A questão da previsão é um assunto que interessa de perto à contabilidade. Há diversas situações em que a contabilidade necessita olhar para o futuro e, nesses casos, saber como lidar com previsões ou estar a par das mais recentes previsões realizadas por especialistas pode ser importante.
Na contabilidade, o exemplo onde a previsão é fundamental ocorre na determinação sobre a continuidade ou não de uma entidade. Apesar de existirem ferramentas para saber sobre a chance de uma empresa entrar em processo de descontinuidade, estamos falando de modelos probabilísticos, que podem estar certos ou não.
Outro exemplo é a previsão sobre a vida útil de um ativo. Baseada em fatos passados, a contabilidade determina uma vida útil e a partir daí faz-se o cálculo de depreciação. Novamente, a previsão exerce um papel crucial na mensuração. E podemos falar das previsões dos clientes que irão pagar, dos estoques que não serão vendidos e perderão validade, da chance de ocorrer um evento que irá demandar recursos da entidade para processos judiciais, da obtenção de uma patente, entre muitos outros eventos.
De maneira mais moderna, a contabilidade passou a escolher certos caminhos que dependiam substancialmente da previsão, sem que isto significasse necessariamente um aumento na qualidade da informação. Ao contrário da meteorologia, onde a previsão teve um grande desenvolvimento nos últimos anos, o olhar para o futuro da sociedade, da economia e das transações ainda carece de melhoria.
Quando trazemos a questão ambiental de forma explícita para as informações empresariais, as incertezas são enormes. Vamos lembrar um pouco o que ocorreu nos anos setenta. Após diversas guerras contra Israel, alguns países árabes começaram a usar o petróleo como arma política. O cartel formado pelos produtores incentivou uma crise, onde o preço de um insumo até então barato, subiu de forma considerável. A crise do petróleo aumentou os preços e fez com que os países importadores gastassem quantias muito maiores na compra do insumo.
Neste momento, as previsões eram que o produto sofreria por muitos anos com seu preço. Seria necessário encontrar substitutos que possibilitassem a redução da dependência dos países em relação aos árabes. Cinquenta anos depois, ainda temos uma economia baseada no petróleo, indicando que as profecias falharam. E o preço está bem acessível em relação ao esperado. E o Brasil, tradicional importador, hoje tem no petróleo a segunda fonte de exportação. Ou seja, a bola de cristal dos anos setenta estava errada. E estamos falando de cinquenta anos em termos de horizonte de tempo.
A expectativa com o futuro do mundo também deve levar em consideração o fato de sabermos muito pouco sobre como fazer previsões adequadas. Em um artigo da Vox, no endereço https://www.vox.com/future-perfect/23834709/social-cost-carbon-future-predictions-climate-change-progress-possibilities, há uma discussão sobre nosso histórico de previsões e a situação atual sobre o que sabemos sobre a mudança no clima. Apesar de termos hoje mais instrumentos de previsão do que há cinquenta anos, a humanidade ainda não sai bem nas previsões sobre aspectos vinculados à mudança climática.
Parte do nosso problema, embora não seja somente isto, está na inovação. Nos anos setenta, um dos motivos de preocupação era o fato dos automóveis consumirem combustível de forma exagerada. Alguns modelos parecem que não evoluíram, mas hoje é comum encontrar automóveis com um consumo médio de 15 quilômetros por litro ou mais, o dobro do que existia há cinquenta anos.
Quando temos que mensurar o custo do carbono, isso está vinculado à quantidade de CO2 que é liberada na atmosfera. Mas também como a mudança climática irá afetar as pessoas. Não temos a alternativa de esquecer o futuro, mas trabalhar com modelos preditivos falhos pode ser pior. Uma crítica feita no texto da Vox é que algumas das estimativas tentam fazer previsões para o ano 2300; isto é lidar com uma grande incerteza. Talvez ser menos ambicioso, como fazer previsões para as próximas décadas, seja melhor.
Não há como evitar o problema central aqui. Temos o poder, como civilização, de mudar o mundo em que vivemos de maneiras duradouras e potencialmente irreversíveis; as decisões que tomamos provavelmente afetarão nossos distantes descendentes. Adivinhar qual será a produtividade das culturas em 2300 pode ser quase impossível, e cálculos sobre os custos sociais do carbono que dependem dessas suposições sobre a produtividade das culturas terão uma incerteza extraordinariamente alta.
Mas declarar que não faremos essas suposições não significa que não afetamos o mundo no futuro distante, apenas que paramos de tentar adivinhar como. Eu tendo a pensar que é melhor ter suposições inadequadas do que não ter suposições, melhor ter uma ampla faixa de possibilidades do que tratar uma pergunta como desconhecida e, portanto, calcular como se seu valor fosse zero. Mas é importante prosseguir com um sentimento doloroso da inadequação dessas suposições.
Foto: Vox e