Como sou um professor de longa data, há algumas práticas que utilizo em sala de aula cuja a origem eu não sei. Há muito tempo tenho permitido que meus alunos façam a prova usando uma “cola”. Consiste em uma folha de papel A4, sem dobraduras – irei explicar isto mais adiante – e com anotações sobre o conteúdo da prova. As anotações podem ser de punho próprio ou digitadas e depois impressas, a critério do aluno.
Ao longo dos anos tenho observado que alguns alunos usam um papel com anotações digitadas. A letra das anotações é bastante reduzida, para caber mais conteúdo na folha de papel. Outros preferem escrever suas anotações de próprio punho. Há alunos que simplesmente tiram cópia da anotação do colega, muitas vezes no próprio dia da avaliação.
Adoto este critério desde que comecei a dar aula na UnB. Ou seja, há muito tempo. A persistência em manter este critério de consulta a uma folha de papel A4 pode significar que ou eu sou teimoso ou que o método faz um certo sentido. Como acredito firmemente que não sou teimoso, irei listar algumas das vantagens do método da folha de papel A4 no processo avaliativo dos meus alunos.
Em primeiro lugar, é muito interessante para o professor permitir uma “cola” oficial, pois o processo de aplicação da prova é mais tranquilo. Não é necessário verificar se o aluno não está com uma cola oculta entre as pernas ou se escreveu algo na carteira. A única preocupação é impedir a cola do colega ao lado, que parece não acontecer com tanta frequência.
Outro ponto interessante é que o professor pode elaborar uma avaliação mais voltada para a capacidade de entendimento do conteúdo da disciplina e não para o fato do aluno ter condições de memorizar coisas. Cito isto como vantagem, mas confesso que nunca parei para verificar isso com mais atenção.
Ao permitir que o aluno faça uma cola, há um incentivo adicional para que o mesmo estude. Ele precisa selecionar os pontos que devem constar do seu resumo e esta motivação talvez ele não tenha em uma situação normal. Alguns deles podem pensar que a matéria não é tão difícil assim e que pode ser abrangida sem necessariamente copiar todo o conteúdo em uma folha de papel.
Alguém poderia aqui pensar: “tem o aluno que irá tirar cópia da folha de outro”. Mas isso termina sendo um ponto positivo. Este aluno terá contato com seu resumo somente no momento da prova e a chance dele não entender o resumo ou não encontrar o conteúdo será maior. Além disso, o esperto não irá beneficiar do fato de ter feito o resumo. Tenho percebido que usualmente estes alunos que tiram cópia do colega não têm um grande desempenho.
Pelo fato da cola servir para separar quem estudou e quem não fez o seu resumo, eu enfatizo que não recolho o resumo que foi usado na prova. É uma forma clara de dizer que não estou importando com a origem da cola ou se está ou não completa.
Eu entendo que o resumo permitido durante a avaliação é muito mais próximo da realidade cotidiana. Hoje, quando temos dúvida sobre alguma coisa, recorremos a nossa cola usual: pesquisando na internet para saber a resposta de algo que esquecemos. Qual o nome daquela música sobre provérbios, escrita pelo Chico Buarque? Tive esta dúvida ainda a pouco e não tive dúvida: fui no Google e coloquei algumas palavras e logo obtive a resposta. A música chama-se "Bomtempo".
Ao longo dos anos tiveram duas situações interessantes que gostaria de narrar aqui. A primeira foi logo após começar a adotar o padrão de uma folha A4. Uma aluna da época, Lara, chegou para prova com uma folha A4 e nela estava colada uma grande quantidade de pequenos papéis, dobrados. O que seria uma folha A4 se transformou em várias folhas de papel. Desde então, o critério é uma folha A4, lisa, sem dobraduras.
A segunda é o fato de que alguns alunos realmente reduzem a letra para caber o máximo na folha. Isto inclui reduzir margem e o tamanho da letra. Neste semestre um aluno trouxe sua folha e uma lupa, para a leitura do texto.
Foto: KOBU Agency