22 agosto 2023
21 agosto 2023
Steinhoff: mais um capítulo
Dirk Schreiber, ex-chefe de finanças europeu da Steinhoff International Holdings NV, foi condenado a três anos e meio de prisão por um tribunal alemão devido a um escândalo contábil que quase levou à falência da varejista. O tribunal também condenou Siegmar Schmidt, ex-diretor, a uma sentença suspensa de dois anos. Ambos foram acusados de envolvimento em transações fraudulentas. O ex-CEO Markus Jooste também foi acusado, mas não compareceu ao tribunal. A investigação revelou €6,5 bilhões em transações irregulares ao longo de oito anos. As autoridades alemãs iniciaram a investigação em 2015, suspeitando que a empresa registrava receitas falsas.
Originalmente a Steinhoff é uma empresa da África do Sul
Ransomware durante a auditoria
O Banco Popular, que atua em Porto Rico, mandou a seguinte correspondência para seus clientes:
Escrevemos para informar que um dos nossos fornecedores, PricewaterhouseCoopers (PwC), foi vítima de uma violação de cibersegurança que incluiu certas informações pessoais dos nossos clientes. A violação envolveu a comprometimento de um software, o MOVEit, usado pela PwC para transferir arquivos para um pequeno número de seus clientes, incluindo o Banco Popular de Porto Rico (Popular).
Como uma corporação pública que negocia no mercado de ações, o Popular é obrigado a utilizar os serviços de uma empresa de auditoria e contabilidade, como a PwC. A tarefa de auditar o Popular requer, devido à sua natureza, que o Popular compartilhe informações dos clientes para que a PwC possa realizar certas validações independentes necessárias para que o Popular emita demonstrações financeiras.
Ao tomar conhecimento do incidente, a PwC imediatamente lançou uma investigação e cessou o uso do software afetado. Como resultado desta investigação, foi determinado em 24 de julho de 2023, que certos arquivos comprometidos no incidente incluíam informações pessoais dos nossos clientes. As informações pessoais comprometidas incluem o seu nome, número de Seguro Social, número de empréstimo hipotecário terminando em [número], e campos relacionados a hipotecas.
Parece que a PwC não foi a única a usar o software com um ransomware (é um tipo de ataque cibernético no qual os hackers infectam um sistema e exigem um pagamento para restaurar o acesso aos dados ou sistemas afetados). No caso do Banco Popular, foram 82 mil clientes que podem ter sido infectados. Mas tudo leva a crer que Deloitte e EY – mas não a KPMG – também tiveram este problema. O Banco Popular deu detalhes do caso, o que já não ocorreu com o Bank of America, auditado pela EY, por exemplo.
Foto: Muha Ajjan e Unsplash+
Terrorismo e contabilidade
O Journal of Brief Ideas publica textos que são bastante curtos. São ideias lançadas para discussão. Um dos textos, de Peter Clark (https://doi.org/10.5281/zenodo.8260071), observa as campanhas terroristas sob a ótica econômica. As organizações terroristas usam diversos subterfúgios para obter seguidores, inclusive de forma coercitiva. Uma das formas é a extorsão, protegendo-se contra atos violentos do grupo, caso exista apoio ao movimento. Neste sentido, não difere muito de grupos criminosos.
Mas, ao contrário dos criminosos comuns, que desejam controlar o fluxo de riqueza de uma região, o terrorismo tem o objetivo de obter um poder mais abrangente, por meio de uma mudança política do regime. Para as organizações terroristas, o fluxo financeiro, que inclui a obtenção de recursos e a alocação dos gastos em itens que ajudarão no objetivo final, é tão relevante quanto ocorre em um grupo de criminosos comuns.
Por esse motivo, as entidades terroristas, assim como os grupos de criminosos comuns, devem se preocupar em ter uma "contabilidade". Mesmo que não seja por meio do regime de competência ou seguindo as normas contábeis dos reguladores, os grupos terroristas procuram usar a "contabilidade" para melhor alocar os recursos dentro da organização. A captação de regiões produtivas pode ser vista como um ativo para o grupo, capaz de gerar riquezas futuras.
20 agosto 2023
Do Slide ao Powerpoint
Em 1992, em uma sala de reunião do Hotel Regina, o mundo conheceu uma nova tecnologia: o powerpoint. Robert Gaskins, o responsável pelo software, apresentou a maravilha para pessoas vincunladas a Microsoft na Europa. Usando um laptop, Gaskins carregou o programa através de um cabo de vídeo. O público percebeu que a tecnologia iria revolucionar as apresentações e aplaudiu o produto e seu criador.
A proposta do Powerpoint surgiu na verdade oito anos antes, quando Gaskins era vice-presidente de desenvolvimento de produtos da startup Forethought. A ideia era modificar o setor de apresentações de negócios. O produto criado não somente modificou, como transformou radicalmente a maneira como as empresas entregavam as informações para seu público interno e externo nas convenções anuais. Antes do Powerpoint, as apresentações eram contratadas em empresas especializadas em eventos. Depois, os próprios executivos poderiam produzir suas próprias transparências, em lugar de contratar alguém ou delegar para funcionários internos.
Além disto, as apresentações não precisavam estar reservadas para grandes reuniões de final de ano ou em outros eventos importantes. Depois, o powerpoint expandiu o conceito de apresentar algo através de uma projeção, seja em uma igreja, nas escolas, nos funerais e casamentos, nas reuniões de família e muitas outras ocasiões. Provavelmente toda pessoa do mundo, a partir do ensino médio, deve conhecer o powerpoint.
Obviamente, essa evolução específica não foi exclusivamente da Microsoft. Porque talvez a apresentação corporativa mais memorável de todos os tempos - o anúncio de Steve Jobs do iPhone na Macworld 2007 - não fosse um PowerPoint. Foi um Keynote. (Claire L. Evans)
Mas antes da revolução do powerpoint o que existia eram os slides. As grandes empresas, quando queriam impressionar, contratavam pessoas especializadas em fazer apresentação multimídia, com projetores de slides.
Antes do PowerPoint, e muito antes dos projetores digitais, os slides de filme de 35 milímetros eram os mais usados. Maiores, mais claros e mais baratos de produzir do que o filme de 16 mm, e mais coloridos e com resolução mais alta do que o vídeo, os slides eram a única mídia para os tipos de apresentações de alto impacto feitas por CEOs e altos executivos em reuniões anuais para acionistas, funcionários e vendedores. Conhecidas no ramo como shows "multi-imagem", essas apresentações exigiam um pequeno exército de produtores, fotógrafos e equipe de produção ao vivo para serem realizadas. Primeiro, o show inteiro tinha que ser escrito, com um storyboard e uma trilha sonora. As imagens eram selecionadas em uma biblioteca, as sessões de fotos eram organizadas, as animações e os efeitos especiais eram produzidos. Um técnico com luvas brancas revelou, montou e tirou o pó de cada slide antes de colocá-lo no carrossel. Milhares de dicas foram programadas nos computadores de controle do show - depois testadas e testadas novamente. Porque os computadores falham. As lâmpadas dos projetores queimam. Os carrosséis de slides ficam emperrados. (…)
O negócio era tão rentável que surgiu uma Associação com os profissionais da área. Fundada em 1976, a Association for Multi-Image chegou a ter cinco mil membros.
Em seu auge, o negócio de múltiplas imagens empregava cerca de 20.000 pessoas e apoiava vários festivais e quatro revistas comerciais diferentes. Uma dessas revistas publicou um perfil brilhante de Douglas Mesney em 1980; quando perguntado sobre seu prognóstico em relação ao futuro dos slides, ele respondeu: "Poderíamos fazer uma fortuna ou ficar fora do mercado em um ano". Ele não estava errado.
O surgimento do powerpoint mudou o setor substancialmente. Todos estes empregos desapareceram. Quem se lembra de um projeto de slide? Somente os mais antigos.
O último projetor de slides já fabricado saiu da linha de montagem em 2004. A parte interna de sua caixa foi assinada pelos trabalhadores da fábrica e pela cúpula da Kodak antes de a unidade ser entregue ao Smithsonian. Foram feitos brindes e discursos, mas até então eram elogios, pois o PowerPoint já havia dominado o mundo.
Sugestão do BoingBoing, para o excelente texto de Claire Evans
09 agosto 2023
Não se esqueça da matriz de confusão
Uma das formas mais usuais de ser enganado é quando uma pessoa chama a atenção apenas para um lado de uma situação. Vamos trabalhar com um exemplo simples. Alguém diz para você que no passado ele comprou ação de uma empresa quando ninguém acreditava nela. Por esse motivo, agora ele está sugerindo que você compre a ação de uma nova empresa que apareceu no mercado, a XYZ. Afinal, seu passado de sucesso é algo que sustenta essa indicação.
Provavelmente, o leitor já deve ter visto essa situação antes. E isso ocorreu não somente em indicações de investimento, mas também em casos relatados em grupos de mídia social ou por pessoas que tentam argumentar com você usando frases como "eu conheço uma pessoa..."
Para esses casos, pense sempre na grade de possibilidades ou na matriz de confusão. O primeiro nome foi proposto por Daniel Simons e Christopher Chabris, em "Nobody’s Fool". Mas na estatística, o nome é matriz de confusão, e é esse que iremos usar. De forma irônica, a matriz de confusão é capaz de evitar confusões nos argumentos manipulados, como no parágrafo inicial deste texto.
A matriz de confusão é um retângulo com quatro áreas. De um lado, temos o que aconteceu; do outro lado, o que foi sugerido ou previsto. A seguir temos o desenho desta matriz:
Quando alguém afirma que acertou na escolha de um investimento no passado, está falando da caixinha branca da figura acima. A pessoa optou por investir e acertou, pois o retorno foi bom. Veja que a informação que foi passada - "acertei no passado" - não é imparcial, pois não diz nada sobre as outras três áreas da figura.
Vamos começar com a caixinha amarela. Nessa situação, a pessoa decidiu não investir e foi uma decisão adequada, já que o retorno foi ruim. Tanto a caixinha amarela quanto a área branca são as regiões dos acertos. Como as oportunidades de investimento são inúmeras, geralmente não lembramos dos investimentos ruins que não fizemos (área amarela) e valorizamos muito os investimentos acertados.
Agora considere a área laranja e vermelha. A soma das duas representa nossos erros. Veja o caso da caixinha vermelha. A pessoa decidiu não investir em uma aplicação e a decisão não foi boa, já que o retorno foi adequado. São as oportunidades de investimento adequadas que perdemos na vida. Poderíamos ter comprado ações daquela startup logo no seu começo e não fizemos. Mas o pior é a área laranja, já que investimos e o retorno foi ruim.
Se quisermos saber se um investidor é bom ou não, devemos olhar as quatro situações. Talvez isso seja difícil, mas pelo menos observar a área laranja e a área branca. Se alguém acertou no passado (área branca), talvez tenha errado também (laranja) e somente assim poderemos saber se a bola de cristal dessa pessoa está quebrada ou não.
Assim, se alguém afirmar que fez um ótimo negócio no passado e isso é sinal de que ele sabe o que está falando, pense na matriz de confusão. Essa pessoa está confundindo você ao não entregar todas as informações possíveis.
Veja uma situação similar a esta: uma pessoa alardeou que apostou em um placar no futebol e ganhou quinhentos reais. E concluiu dizendo que quando ele apostava sempre conseguia um trocadinho para pagar as contas. Essa pessoa está revelando a área branca da figura, o sucesso. Mas não a área laranja, do insucesso quando faz aposta.
E outra situação: um amigo mandou no grupo que pessoas morreram logo após receber uma vacina. Com isso, alardeia sobre o perigo da vacina e sua decisão de não vacinar, esquecendo de contar o número de pessoas que não morreram exatamente por tomarem a medicação indicada pela ciência.
Mais uma: a empresa de auditoria fracassou após passar por problemas nas Americanas. A auditoria deveria ter percebido o que estava ocorrendo e não o fez. Mas e as vezes em que a auditoria pegou o início de uma fraude e isso não foi relatado por uma questão de sigilo? Dizer que as auditorias são ruins baseado em um caso é esquecer da matriz de confusão."