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09 setembro 2022

Charles, Elisabeth e nosso blog - 1

Pesquisando o histórico das postagens do blog encontramos este recorte de jornal:



Uma coluna do jornal faz uma fofoca sobre o jovem Charles, herdeiro do trono inglês. Era 1966 e Charles realmente era um jovem. O texto diz que Charles era fraco em matemática. Conclui que “quem é pobre, não precisa se preocupar com matemática nem contabilidade; quem é rico, contrata um bom contador”.

Já em julho deste ano postamos que o príncipe Charles, que defende o ambiente, usa jatinho particular para não pegar trânsito:

Também postamos sobre o custo da monarquia (aqui a espanhola e aqui a britânica). Recentemente, o custo do casal William e Meghan

Rir é o melhor remédio

 

Do Chess Anarchy: rainha versus duas torres. Dois eventos em setembro, nos EUA e no RU

08 setembro 2022

Uma possível solução para o p-hacking e o viés da publicação

Um dos problemas da pesquisa científica publicada é a existência do p-hacking, ou seja, a manipulação e/ou a seleção de resultados com determinados valores estatísticos. Como o pesquisador sabe que certos resultados podem aumentar a chance de publicação da sua pesquisa, há uma escolha ou uma tentativa de forçar certos resultados.

Suponha uma pesquisa sobre a relação entre o anúncio de resultados contábeis afetando o preço das ações. E considere também que os resultados serão mais aceitos caso tenha a comprovação da relação. Haverá uma tendência do pesquisador em forçar a apresentação dos resultados. Para o periódico, a publicação de uma pesquisa com esta relação será mais interessante, pois pode aumentar o número de pessoas que irá ler o trabalho e o número de outros pesquisadores que irão citá-lo. Isto é o p-hacking e sua consequência é um viés de publicação dos resultados. 

Um forma de resolver este problema é exigir um registro prévio do método a ser empregado, antes de iniciar a pesquisa. Isto irá garantir que não exista mudança na técnica estatística usada, que é algo comum quando o pesquisador deseja encontrar certo resultado. Uma forma mais rigorosa ainda é garantir que hipótese será testada e como isto irá ocorrer; Isso deve ser feito antes da pesquisa começar e é chamada de análise prévia ou PAP em inglês. 

Como o p-hacking passou a ser discutido nas ciências, ambas as soluções (registro prévio e análise prévia do planejamento) tornaram-se desejáveis. 
O gráfico mostra que o registro prévio nos periódicos de economia estão crescendo substancialmente. E entre os periódicos mais relevantes isto parece ser uma regra básica. Os outros periódicos estão acompanhando a onda. 

Mas será que isto funciona? Já foram desenvolvidos testes para verificar a existência de p-hacking e do viés da publicação que ocorre. Agora, quatro pesquisadores analisaram quase 16 mil estudos, com ensaios aleatórios controlados (RCT em inglês) e se isto reduziu os dois problemas. 
 
Como o pré-registro e o PAP são procedimentos distintos, a pesquisa analisou ambos. O gráfico acima mostra a distribuição dos testes estatísticos para a primeira situação, ou seja, do pré-registro. Na verdade, o gráfico da esquerda é a pesquisa sem pré-registro e o gráfico da direito é com o pré-registro. Se você achou que os gráficos parecem iguais, sua impressão é correta. Será que isto muda com um maior rigor, ou seja, com o PAP? O resultado está abaixo:
Os dois gráficos podem parecer idênticos, mas quando os autores analisaram os testes para verificar a presença de p-hacking o resultado mostrou que são estatisticamente diferentes. 

Eis o resumo do artigo:

Randomized controlled trials (RCTs) are increasingly prominent in economics, with preregistration and pre-analysis plans (PAPs) promoted as important in ensuring the credibility of findings. We investigate whether these tools reduce the extent of p-hacking and publication bias by collecting and studying the universe of test statistics, 15,992 in total, from RCTs published in 15 leading economics journals from 2018 through 2021. In our primary analysis, we find no meaningful difference in the distribution of test statistics from pre-registered studies, compared to their non-pre-registered counterparts. However, preregisterd studies that have a complete PAP are significantly less p-hacked. This results point to the importance of PAPs, rather than pre-registration in itself, in ensuring credibility

07 setembro 2022

Abismo entre o valor de mercado no futebol

 

Os dados são do site Transfermarkt e o gráfico é do site Statista e mostra o valor de alguns times estarão em campo nesta semana, disputando a Champions League. Enquanto o City possui um valor de mercado estimado de 1 bilhão, o israelense Maccabi Haifa tem um valor de 22 milhões de euros. A discrepância é muito grande e os cinco clubes com menor valor de mercado não devem passar para próxima fase. Mas a participação agora no campeonato de futebol europeu já garante uma receita adicional substancial. 

06 setembro 2022

 Em "Com Tecnologia, Uber barrou Fiscalização" mostra como uma grande empresa pode colocar barreiras na fiscalização da autoridade local e o uso da tecnologia para esta finalidade.

O foco é a fiscalização européia contra o Uber em 2015. Alguns trechos:

Vinte minutos depois de as autoridades invadirem o escritório do Uber em Amsterdã, em abril de 2015, a tela do computador de Ligea Wells ficou misteriosamente em branco. A assistente executiva escreveu uma mensagem para o chefe avisando sobre mais um dos acontecimentos estranhos naquele dia já movimentado.

“Olá!”, digitou ela em mensagem que faz parte de uma coleção valiosa de mais de 124 mil registros do Uber não revelados antes. “Meu laptop desligou depois de se comportar de modo esquisito.”

(...) O então CEO do Uber, Travis Kalanick, tinha ordenado que o sistema de computadores em Amsterdã fosse desconectado da rede interna da empresa, tornando os dados inacessíveis às autoridades enquanto fiscalizavam a sede europeia, mostram documentos.


“Acione o botão de emergência o mais rápido possível, por favor”, pediu Kalanick por e-mail, ordenando que se desconectassem os laptops do escritório e outros dispositivos.

O Uber ter lançado mão do que pessoas do setor chamam de “kill switch” foi um exemplo claro de como a empresa empregava ferramentas tecnológicas para impedir que autoridades investigassem as práticas de negócios da empresa, enquanto ela prejudicava a indústria global de táxis, de acordo com os documentos.

Durante aquele período, como a avaliação de mercado do Uber ultrapassava os US$ 50 bilhões, inspeções do governo ocorriam com tanta frequência que a empresa distribuiu um manual para que os funcionários soubessem o que fazer quando acontecessem. O guia tinha 66 passos a serem seguidos, incluindo “levar as autoridades para uma sala de reuniões sem qualquer arquivo” e “nunca deixá-las sozinhas”.

Esse manual, assim como as trocas de mensagens de texto e e-mails relacionados àquela fiscalização em Amsterdã, fazem parte do “Uber Files”, um tesouro de 18,7 gigabytes de dados obtidos pelo jornal britânico Guardian e compartilhados com o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, um grupo de veículos de imprensa sem fins lucrativos que ajudou a liderar o projeto. Os arquivos, que abrangem o período de 2013 a 2017, incluem 83 mil e-mails, apresentações e mensagens.

Nos dias atuais, o Uber reconhece que fez isto. Mas joga a responsabilidade na gestão anterior.

Controvérsia no Custo Social do Carbono


O custo social do carbono (SCC) é o custo dos impactos gerados pela emissão de uma tonelada a mais de dióxido de carbono. Por sua definição trata-se de um custo marginal. O SCC leva em consideração não somente os efeitos mercantis quanto as consequências da emissão para o meio ambiente e a saúde humana.

A proposta de media o SCC é ter um parâmetro para os formuladores de política pública avaliarem o efeito no clima da emissão é justificado. Se o gestor público tem um projeto que irá produzir mil unidades monetárias de benefício social, mas emite 10 toneladas de carbono, deve multiplicar estas dez toneladas pelo SCC e confrontar com o benefício social geral. Como algumas estimativas consideram que o SCC tem um valor acima de 300 dólares por tonelada, o projeto não deve ser implementado, já que o custo para o ambiente ultrapassa o benefício social.

Um dos grandes desafios é mensurar o valor do SCC. Na metodologia é necessário considerar os impactos para a saúde humana, os danos causados pela emissão e o esforço necessário para reduzir este impacto. Isto é difícil, já que em muitos casos não temos um parâmetro, como o preço de mercado, para determinar os valores envolvidos nos cálculos. Mas não é somente isto. Como muitos efeitos são a longo prazo, é necessário trazer os montantes para valor presente no processo de comparação, o que exige uma taxa de desconto. Mais um complicador para a medição do SCC.

Mesmo a estimativa dos efeitos deve levar em consideração os vários cenários existentes, além de calcular as chances dos cenários ocorrerem. Em muitos modelos, a estimativa leva em consideração acordos que foram feitos pelos países em relação ao comportamento do aquecimento global no futuro. Vamos explicar isto. Se os países concordaram que a temperatura média da terra não deve aumentar mais que um grau Celsius, este deve ser o objetivo do modelo usado para o cálculo. Apesar de termos uma grande quantidade de informações sobre o clima, a complexidade é enorme.


Veja a questão da taxa de desconto. Se usarmos uma taxa de desconto próxima ao que é praticada com os títulos do governo, o valor final será diferente se utilizarmos uma taxa de desconto próxima aos títulos privados. Considere um exemplo de um projeto que irá gerar um custo anual para sociedade de $50 para as próximas décadas. Para simplificar, este valor é constante no tempo. Suponha que a taxa de retorno dos títulos públicos seja de 1%. É possível usar esta taxa, supondo que caso a questão ambiental seja um problema no futuro, deve ser resolvida pelo governo.

O valor de $50 pode ser trazido a valor presente, bastando dividir este valor pela taxa de 1% ou 0,01. Uma calculadora simples mostra que este valor é de $5.000. Este seria o custo do projeto deve ser considerado na decisão do governo.


Mas há controvérsia sobre a taxa de desconto. Alguns consideram que a taxa usada deve ser a do mercado. Afinal, um problema ambiental irá afetar a sociedade como um todo, o que inclui as empresas e os negócios. Esta é a posição de Nordhaus, um cientista conhecido por sua contribuição neste cálculo e que ganhou o prêmio Nobel em Economia. Se a taxa de desconto dos negócios estiver em 6%, eu devo usar este valor, não a taxa de 1%. Isto pode fazer diferença no resultado final. Usando este 6% ou 0,06, o valor presente do exemplo será de 833, bem menor que o valor anterior.

De qualquer forma, quando uma autoridade define o preço do carbono, este valor termina sendo usado neste tipo de cálculo. Esta autoridade pode ser um grupo de cientistas, uma organização que estuda o assunto ou mesmo o governo. O peso do governo é importante aqui, pois o próprio governo irá usar seus cálculos.

O problema é que cada estudo que é realizado tem um resultado diferente. E é normal que isto ocorra, pois variando as “entradas” do modelo e o modelo usado para cálculo teremos um resultado diferente.

Há um problema aqui, pois se subestimamos o valor do SCC, decisões de fazer certos projetos serão positivas, mesmo tem um elevado SCC real. Se superestimamos o SCC, projetos “bons” não serão implementados. Isto dá margem para que a discussão sobre o SCC seja também política. Veja a questão nos Estados Unidos. A discussão sobre o assunto começou ainda no governo Reagan. Mas o debate foi adiante quando, no governo Obama, a administração usou um “consenso” para fazer uma estimativa de US$38 para 2015, com valores crescentes ao longo do ano. Com a mudança da administração, o governo Trump passou a usar uma estimativa entre US$1 a US$7 em 2020. A nova alteração na presidência provocou uma nova mudança, retomando a metodologia anterior. Isto corresponde a US$51 nos dias atuais.

O fato do SCC ter valores incertos não ajuda. Em alguns países, como aqueles da Comunidade Europeia, o SCC não é mais usado. Mas mesmo nos Estados Unidos, que utiliza o SCC, o valor tem sido questionado. Um estudo recente, publicado na Nature, estimou que o valor correto seria de US$185 por tonelada, mais de três vezes o valor usado atualmente pelo governo dos Estados Unidos. Isto significa que naquele país projetos “ruins” estão sendo aprovados.

O assustador no estudo acima é que o principal fator do custo social do carbono é a estimativa de mortes relacionadas com as mudanças do clima. Metade do valor teria esta origem. Este trabalho enfatiza, inclusive, que a estimativa feita é conservadora, pois não levou em consideração a perda de biodiversidade, a redução de produtividade no trabalho, o aumento nos conflitos, a violência e a migração relacionada com o clima.

Sobre o assunto:

Pontecorvo, Emily. The Most Influential Calculation in US Climate Policy is Way off Study Finds. Grist

Social Cost of Carbon. Wikipedia.

Rennert, Kevin; Errickson, Frank; Prest, Brian C.; Rennels, Lisa; et al. (1 September 2022). "Comprehensive Evidence Implies a Higher Social Cost of CO2". Nature. doi:10.1038/s41586-022-05224-9

Neste blog: aqui, aqui (uma crítica ao risco financeiro climático) e aqui (uma reportagem de 2006 do Valor)

Foto: veeterzy

Desonestidade ou Generosidade: não é tão simples

 


O ser humano é generoso, como parece indicar do jogo do ultimatum? Ou será egoísta, como observamos na realidade, quando somos desonestos? 

Um experimento com o jogo do ladrão chegou ao seguinte resultado interessante. Os participantes foram generosos com outras pessoas, como é possível ver na nossa realidade. Mas quando a decisão era realizada, podendo prejudicar um grupo de pessoas, a desonestidade apareceu. 

Quando roubamos de um grupo grande pessoas, a recompensa monetária é maior e o efeito, em termos de desigualdade, é menor. Somos generosos com o outro, mas gananciosos com o grupo. E parece que o valor envolvido é relevante. Eis a conclusão

Lo que nuestro experimento demuestra es que el comportamiento humano es complejo, y que ni somos egoístas sin escrúpulos ni angelitos de ojos verdes. Psicópatas aparte (que haberlos, “haylos”), pocos quieren hacer daño a los demás… pero si el beneficio propio es lo suficientemente grande, muchos de nosotros caeremos en la tentación, aunque nos hayamos jurado que no. Quizá no deberíamos sorprendernos si personas que no habían nunca roto un plato, sean políticos de altos ideales, emprendedores campechanos, o gente como nosotros, caen en la tentación al alcanzar ciertos niveles. Y quizá debiésemos asumir lo que somos y apostar más por instituciones sólidas con mecanismos de control transparentes, y menos por personas de sonrisa cálida, palabra ágil, o incluso currículum impecable. No es que no nos fiemos de ellos y ellas. Es que no nos fiamos de nosotros.