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11 outubro 2022

JAR e um artigo sob suspeita

Um periódico como o Journal of Accounting Research - um dos melhores da nossa área - publicou um artigo que está sendo objeto de contestação. O artigo lida com fraude na contabilidade, um assunto relevante. Usando machine learning os autores conseguiram aumentar a taxa de detecção em relação a regressão logística. O problema é que um texto no EcoWatchJournal descobriu falhas no processo. Eis o resumo:

This critique examines the results of an article that applies machine learning to the detection of accounting fraud, published in Journal of Accounting Research. Their key finding is that machine learning improved fraud detection by 70 percent above a previously published logistic regression. The authors make their data and Matlab code available at Github. Using their files, I replicate their study. Upon closer inspection, we see that some fraudulent firms were contained in both the training and test samples, which improves the results of their model, but contradicts what was described in the published paper. I asked the authors about this issue and gratefully received a response. The response is quoted in the present critique. Getting a proper assessment of the potential of machine learning is important, as such techniques and models are relied upon by industry practitioners and regulators, including the Securities and Exchange Commission.

Veja que o problema é sério. Os autores usaram as mesmas empresas na amostra de teste e na amostra de treinamento. Isto é um erro, já que melhora os resultados. 

Em agosto de 2022 os autores publicaram uma errata do artigo. Mas a crítica persistiu no próprio Econ Watch Journal:

This paper treats an erratum published in Journal of Accounting Research (JAR) in August 2022. The erratum was prompted by two critical comments authored by me and published in Econ Journal Watch. The erratum mischaracterizes its authors’ previous research related to the preferred test sample period. More importantly, the authors say that I identified an error in their program code. This is false. Rather, I identified a misidentification within the dataset, a misidentification that was disclosed neither in their original JAR article, nor in the program code appended to that article, nor in their Econ Journal Watch reply to my first comment. Finally, the erratum never addresses why the misidentification occurred, nor why they did not acknowledge the misidentification on the two prior opportunities to do so. I have asked for an investigation at the Journal of Accounting Research into academic research misconduct.

A errata tenta confundir a crítica feita, já que não foi um problema no código, mas o uso da base de dados. Veja que no final, Walker, que levantou a polêmica sugere que é um caso para investigação de má conduta científica. 

via aqui

Sites de empresas de contabilidade

 O Accounting Web promete mostrar nove sites de empresas de contabilidade que seriam exemplo para outras empresas. Apesar dos exemplos serem dos Estados Unidos e Inglaterra, eu acho que existem boas dicas aqui. Particularmente gostei do site da Perkins Accounting. Das grandes empresas é citado somente a PwC e isto é positivo: afinal queremos saber que não é preciso ser uma grande potência financeira para produzir um conteúdo agradável para o potencial cliente. 


A relação pode ser encontrada aqui. Seria interessante uma iniciativa deste tipo aqui no Brasil. Afinal, qual seria o site de empresa de contabilidade mais bonito? 

Ex-chefão da F1 tem nova acusação relacionada com o fisco


Durante anos, Bernie Ecclestone reinou sobre a Fórmula 1. Agora, Ecclestone está sendo julgado por uma suposta falha na sua declaração de imposto de renda. Ele teria esquecido de declarar ativos de 400 milhões de libras existentes no exterior. Bernie, que tem 91 anos, será julgado no dia 9 de outubro de 2023, em um caso que deve demorar seis semanas, segundo afirmou o promotor do caso.  

Ecclestone nega que a acusação, que partiu de uma investigação da Receita Federal inglesa, o HMRC. 

Anteriormente o empresário já foi acusado de problemas fiscais, entre outras controvérsias. 

Entenda o caso do Credit Suisse

O Credit Suisse, maior banco da Suíça, está enfrentando uma crise sem precedentes em sua história.

A instituição financeira helvética registrou prejuízos recordes nos últimos meses, além de ser envolvida em uma série de escândalos que minaram sua credibilidade.

As ações do Credit Suisse na Bolsa de Valores de Zurique caíram 60% desde o começo do ano, mesmo se nesta terça-feira, 4, estão demonstrando uma certa retomada. Mesmo assim, o valor de mercado do banco passou de cerca de US$ 30 bilhões no começo do ano para US$ 10 bilhões em outubro.

Entretanto, os Credit Default Swap (CDS), papéis considerados apólices de seguros contra a possibilidade que falência do banco, continuam em suas máximas históricas, chegando em 325 pontos base desde o final de semana, alta de 48% no último mês.

No começo do ano, os CDSs estavam em cerca de 50 pontos base. Uma escalada que demonstra uma desconfiança crescente do mercado sobre a capacidade de sobrevivência do Credit Suisse (gráfico).



Isso pois os escândalos Archegos Capital Managment e Greensill geraram prejuízos bilionários para o balanço do banco suíço. Tanto que o mercado já esta precificando a necessidade de um aumento de capital de, pelo menos, US$ 4 bilhões. E isso explica, em parte, a queda das ações na Bolsa de Valores: o mercado já está esperando essa operação.

O primeiro caso estourou na primavera de 2021, quando o Archegos, family office do investidor sul-coreano Bill Hwang baseado em Nova York quebrou, gerando um prejuízo de US$ 5,5 bilhões para o Credit Suisse. O family office estava muito alavancado e acabou recebendo uma chamada de margem que gerou sua falência.

Após esse episódio, o banco suíço reduziu os empréstimos para fundos de hedge e prometeu uma reformulação de seu departamento de compliance.

No caso do Greensill, empresa financeira britânica fundada em 2011 especializada em emprestar dinheiro para empresas financiarem suas necessidades de fluxo de caixa, quebrou em outubro de 2021 gerando um prejuízo de US$ 10 bilhões para o Credit Suisse.

Além disso, o capital do banco foi consumido por multas e sentenças judiciais adversas.

Por exemplo, um tribunal das Bermudas ordenou que o Credit Suisse pagasse para um bilionário georgiano mais de US$ 600 milhões por ter permitido que um seu funcionário roubasse e administrasse mal seus recursos.

Em outro caso, um tribunal suíço considerou o Credit Suisse culpado por ajudar uma quadrilha búlgara a lavar dinheiro relacionado ao tráfico de cocaína.

Por isso, se torna cada vez mais urgente um tratamento de "emagrecimento" das atividades do Credit Suisse, com a venda de ativos e demissões de funcionários, que permitirá reduzir custos em cerca de US$ 3,5 bilhões, passando de cerca de US$ 19 bilhões em 2021 para cerca de US$ 15,5 bilhões.

No segundo trimestre do ano, o banco registrou um prejuízo de 1,59 bilhões de francos suíços, contra um lucro de 253 milhões de francos de 2021. Uma piora dos números, já que primeiro trimestre de 2022 o prejuízo tinha sido de 273 milhões de francos. Os resultados do terceiro trimestre serão divulgados no final de outubro.

O novo CEO do Credit Suisse, Ulrich Körner, escreveu em um memorando enviado na última sexta-feira que o banco vive um "momento crítico", mas procurou tranquilizar a equipe sobre a “forte base de capital e posição de liquidez” do banco suíço, prometendo apresentar um plano de reestruturação até o dia 27 de outubro.

Não por acaso, muitos veículos de imprensa especializada e analistas financeiros estão falando de um possível "Novo Lehman Brothers" no caso do Credit Suisse. Com o risco de um contágio para todo o setor financeiro europeu, e de lá para a economia real do Velho Continente. Desencadeando uma nova crise econômica global.

O caso Credit Suisse é muito diferente do caso do Lehman Brothers

A turbulência que o Credit Suisse está enfrentando hoje é algo completamente diferente da crise vivida pelo Lehman Brothers há quinze anos atrás.

Em primeiro lugar, é necessário considerar que o Credit Suisse tem um coeficiente patrimonial Cet1 ratio de 13,5%. Um número alto em comparação com seus concorrentes. Caso os ativos prejudiciais sejam eliminados do balanço, com um custo estimado em cerca de US$ 2,5 bilhões, esse coeficiente patrimonial deveria passar para 12,5%.

Além disso, o Liquidity Coverage Ratio (LCR) - índice que visa garantir que um banco mantenha um nível adequado de ativos líquidos de alta qualidade não onerados, que poderiam ser convertidos em caixa para atender às suas necessidades de liquidez - está em 191%, entre os melhores da classe, com uma carteira de ativos líquidos de alta qualidade (HQLA) de cerca de US$ 235 bilhões.

Uma base patrimonial dessa proporção tranquiliza muitos analistas, que conseguem excluir um risco de insolvência como ocorreu no caso do Lehman Brothers em 2008.

No caso do quarto maior banco de investimento americano, o problema era o excesso de alavancagem e de exposição a empréstimos "subprime", ou seja com elevado risco de insolvência. Quando os juros nos EUA começaram a subir, a insolvência também aumentou, e acabou quebrando o banco.

Uma condição comum a todos os grandes institutos de crédito dos Estados Unidos, mesmo se em proporções diferentes, que levou para um efeito cascata e obrigou o governo americano e o Federal Reserve (Fed) a lançar o maior plano de resgate do setor financeiro da história.

No caso do Credit Suisse a situação é muito diferente. O banco não está nem próximo a alavancagem do Lehman Brothers, e seus problemas são ligados apenas a má gestão e escândalos pontuais.

Mais do que um problema de liquidez, existe um problema ligado ao movimento atual dos spreads que colocam o Credit Suisse em desvantagem em termos de custos de financiamento. Segundo um relatório do Citi, o aumento dos custos para o private banking será de até US$ 300 milhões. Um setor onde há o risco de novas saídas de capital e que o mercado considera possível de desinvesitmento por parte do Credit Suisse.


"Too big to fail", ou, "trop grosses pour faire faillite"

Outro ponto que é necessário considerar é que o Credit Suisse não é apenas um banco, é parte integrante da economia, da história e do orgulho nacional da Suíça. Muito mais do que a velha fórmula "grande demais para falir", aplicada no passado para justificar o resgate de grandes bancos americanos, britânicos e até alemães, como o Deutsche Bank.

No caso do Credit Suisse, que tem US$ 1,1 trilhão sob sua gestão, se o CEO Körner não conseguir levar adiante seus planos de reestruturação, o banco poderá ser socorrido pelo Conselho Federal da Suíça.

Alguns analistas também estão especulando sobre a possibilidade de uma fusão entre o Credit Suisse e o rival UBS. Todavia, a fusão entre o primeiro e o segundo maior banco da Suíça dificilmente seria aprovada pelas autoridades de regulação do setor bancário e da proteção da concorrência.

Portanto, mesmo se o Credit Suisse vive um "momento crítico", conforme declarado por Körner, o mundo dificilmente vai vivenciar uma nova crise econômico-financeira como a desencadeada pela falência do Lehman Brothers, quinze anos atrás.

Fonte: aqui. Foto: regularguy.eth

Rir é o melhor remédio


Medicina sem propaganda

10 outubro 2022

Internet está mudando a língua e como a moderação do algoritmo tem seu papel

 

A presença de "controles" nos sites mais populares está mudando como as pessoas estão se comunicando. Os algoritmos de moderação do TipTok, do Facebook e de outras plataformas foram programados para evitar certos debates. Para o usuário esta regra significa tentar dizer algo, evitando certas palavras, para não ser banido ou excluído. 

As empresas tem interesse em alinhar ao poder, para evitar um questionamento regulatório que seja ruim para seus negócios. Esta escolhe envolve a moderação de conteúdos considerados polêmicos. Esta postura provoca uma reação nos usuários em reinventar as palavras para expressar o que deseja. Veja um exemplo simples: na China os usuários são punidos se falarem mal de Xi. Para fugir da restrição, os chineses começaram a substituir Xi pelo Ursinho Pooh - já que o personagem tem a aparência de Xi. Depois de algum tempo, falar do personagem também foi objeto de censura. 

A mudança da língua sempre ocorreu. Mas com a internet parece que a dinâmica é bem mais veloz. Um texto publicado no site Mashable sinaliza que realmente isto ocorre nos dias atuais. Assim como no passado os religiosos evitavam o termo "diabo" e usavam, no lugar, derivações como "tinhoso", nos dias atuais é impossível controlar a criação de novos termos para evitar a seletividade dos algoritmos. Isto torna a linguagem mais sutil, acredito, e mais complexa. Basicamente as pessoas procuram substitutos para comunicar algo que usando os termos diretos seriam barrados nos sites. 

Na metade do texto eis que encontro o seguinte:

No TikTok as pessoas dizem SA em vez de "agressão sexual" e "berinjela picante" em vez de "vibrador"; as profissionais do sexo se tornaram "contadoras" (...)





Criatividade resolve um problema contábil do Barcelona

 Do Trivela:

La Liga oficializou nesta sexta-feira o teto salarial de cada um dos clubes das duas primeiras divisões do Campeonato Espanhol. E o número que mais chama atenção é o salto do Barcelona: o limite se multiplicou em relação à temporada passada. Após o mercado de inverno, no início de 2022, o Barça tinha como teto -€144 milhões em salários anuais – sim, valores negativos, tamanho era o rombo. Graças às famosas “alavancas” acionadas nesse verão, o valor chega a €656 milhões e acomoda a atual folha salarial do clube.

O Barcelona havia extrapolado o teto salarial anterior, o que atravancava novas contratações e escancarava a crise financeira. Caso um clube ultrapasse o limite salarial, como aconteceu com o Barça, La Liga pode impor sanções sobre as contratações e impedir novas inscrições. Caso punidos, os clubes só podem gastar 25% das receitas que conseguirem. Foi o que se notou quando os catalães precisaram limitar seus reforços a aquisições sem custos e ainda vendiam jogadores para melhorar as finanças.

Mais recentemente, para garantir novas possibilidades financeiras, o Barcelona acionou vários mecanismos – as tão aclamadas alavancas. Os blaugranas venderam direitos televisivos dos próximos anos e direitos de marketing sobre o clube, além dos naming rights do Camp Nou. Também negociaram uma série de jogadores sem espaço. Com isso, melhoraram substancialmente a situação econômica no curto prazo e criaram garantias para contratações. Foi o que tornou possível as muitas aquisições do recente mercado e também as inscrições no campeonato, só garantidas em caso de respeito ao teto salarial.



O teto salarial de La Liga é estipulado automaticamente, a partir de um cálculo que leva em conta receitas e despesas. Por conta disso, os limites são diferentes para cada clube. Os salários incluídos na conta não são apenas dos jogadores profissionais, mas também da comissão técnica, das filiais e das categorias de base. O cálculo se baseia também a partir de impostos, gastos de aquisição e amortizações. Por conta da pandemia, La Liga ofereceu algumas facilidades em relação aos prejuízos das temporadas recentes. (...)

A venda realizada pode permitir uma maior liberdade de contratação agora, mas compromete o teto futuro de gasto. 

Foto: Almos Bechtold