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16 janeiro 2023

Americanas: a resposta está na governança?

Em uma entrevista para o Valor, Luciana Dias, ex-diretora da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), afirma que até o momento não é possível apontar culpados em relação às inconsistências da Americanas, pois não se sabe é um problema de política contábil ou de controles. Ela também argumenta que é difícil falar sobre uma regulação mais rígida para impedir problemas assim, já que o Brasil está 100% adequado às normas do IFRS. A questão se volta, então, para aspectos de governança.

“Há questões de governança que não são necessariamente fraudes. Não ter controles específicos, não ter discussões nas notas explicativas é bastante intrigante do ponto de vista de governança. O fato relevante não menciona quando surgiu a desconfiança do problema, quem está solucionando. Mesmo que não tenha fraude, pode haver problemas de governança relacionados à falta de controles. É possível ter um problema de governança que não é desonestidade.”

Em uma publicação no LinkedIn, Andre Burger ressalta que a Americanas supostamente apresentava uma boa governança, com um Conselho de Administração atuante, Conselho Fiscal, Comitê de Auditoria, Código de Conduta, dentre outros, que não captaram a situação problemática das tais inconsistências contábeis.


Ainda segundo Dias, as normas contábeis dão espaço para que a entidade faça julgamentos, estabeleça políticas e explique as opções feitas nas demonstrações contábeis. As empresas com boa governança “levantam as questões mais relevantes para aquele assunto e discutem nas instâncias de governança adequadas. Isso precisa ser documentado para que as informações não se percam, e devem ser estabelecidos controles para que essas políticas sejam adequadamente implementadas.” Dias acrescenta que a resposta está neste caminho e que, no momento, é necessário descobrir onde houve falha na cadeia de governança da Americanas.

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15 janeiro 2023

Americanas

Domingo, 15 de janeiro. O grande fato da semana na área contábil brasileira, talvez o grande fato no ano, é a questão da empresa Americanas. Após minhas diversas leituras sobre o assunto, decido fazer esta postagem tratando dos principais atores do caso. 

Recapitulando, logo após assumir o cargo de principal executivo da empresa de varejo Americanas, Sérgio Rial, em conjunto com o executivo de finanças da empresa, Andre Covre, disse que a empresa estava com algumas “inconsistências contábeis”, no valor estimado de 20 bilhões de reais. A notícia pegou muitos de surpresa e, logo após o comunicado, Rial e Covre deixaram a empresa. Este seria um breve resumo da situação. Vamos olhar agora os principais personagens da história.

Sérgio Rial (e Andre Covre) – este talvez seja o personagem mais interessante do enredo. Vindo do Santander, onde comandou a importante instituição financeira durante anos, Rial foi contratado para  melhorar a empresa. Por sua rede de contatos e ter origem bancária, é possível que Rial já conhecesse o problema da empresa, antes de 2023. Em alguns textos, Rial aparece como alguém que “descobriu” as inconsistências com alguns dias no cargo. Mas eu desconfio seriamente se realmente foi uma descoberta ou se Rial talvez só tenha percebido a dimensão do problema quando assumiu o cargo. Durante a conferência, na qual a notícia chegou ao público, Rial usou a terminologia “inconsistência”, mas comentou que era “não material”. Mas um valor de R$20 bilhões de inconsistência, mesmo em uma empresa do porte das Americanas, é certamente material. 

Após o anúncio, Rial deixou a empresa e foi trabalhar na 3G. Isto é muito estranho para quem está olhando o que ocorreu nos últimos dias. Afinal, a 3G é a principal acionista da empresa e Rial foi o “responsável” por uma grande perda. 

3G – A 3G Capital possui participações na Inbev e também na Kraft, que fez uma despesa com goodwill, em razão do teste de impairment, no valor de 15 bilhões de dólares, que resultou em uma investigação da SEC e multa do regulador. Há alguns meses a 3G, grande controladora das Americanas, fez uma mudança societária, na qual sua participação foi reduzida. Logo após o anúncio sobre as "inconsistências", a 3G divulgou um reforço de capital, que irá elevar sua participação acionária. Se a 3G perdeu com a queda das ações, o reforço de capital pode ser feito em um momento propício. Mas, novamente: qual a razão de contratar Rial para a 3G? 

Governança Corporativa da empresa – Rial assumiu o posto no lugar de Miguel Gutierrez, que foi funcionário da empresa, e seu principal executivo, durante anos. A cultura da empresa era caracterizada por uma boa remuneração para seus principais funcionários em renda variável, especialmente ações da própria entidade. Uma característica de gestão da 3G é observar o comportamento dos seus funcionários através de metas e uma forte pressão para atingir os objetivos determinados. Isto cria um ambiente propício para um esforço enorme da gestão, mas também induz a todo tipo de manipulação. Se existia inconsistência contábil, onde estava o Conselho Fiscal da empresa ou os gestores anteriores? Certamente o problema começou bem antes de 2022 e cabe investigar de que forma a cultura organizacional da empresa teve seu papel de destaque. 

Reguladores – Logo após as primeiras notícias, a Comissão de Valores Mobiliários e o Conselho Federal de Contabilidade vieram a público para responder ao assunto. A CVM já instalou processos e esperamos que isto resulte em punição, inclusive pecuniária. O CFC, sempre avesso à polêmica, saiu com um comunicado usando o termo “inconsistência”, indicando que comprou o enredo da empresa. Mas não sabemos se haverá um processo instaurado. Esperamos que o CFC não seja omisso. 


Auditor – Deixe este para o final, pois a atuação da PwC tem sido criticada de várias formas. A empresa, até esta data, não tem nenhum comunicado sobre o assunto na sua página oficial, o que é uma frustração. Logo após o anúncio, algumas pessoas fizeram um prognóstico apressado sobre a sobrevivência da empresa. O caso não irá ameaçar esta Big Four. Afinal, a PwC auditava a Petrobras e todos sabemos como aquilo deveria ser o fim do poço para uma empresa auditoria e nada ocorreu. Talvez pague um pequena multa, em relação ao seu faturamento, para o regulador e tenha seus auditores suspensos da função. Mas algo mais? Não creio. Neste momento, seria importante discutir o modelo de auditoria que adotamos no mundo capitalista. Mas isto não irá ocorrer, sendo realista. 

12 janeiro 2023

Rir é o melhor remédio

 





E a melhor:


Este último enviado pela Izis, a quem agradecemos.
Complemento do Sandro, do Acervo Contábil:
E a Rosimeire responde: "não, não. é por causa do arredondamento"







Banco Nacional Suíço registra prejuízo de US$143 bilhões

O Banco Nacional Suíço registrou uma perda 143 bilhões de dólares em 2022. Esta é a maior perda do banco na sua história e parte do resultado decorre do investimento do banco no mercado acionário dos Estados Unidos. Outra explicação foi a posição em moeda estrangeira, que o banco comprou na tentativa de mudar o câmbio. 


As perdas aceleraram à medida que os mercados globais de ações e títulos caíram em uníssono - 2022 foi o primeiro ano em mais de um século em que o mercado de ações e títulos sofreu perdas de dois dígitos - já que os bancos centrais de todo o mundo, incluindo o SNB, aumentaram as taxas de juros para combater inflação. Enquanto isso, o forte franco suíço - que subiu acima da paridade em relação ao euro em julho - também levou a perdas relacionadas à taxa de câmbio.