da aplicação de critérios de reconhecimento e mensuração que levem em consideração a alta de preços. Mas tenho vários argumentos contra esse pensamento, que fogem do escopo desta postagem.)

No entanto, o problema da inflação ainda persiste em alguns poucos países. A norma de contabilidade praticada em muitos países segue os padrões promulgados pela entidade do terceiro setor chamada Fundação IFRS. E essa entidade diz que, em ambientes com elevada inflação, as entidades devem adotar tratamentos específicos para esse aspecto. Veja que o foco são ambientes com elevada inflação, já que a grande maioria dos países possui algum tipo de inflação, reduzida, mas acima de zero. Convencionou-se chamar essas economias de economias hiperinflacionárias. Para essas economias hiperinflacionárias, deve-se aplicar uma norma do tempo do IASC, denominada IAS 29.

Mas o que são economias hiperinflacionárias? Há várias maneiras de reconhecer isso, mas em termos práticos são aquelas economias que geralmente possuem uma inflação acima de 100% em três anos. Esta é uma daquelas regras que surgem sem que ninguém saiba precisamente sua origem e razão do número, mas que todos passam a adotar como a regra usual para estabelecer quem está em um ambiente hiperinflacionário ou não. Bom, desde 1995, o Brasil não se enquadra nesse grupo, o que é muito bom. Mas muitas empresas brasileiras fazem negócios com outros países e, em alguns casos, com aqueles que estão em ambientes de elevada inflação.

Como o IASB não é muito preciso em determinar quais são os países com economias hiperinflacionárias, a tarefa ficou a cargo do International Practices Task Force (IPTF) do Centre for Audit Quality (CAQ). Apesar de o CAQ classificar os países com o status de elevada inflação para fins de aplicação das normas contábeis dos Estados Unidos, como os critérios são semelhantes, essa classificação é também válida para os demais países que adotam as normas internacionais de contabilidade.

Veja que essa classificação precisa ser feita com antecedência, já que as empresas necessitam saber com antecedência quais os eventos para os quais devem usar o IAS 29. Pois bem, antes do final do ano, o CAQ divulga um documento com a classificação de economias hiperinflacionárias.

O CAQ observa o comportamento recente da inflação, mas também leva em consideração uma tendência dos últimos meses. Felizmente, a lista não é muito grande, mas a relação atual foi recentemente divulgada.

Os países com taxas de inflação acumulada em três anos superiores a 100% são: Argentina, Etiópia, Gana, Haiti, Irã, Líbano, Serra Leoa, Sudão, Suriname, Turquia, Venezuela e Zimbábue. Além disso, há países com taxas de inflação acumulada projetadas para três anos superiores a 100%, que são os seguintes: Egito, Laos P.D.R, Malauí e Sudão do Sul. E um país onde a inflação acumulada em três anos superou 100% nos últimos anos, que é o Iêmen. Além dos países mencionados, a lista é completada com outros onde a inflação acumulada, também para três anos, está entre 70% e 100% ou que possuem um acréscimo expressivo – de 25% ou mais – no período atual. Seriam países onde há um alerta de que os preços podem fugir do controle. A lista inclui: Angola, Burundi, Mianmar, Nigéria, Paquistão e Sri Lanka. Finalmente, a lista termina com países onde se acredita que a inflação é elevada, mas faltam informações. Inclui Eritreia, Síria e Afeganistão.

É possível observar que a lista inclui principalmente países subdesenvolvidos, contemplando especialmente a África (Etiópia, Gana, Serra Leoa, Sudão, Zimbábue, Egito, Malauí, Sudão do Sul, Angola, Burundi, Nigéria e Eritreia, totalizando 12 países), mas há também quatro países do Oriente Médio (Irã, Líbano, Turquia e Síria) e quatro países da América (Argentina, Haiti, Suriname e Venezuela). Da Ásia, além do Oriente Médio, temos cinco países (Laos, Mianmar, Paquistão, Afeganistão e Sri Lanka).

11 agosto 2024

Foi criticar a imprensa e cometeu um erro básico de estatística

Em um artigo publicado no Estadão em 4 de agosto, Claudio de Moura Castro apresenta diversos exemplos de como a imprensa comete erros primários. O título do artigo é “Será a Estatística a Arte de Iludir?”.




Na década de 50, Darrell Huff escreveu um livro que foi um sucesso e é citado até hoje. Chama-se “Como Mentir com Estatística”. Minha edição está em inglês e é datada de 1993, mas sei que o livro foi traduzido, inclusive para o português, e custa cerca de 40 reais.

Parece que, inspirado por Huff, o PhD e pesquisador em educação resolve criticar as pessoas que cometem erros com estatística. No entanto, ele comete um erro que um aluno bem instruído em Introdução à Estatística não cometeria. Leia o trecho:

Em um dos melhores jornais do País soou o alarme: “52,98% dos alunos ficaram abaixo da média”. Que estultice! A média está no “meio” da distribuição. Portanto, próximo da metade dos alunos, obrigatoriamente, estará sempre abaixo da média, não importando quanto sabem. É matematicamente impossível ser diferente.

Logo no primeiro exemplo, há uma confusão básica entre média e mediana. Alguns leitores também perceberam o problema, e irei explicá-lo com um pequeno exemplo hipotético. Suponha uma turma com as seguintes notas em uma disciplina:

2, 2, 2, 2, 4, 5, 5, 5, 5, 5

Para calcular a média, basta somar todas as notas e dividir por 10, pois há dez observações. A média, então, é 3,7. A mediana indica o ponto central das observações. Como temos um número par de observações, a mediana seria a média entre 4 e 5, ou seja, 4,5. Quantos alunos ficaram com nota abaixo da média? Quatro de dez, ou seja, 40%, correspondendo a todos os alunos com nota igual a 2. Quantos alunos ficaram com nota acima da média? Seis de dez, ou seja, 60%, que incluem o aluno com nota 4 e os alunos com nota 5. Todos eles obtiveram uma nota acima da média de 3,7. Assim, o autor do artigo, ao criticar os jornalistas, confunde média com mediana. Este é um tópico de um curso introdutório de estatística, e parece que ele não estaria qualificado para ministrar tal curso, pois não conhece essa distinção.

Há algo sobre o caso, que já foi escrito há milhares de anos, que diz: Não julgueis, para que não sejais julgados.

Rir é o melhor remédio

 

Fonte: aqui

09 agosto 2024

O Uso Indevido de Recursos Públicos por Artistas Ricos durante a Pandemia

 Com a pandemia da Covid, muitos setores sofreram grandes perdas devido às medidas sanitárias. Para mitigar os impactos, diversos governos ao redor do mundo ofereceram apoio financeiro a empresas e pessoas físicas. Em alguns casos, esse apoio era uma doação, sem necessidade de devolução. Em outros, era preciso cumprir certos critérios para ter acesso aos recursos.

Esta história trata do uso indevido desses recursos financeiros em um país desenvolvido e como as regras para obtenção da ajuda foram distorcidas, com a ajuda de profissionais, incluindo contadores. O caso foi relatado pelo Business Insider e se torna ainda mais interessante por envolver figuras conhecidas do entretenimento.

Nos Estados Unidos, o governo destinou mais de 14 bilhões de dólares a diversas pessoas através do programa Shuttered Venue Operators Grants (SVOG). Uma empresa em particular, a NKSFB, ajudou seus clientes, incluindo músicos famosos e ricos, a obter mais de 200 milhões de dólares. O objetivo desse apoio era ajudar a manter negócios afetados pelo fechamento de shows, teatros e outros eventos.

O problema é que alguns músicos muito ricos aproveitaram a falta de fiscalização e as brechas na lei para obter dinheiro público em benefício próprio. Por exemplo, Post Malone recebeu 10 milhões de dólares ao mesmo tempo em que gastava 1 milhão em um hobby de forja de espadas. Outros, como Lil Wayne, assinaram declarações afirmando que seus locais de trabalho eram livres de drogas, um requisito para receber o apoio, apesar de serem conhecidos por seu uso de maconha e outras substâncias.

Com a facilidade em obter o dinheiro, a notícia se espalhou, e a empresa de contabilidade NKSFB ajudou a captar grandes quantias. Uma preocupação era que essa captação pudesse gerar publicidade negativa para os artistas envolvidos, o que poderia prejudicar sua reputação e resultar em processos futuros. Alguns poucos artistas chegaram a considerar que estariam cometendo perjúrio ao solicitar o apoio, já que não tinham real necessidade. No entanto, outros pressionaram, argumentando que essa prática já era comum. Um grupo, Suicideboys, recebeu 3,6 milhões de dólares em agosto de 2021, pouco antes de assinar um contrato vantajoso com um distribuidor.

Entre os envolvidos, um artista se destacou: Paul Anka (foto). O cantor de sucessos como "Diana" e autor de "My Way", popularizada por Frank Sinatra, é uma figura respeitável no setor. Anka recusou fazer o pedido, por considerar que era errado. Enquanto isso, artistas como Post Malone, Lil Wayne e Suicideboys não viram problema em utilizar um recurso público que deveria beneficiar quem realmente precisava.


Esse cenário traz à tona a importância da ética na contabilidade e no aconselhamento financeiro. Profissionais da área, como os contadores envolvidos, têm um papel crucial em guiar seus clientes, não apenas dentro dos limites da lei, mas também em conformidade com princípios éticos. Quando a contabilidade se alia a práticas questionáveis, como no caso da NKSFB, não só a reputação dos artistas é colocada em risco, mas também a integridade da própria profissão contábil. Isso ressalta a necessidade de uma abordagem mais rigorosa e responsável na gestão de recursos públicos, onde a contabilidade deve servir como um guardião da transparência e da justiça.