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05 setembro 2022

Fraude contábil não é suficiente para manter chefão da Samsung na cadeia

Lee Jae-youg possui uma fortuna estimada em 11 bilhões de dólares. Apesar de ocupar formalmente o cargo de vice-presidente da Samsung Electronics, ele realmente quem comanda a empresa. Além de rico, Lee é poderoso, especialmente na Coréia do Sul. 


Tendo começado a trabalhar na empresa do seu pai, Kun-He, em 1991. Kun-He foi responsável por transformar a Samsung na empresa atual, mas em 1996 e 2008 foi condenado por corrupção e evasão tributária. Sua influência foi suficiente para obter o perdão em ambas as situações. 

Já seu filho, Lee Jae-youg, enfrentou problemas com a justiça coreana em 2017, quando o Ministério Público da Coréia do Sul acusou Lee de três crimes: suborno, peculato e perjúrio. As acusações contra Lee mostraram a influência dele no governo. A Coréia do Sul vivia uma onda de protestos contra sua presidente, Park Geun-hye, que terminou com seu impeachment. Estes protestos começaram em 2016; provavelmente as acusações contra Lee é uma das consequências do movimento popular. No caso de Lee, havia a acusação de suborno à Park Geun-hye e a uma amiga dela. 

Mesmo com as acusações, inicialmente a justiça coreana rejeitou a prisão. Mas logo a seguir, Lee foi preso, acusado de subornos de 38 milhões de dólares. Em troca do dinheiro, Park Geun-hye deveria apoiar a Samsung em um processo de fusão. A própria empresa admitiu ter feito contribuição para duas fundações em fins lucrativos controladas pela amiga da presidente Park Geun-hye. 

A opinião pública começou a pressionar contra os grandes grupos empresariais coreanos, denominados de chaebols. Em agosto de 2017, Lee foi condenado a cinco anos de prisão, mas alguns meses depois a sentença foi reduzida para dois anos e meio, tendo sua sentença sido suspensa. O resultado é que Lee foi solto depois de um ano de prisão. Em um novo julgamento, Lee foi condenado em janeiro de 2021 a dois anos e seis meses de prisão, sendo novamente preso. 

No mês passado, o atual presidente da Coréia perdoou Lee e argumentou que a Samsung era importante para economia (sic). 

O caso de Lee confirma a percepção popular que líderes empresariais são intocáveis e estão acima da lei. A maior fabricante de smartphones do mundo, marca global na área de eletrônicos, com atuação em diversos setores, a Samsung é muito importante para a Coréia do Sul. Mas chaebols significa redução da concorrência, restrição aos movimentos trabalhistas, suborno e corrupção. Quando os executivos são condenados, suas penas são reduzidas ou suspensas. O pai de Lee também foi condenado, mas não conheceu a prisão. 


Entre as acusações contra Lee, temos fraude contábil. Mas o perdão apaga o que ocorreu no passado. Conforme nota a BBC, apesar de existir uma concepção que os chaebols são importantes para a economia coreana, não existem provas concretas deste fato. Mais ainda, durante a fase que Lee estava afastado, na prisão, a empresa teve um bom desempenho. O mais curioso é que a aversão aos grandes grupos empresariais que existia há seis anos foi alterada: uma pesquisa mostrou que 70% das pessoas apoiavam o perdão. 

Foto: Daniel Bernard e Imdb

Museu Getty devolve estátuas para Itália e resolve um problema contábil

Um grupo de estátuas de terracota em tamanho real (foto abaixo) esta sendo devolvida para a Itália pelo museu Getty. O conjunto foi adquirido pelo J. Paul Getty, o milionário que fundou o museu com suas obras de artes, nos anos setenta. 

O museu teve como curador Jiri Frel, que recomendou a Getty, em 1976, a aquisição. Frel esteve envolvido em aquisição de itens de origem duvidosa ou retirados de vários países de forma ilegal. Este é o caso das estátuas. As esculturas foram produzidas entre 350 a 300 anos antes de Cristo, na colônia grega de Tarentum, atual Taranto, Itália.

Segundo o diretor do museu, via TheHistoryBlog, trata-se de um dos itens mais importantes da coleção do Getty. As estátuas foram compradas por 550 mil dólares, o que seria equivalente a 3 milhões nos dias atuais. Mas há uma estimativa que seu valor de mercado seria 8 milhões. 

Em termos contábeis, objetos de procedência duvidosa é um interessante desafio para o profissional. Em certa situações, a baixa liquidez pode comprometer sua mensuração. Mas existindo a possibilidade do museu perder seu acervo, uma vez comprovado que o objeto foi obtido por meio questionável, não deve constar como ativo. Recentemente a França devolveu inúmeros objetos que foram saqueados do Benin. Este caso é muito semelhante das estátuas do museu Getty.

Outros casos a chance de devolução talvez seja remota, seja pela falta de interesse de ter a obra de volta, ou pelo fato que não há registro fidedigno de quem é o verdadeiro dono, ou pelo fato que a devolução pode colocar em risco a obra, ou pela preciosidade da obra. Pense na pedra Roseta, que está no Museu Britânico. Este museu listou dez itens mais relevantes de sua coleção, sendo metade de origem duvidosa. 

A questão contábil inclui responder se o item roubado deve ser considerado um ativo; se deve estar reconhecido na contabilidade do museu que detém sua posse; e como mensurar. No caso do museu Getty, as estátuas serão devolvidas e estas questões já estão resolvidas. 




Empresas, investidores e contadores querem um alinhamento nas normas de sustentabilidade

No final de agosto, foi divulgado um documento redigido pelo Word Business Council for Sustainable Development (WBCSD), pelo Principles for Responsible Investment (PRI) e pelo Intenational Federation of Accountants (IFAC). A primeira entidade reúne executivos; a segunda, é uma rede de investidores, sob a coordenação da ONU. O IFAC é a entidade que congrega profissionais contábeis. Estas três entidades elaboraram um documento que foi assinado por 65 organizações, pedindo o alinhamento na regulação sobre sustentabilidade. 

A lista das 65 inclui empresas de auditoria (Big Four, BDO e GT), grupo de investidores e empresas. O termo da declaração pede que o ISSB, a SEC dos Estados Unidos e a Comunidade Européia possam evoluir nos relatórios com informações sobre a sustentabilidade. O texto deixa claro que os rascunhos atuais não são tecnicamente compatíveis em termos de conceitos, terminologias e métricas. 

Há uma solicitação que seja evitado a "fragmentação regulatória e de definição de padrões", com o alinhamento solicitado. 

Este é um documento interessante por várias razões. Inicialmente é importante destacar que o WBCSD tem uma elevada concentração de membros europeus. Mas a entidade já foi denunciada no passado, pelo Greenpace, por ser um dos principais atores responsáveis por impedir que as sociedades mundiais enfrentem as mudanças climáticas, sendo dominado por empresas de energia não renovável e poluidoras. Isto foi em 2011. 

Não reconheci nenhum participante brasileiro; como o Brasil faz parte do IFAC, talvez possamos dizer, forçando muito, que esta participação é indireta. 

Economia circular e custos

Sobre a economia circular, uma entrevista com o professor da USP, Aldo Roberto Ometto, tratou do assunto. Antes de prosseguir, a economia circular é um conceito relacionado com a sustentabilidade, assunto que se tornou relevante nos últimos tempos. O conceito do texto é que "representa uma dissociação do crescimento econômico do consumo de recursos. Para as empresas, significa conservar materiais, prolongar a vida útil de um produto por meio de reparo e reutilização e, por fim, reciclagem. Também inclui a melhoria da utilização por meio de novos modelos de negócios, como aqueles que oferecem produtos como serviço e plataformas de economia compartilhada." Realmente não é um bom conceito. 

Interessa particularmente o seguinte trecho:

Como você vê o avanço da economia circular no setor privado brasileiro?

O avanço da economia circular no setor privado no Brasil e no mundo se dá pelo avanço da visão da economia circular em relação aos valores que ela pode gerar. É uma mudança de mindset que já vem de algum tempo. O principal critério de decisão das empresas sempre esteve focado somente na redução de custos, e a economia circular traz uma visão mais ampla, sistêmica, que traz, além da redução do custo, que, claro, é importante, a busca por gerar mais valor por mais tempo de modo diversificado e mais amplo, o que traz principalmente maior resiliência para os negócios e a empresa.

Com essa visão de geração de mais valor, por mais tempo e de modo diversificado, para todos, para uma gama de atores mais amplo em relação aos modelos lineares [de produção], a economia circular começa a ganhar força e mostrar suas oportunidades de implementação e de ganhos. Isso começa a partir do momento que a economia circular deixa de ser vista apenas como algumas atividades operacionais, como a reciclagem, para uma mudança estratégica do modelo de negócio, no qual, na proposta de valor central se inclui as possibilidades de recuperação de recursos, de extensão da vida útil do produto, de produto como como serviço, de compartilhamentos, de virtualização, digitalização, desmaterialização. É quando se começa a se a visão do negócio, do valor que a economia circular pode gerar.

(grifo meu) Tenho dúvidas disso e a visão de geração de valor sempre esteve presente. A inovação parece surgir da consideração da cadeia de produção como um todo. 

Rir é o melhor remédio

 

Idade do Bronze. 

04 setembro 2022

CVM fiscalizando influenciadores financeiros do Twitter

A entidade que regula o mercado de capitais percebeu a importância das mídias sociais:  

Alguns usuários do Twitter foram notificados nesta quarta-feira (31) pela empresa de mídia social de que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) solicitou os dados da conta deles, como parte de uma revisão da atuação de influenciadores digitais.

(...) A CVM confirmou o envio do ofício e disse que trata-se "de trabalho de supervisão temática", envolvendo atuação de influenciadores digitais nos mercados regulamentados pela autarquia.(...) 

A Reuters confirmou com pelo menos 10 perfis, a maioria dedicada a assuntos financeiros, o recebimento do e-mail.(...)

Escolhendo nomes para pesquisa

 Eis o resumo:

In recent decades, researchers have found compelling evidence of discrimination in the labor and housing market toward ethnic minorities based on field experiments using fictitious applications. However, these findings may be exaggerated as the names used for ethnic minorities in various experiments may have also signaled low socioeconomic class. Therefore, in this study, we perform a name categorization experiment in the United States that yields 56 names associated with six ethnicity groups, which signal different ethnicities and genders but similar social classes. These names should greatly improve the validity of future experiments on ethnic discrimination.

A tabela 1 mostra que alguns nomes possui um vínculo com cada grupo étnico. 

Isto me fez lembrar do seguinte artigo do Congresso da USP deste ano (dica de Fernanda Rodrigues):

Investigou-se, nesta pesquisa, se e como a mulher é citada em exemplos e exercícios do livro didático texto e de exercícios Contabilidade Introdutória, da Equipe de Professores da FEA/USP, usados como referência bibliográfica na disciplina Contabilidade Introdutória ou equivalente, nos cursos de graduação em Ciências Contábeis de universidades federais brasileiras, após confirmação, mediante consulta a projetos pedagógicos e fichas de disciplinas, de que este livro didático é o mais usado pelo curso de Ciências Contábeis. (...) Ao final, confirmou-se que em todos os exemplos e exercícios são citados nos enunciados apenas nomes e artigos masculinos, caracterizando sócios, proprietários, clientes, gerentes, fornecedores e empregados, em um total de 44 termos e expressões no livro texto e 143 termos e expressões no livro de exercícios. Nomes de mulheres apareceram em 11 vezes, sendo 6 vezes no livro texto e 5 vezes no livro de exercícios, mas apenas como denominações sociais das empresas, o que levou a entender que eles não representam a figura feminina, visto que no exemplo e exercício não é possível verificar se a empresa foi constituída por mulheres sócias ou acionistas. Confirmou-se, dessa forma, tanto a invisibilidade da figura feminina no livro didático mais usado como bibliografia básica na disciplina de Contabilidade Introdutória, quanto sua objetificação ao se usar nomes femininos para denominar nomes de empresas.

Para quem se interessar, o livro "Todo mundo mente" tem uma pesquisa interessante mostrando como o nome está associado a classe social. Geralmente nomes "criativos" são de pessoas oriundas de classe mais baixa. (Apesar da pesquisa ter sido feita nos EUA, creio ser aplicável para o Brasil)