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20 novembro 2022

Custo da Copa do Mundo

Ninguém sabe quanto irá custar a Copa do Mundo para o Catar. O evento colocou o país nas conversas, mas também trouxe uma propaganda negativa: afinal, há relatos de mortes de trabalhadores, e uma controversa atitude com respeito ao consumo de bebidas e ao comportamento dos torcedores. Eis um texto sobre o assunto da Forbes:


Quando o Catar iniciar a primeira partida da Copa do Mundo de 2022, contra o Equador, na tarde de hoje (20), o mundo finalmente testemunhará o resultado final de uma das maiores campanhas de capital da história da humanidade.

O ministro das finanças do Catar disse em 2017 que o país estava gastando US$ 500 milhões por semana em projetos de infraestrutura – incluindo estradas, hotéis, estádios e atualizações de aeroportos – para preparar a pequena nação do Oriente Médio para sediar o maior evento esportivo do mundo.

Esta será, de longe, a Copa do Mundo mais cara da história. Estima-se que o Catar tenha gasto até US$ 220 bilhões em doze anos desde que foi escolhido como sede da Copa do Mundo, no final de 2010 – mais de 15 vezes o que a Rússia gastou para o evento de 2018.

O país está sob intensa observação pelas centenas, potencialmente até milhares, de trabalhadores, muitos dos quais são de outros países, que morreram enquanto trabalhavam sob condições intensas por um salário mínimo para manter os grandes projetos nos trilhos.

Mesmo agora, não está claro se o “risco ousado” que o Catar pediu à FIFA para permitir que o país seja o anfitrião valerá a pena para a organização ou para o país de origem. O ex-presidente da Fifa Joseph Blatter disse na semana passada que a decisão de deixar o Catar sediar foi uma “má escolha”.

“É um país muito pequeno”, disse Blatter ao jornal suíço Tamedia. “O futebol e a Copa do Mundo são grandes demais para isso.”

Qualquer controvérsia em potencial fará pouco para diminuir as grandes quantias de dinheiro investidas, patrocinadas, jogadas ou ganhas durante o fenômeno global de 29 dias. Antes do início da Copa do Mundo, estes são os valores mais importantes:

(...) US$ 277 milhões: a quantia amplamente divulgada que David Beckham recebeu do Catar para servir como embaixador na Copa do Mundo de 2022, pago em parcelas ao longo de 10 anos.(...)

US$ 6,5 bilhões a US$ 10 bilhões: o intervalo de estimativas sobre quanto o Catar gastou para construir sete estádios de futebol para a Copa do Mundo deste ano. Após o evento, partes dos estádios serão desconstruídas e doadas a outros países, e os prédios reaproveitados em espaços comunitários para escolas, lojas, cafés, instalações esportivas e clínicas de saúde. Um local, o Estádio 974, foi construído com contêineres reciclados e será totalmente desmontado e removido.

US$ 14,2 bilhões: custos totais da Rússia associados à realização da Copa do Mundo de 2018, de acordo com o Moscow Times. Os maiores itens incluíram infraestrutura de transporte (US$ 6,11 bilhões), construção de estádios (US$ 3,45 bilhões) e acomodações (US$ 680 milhões).

US$ 220 bilhões: Um custo estimado do que o Catar gastou nos últimos dez anos em preparação para a Copa do Mundo. Funcionários do governo nunca confirmaram o número, mas, em 2017, o ministro das finanças do Catar disse que o país estava gastando US$ 500 milhões por semana em projetos.

Foto: Fauzan Saari

Outro texto com conteúdo aproximado, pode ser encontrado aqui

Os problemas contábeis da FTX

Tenho mais de 40 anos de experiência jurídica e de reestruturação. Fui Diretor de Reestruturação ou CEO em várias das maiores falhas corporativas da história. Eu supervisionei situações envolvendo alegações de atividade criminosa e má conduta (Enron). Eu supervisionei situações envolvendo novas estruturas financeiras (Enron e Capital Residencial) e recuperação e maximização de ativos transfronteiriços (Nortel e Overseas Shipholding). Quase todas as situações em que estive envolvido foram caracterizadas por defeitos de algum tipo nos controles internos, conformidade regulatória, recursos humanos e integridade dos sistemas. Nunca em minha carreira vi uma falha tão completa dos controles corporativos e uma ausência tão completa de informações financeiras confiáveis como ocorreu aqui. Desde a integridade dos sistemas comprometidos e a supervisão regulatória defeituosa no exterior, até a concentração de controle nas mãos de um grupo muito pequeno de indivíduos inexperientes, pouco sofisticados e potencialmente comprometidos, essa situação é sem precedentes.

Novo CEO e diretor de reestruturação da FTX, John Ray. Parece um exagero, mas no documento que Ray encaminhou para a justiça há alguns fatos sobre a contabilidade da empresa: não existia controle sobre gastos como compra de imóveis e outros itens pessoais para funcionários e consultores, não há registro de passivos de clientes no balanço, não existia controle centralizado do dinheiro, não existia uma lista precisa de contas bancárias e os responsáveis - o que torna impossível saber qual o valor do caixa da empresa, não existia um departamento de contabilidade, assim como não há uma lista de recursos humanos da empresa e não foram localizados todos os ativos digitais da empresa. 


A solicitação pede para mudar o fórum da falência uma vez que transações foram feitas após a solicitação de falência. 

Foto: Ricardo Viana

18 novembro 2022

Menos é mais e a divulgação deve seguir esta linha

Em meados do ano passado, Damodaran fez uma postagem sobre o dilema da divulgação. É interessante que esta postagem ocorreu quando já iniciava uma demanda por informações relacionadas com sustentabilidade. O foco de Damodarn é a informação para fins de avaliação de uma empresa e, por este motivo, suas considerações são relevantes para os contadores e os reguladores. 

Na primeira parte do texto Damodaran enfatiza a situação atual da evidenciação contábil, em particular as relacionadas com empresas de capital aberto. Analisando o histórico, desde o início do século XX, é possível constatar que os relatórios anuais ficaram cada vez mais pesados. A explicação para isto pode estar na maior complexidade dos negócios, mas há também a responsabilidade das exigências de evidenciação, oriundas dos normatizadores. Há uma crença generalizada, já comentamos no blog, que mais informação resolve todos os problemas. 

Se no início do século XX, uma empresa como a Westinghouse Eletric não publicou nenhum relatório anual por quase dez anos, a recessão de 1929 terminou por trazer uma demanda por informação oriunda da criação da Securities and Exchange Commission (SEC). (No Brasil, já existia obrigatoriedade de divulgação em certos setores já no século XIX, como nas instituições financeiras.) 

O desenvolvimento recente é marcado pelo aumento no número de "páginas". O gráfico acima mostra que, entre 1994 e 2020, o número de páginas do relatório da Coca-Cola aumentou de cerca de cem para mais de duzentas. 

Um artigo acadêmico, que pesquisou as informações até 2012, citado por Damodaran, mostrou que as empresas estão usando frases repetidas (é isto mesmo) em diversas partes do relatório. Além de usarem palavras pegajosas. Veja no gráfico acima parte do resultado desta pesquisa. 

Isto fez com que o número médio de palavras aumentasse a cada ano. O que ocorreu com a Coca-Cola na realidade também se refletiu na maioria das empresas. A crise de 2007 pareceu interromper uma tendência de crescimento anual, mas logo as empresas retornaram a aumentar seus relatos. 

O gráfico acima mostra, em azul claro, que parte do aumento ocorreu no item de compliance, seja com a SEC ou com os padrões contábeis. Ou seja, a verbosidade dos relatórios tem sua explicação na redundância, na rigidez e na falta de legibilidade de três assuntos, segundo Damodaran: fatores de risco, controle interno e valor justo. O curioso é que todos estes três itens correspondem a informações que talvez não seja útil para um avaliador de empresas. A listagem de fatores de risco é muitas vezes óbvias demais para ser relevante e ajuda a empregar advogados; a descrição de controle interno pode ser útil para o auditor, mas não permite ter uma escala comparativa; e informações sobre valor justo cria a falsa ilusão de que o contador sabe fazer uma mensuração "justa". 

A segunda parte do texto de Damodaran é olhar isto sob a perspectiva do investidor. Eis um trecho interessante:

Grande parte da divulgação regulatória foi focada no que os investidores precisam para avaliar as empresas, embora muitas vezes com um viés contábil. No entanto, existem mais traders do que investidores no mercado, e suas necessidades de informações são frequentemente mais simples e mais básicas que os investidores. Simplificando, eles querem métricas uniformemente estimadas entre as empresas e podem ser usadas em preços, seja em receitas ou ganhos. 

Para o autor, há formas de corrigir este problema. Basicamente a mensagem é que menos é mais. Vou reproduzir a seguir o trecho final, que julgo ser bem interessante:

Espero que possamos ter em mente esses princípios, à medida que embarcamos no que agora é quase certo de se tornar o próximo grande debate de divulgação, que é o que as empresas devem ser obrigadas a relatar questões ambientais, sociais e de governança (ESG). Você provavelmente está ciente minhas visões de todo o fenômeno ESG, e também tenho receio dos aspectos de divulgação. Se deixarmos que os serviços e consultores de medição da ESG se tornem os árbitros de quais aspectos de bondade e maldade precisam ser medidos, veremos as divulgações se tornarem ainda mais complexas e demoradas do que já são. Se você realmente deseja que as empresas sejam bons cidadãos corporativos, lute para manter essas divulgações em registros financeiros limitados apenas às dimensões ESG relevantes, escritas em linguagem simples (e não em palavras-chave ESG) e focadas em detalhes, em vez de generalidades. Falando da perspectiva de um professor, coloque um limite de palavras nessas divulgações, tire pontos por ofuscação e pense em quais divulgações existentes devem ser removidas para dar espaço a ela!

17 novembro 2022

Existe somente um único teste

 Na Wikipedia há um total de 104 testes estatísticos. Como lidar com tudo isto? Bom, Allen Downey, em 2011, postou no seu blog: Há somente um único teste:



In summary, don't worry about finding the "right" test. There's no such thing. Put your effort into choosing a test statistic (one that reflects the effect you are testing) and modeling the null hypothesis. Then simulate it, and count!

Em 2016, Downey postou novamente sobre o mesmo assunto. 

Caixa para o Clima

 

A discussão sobre o efeito climático traz algumas questões contábeis. Uma delas é quem irá pagar os danos climáticos? Haverá algum tipo de compensação? A contabilidade pode ajudar mensurando os efeitos ou até mesmo medindo o caixa destinado para esta questão (gráfico acima).  O dado é do site Semafor. Conforme o site: 

Isso porque a grande maioria dos fundos para iniciativas climáticas de todos os tipos vem de nações desenvolvidas e três quartos foram direcionados para seus próprios esforços domésticos, de acordo com a Iniciativa de Política Climática, um grupo de defesa que acompanha os fluxos de financiamento climático.

Acrescentando insulto a injúria: Há mais de uma década, os países desenvolvidos assumiram um compromisso específico de entregar pelo menos US$ 100 bilhões anuais em financiamento climático aos países em desenvolvimento a partir de 2020.


16 novembro 2022

Iniciativa de Juíza para tornar as peças jurídicas mais simples

Anteriormente postamos sobre uma lei da Nova Zelândia que obriga o uso de linguagem simples no setor público. Bom, logo a seguir uma reportagem do Estado mostrou uma juíza, de Goiás, que está procurando tornar as peças jurídicas mais simples 

“Doutora, eu gostaria de marcar um horário com a senhora porque não entendi se ganhei ou se perdi o processo”, escutou certa vez a juíza Aline Tomás Vieira [foto], titular na 2.ª Vara de Família e Sucessões de Anápolis (GO). Para levar mais transparência e eficiência à comunicação processual e evitar dúvidas como essa, cinco órgãos do sistema de Justiça goiano assinaram um termo de implementação da linguagem jurídica simples em seus atos.

A cooperação, inédita no País segundo a juíza, que também coordena o programa, pretende que o cidadão compreenda do começo ao fim seu processo, hoje ainda contaminado pelo vocabulário antigo utilizado nos tribunais – ou pelo “vetusto vernáculo manejado no âmbito dos excelsos pretórios”.

A iniciativa teve origem em um projeto de Aline durante a pandemia. Os fóruns fechados e a distância dos advogados fez com que muitas pessoas solicitassem atendimento virtual para entender sentenças. Ela, então, passou a enviar um resumo ilustrado do ato por aplicativo de mensagem.

Em dez meses de envio da peça, com ícones, fluxogramas e frases curtas, a taxa de recursos recebidos pela vara caiu 26,8% comparada ao mesmo período do ano anterior. “Quanto menos as pessoas recorrem, mais satisfeitas elas ficam com o resultado”, explica.

Em setembro deste ano, o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) levou a linguagem jurídica simples para além dos muros da vara de Anápolis em cooperação com a Ordem dos Advogados do Brasil, o Ministério Público, a Defensoria Pública e a Procuradoria-Geral do Estado. “Temos uma união de esforços em que todos nós falaremos a mesma língua com o usuário da Justiça”, afirma a juíza.

ERGÁSTULO

”Nenhum estudante chega à faculdade de Direito escrevendo de forma prolixa, nós aprendemos a escrever de forma prolixa. É preciso reformular”, diz o advogado e linguista Carlos André Nunes, professor de um instituto com seu nome que ensina linguagem jurídica simples em Goiânia.

De acordo com ele, a modalidade de escrita deve ter correção gramatical, sem coloquialidade; eliminação de termos técnicos desnecessários, como “ergástulo público” para cadeia ou “consorte supérstite” para viúvo; organização, com princípios de visual law; e peças curtas.

Segundo o professor, ao escrever de forma clara e coesa, a petição é lida de forma mais rápida, o que facilita a decisão do juiz. Outro ganho é a credibilidade. “Quando o cliente entende, passa a confiar mais no advogado.”

Esses benefícios foram notados no primeiro caso com linguagem jurídica simples do advogado Sidnei Pedro Dias, de Anápolis. Em menos de 24 horas o divórcio foi decretado de forma liminar, e o cliente, em seu primeiro processo judicial, conseguiu ler a petição de seis páginas durante o expediente. “Na mesma hora eu li e compreendi, não precisei tirar nenhuma dúvida. Acredito que facilitou para mim e para quem recebeu”, disse o contratante.

A linguagem jurídica simples ainda não faz parte da grade curricular das faculdades de Direito goianas, segundo o professor Carlos André. No entanto, para ele, a medida introduz no mercado o consultor em linguagem jurídica simples, um novo profissional que o curso de Letras se prepara para formar com a primeira especialização em Goiás. A habilidade também já é cobrada em concurso público para juízes do Estado. Segundo Aline, há representantes de três outros Estados em conversas sobre o modelo adotado em Goiás.

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