A expansão dos programas de pós-graduação em nossa área, ocorrida no início do milênio, também trouxe uma consequência importante: o aumento dos periódicos nacionais. Como cada programa “tinha” seu periódico, com algumas exceções, o número de veículos para publicação das pesquisas cresceu substancialmente. Outro fator importante foi o fato de que a grande maioria era em formato digital, o que significava um custo próximo de zero. Tudo parecia funcionar perfeitamente: o aumento no número de alunos e docentes na pós-graduação levava ao crescimento da produção científica, que, por sua vez, impulsionava os periódicos.
Há outro fato que não podemos desprezar que ocorreu no Brasil. Algumas áreas da pós-graduação decidiram deixar de lado as métricas tradicionais de publicação, usadas globalmente, e passaram a contar com uma métrica específica para o nosso país, o Qualis. Assim, um periódico não precisava estar em uma grande base mundial de pesquisa para entrar no Qualis. Também não era relevante a publicação de pesquisa em inglês, a linguagem universal da ciência atual.
Mas, nos últimos anos, os editores de periódicos perceberam três pontos relevantes. O primeiro deles é que a quantidade de artigos de qualidade submetidos parece ter diminuído. Houve também uma redução na demanda por pós-graduação que pode justificar parcialmente essa redução. E a redução no número de alunos da pós – ou talvez seja no número de candidatos dispostos a fazer a pós – ocorreu dado que a expansão da pós atendeu à demanda reprimida que existia, representada por professores mais experientes que precisavam da titulação, e por uma visão de que estudar em uma instituição formal talvez não seja tão vantajoso assim. Este último ponto é polêmico e merece, eu sei, maior aprofundamento.
Mas a menor quantidade de artigos submetidos certamente não foi justificada somente pelo menor número de alunos da pós. Os autores de pesquisa perceberam que publicar em periódicos internacionais tinha algumas vantagens interessantes. Na maioria dos casos, essa publicação é paga, mas o fato de a pesquisa ser indexada em uma base de publicação reconhecida permite que a pesquisa seja citada no exterior. Um dos grandes motores da publicação é o orgulho, e ter um artigo publicado em língua inglesa, citado por um autor de outro país e até reconhecido, compensa o desafio de publicar em periódico internacional.
O segundo ponto relevante que os editores perceberam é que o custo de manter um periódico não é zero. Você precisa ter um apoio administrativo para lidar com a quantidade de artigos que chegam, o registro do periódico em algumas bases, para torná-lo mais atrativo, tem um custo, e o tempo que o editor se dedica à tarefa é muito grande. E a brincadeira cansa. Há pressão para soltar o periódico no prazo, manter-se atualizado em termos de novas tendências, encontrar pareceristas que façam um bom trabalho e lidar com a concorrência. Tornou-se comum os periódicos demorarem mais de 500 dias para recusar um artigo depois de seis rodadas com um parecerista (aconteceu comigo). Outros simplesmente não fazem seu artigo progredir. Ou publicam seu artigo atrasado, afetando seu planejamento de publicação. E muitas pessoas perceberam que ser editor de um periódico significa trabalho, mas muito pouco status.
A percepção chegou de forma forte para alguns periódicos, onde os editores foram fazer outra coisa e ninguém apareceu para se dedicar com empenho à tarefa. Vários deles sumiram. Publiquei, por exemplo, um artigo em um deles e não guardei a versão final em PDF. O resultado é que, quando alguém pede a pesquisa, não tenho como encaminhar. O custo oculto do periódico não foi devidamente calculado no passado e cobra seu preço.
A terceira questão é que o processo de publicar um artigo em um periódico é mais complexo do que parece. Não irei falar aqui da fase de formatação ou da fase de captação dos pareceristas, mas sim do momento após o artigo estar disponível para os leitores. Alguns periódicos internacionais enviam um e-mail bastante atraente com um resumo menos técnico para que a pesquisa cause impacto. Isso envolve podcasts e infográficos que são realmente atraentes. A presença nas redes sociais também é notada, o que inclui postagens específicas em blogs, Instagram ou TikTok. Durante quase vinte anos de blog, confesso que não me lembro de um editor solicitando a divulgação das pesquisas dos periódicos. Fazemos isso por opção, mas a falta de interesse mostra que o caminho da divulgação das pesquisas por parte dos periódicos brasileiros precisa melhorar bastante.
É verdade que alguns poucos periódicos perceberam que precisam estar em bases de dados indexadas para serem vistos. Ou que os artigos só serão lidos se estiverem em língua inglesa. Ou que poderiam lançar um serviço de apoio ao autor para ajudá-lo no processo de submissão e publicação. Ou que o e-mail enviado aos cadastrados não seja apenas algo como "foi publicada uma nova edição". No mundo onde a atenção é importante, atrair o leitor significa ter pessoas que não só irão ler, mas também citar os trabalhos.
Diante desse contexto, o processo de extinção de periódicos continuará acontecendo. Alguns poucos até serão vendidos para editoras internacionais, que passarão a cobrar pela publicação e acesso ao artigo. Outros continuarão com uma qualidade de atendimento ao pesquisador tão ruim que serão extintos ou definharão.
(Imagem criada pelo GPT a partir do texto acima)