09 abril 2024
Tudo, menos fluxo de caixa
Sobre a rede social de Trump:
(...) E talvez ele terá uma questão de exame final — na verdade, uma questão de quiz da primeira semana — como: "Donald Trump tem uma empresa de capital aberto com o símbolo de ação DJT (suas iniciais), ele possui mais da metade das ações, seu modelo de negócio é 'lutar contra as grandes empresas de tecnologia ... que ele acredita que conspiram para restringir o debate na América e censurar vozes que contradizem sua ideologia woke', e no último ano teve um prejuízo líquido de $58,2 milhões em uma receita de $4,1 milhões. Quanto vale essa empresa?" E se você escrever "bem, a Meta Platforms Inc. negocia por cerca de 9,3 vezes as receitas, então talvez $40 milhões?" você vai errar.
(...) Mas parece — como uma questão empírica, mas também apenas intuitivamente — que muitas pessoas gostariam de comprar ações de um token eletrônico chamado "DJT" que representa sua afeição por Donald Trump, que os marca como membros de um clube de apoio a Donald Trump, e que na verdade enriquece o próprio Trump e o apoia em seus empreendimentos. E assim, eles poderiam pagar dinheiro por esse token. E os fluxos de caixa simplesmente não entram nisso em absoluto.
Fonte: Bloomberg. Imagem ChatGPT
Análise Multivariada e Contabilidade
A Análise Multivariada (AMV) representa uma extensão dos métodos estatísticos univariados e bivariados, permitindo investigar simultaneamente a relação entre múltiplas variáveis. Trata-se de um conjunto de técnicas muito usada em quase todos os campos científicos, especialmente quando existem eventos que são influenciados por várias variáveis conectadas.
Sua importância decorre da capacidade de controlar o efeito de múltiplas variáveis ao mesmo tempo, permitindo uma compreensão mais precisa dos dados. Por isso, pode ser útil para identificar padrões, tendências e associações que não conseguimos usando as variáveis de forma separada ou através da mera observação dos dados. Uma potencial aplicação é no processo preditivo.
Para a contabilidade, a AMV pode ser uma ferramenta muito útil para diferentes aplicações em diferentes campos da contabilidade. Usando as técnicas, podemos ter instrumentos poderosos para analisar a saúde financeira de uma empresa através do estudo integrado de índices. Outro campo onde a AMV pode ser usada é na detecção de fraudes, analisando padrões e ajudando a identificar transações que desviam do padrão usual. Na análise de risco, podemos verificar o impacto de fatos no risco. Na contabilidade gerencial, as técnicas podem ser úteis em diferentes situações.
Um levantamento que fiz em mais de 30 obras que abordam o tema, sob diferentes perspectivas, permitiu listar as cinco técnicas mais populares de AMV. Na ordem:
1. Regressão – esta é uma técnica presente em qualquer obra sobre o assunto. Em muitos cursos, os professores dedicam um grande foco de atenção a este assunto, e realmente seu conhecimento é importante para um profissional contábil que deseja ter uma visão mais sofisticada de diversos temas. Um exemplo onde a regressão pode ser usada na contabilidade é na contabilidade de custos, onde o custo de uma empresa pode ser dividido em uma parcela fixa, que seria a constante do resultado obtido na regressão, uma parcela que varia conforme o volume de atividade da empresa, o chamado custo variável por atividade, além do custo por lote de produção, custo decorrente da diversidade do produto, custo de parada, entre outros.
2. Regressão Logística – esta poderia ser usada quando trabalhamos com as chances de ocorrência de um evento onde o resultado esperado é do tipo categórico. Um exemplo é estimar a chance de falência de uma empresa a partir dos índices de análise, como liquidez ou endividamento. A logística pode criar uma expressão onde os índices são usados, sendo possível tomar uma decisão baseada na probabilidade. Este é um método um pouco mais sofisticado, mas tem se tornado popular com os softwares estatísticos e a atratividade em termos de restrição de uso.
3. Análise de Cluster ou de Agrupamento – a ideia da análise é verificar se um conjunto de elementos pode ser dividido em grupos em razão de sua semelhança. Estamos classificando um conjunto de hospitais com base na sua receita, tipo de atendimento, taxa de leitos, entre outras medidas. A análise de cluster agrupa os hospitais de maneira mais precisa, onde os hospitais com características semelhantes estarão no mesmo grupo. Essa é uma técnica que pode ser usada quando não sabemos muito sobre o objeto de estudo, facilitando as comparações e análises que possam ser feitas.
4. Análise Discriminante – A análise discriminante é uma velha conhecida na literatura contábil na construção de índices de solvência. Os índices de Altman e de Kanitz foram construídos com base nessa técnica. Veja, a análise é muito parecida com a logística: queremos distinguir dois ou mais grupos (solvente e insolvente, por exemplo) com base em características (os índices de balanço). Confesso que fiquei surpreso ao verificar que a análise ainda é estudada na literatura de AMV, pois achava que a mesma já tinha sido substituída pela logística.
5. Análise de Componentes Principais – Essa técnica procura reduzir um grande conjunto de dados em algumas poucas informações. Se fiz um questionário com 30 perguntas e não sei como analisar, a PCA, como é chamada, pode ser útil ao reduzir em um menor número de componentes. Se o analista der sorte, dos 30 itens talvez somente dois ou três realmente importam. E isso ajuda muito no processo de análise e compreensão do que está ocorrendo. Há uma grande controvérsia na literatura sobre a diferença da PCA com a análise fatorial, que também é bastante estudada.
Além destas técnicas, outras aparecem na literatura e podem ser úteis para o contador: análise de variância, análise fatorial (exploratória e confirmatória), correlação canônica, equação estrutural, escalonamento multidimensional, correspondência, árvore de decisão, entre outras. Boa diversão.
(Imagem criada pelo Chatgpt a partir do texto acima)
08 abril 2024
Por que as lâminas são tão frequentemente roubadas?
Um texto da Hustle tenta entender a razão da preferência dos ladrões pelas lâminas de barbear. Esse é um produto frequentemente roubado em lojas, com uma taxa de roubo até 2,5 vezes maior que outros produtos. As razões para isso incluem a alta demanda por lâminas de barbear, seu valor por peso e a facilidade de escondê-las. O alto custo de cartuchos de reposição aumenta o apelo de comprar lâminas no mercado negro.
O roubo de lâminas de barbear causa perdas significativas para as lojas, que têm margens de lucro menores que os fabricantes de lâminas. Para reduzir o roubo, muitas lojas trancam as lâminas, o que pode gerar inconvenientes para os clientes e aumentar os custos.
7 regras para sua vida financeira
Boa parte do texto a seguir é do site The Blunt Bean Counter. Mas, seguindo a orientação de Gigerenzer (Preparados para o Risco) e Ockham, regras simples podem ajudar muito mais do que modelos complexos. Algumas das regras são efetivamente corretas, enquanto outras são sugestões para uma boa gestão financeira.
1 – Regra dos 72 – Essa mostra em quanto tempo você dobrará seu investimento. Se você aplicar 100 unidades monetárias hoje, em quanto tempo, dada uma taxa de juros, você terá juros somados de 100, o que corresponde a uma riqueza somada de 200. Para isso, basta dividir 72 pela taxa de juros da aplicação. Se a taxa de juros estiver em base anual, o resultado será em anos. Caso a taxa esteja em base mensal, o resultado será em meses. Suponha que o investimento de 100 seja aplicado a 6% ao ano. Dividindo 72 por 6, temos 12. Ou seja, em 12 anos o valor inicial investido terá duplicado. É uma regra intuitiva, pois quanto maior a taxa do investimento, mais rápido será o retorno. Atenção, pois há a suposição de que a taxa será constante no tempo, o que muitas vezes não ocorre.
2 – Regra dos 4% - Essa regra financeira é mais questionável que a anterior, mas pode ser usada para calcular quanto você deveria ter de ativos ao se aposentar. O cálculo é feito da seguinte forma: é necessário saber com quanto dinheiro seria razoável viver na aposentadoria. Suponha que você precise de 10 mil reais por mês para suas despesas, incluindo diversão e despesas médicas, totalizando 120 mil reais por ano. Divida 120 mil reais por 0,04, resultando em 3 milhões de reais. Mas o que representa esse 4%? Suponha que você se aposente aos 65 anos. Retirando 120 mil reais por ano, seu patrimônio de 3 milhões esgotará em 25 anos. A fórmula pode ser adaptada para cada situação. Imagine agora que você acredite que viverá até os 100 anos. Portanto, o tempo como aposentado aumentará de 25 para 35 anos. Nesse caso, o valor pode diminuir de 4% para 2,9%. Essa regra também pode ajudar a fazer uma estimativa da economia necessária.
3 – Regra 50/30/20 – Novamente, uma regra baseada em suposições e, portanto, deve ser vista com cuidado. Da sua renda, metade será gasta em necessidades básicas, como alimentação, aluguel, saúde, entre outros. Trinta por cento seriam destinados a gastos não básicos, como restaurante, Netflix e celular novo. E o restante deveria ser reservado para aposentadoria e segurança. Claro que muitos não poderão destinar 1 real de cada 5 que recebem, mas é sempre bom lembrar que o valor descontado para a previdência social poderia entrar nessa conta. Essa é uma regra motivadora, que incentiva cada pessoa a reservar parte de sua renda para a segurança pessoal de uma boa aposentadoria.
4 – 6 meses – Toda pessoa deve ter um fundo de emergência. O valor do fundo pode variar conforme a idade e o risco envolvido. Sua principal função é ter dinheiro caso fique sem emprego. Com um fundo de emergência de 6 meses, cada pessoa deveria ter uma reserva equivalente a seis meses de salário. Em caso de demissão, esse fundo permitiria manter o padrão de vida enquanto se busca uma nova oportunidade no mercado de trabalho. Na verdade, a reserva de seis meses pode ajudar a sobreviver por mais tempo, já que ajustes na vida financeira são possíveis.
5 – Regra do reparo de aparelhos – Eu conhecia a regra dos sete anos. Geralmente, sete anos após a compra de um aparelho, a chance de ele quebrar aumenta substancialmente. Há, inclusive, a conhecida crise dos casais dos sete anos de vida conjunta, quando TV, geladeira, máquina de lavar e outros aparelhos começam a dar problema. É necessário decidir entre comprar um novo ou fazer o conserto. A regra do reparo diz o seguinte: compre um novo se o aparelho com problema tiver mais de oito anos ou o reparo custar mais da metade do custo de reposição. Pode ser uma regra singela, mas evita perder tempo com objetos velhos demais.
6 – Regra dos 10 – Essa regra evita a decisão de compra por impulso. Quando decidir comprar algo, espere dez dias entre o primeiro impulso e a efetivação da compra. Essa é a fórmula mais simples da regra, mas ela pode variar conforme o valor da compra. Se o valor da compra for muito pequeno, espere pelo menos 10 horas. À medida que o valor aumenta, divida pelo tamanho da sua renda. Imagine que você queira comprar um carro que custa 100 mil. Sua renda mensal é de 10 mil. Divida esse número e espere dez meses após começar a pensar na compra. Obviamente, essa regra exige muito autocontrole financeiro.
7 – Regra dos dois zeros – Essa é de minha autoria. Ao analisar seu orçamento, você poderá perceber que algumas despesas podem ser cortadas. Um exemplo é o pacote de streaming que você não assiste; ou a assinatura do Spotify que pouco escuta; ou a despesa com uma academia pouco frequentada. Qualquer pessoa pode ter algo assim. Se não agir, com o passar do tempo, a pequena despesa torna-se um rombo enorme. A regra dos dois zeros mostra como calcular rapidamente o valor total de manter uma despesa desnecessária. Para isso, adicione dois zeros ao valor mensal da despesa e veja o que isso representará ao longo da vida. Os cem reais dos pacotes de streaming significarão dez mil reais. Os 200 reais da academia correspondem a 20 mil reais. Duas pequenas despesas mensais já totalizam 30 mil reais devido à nossa inação. A explicação para a regra é a seguinte: quando um fluxo de caixa é constante e tende ao infinito, o valor presente do mesmo pode ser obtido dividindo pela taxa de juros do período. Aqui, estou assumindo que a taxa de juros é de 1% ao mês, um valor elevado, mas que incentiva as pessoas a agirem.
Boa sorte com as regras simplificadas para suas finanças pessoais.
07 abril 2024
Mito das Dez Mil horas
Gladwell popularizou a ideia de que seriam necessárias dez mil horas para produzir um especialista em qualquer área. O autor utilizou um artigo de 1993, de Anders Ericsson, que estudou músicos que alcançavam ou não fama mundial. A simplificação de Gladwell era bastante atraente, assim como todos os temas do autor. No entanto, era uma enorme simplificação.
Na verdade, Anders falava no número de horas, mas insistia na prática deliberada. O pesquisador esclarece isso de forma bem consistente no livro "Direto ao Ponto", que faz uma boa leitura. Mas encontrei um artigo de Scott Young onde se questiona o fato de Anders ter subestimado a habilidade ou o talento. Naturalmente, isso varia conforme o campo de conhecimento. Mas Young chama a atenção para o fato de que o processo é comparativo. Um cantor de elevada qualidade significa uma comparação com milhões de outros cantores. Aqui, a exigência de um grande número de horas dedicadas à prática deliberada pode ser necessária. Mas pessoas que tocam Glass Armonica, um instrumento que usa uma série de tigelas de vidro de tamanhos graduados onde o músico toca as bordas umedecidas com os dedos para produzir sons, são raras e exigirão menos devoção para ser um artista de elite.
A discussão é importante e afeta o campo do ensino. Considere um programa de doutorado. Uma das habilidades importantes para a futura doutora é a capacidade de fazer pesquisa e escrever relatórios. Assim, a prática focada na pesquisa pode ser uma exigência interessante para a aluna de pós-graduação, mais do que fazer provas sem consulta ou decorar deduções matemáticas.
Leia: Young, Scott. The 10,000-Hour Rule is a Myth. 23 de jan 2024. Imagem criada pelo ChatGPT
05 abril 2024
Faleceu Michael Jensen
Michael Jensen, um dos mais influentes economistas dos últimos anos, faleceu no dia 3 de abril. Ele ficou muito conhecido por suas contribuições para a teoria das finanças corporativas. Talvez sua principal obra seja um artigo escrito em conjunto com William Meckling, denominado "Theory of the Firm: Managerial Behavior, Agency Costs and Ownership Structure" em 1976.
No texto, os pesquisadores exploram os conflitos de agência. A base é que os interesses do principal podem não ser o mesmo do agente. Em uma empresa, um exemplo seria o interesse do gestor - o agente aqui - que não coincide com o interesse do acionista, o principal nessa relação. Há diversas maneiras de resolver o problema de agência, como a remuneração.
Jensen era americano e fez mestrado e doutorado na Universidade de Chicago, tendo por orientador Merton Miller. Ele foi fundados do Social Science Research Network ou SSRN. Particularmente, nunca consegui entender as razões do não reconhecido do Nobel de Economia.