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07 agosto 2023

Feedback na Contabilidade: Em Busca de Uma Avaliação Significativa

O feedback é uma ferramenta que pode ser poderosa para um profissional ou uma empresa. Dar um feedback é visto como algo importante e, por isso, somos lembrados constantemente de fazê-lo. Mas onde está o feedback na contabilidade?

Uma coisa é afirmar que a contabilidade é um instrumento de feedback da gestão de uma entidade. Neste caso, estamos considerando a contabilidade como uma descrição do que já ocorreu, uma narrativa, sob forma de números, do desempenho da entidade. Na famosa estrutura conceitual do FASB, posteriormente apropriada pelo IASB e traduzida para o português pelo CPC, esta função é denominada de qualidade confirmatória. Temos uma expectativa sobre o que está ocorrendo com a entidade e a contabilidade aparece para dizer se estamos corretos ou não. A contabilidade aqui seria, na linguagem do esporte, uma espécie de VAR para a entidade.

No entanto, não é este o foco do texto. Queremos saber se a função contábil em uma entidade tem um feedback positivo ou negativo. Quando compramos um produto ou serviço, após usá-lo, podemos dar uma nota, que pode ser estrelas, positivo ou negativo, ou outro sistema onde expressamos nossa satisfação ou insatisfação com o produto ou serviço. Poderia existir este tipo de avaliação com a contabilidade?

Inicialmente, vamos considerar um serviço contábil específico, contratado para fazer uma tarefa para uma entidade. Neste caso, a avaliação poderia ser feita por quem fez a contratação do serviço. Ele poderia dizer se o serviço prestado está de acordo ou não com as expectativas. Poderia dar estrelas ou notas. Na realidade, este serviço já existe, muito embora não funcione de forma adequada. Ao entrar no Google Maps e digitar “escritório de contabilidade”, irão aparecer alguns escritórios perto de onde você está, com a nota respectiva. O problema é que não podemos confiar neste resultado, já que, pelo menos na minha região, a maioria dos escritórios tem nota máxima ou não são avaliados. E o número de avaliações é bem reduzido, o que torna difícil acreditar no resultado.

Se você procurar pelos escritórios que receberam alguma advertência relacionada com a ética profissional também não irá resolver. Ou não irá localizar esta informação de maneira acessível. Não temos uma listagem, por exemplo, dos melhores escritórios de uma região ou algo do gênero. Além disso, há controvérsias sobre o que seria a qualidade do serviço prestado.

Outra forma de pensar no feedback do serviço na contabilidade é pedir para as pessoas analisarem o serviço que é entregue. Imediatamente pensamos nas demonstrações contábeis, mas isto seria reduzir a contabilidade à situação de vomitadora de tabelas e quadros. Para um usuário típico da contabilidade, que contrata uma empresa para prestar serviço, o seu grande desejo é que o escritório faça seu serviço e ele possa trabalhar, fazendo aquilo que ele sabe fazer de melhor. Isto pode ser cínico, mas pergunte a um empresário sobre o que ele deseja do seu contador e você irá confirmar que a maioria deles entende que a contabilidade é um mal necessário. Infelizmente isto é verdadeiro e o texto não tem a pretensão de discutir este assunto.

O pensamento de que a contabilidade é um mal necessário conduz a uma avaliação do tipo: se a contabilidade fez o seu papel e não atrapalhou, o feedback do serviço seria positivo. Há exceções aqui, certamente. Em alguns casos, a contabilidade pode assumir um papel estratégico para uma entidade, ajudando nas boas escolhas. Mas tudo leva a crer que isto não é a verdadeira situação na maioria dos casos.

Podemos agora voltar para o caso da contabilidade produzida internamente, dentro de uma entidade. Geralmente, neste caso, a entidade tem um porte maior e há funcionários que terão a tarefa de fazer o serviço contábil. O feedback aqui poderia ser proveniente da chefia imediata, que poderia indicar a qualidade daquilo que é produzido internamente.

Isso parece não ser suficiente para alguns profissionais internos de uma entidade. Receber um tapinha nas costas do chefe ou um sorriso de alguém de outro setor pode funcionar para alguns, mas não para todos. A participação em premiações que avaliam a qualidade do serviço pode ser um reconhecimento. No passado, era comum ver o nome de um profissional no jornal local, seguido de elogios. Estes elogios eram conquistados por uma amizade antiga ou pelo pagamento de uma gratificação e não seriam efetivamente um feedback ao trabalho contábil.


Uma opção é adotar uma visão mais abrangente. Em lugar de uma avaliação pessoal, poderíamos medir qual o feedback da sociedade para com a contabilidade. Isso também é muito difícil e seria necessário uma medida bem objetiva para ter um feedback do nosso trabalho para a sociedade como um todo. Confesso que não saberia dizer que medida seria esta.

No passado, eu sugeri a uma docente que está à procura de um tema para seu trabalho final de curso que perguntasse, via questionário, qual a profissão que uma pessoa desejaria para sua prole. Isso poderia ser uma aproximação da avaliação que a sociedade faz do nosso trabalho, mas também seria uma análise materialista sobre a profissão que seria mais promissora, leia-se “rentável”. Não deixaria de ser um feedback do sentimento da sociedade. Outra possibilidade é procurar verificar como o profissional é representado nos filmes, novelas e jornais. O resultado é enviesado, pois estamos olhando somente uma pequena parcela da visão da sociedade.

Estamos chegando ao final sem ter uma solução para o problema. Afinal, como ter um feedback da contabilidade? Acho que o tema merece mais reflexão. É interessante que é algo que não discutimos; seria um medo não confessado de receber um feedback negativo?

(As reflexões apresentadas aqui começaram após a leitura de um texto sobre Feedback no BehavioralScientist). Foto: Unsplash+

Rir é o melhor remédio


 Indicação de compra

06 agosto 2023

O Infinito ao Junco

O livro "O Infinito em um Junco" é, antes de tudo, uma declaração de amor ao livro e à leitura. Se a história narrada por Irene Vallejo fica restrita, basicamente, aos gregos e romanos, o amor está presente em cada página. Quem gosta de leitura, de livros, de ideias e de história deve ler este livro. Com cerca de 440 páginas, a obra divide-se nos gregos, em sua primeira parte e na maioria das páginas, e nos romanos, logo a seguir. Irene Vallejo consegue contar casos que ocorreram há milhares de anos, como a construção da Biblioteca de Alexandria, a invenção do pergaminho e a cópia dos manuscritos.


É delicioso saber que na antiguidade a leitura era feita em voz alta, que muitas obras só chegaram aos nossos dias graças à tradição de transmitir as histórias entre as pessoas, que sempre existiram pessoas que detestam livros, mas outras que os amam de forma apaixonada. Sua narrativa consegue unir o antigo com fatos mais recentes, como a queima de livros pelos nazistas e o sofrimento amenizado dos prisioneiros dos campos de concentração que conseguiam obras para sua leitura. Saber que Sócrates não era adepto da palavra escrita; que o mel era usado na sociedade judaica para o aluno lamber, de modo que a palavra divina penetrasse em seu corpo; que o plágio já existia entre os gregos, nos concursos de oratória; que o primeiro historiador, Heródoto, contou a versão do inimigo, do outro, algo revolucionário ainda hoje, são coisas surpreendentes.

O livro conta muito mais do que isso. Regularmente, a autora espanhola lança algumas preciosidades, seja sob a forma de fatos curiosos, seja por levantar questões polêmicas, como a tendência moderna de reescrever os clássicos por ter neles palavras inadequadas para a realidade atual. Já no final, nas últimas páginas, há uma discussão sobre a escolha do título das obras – na época dos papiros, os livros geralmente não tinham títulos; quando muito, eram indicados pelas primeiras palavras do texto.

Este livro é muito indicado para aqueles que amam ler. Quem o ler fatalmente o considerará um livro cinco estrelas.

Escrita e a Contabilidade

 Do livro O Infinito em um Junco (p. 121):


Segundo as teorias mais recentes, a arte de escrever tem uma origem prática: as listas de propriedades. Essas teorias afirmam que nossos antepassados aprenderam o cálculo antes das letras. A escrita veio para resolver o problema de proprietários ricos e administradores palacianos, que precisavam lançar mão de anotações porque era difícil fazer a contabilidade de forma oral. A etapa de transcrever lendas e relatos viria depois. Nós somos seres econômicos e simbólicos: começamos escrevendo inventários e, mais tarde, invenções (primeiro as contas, depois os contos)

Foto: Sayla Brown

04 agosto 2023

Perda de produtos culturais devido ao direito autoral

Eis uma discussão importante: a presença de direitos autorais esta fazendo com que muito patrimônio cultural esteja desaparecendo (via aqui). Filmes e outras obras de arte estão sendo perdidas em razão da mudança tecnológica. As velhas fitas VHS não são convertidas aos novos formatos, assim como os DVDs e os catálogos deixam de fazer a transição para uma nova era tecnológica. Sem esta transição, a produção se perde, já que as pessoas ficam com medo de infringir a lei de direito autoral. 

Um site como o Karagarga, onde alguns poucos arquivam filmes cults raros e sucessos são proibidos, seria uma possível solução. 


Ao ler este texto tinha recentemente lido uma passagem sobre a biblioteca de Alexandria no excelente Infinito em um Junco. Irene Vallejo descreve que a memória coletiva permitiu que criação de obras literárias da antiguidade fossem preservadas. Na verdade, parcialmente, pois muito se perdeu. 

IA pode alterar resposta conforme a pergunta

Pesquisa no Google… 

Eu olhei no Google e ele diz … 

Tim Harford lembra que a resposta irá depender da forma como você pesquisa. Perguntei ao Chat, porque o mar é verde e a resposta começava:


O mar pode apresentar diversas cores, incluindo azul, verde e até mesmo tons de cinza ou marrom, dependendo de vários fatores. A cor do mar é influenciada principalmente pela absorção e dispersão da luz pelas moléculas e partículas presentes na água.

A cor predominante do mar é frequentemente uma combinação de reflexão da luz solar na superfície e absorção seletiva de diferentes comprimentos de onda de luz pelas moléculas da água.

Mudei para “porque o mar é azul”? E a resposta iniciava:

O mar é azul devido ao fenômeno chamado dispersão da luz. A luz do Sol é composta por diferentes cores, cada uma correspondendo a um comprimento de onda diferente. Quando a luz solar entra na atmosfera da Terra, ela interage com as moléculas de ar e as partículas presentes na atmosfera.

As moléculas e partículas têm a capacidade de dispersar a luz, ou seja, elas espalham a luz em várias direções. Essa dispersão é mais eficiente para comprimentos de onda mais curtos, como o azul e o violeta, enquanto comprimentos de onda mais longos, como o vermelho e o laranja, são menos dispersos.

Foto: Joel Vodell

Papel da IA no Mundo Atual

O surgimento do ChatGPT também trouxe consigo profecias apocalípticas sobre o fim do mundo, além de previsões variadas sobre a transformação radical do mundo em que vivemos. Alguns textos conseguem abordar o cenário atual sem mergulhar em previsões sombrias. Recentemente, li um artigo no blog "Economics From the Top Dow" que argumenta que a inteligência artificial não resultará no fim da raça humana. O ponto central é que os seres humanos dominam o mundo não apenas por sua "inteligência", mas também pela capacidade de sustentação e reprodução. Embora a máquina que criamos possa superar a "inteligência" consciente, ainda não consegue sobreviver e se reproduzir como nós.

Para atingir o nível humano, a máquina teria que desenvolver vida autosustentável. Entretanto, isso só seria possível criando uma célula artificial que evoluiria ao longo de bilhões de anos, com resultados questionáveis. Em outras palavras, a IA precisaria ter um corpo. O autor do blog destaca que mente e corpo não podem ser separados.


O risco está na forma como utilizamos e controlamos os recursos da IA. Nesse sentido, o autor defende que as ferramentas sejam abertas, permitindo que qualquer pessoa tenha acesso aos códigos usados para criá-las. No caso do ChatGPT, os primeiros modelos eram abertos e os códigos estavam disponíveis. No entanto, a partir da versão 3, o modelo tornou-se proprietário, ou seja, a empresa proprietária do Chat, a OpenAI, é considerada "aberta" apenas de nome.

Outro ponto interessante abordado no texto é o risco da IA substituir empregos na economia, levando a uma grande parcela da população desempregada. O blog "Economics From the Top Dow" lembra que o sistema não pode funcionar com uma grande massa de desempregados estruturais, pois isso acarretaria perda de receita das empresas, uma vez que o sistema depende de um público consumidor. Isso não significa que não haverá alterações na estrutura de empregos, com algumas profissões desaparecendo ou perdendo importância, enquanto outras se tornam mais relevantes.

Ao final do texto, é ressaltado que a regulamentação da IA só será benéfica para os grandes players, pois a captura do órgão regulador favorecerá as empresas mais fortes e garantirá a "certificação" de sua tecnologia. Em suma, o verdadeiro risco da IA está relacionado às escolhas que fazemos em relação a ela.

Foto: Michael Dziedzic