O meu breve estudo sobre o disponível das empresas de capital aberto no Brasil focou na dispersão do caixa e na relação entre o caixa e o ativo. Usando os dados de junho de 2019 a dezembro de 2023, calculei a dispersão, medida pelo coeficiente de variação, para cada empresa. Na média, os valores ficaram em 66%, mas algumas empresas apresentaram um valor bastante reduzido, de 7,2% (Bic Monark) até mais de 300% (Celgpar, que passou no crivo inicial de excluir as participações por meio do setor outros). Detalharei essa estatística a seguir.
Para fins de comparação, considerei a relação do disponível pelo ativo de dezembro de 2023. Será que a dispersão do disponível nos períodos anteriores afetou a propensão das empresas a criar maiores reservas? Eu esperaria que sim, já que quando o disponível é muito volátil, as empresas tendem a ser mais conservadoras na criação de reservas financeiras. Ou seja, quanto maior o índice de CV, maior também deveria ser o índice de disponível por ativo. Isso parece fazer sentido. Se isso fosse verdadeiro, o gráfico deveria mostrar uma relação direta entre as variáveis. Plotei os resultados no gráfico e a figura a seguir mostra que a relação é contrária ao esperado.
Calculei a correlação e o resultado foi de -0,30, o que é significativo. O gráfico esclarece um pouco o que ocorreu: algumas empresas, com elevada dispersão e baixa relação entre caixa e ativo, puxaram o resultado. Fiz diversas tentativas de excluir esses casos atípicos, mas o resultado persistiu. Tenho uma possível explicação para isso, que não cheguei a testar: talvez a sazonalidade seja responsável pelo resultado. Empresas com maior sazonalidade podem ter uma grande dispersão e o final do ano pode ser um momento de pagamentos, como o décimo terceiro. Mas isso seria apenas uma especulação.
Concluindo, a relação entre a volatilidade dos recursos disponíveis e a propensão das empresas a manterem reservas financeiras parece ser intrigrante. Apesar de uma expectativa inicial de que maior volatilidade levaria a maiores reservas, os dados mostram o oposto, com uma correlação negativa significativa entre estas variáveis. Essa descoberta sugere que outros fatores, como a sazonalidade dos negócios, podem influenciar as decisões financeiras das empresas de maneira mais complexa do que o previsto.