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05 fevereiro 2024

Desmistificando Previsões: Entre Especialistas, Modelos Estatísticos e a Heurística na Contabilidade Empresarial

Nós sabemos hoje que os especialistas não são tão bons em fazer previsões. Na verdade, as pesquisas estão mostrando que algumas pessoas não especialistas são capazes de fazer previsões melhor do que os especialistas. Mas imagine que você esteja analisando uma demonstração contábil de uma empresa e exista uma linha explicando uma previsão feita na contabilidade.

Abrindo um parêntese aqui, há diversas situações onde isso pode ocorrer. Vou listar quatro casos: a vida útil futura de um ativo, o percentual de clientes que não irá pagar suas contas, a chance de sucesso ou insucesso nos processos judiciais e a projeção do fluxo de caixa futuro usada para calcular o valor em uso.

Suponha agora que você leia que a empresa utilizou, na sua previsão, a opinião de um especialista da área. Você já sabe que ter a opinião deste especialista não significa uma verdade absoluta, pois a ciência já mostrou que seu nível de erro é elevado. Imagine agora outro caso onde a empresa informa que fez sua previsão usando não especialistas. Com qual informação você, usuário da informação, ficaria mais tranquilo? Provavelmente com a do especialista, apesar das pesquisas indicarem o contrário.

Conforme a ciência tem mostrado, as melhores pessoas em fazer previsões são aquelas hábeis em fazer previsões em outras áreas, mesmo com pouco conhecimento. Mas vamos recuar um pouco. Se queremos fazer uma previsão sobre o futuro, temos as seguintes possibilidades: especialistas, modelos estatísticos, uso de pessoas (especialistas ou não) que emitem sua opinião e mercados de previsão.

Em situações descritas anteriormente, os mercados de previsão talvez sejam a opção pior. Não pela qualidade do resultado ou pela ausência de defensores. Desde o livro “Sabedoria das multidões” sabemos que os mercados de previsão são alternativas adequadas. Tanto é assim que tem sido usado pelo Banco Central (Focus) ou pelo Ministério da Fazenda (previsão dos itens das contas públicas), além de ter gerado sites como Metaculus ou PredicIt. Mas para que o instrumento funcione, é necessário que o mercado seja grande, líquido e acessível para as pessoas apostarem, o que fatalmente não seria o caso de um mercado para prever a vida útil do ativo de uma empresa, por exemplo.

Os modelos estatísticos se desenvolveram muito nos últimos anos. E isso ocorreu graças ao desenvolvimento não de técnicas tradicionais, como regressão, mas da expansão da análise bayesiana. Entretanto, talvez ainda seja um sonho falar em análise bayesiana em contabilidade, mesmo existindo já um grande volume de pesquisa na área, uma vez que não ensinamos esta ferramenta e usamos de maneira adequada na área. De qualquer forma, os modelos estatísticos podem ser uma alternativa para as previsões, uma vez que legitimam o número apresentado e aparentemente seriam mais isentos do que o uso de pessoas para emitirem opinião.

Contar com especialistas pode ter dois problemas sérios. O primeiro é o fato de ser uma opinião cara para a empresa. Imagine contratar um especialista em vida útil de um ativo para emitir sua opinião na grande quantidade de itens que compõem o patrimônio de uma empresa. O segundo problema é a qualidade do resultado, pois, conforme já foi demonstrado, o resultado geralmente é inferior às opiniões de pessoas. A grande vantagem é o fato de que um especialista dá credibilidade ao resultado. Na contabilidade, as empresas contratam empresas especializadas para dizer que suas informações estão adequadas e este profissional recebe o nome de auditor.


A opção de usar um julgamento de alguém pode ser feita e provavelmente é feita em muitos casos. Imagine que no final do exercício é necessário fazer uma estimativa do percentual de valores a receber que seria incobrável no futuro. As pessoas dentro da empresa possuem uma estimativa do valor. Talvez seja justamente este valor que irá prevalecer no final. Para o usuário da informação, isto talvez não fique claro ou fique subentendido. Caso seja necessário, pode-se usar o chavão técnico usual para dizer que o método usado foi a abordagem heurística. Por sinal, se a empresa escrevesse que usou a abordagem heurística, provavelmente a maioria das pessoas não entenderia bem o que isso significa.

Se a contabilidade depende da previsão, como tem ocorrido cada vez mais, talvez seja importante que fique bem claro qual o método iremos adotar. Mas a sinceridade de revelar que a previsão foi realizada com base na abordagem heurística seja crua demais para os leitores das demonstrações, que preferem ser enganados acreditando que modelos complexos, estatísticos ou não, foram empregados na estimativa realizada.

Acredite quem quiser.

Nota: O texto foi inspirado em um artigo publicado no IFP. Este texto é bem mais completo do que as linhas acima e possui uma grande quantidade de links interessantes. 

Cursos gratuitos de capacitação profissional


O Conselho Regional de Contabilidade do Distrito Federal está ofertando capacitação profissional gratuita a partir de fevereiro de 2024. 

Conforme o portal: 

A gratuidade é válida para os profissionais da contabilidade que possuam registro ativo e regular em qualquer CRC do território nacional. Também serão beneficiados os estudantes de Ciências Contábeis regularmente matriculados em instituições de ensino superior de todo o Brasil. Por ano, são ofertados, em média, 40 cursos.

Os que estão disponíveis no mês de fevereiro são: 

· EFD REINF 

· DCTF WEB 

· FECHAMENTO E CONCILIAÇÃO DE BALANÇO 

· IRPF – BASE TEÓRICA DA DECLARAÇÃO 

· CRUZAMENTOS DIRF X DMEB X DIMOB  

Efeitos da imigração no Brasil

Eis o abstrat traduzido pelo ChatGPT:

Os efeitos da imigração são razoavelmente compreendidos em países desenvolvidos, mas são muito menos compreendidos em países em desenvolvimento, apesar da importância desses países como destinos de imigrantes. Abordamos essa lacuna ao estudar os efeitos da imigração para o Brasil durante a Era da Grande Migração em seu setor agrícola em 1920. Este contexto se beneficia do reconhecido valor da perspectiva histórica em estudos sobre os efeitos da imigração. Ao contrário de estudos que se concentram nos Estados Unidos para entender os efeitos da migração de países pobres para ricos, nosso contexto informa a experiência de países em desenvolvimento, pois o Brasil neste período era único entre os principais destinos de migrantes como um país de baixa renda com um grande setor agrícola e instituições frágeis. Usando como instrumento a participação de imigrantes em um município por meio da interação entre os fluxos agregados de imigrantes e a expansão da rede ferroviária do Brasil, descobrimos que uma maior participação de imigrantes em um município resultou em um aumento nos valores das fazendas. Mostramos que a maior parte do efeito da imigração pode ser explicada pelo cultivo mais intenso da terra, o que atribuímos ao esforço de trabalho mais intenso dos imigrantes temporários em comparação com os nativos. Por fim, concluímos que é improvável que o efeito da imigração na agricultura tenha retardado a transformação estrutural do Brasil.

Gostei muito deste gráfico:


Eis a evolução da economia no período do estudo:



Um erro com algarismo romano e sua consequência sobre o direito autoral de um filme

O caso é bem engraçado, mas que deve ter custado um bom dinheiro. Basicamente a lei de direitos autorais institui um prazo para que os donos, e seus herdeiros, possam usufruir da obra. Após um determinado prazo, instituído na lei, a obra artística torna-se domínio público. Ou seja, qualquer pessoa pode explorar a obra. 

Em 1954 foi lançado o filme "A última vez que vi Paris", um filme com quase duas horas de duração, com Elizabeth Taylor no papel de Helen Ellswirth. Não é um clássico, mas é o centro do caso


Em obra deste tipo, há um aviso de direito autoral. No caso, escreveram MCMXLIV como ano do lançamento. Se o leitor prestou a atenção, o número romano corresponde a 1944, e não 1954. Isso significa dizer que o prazo normal para os direitos autorais acabou dez anos antes. Em casos como este, o estúdio poderia alegar o erro e pedir uma prorrogação, mas não fez nada. Resultado, pela lei da época, o filme entrou em domínio público em 1972. 

O filme pode ser encontrado no Youtube. O erro aparece logo no início:



Rir é o melhor remédio

 

De Carlos Ruas

04 fevereiro 2024

Países viciados na tela

Dados do tempo que as pessoas estão coladas na tela. Quanto mais azul, maior o tempo. É fácil perceber que o brasileiro é viciado. Pelos dados, são nove horas e meia, o que inclui os smartphones. Os dados são da Smartick (via aqui) e a África do Sul é o país que gasta mais tempo em desktop e celular (valor de 9:38 versus 9:32 do Brasil). 

Rir é o melhor remédio

 

Fonte: aqui