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23 abril 2024

Disponível e volatilidade do caixa

O meu breve estudo sobre o disponível das empresas de capital aberto no Brasil focou na dispersão do caixa e na relação entre o caixa e o ativo. Usando os dados de junho de 2019 a dezembro de 2023, calculei a dispersão, medida pelo coeficiente de variação, para cada empresa. Na média, os valores ficaram em 66%, mas algumas empresas apresentaram um valor bastante reduzido, de 7,2% (Bic Monark) até mais de 300% (Celgpar, que passou no crivo inicial de excluir as participações por meio do setor outros). Detalharei essa estatística a seguir.


Para fins de comparação, considerei a relação do disponível pelo ativo de dezembro de 2023. Será que a dispersão do disponível nos períodos anteriores afetou a propensão das empresas a criar maiores reservas? Eu esperaria que sim, já que quando o disponível é muito volátil, as empresas tendem a ser mais conservadoras na criação de reservas financeiras. Ou seja, quanto maior o índice de CV, maior também deveria ser o índice de disponível por ativo. Isso parece fazer sentido. Se isso fosse verdadeiro, o gráfico deveria mostrar uma relação direta entre as variáveis. Plotei os resultados no gráfico e a figura a seguir mostra que a relação é contrária ao esperado.


Calculei a correlação e o resultado foi de -0,30, o que é significativo. O gráfico esclarece um pouco o que ocorreu: algumas empresas, com elevada dispersão e baixa relação entre caixa e ativo, puxaram o resultado. Fiz diversas tentativas de excluir esses casos atípicos, mas o resultado persistiu. Tenho uma possível explicação para isso, que não cheguei a testar: talvez a sazonalidade seja responsável pelo resultado. Empresas com maior sazonalidade podem ter uma grande dispersão e o final do ano pode ser um momento de pagamentos, como o décimo terceiro. Mas isso seria apenas uma especulação.


Concluindo, a relação entre a volatilidade dos recursos disponíveis e a propensão das empresas a manterem reservas financeiras parece ser intrigrante. Apesar de uma expectativa inicial de que maior volatilidade levaria a maiores reservas, os dados mostram o oposto, com uma correlação negativa significativa entre estas variáveis. Essa descoberta sugere que outros fatores, como a sazonalidade dos negócios, podem influenciar as decisões financeiras das empresas de maneira mais complexa do que o previsto. 

Volume de caixa

A tabela a seguir mostra as cinco maiores empresas brasileiras por volume de caixa e equivalentes. Os valores estão em bilhões de reais e é possível notar que a empresa de petróleo Petrobras foi a maior entre as empresas brasileiras no volume de caixa, exceto durante o auge da pandemia, quando o posto foi ocupado pela Vale. Além dessas duas empresas, a Ambev sempre esteve presente na relação. Ao longo do tempo, as demais posições foram ocupadas por diversas empresas. 


O problema dessa informação é que os dados estão em valores nominais. Para ter uma melhor dimensão ao longo do tempo, fiz a correção dos valores usando o INPC do IBGE. Na nova tabela, todos os valores estão a preços de dezembro de 2023 e é possível perceber melhor que a Petrobras chegou a ter um disponível de quase 150 bilhões, a preços de dezembro de 2023, no final de 2015. Nos anos seguintes, a gestão da empresa reduziu o volume de recursos para menos da metade. Um caso interessante é o da Vale, que em 2020 tinha 86 bilhões disponíveis e terminou 2023 com 17 bilhões. É bom lembrar que a empresa estava preparando as reparações do desastre ambiental e tinha cortado, um ano antes, o pagamento de dividendos.


Reservas Financeiras Durante Períodos de Incerteza

O montante de recursos disponíveis mantido por uma empresa é uma informação crucial. Em um mundo ideal, caso haja necessidade de recursos adicionais, a empresa rapidamente captaria no mercado financeiro, o que significaria que a quantidade de dinheiro em caixa não precisaria ser substancial. No entanto, vivemos em um mundo repleto de incertezas e imprevistos frequentes. Nessas circunstâncias, ter uma reserva de caixa pode ser vital para lidar com eventos inesperados e proteger-se de possíveis contingências. 

Além disso, possuir uma reserva de caixa assegura que as operações diárias da empresa não sejam interrompidas por instabilidades financeiras e que oportunidades de negócios não sejam perdidas. 

A tabela a seguir apresenta o volume de recursos disponíveis de empresas de capital aberto, excluindo-se aquelas do setor financeiro e as classificadas em outros setores, que geralmente incluem empresas de participações. Para permitir uma comparação justa entre empresas de diferentes tamanhos, como a Petrobras e a menor Hercules, o valor dos recursos disponíveis é dividido pelo total de ativos.  


Para analisar o comportamento das empresas, utilizei a mediana da relação entre os recursos disponíveis e o ativo total. A mediana é mais eficaz que a média no tratamento de valores extremos. Calculei também o desvio dessas medidas para determinar se a dispersão entre as empresas aumentou ou diminuiu ao longo do tempo.  

Observa-se que o volume de recursos em caixa teve um aumento significativo em 31 de dezembro de 2020. Posteriormente, houve uma redução, estabilizando-se em torno de 6% nos anos seguintes. O aumento observado no final de 2020 pode ser explicado pela precaução: diante de um cenário de incerteza, os gestores financeiros optaram por incrementar os recursos disponíveis, que funcionam como uma reserva financeira para as empresas. Como nem todas as empresas conseguiram aumentar sua proporção de caixa, a dispersão dos dados também cresceu, atingindo o maior valor do período analisado.  

A análise do volume de recursos disponíveis nas empresas de capital aberto evidencia uma estratégia prudente adotada pelos gestores financeiros, especialmente em tempos de incerteza. O aumento desses recursos no final de 2020, durante a pandemia, destaca a importância de manter uma reserva financeira robusta para enfrentar imprevistos sem comprometer as operações diárias. Este comportamento cauteloso dos gestores não apenas reflete uma resposta às flutuações do mercado, mas também destaca a relevância de práticas de gestão de risco eficazes em ambientes empresariais voláteis.

Necessidade de Investimento em Giro em cinco empresas de varejo

Cinco empresas comerciais foram analisadas sobre a necessidade de investimento em capital de giro. Selecionei a Raia Drogasil e a Pague Menos, duas redes de farmácias; a Vivara, uma loja de artigos de luxo; o supermercado Pão de Açúcar e a Marisa. Utilizando os dados de junho de 2019 até dezembro de 2023, selecionei as contas de valores a receber, estoques e fornecedores. A soma dos dois primeiros, menos a subtração do terceiro, representa a necessidade de recursos que a empresa tem para investir no capital de giro. Os dados estão em milhões de reais, e a tabela abaixo apresenta a média das três contas, além da média da NIG.

Houve dezenove observações, com variações ao longo do tempo. As empresas Drogasil, Vivara e Pague Menos apresentaram uma evolução ao longo dos trimestres estudados. Um exemplo é o volume de estoques da Drogasil, que aumentou de 3 bilhões para 7,2 bilhões no final de 2023, uma evolução bastante expressiva. Por outro lado, a empresa Vivara lida com elevada sazonalidade. No final de dezembro de 2023, o volume de valores a receber dos clientes chegou a 831 milhões, sendo que no final do trimestre anterior era de 515 milhões.

O Pão de Açúcar viu um esvaziamento por conta da venda da rede Extra para o Carrefour e a cisão na empresa. O valor de fornecedores, que estava em 14,9 bilhões no final de 2019, caiu para 3,3 bilhões em 2023, em 31 de dezembro. A Marisa reflete o impacto da recuperação judicial, resultado de erros de gestão. A conta de fornecedores manteve-se na casa dos 400 milhões de reais na maior parte do período, enquanto o estoque, que era de 437 milhões no início do período analisado, caiu para 146 milhões, em dezembro de 2023. A redução na conta de clientes foi ainda maior: de 749 milhões em junho de 2019 para 70 milhões em dezembro de 2023.


Também calculei a dispersão de cada conta ao longo do período. O valor está na parte do meio da tabela. É impressionante a consistência do resultado da Drogasil, já que a dispersão, em relação à média, foi de 29%, 25% e 28% para as três contas. A Pague Menos também segue nessa linha (21%, 31% e 22%). Já a Vivara, que possui elevada sazonalidade, apresenta uma dispersão, medida pelo coeficiente de variação, variando em 40%, 35% e 67%, respectivamente.

Destaquei a consistência da Drogasil por outra razão: a elevada correlação entre as três contas do investimento em giro. Há uma sincronia nas contas, já que, quando há um aumento nos estoques, o mesmo ocorre com valores a receber e fornecedores. A correlação, a medida estatística que mensura a relação entre dois conjuntos de dados, é próxima da unidade, o valor máximo possível. Além disso, é positiva nos três cálculos, indicando que a relação é direta: um aumento nos estoques será observado também com um aumento em fornecedores, por exemplo.

A relação entre estoques e fornecedores para a Pague Menos e o Pão de Açúcar segue o mesmo padrão, mas na Marisa, o resultado foi -0,22, indicando uma baixa relação e valores negativos. Novamente, isso é reflexo da recuperação judicial.

21 abril 2024

Xadrez: Torneio dos Candidatos - 1

 Anteriormente postei

No lado open, também são oito candidatos: dois americanos, um francês (nascido iraniano), três indianos, um azeri e um russo. O favorito é Fabiano Caruana, um descendente de italianos, que possui o segundo maior rating atual, com 2801. Em 2014, Caruana chegou a marcar a terceira maior pontuação da história, atrás somente de Carlsen, o melhor jogador de todos os tempos, com uma pontuação de 2889, que não está competindo, e de Kasparov, que chegou a ter 2857. Mas não descarto Ian Nepomniachtchi, conhecido como Nepo, que por duas vezes foi desafiante ao título e perdeu. Atualmente temos uma grande geração de jogadores oriundos da Índia, e o jovem de 18 anos, Praggnanandhaa R, além de Vidit Gujrathi, que tem 29, são fantásticos. Mas Gukesh, com apenas 17 anos, talvez seja o grande destaque. A pontuação dos três estaria na casa dos 2752 (Praggnanandhaa), 2748 (Gukesh) e 2729 (Vidit). Passada metade dos jogos, Nepo lidera com 4,5 pontos, seguido de Gukesh, Praggnanandhaa e Caruana, todos com 4 pontos. Ou seja, ainda haverá muita disputa. Somente Nepo e Caruana estão invictos. Quem vencer irá disputar o título contra o chinês Liren Ding, que possui atualmente a sexta pontuação do mundo.


No momento que posto, Gukesh acaba de conquistar o direito de desafiar o atual campeão mundial, Liren Ding. Apesar de ter somente 17 anos, o indiano superou um derrota contra o ex-iraniano (atual francês) Firouzja (penúltimo do torneio) onde cometeu um erro de cálculo, para brilhar nas rodadas seguintes. Na última rodada, a combinação de resultados favoreceu Gukesh. 

Dommaraju Gukesh, comumente conhecido como Gukesh D, é uma das jovens promessas do xadrez indiano e um dos mais jovens Grandes Mestres (GM) da história do xadrez. Ele conquistou o título de GM aos 12 anos e 7 meses em 2019, destacando-se por seu rápido progresso. Caso Gukesh vença a disputa irá bater um recorde: o mais jovem campeão de xadrez do mundo. Anteriormente, Kasparov venceu o título com 22 anos. Gukesh baterá o recorde com folga. 

18 abril 2024

Influência e clima

A revista Time escolheu 100 pessoas influentes no mundo. Um nome brasileiro somente:


Coragem profundamente enraizada e tenacidade inabalável definem esta mulher notável. Uma nativa da Amazônia de uma família de seringueiros, Marina Silva aprendeu a ler e escrever na adolescência. Ela seguiu para se tornar uma das Senadoras mais influentes do Brasil e concorreu à presidência. Hoje, como Ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, ela está reconstruindo a capacidade do Brasil de interromper o desmatamento ilegal desenfreado na Amazônia, uma missão que tem sido o centro de sua vida política e ativista. Contra todas as probabilidades, ela está corajosamente impulsionando uma transição doméstica de energia centralizada em combustíveis fósseis para energia renovável gerada localmente. Internacionalmente, ela defende que reconsideremos nossas perspectivas limitadas sobre o que a proteção da natureza pode custar e, em vez disso, abraçamos um entendimento mais abrangente do impacto econômico extraordinário e do valor que a natureza oferece. Neste verão, ela defenderá o conceito durante a cúpula do G-20 no Brasil.

Troca de auditor e reapresentação


Eis o resumo: 

Objetivo: o objetivo foi analisar se empresas que reapresentaram as Demonstrações Financeiras (DFs) sofreram alterações nos honorários e/ou mudança da firma de auditoria no ano subsequente ao evento.

Método: foram analisados dados de 323 empresas não financeiras listadas na B3, totalizando 2.712 observações (empresas/ano) entre 2010 e 2020. Os dados foram obtidos nos sites da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), da ComDinheiro e no repositório de dados de Perlin (2020). Utilizamos estatística descritiva, testes de diferença entre médias e regressão com dados em painel para a análise.

Resultados: empresas que reapresentaram suas demonstrações financeiras pagaram honorários de auditoria mais elevados no ano subsequente e tiveram maior chance de troca de firma de auditoria.

Contribuições: este estudo é relevante para auditores, membros de comitês de auditoria e governança, e fornecem evidências para embasar decisões sobre contratação e rescisão de auditorias independentes. Indica que o aumento nos honorários pode ser uma compensação pelo risco percebido, e a troca de firma de auditoria pode servir como uma forma de punição ou proteção da reputação organizacional diante das reapresentações.

O artigo foi publicado na REPeC, em 2024. Há muitos trechos interessantes no artigo, mas eis um deles: 


Imagem criada pelo ChatGPT