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31 março 2024

Linguagem obscura, não saber o que diz ou não acreditar no que diz

Um texto de Gellman pontua sobre a escrita nebulosa. Ele lembra George Orwell, autor de Revolução dos Bichos, que afirmava que se você não sabe o que está dizendo - ou está dizendo algo que não quer dizer - um estratégia é escrever de forma pouco clara. Gellman usa o argumento para a linguagem científica e o uso da estatística. 

Pode ser isso: Você está tentando escrever algo que não entende completamente, está tentando preencher uma lacuna entre o que você quer dizer e o que é realmente justificado pelos seus dados e análise... e o resultado é "Orwelliano", no sentido de que você está desesperadamente usando palavras para tentar cobrir esse abismo enorme no seu raciocínio.

Vamos agora para uma informação contábil. Parte da informação pode ser transmitida por palavras, gráficos e discurso do executivo. Para o contador, os números das demonstrações deveriam ser um campo de fácil comunicação. Assim, não seriam um problema. Mas a comunicação escrita, gráfica e verbal pode ser um problema.

Vamos nos ater aqui somente à linguagem textual. Junto com os números contábeis, há a necessidade de escrever as notas explicativas, o relatório do auditor e outros textos. E o contador precisa dizer coisas que ou não sabe ou não acredita.

Há técnicas para resolver os problemas da escrita, mas o uso de uma linguagem não clara pode ser uma saída para a situação. Outra possibilidade é usar a linguagem que já existe nos pronunciamentos, reproduzindo o texto, sem comprometer-se com a realidade que ele percebe.

Essa é uma razão interessante pela qual o estudo da linguagem opaca, com termos complicados, frases longas e sem sentido, pode ser útil para o usuário da informação. Saber se o contador entende o que está escrevendo ou acredita naquilo que informa pode ser realmente valioso.

(Imagem ChatGPT)

28 março 2024

Comentário sobre os periódicos nacionais

A expansão dos programas de pós-graduação em nossa área, ocorrida no início do milênio, também trouxe uma consequência importante: o aumento dos periódicos nacionais. Como cada programa “tinha” seu periódico, com algumas exceções, o número de veículos para publicação das pesquisas cresceu substancialmente. Outro fator importante foi o fato de que a grande maioria era em formato digital, o que significava um custo próximo de zero. Tudo parecia funcionar perfeitamente: o aumento no número de alunos e docentes na pós-graduação levava ao crescimento da produção científica, que, por sua vez, impulsionava os periódicos.


Há outro fato que não podemos desprezar que ocorreu no Brasil. Algumas áreas da pós-graduação decidiram deixar de lado as métricas tradicionais de publicação, usadas globalmente, e passaram a contar com uma métrica específica para o nosso país, o Qualis. Assim, um periódico não precisava estar em uma grande base mundial de pesquisa para entrar no Qualis. Também não era relevante a publicação de pesquisa em inglês, a linguagem universal da ciência atual.

Mas, nos últimos anos, os editores de periódicos perceberam três pontos relevantes. O primeiro deles é que a quantidade de artigos de qualidade submetidos parece ter diminuído. Houve também uma redução na demanda por pós-graduação que pode justificar parcialmente essa redução. E a redução no número de alunos da pós – ou talvez seja no número de candidatos dispostos a fazer a pós – ocorreu dado que a expansão da pós atendeu à demanda reprimida que existia, representada por professores mais experientes que precisavam da titulação, e por uma visão de que estudar em uma instituição formal talvez não seja tão vantajoso assim. Este último ponto é polêmico e merece, eu sei, maior aprofundamento.


Mas a menor quantidade de artigos submetidos certamente não foi justificada somente pelo menor número de alunos da pós. Os autores de pesquisa perceberam que publicar em periódicos internacionais tinha algumas vantagens interessantes. Na maioria dos casos, essa publicação é paga, mas o fato de a pesquisa ser indexada em uma base de publicação reconhecida permite que a pesquisa seja citada no exterior. Um dos grandes motores da publicação é o orgulho, e ter um artigo publicado em língua inglesa, citado por um autor de outro país e até reconhecido, compensa o desafio de publicar em periódico internacional.

O segundo ponto relevante que os editores perceberam é que o custo de manter um periódico não é zero. Você precisa ter um apoio administrativo para lidar com a quantidade de artigos que chegam, o registro do periódico em algumas bases, para torná-lo mais atrativo, tem um custo, e o tempo que o editor se dedica à tarefa é muito grande. E a brincadeira cansa. Há pressão para soltar o periódico no prazo, manter-se atualizado em termos de novas tendências, encontrar pareceristas que façam um bom trabalho e lidar com a concorrência. Tornou-se comum os periódicos demorarem mais de 500 dias para recusar um artigo depois de seis rodadas com um parecerista (aconteceu comigo). Outros simplesmente não fazem seu artigo progredir. Ou publicam seu artigo atrasado, afetando seu planejamento de publicação. E muitas pessoas perceberam que ser editor de um periódico significa trabalho, mas muito pouco status.

A percepção chegou de forma forte para alguns periódicos, onde os editores foram fazer outra coisa e ninguém apareceu para se dedicar com empenho à tarefa. Vários deles sumiram. Publiquei, por exemplo, um artigo em um deles e não guardei a versão final em PDF. O resultado é que, quando alguém pede a pesquisa, não tenho como encaminhar. O custo oculto do periódico não foi devidamente calculado no passado e cobra seu preço.

A terceira questão é que o processo de publicar um artigo em um periódico é mais complexo do que parece. Não irei falar aqui da fase de formatação ou da fase de captação dos pareceristas, mas sim do momento após o artigo estar disponível para os leitores. Alguns periódicos internacionais enviam um e-mail bastante atraente com um resumo menos técnico para que a pesquisa cause impacto. Isso envolve podcasts e infográficos que são realmente atraentes. A presença nas redes sociais também é notada, o que inclui postagens específicas em blogs, Instagram ou TikTok. Durante quase vinte anos de blog, confesso que não me lembro de um editor solicitando a divulgação das pesquisas dos periódicos. Fazemos isso por opção, mas a falta de interesse mostra que o caminho da divulgação das pesquisas por parte dos periódicos brasileiros precisa melhorar bastante.

É verdade que alguns poucos periódicos perceberam que precisam estar em bases de dados indexadas para serem vistos. Ou que os artigos só serão lidos se estiverem em língua inglesa. Ou que poderiam lançar um serviço de apoio ao autor para ajudá-lo no processo de submissão e publicação. Ou que o e-mail enviado aos cadastrados não seja apenas algo como "foi publicada uma nova edição". No mundo onde a atenção é importante, atrair o leitor significa ter pessoas que não só irão ler, mas também citar os trabalhos.

Diante desse contexto, o processo de extinção de periódicos continuará acontecendo. Alguns poucos até serão vendidos para editoras internacionais, que passarão a cobrar pela publicação e acesso ao artigo. Outros continuarão com uma qualidade de atendimento ao pesquisador tão ruim que serão extintos ou definharão. 

(Imagem criada pelo GPT a partir do texto acima)

27 março 2024

Ovos na mesma cesta


Apesar de toda a conversa sobre os "Magníficos 7", o mercado de ações dos EUA é um dos menos concentrados do mundo. Suas 10 maiores empresas por valor de mercado - que incluem essas gigantes da tecnologia, além da Berkshire Hathaway e um elenco rotativo de outras - representam 19% do total, muito menos do que no Reino Unido (28%), Alemanha (45%) e Taiwan, onde a gigante de chips TSMC responde por 40% de todo o mercado, de acordo com o novo anuário de investimentos do UBS. Se a Samsung (Coréia do Sul), BHP (Austrália) ou AstraZeneca (Reino Unido) entrassem em colapso, esses países perderiam não apenas campeãs nacionais, mas pilares de seus mercados de capitais. (Do newsletter da Semafor)

Do relatório citado achei interessante:

Eight of the 12 markets in the middle panel have long-established stock exchanges dating back well over a century: Argentina (1854), Brazil (1890), Chile (1893), Greece (1876), Hong Kong SAR (1890), India (1875), Mexico (1894) and Singapore (1911)

A figura a seguir mostra que o mercado hoje é bem mais concentrado do que antes: 



Kahneman ...

Danny Kahneman passed away today.

Here's the Washington Post obituary:

Daniel Kahneman, Nobel-winning economist, dies at 90. He found that people rely on shortcuts that often lead them to make wrongheaded decisions that go against their own best interest  By Chris Powe

"Daniel Kahneman, an Israeli-American psychologist and best-selling author whose Nobel Prize-winning research upended economics — as well as fields ranging from sports to public health — by demonstrating the extent to which people abandon logic and leap to conclusions, died March 27. He was 90.

"His death was confirmed by his stepdaughter Deborah Treisman, the fiction editor for the New Yorker. She did not say where or how he died.

Fonte aqui

26 março 2024

Trump e a fiança

Do jornal Estado de S Paulo:

Um tribunal de apelação de Nova York concordou em adiar a cobrança da sentença de fraude civil do ex-presidente Donald Trump de mais de US$ 454 milhões se ele depositar US$ 175 milhões em um prazo de 10 dias. O ex-presidente teve pouco tempo para comemorar. Em um outro tribunal da cidade, um juiz negou seu esforço para adiar outro processo, marcando o início para o dia 15 de abril. Com isso, Trump provavelmente se tornará o primeiro ex-presidente americano a ser julgado por acusações criminais.

No caso de fraude fiscal, o tribunal de apelação determinou que se o pagamento de US$ 175 milhões for feito no prazo, interromperá o tempo de cobrança e impedirá que o Estado confisque os bens de Trump enquanto ele recorre. O tribunal de apelações também reverteu outros aspectos da decisão anterior que proibiu Trump e seus filhos Eric Trump e Donald Trump Jr. de exercer liderança corporativa por vários anos. No geral, a ordem foi uma vitória significativa para o ex-presidente, que defende o império imobiliário que o lançou na vida pública.


25 março 2024

Empatia com de Waal

Frans de Waal foi um renomado primatologista e etólogo holandês, nascido em 29 de outubro de 1948. Ele é reconhecido por seu trabalho na área da sociobiologia dos primatas, especialmente no estudo do comportamento e da inteligência dos grandes símios. O foco de De Wall foi no estudo dos primatas, concentrando-se em temas como empatia, justiça, cooperação, e a capacidade de paz entre os membros das especies. 

Recentemente eu li a obra de Frans de Waal "A Era da Empatia". É uma obra otimista sobre o ser humano, apesar de usar muitos casos da suas pesquisa. Com 75 anos, de Waal faleceu há dez dias de câncer no estomago. 

iLobby

Após enfrentar a Comissão Internacional de Comércio dos EUA (ITC) em tudo, desde iPhones a relógios inteligentes nos últimos anos, a Apple está aumentando seus esforços de lobby em Washington para reescrever as regras da agência, segundo o NYTimes.

No ano passado, a empresa foi forçada a remover uma funcionalidade de medir o oxigênio no sangue do seu Apple Watch nos EUA após a ITC banir o produto por infrações de patentes. Multas são algo com que a Apple pode lidar, mas a capacidade da ITC de implementar proibições completas é mais preocupante para o fabricante do iPhone, levando a empresa a fazer lobby junto aos legisladores para remodelar o foco da ITC em direção ao que está no "interesse público".


Como gastar dinheiro e influenciar pessoas

Embora gastar muito para conseguir o apoio do governo possa parecer um fenômeno moderno, a prática data quase desde a fundação da nação, com os primeiros lobistas supostamente contratados em 1792, quando veteranos do Exército Continental recrutaram influenciadores políticos para fazer lobby no Congresso por mais compensação.

Embora a indústria farmacêutica tenha sido a maior gastadora na cena do lobby por décadas, as grandes empresas de tecnologia têm aumentado seu orçamento à medida que o escrutínio aumentou. No ano passado, as 5 maiores empresas de tecnologia voltadas para o consumidor gastaram cerca de $76 milhões na busca de seus interesses políticos, segundo dados da Open Secrets. De fato, o gasto de $9,86 milhões da Apple no ano passado parece relativamente frugal em comparação com o Meta e a Amazon, cujos gastos ultrapassaram $19 milhões cada.

Fonte: Chartr