Translate

24 julho 2023

Empresas mais inovadoras

Todos os anos, o Boston Consulting Group (BCG) lança o seu Classificação das empresas mais inovadoras. Com base em uma pesquisa com mais de 1.000 executivos de inovação pesquisados em dezembro. 2022 e janeiro. 2023, o BCG avaliou o desempenho de uma empresa em quatro dimensões :

Partilha global: o número de votos recebidos de todos os executivos globais de inovação

Visão por pares da indústria : o número de votos recebidos de executivos do próprio setor de uma empresa

Interrupção do setor : o Índice de Diversidade (Herfindahl-Hirschman) de votos em todos os setores

Criação de valor: retorno total dos acionistas, incluindo recompras de ações, durante o período de três anos a partir de janeiro. 2020 a dezembro. 2022.

Eis as 10 mais:




Difusão do conhecimento e serendipidade nos Congressos

Esta semana teremos o que talvez seja o congresso mais importante da nossa área: o Congresso USP. Ao mesmo tempo, desde o início deste ano, estou no cargo de diretor geral do congresso mais simpático da nossa área: o Congresso da UnB. Bom, uma leitura estimulante do LSE mostra que um encontro acadêmico, como um congresso, é muito importante para a difusão do conhecimento e a serendipidade. Este último termo, um palavrão, é a capacidade de descobrir coisas ao acaso. 


Pois bem, os congressos acadêmicos possuem a capacidade de difundir conhecimento e proporciona, para as pessoas, a chance de descobrir coisas ao acaso. A troca acadêmica ajuda no nosso aprendizado permanente. A leitura apresenta que apesar de um congresso ser "caro", os benefícios parecem superar os custos. 

Usando pesquisas já realizadas (por exemplo aqui) é possível indicar que os congressos apresentam realmente uma troca de conhecimento. Isto é importante, pois muitas pessoas acreditam que os encontros científicos possuem uma função de disseminação de conhecimento. Mas não é só isto, pois também ajuda na aprendizagem das pessoas e nos encontros "fortuitos" e "discussões espontâneas" entre as pessoas que participam. É a famosa hora do cafezinho nos congressos, que geralmente não temos nos congressos virtuais e subavaliamos quando pagamos nossa inscrição nos encontros. 

As colaborações formadas durante esses eventos demonstram uma influência significativa em projetos de pesquisa subsequentes, como evidenciado pelo aumento das redes de coautoria e citações. Isso sugere que as conferências não apenas facilitam a troca de conhecimentos durante o evento, mas também fomentam conexões acadêmicas duradouras que moldam a trajetória da pesquisa além do término da conferência.

As implicações dessa pesquisa são substanciais para os organizadores de conferências, participantes e a comunidade acadêmica em geral. Não podemos, então, negligenciar a serendipidade e difusão do conhecimento. 

23 julho 2023

Setor público e respostas rápidas

Isto é bem interessante:

Eu perguntei recentemente no Twitter 

Quando um problema é sério e "algo deve ser feito", por que as pessoas costumam assumir que devem ser os governos que o fazem?? 

Muitos respostas semelhantes. 

Basicamente, se o setor privado pudesse lidar com isso, eles já o teriam feito. Isto pode ser um argumento contrário a ideia que o governo é lento para tomar uma atitude. Mas uma possível resposta é que talvez o problema esteja no próprio governo, que impede a atuação do setor privado. 

Rir é o melhor remédio

Montagem de um ninho: tempos modernos
 

Três resenhas

A Era da Empatia – De Waal

O livro foi escrito por um professor de psicologia e pesquisador de primatas. Isto explica um pouco o viés da obra em citar estudos sobre macacos, mas o argumento central é bastante forte: a natureza nos ensina que os seres humanos, assim como os animais, são mais empáticos do que alguns queiram difundir. Segue, portanto, uma visão mais otimista sobre a nossa espécie, na linha do livro Factfulness, de Hans Rosling, ou Humanidade, de Rutger Bregman. 

É um livro de um especialista, baseado em pesquisas (quase 60 páginas no final entre notas e referências). A leitura é agradável e De Waal conta vários fatos interessantes, da sua vida ou de outros pesquisadores. 

Gostei muito da tese e da leitura, mas confesso que senti o texto um pouco repetitivo a partir de um determinado ponto. Talvez seja um problema meu, da forma como estava lendo a obra, porém isto me impediu de continuar até o fim do livro. Todavia, penso que pode ser um sinal de que realmente o livro, de cerca de 300 páginas, poderia ser menor. 


Emocional – Leonard Mlodinow

Este seria o terceiro livro que li de Mlodinow. Se o Andar do Bêbado foi um livro cinco estrelas, Subliminar não chegou a tanto. Mas este eu realmente não gostei. Geralmente os livros que gosto têm muitas marcações. Ao final da leitura, percebi que minha versão física estava intacta. Achei um livro um pouco hermético para os não iniciados e fiquei sem muita motivação para saber das histórias domésticas que Mlodinow conta sobre sua família judia. É obvio que o tema é atrativo; afinal, a emoção faz parte de nova vida diária. Mas por algum motivo, entendo que a obra não é cativante. Talvez seja um problema da minha leitura. Quem sabe eu estivesse esperando um texto mais leve, de difusão científica. 


Checklist do Gênio: Dicas Paradoxais Para Testar o Talento Criativo – Dean Simonton

Não gostei do título, pois parece que é uma obra para fazer as pessoas serem mais inteligentes. Creio que o livro tem uma função melhor em tentar explicar as razões que uma pessoa “dá certo” e isto não significa necessariamente que seja uma pessoa “genial”. A obra também não irá ensinar você a ser um gênio. Mas discute quais as razões de existir um Bach e um Caneta Azul da vida. Isto passa pelo QI, pela loucura (ou sanidade), por ser primogênito ou caçula, por se esforçar muito, entre outras coisas. O interessante é que o livro mostra que não há uma receita pronta. Depende da área que você está estudando, do tipo de obra e de um monte de outras coisas. Em cada uma das nove regras, o autor dá o que seria a regra “geral” e mostra que esta regra muitas vezes não funciona. Por exemplo, o caso do QI. Algumas pesquisas mostram que os “gênios” geralmente possuíam um elevado QI, mas esta medição é muito frágil e muitos não fizeram o teste para verificar se a regra é válida. Se você chegou até aqui na sua leitura, minha recomendação é a de que vale a pena comprar o livro. Mas, esqueça o título. 

Mocinho e Bandido na história do escândalo contábil que abalou a Austrália

O problema da PwC na Austrália tem uma história mais antiga do que eu imaginava. Relembrando para quem não leu as postagens anteriores do blog, a empresa de contabilidade e consultoria PwC está sendo acusada de compartilhar informações sigilosas que tinha disponíveis do governo da Austrália e repassar a seus clientes de consultoria. O assunto está sendo manchete na Austrália. Para a PwC, o prejuízo é enorme, já que a empresa vendeu seu negócio de consultoria governamental – que tinha mais de 1600 funcionários e gerava 600 milhões de dólares – por menos de 1 dólar.

Um texto de Richard Holden mostra que a linha do tempo deve retroceder a 2013. Neste momento, o Tesouro da Austrália contratou a PwC para ajudar no processo de criação de regras contra a elisão fiscal, especialmente de empresas de tecnologia. Ou seja, as regras envolviam preços de transferência. Naquele momento, o principal empregado da empresa PwC era Peter Collins. Como é praxe, tanto a empresa quanto os funcionários da PwC assinaram um termo de confidencialidade. De 2013 a 2018, Collins e demais empregados ajudaram o Tesouro. No período, foram três acordos de confidencialidade assinados.

Mas os acordos não impediram Collins de compartilhar as informações confidenciais com outras pessoas da PwC. E estas pessoas usaram as informações para obter novos negócios. Afinal, a PwC tinha o segredo de como escapar das novas regras tributárias. Por coincidência, a PwC obteve 16 contratos com empresas de tecnologia dos Estados Unidos.

Um ponto importante é que neste momento o governo da Austrália era comandado por políticos liberais. Neste caso, a redução do tamanho do setor público era um dos mantras e com ele a terceirização de certas atividades, como a produção de normas.


Em 2016, a Receita Federal da Austrália, cuja sigla é ATO, começou a suspeitar que algo estava errado. Naquele ano, a Receita entrou em contato com as empresas Big Four pedindo que toda correspondência relacionada com seus clientes sobre evasão fiscal fosse encaminhada. A PwC recusou a responder, alegando sigilo profissional. A Receita fez uma solicitação abrangente de e-mails e também pediu ao Tesouro os termos de confidencialidade padrão. E um ano depois, de maneira mais específica, os termos entre o Tesouro e Collins, o funcionário da PwC.

Mesmo diante de tal pedido, parece que o Tesouro da Austrália não desconfiou de Collins e no início de 2018 um novo contrato é assinado. Não se sabe se a Receita comunicou algo nesta solicitação. Mas esta entidade encaminhou o assunto para a Polícia Federal entre 2018 e 2019. A Polícia informou que não recebeu informações suficientes para prosseguir com a investigação. A Receita também encaminhou a questão para uma entidade "obscura", chamada Tax Practitioners Board (TPB), sem informar os detalhes. Se há um herói na história, chegamos nele.


A TPB possui recursos limitados, mas mesmo assim investigou Collins em janeiro de 2021 e, logo a seguir, a PwC em março de 2021. A Receita parece que ficou sentida e passou a não cooperar com a TPB em junho, alegando sigilo. Mas a TPB continuou e utilizou leis que não eram muito conhecidas para obter informação das empresas que a PwC tinha conseguido contrato de prestação de consultoria. Isto realmente foi bastante esperto.

Mais ainda, em uma jogada questionável de uma entidade sem recurso e com pouco poder, a TPB conseguiu acessar os registros da Receita Federal, sem o conhecimento desta, e descobriu detalhes de acordos entre empresas de tecnologia e a Receita. Com tudo isto, a TPB concluiu sua investigação em janeiro de 2023.

Neste ponto, aparece o segundo herói da história. O jornal Australian Financial Review começou a publicar os detalhes através de diversas reportagens. Muitos membros do governo ficaram sabendo do problema pelo jornal. A divulgação implicou a Receita Federal, que aparentemente foi capturada pelas entidades que deveria regular. Também implicou a Polícia Federal, que não levou adiante a investigação, mesmo não tendo todos os detalhes.

Se existe um ditado que afirma que o mundo não é justo, este não parece aplicar à PwC. A empresa de auditoria está sofrendo pesadamente com o escândalo. É bem verdade que já ganhou bastante dinheiro com o governo da Austrália, mas a venda de um negócio que dava uma receita de 600 milhões por menos de um dólar mostra o impacto disso tudo.

Mas se há alguém que merece sofrer, este alguém é a PwC da Austrália. Inicialmente, o escândalo parecia estar restrito a Collins, o ex-consultor da área de tributos. Mas fatos divulgados mostram que o próprio chefe da empresa sabia o que estava ocorrendo. Não somente ele, como mais de sessenta funcionários.

O problema é tão sério que a direção internacional colocou um nome externo ao país para tentar comandar a empresa na Austrália neste momento. A exclusão da empresa de qualquer contrato com o governo já foi tomada e não tem prazo de validade. Um grande incorporador de imóveis decidiu abandonar sua empresa de auditoria atual, a PwC, em razão dos problemas. Vários fundos de pensão excluíram a PwC no futuro próximo de seus negócios. Isto significa que estes investidores exercerão seu poder para impedir que as empresas onde investem de contratar a PwC. Ou seja, a PwC é considerada uma empresa não confiável.

Provavelmente a empresa terá dificuldade de recuperar contratos ou até mesmo manter os existentes. Também há um problema reputacional aqui. Atualmente, o governo da Austrália é trabalhista e o escândalo chega em um grande momento, quando a administração deseja recuperar o pelo do governo,

22 julho 2023

Vantagens da boa previsão


Eis o abstract

We provide the first revealed preference estimates of the benefits of routine weather forecasts. The benefits come from how people use advance information to reduce mortality from heat and cold. Theoretically, more accurate forecasts reduce mortality if and only if mortality risk is convex in forecast errors. We test for such convexity using data on the universe of mortality events and weather forecasts for a twelve-year period in the U.S. Results show that erroneously mild forecasts increase mortality whereas erroneously extreme forecasts do not reduce mortality. Making forecasts 50% more accurate would save 2,200 lives per year. The public would be willing to pay $112 billion to make forecasts 50% more accurate over the remainder of the century, of which $22 billion reflects how forecasts facilitate adaptation to climate change.

Apesar do aumento substancial da qualidade da previsão do tempo, colocar mais fundos públicos nesta atividade pode ser interessante. O texto mostra a quantidade de vidas salvas. Uma reportagem sobre a pesquisa pode ser encontrada aqui

Sobre a qualidade crescente das previsões meteorológicas, vide o livro Sinal e Ruído, de Nate Silver. Um ponto interessante é que a previsão de calor salva mais vidas humanas que a previsão do frio. Isto parece contra-intuitivo. Mas é do texto acima. 

Foto: Angela Compagnone