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29 agosto 2022

A Engraçada história do Forte Blunder


Logo após a Batlha de Plattsburgh, entre os Estados Unidos e os britânicos do Canadá, o presidente dos primeiro país, em 1816, determinou a construção de um forte no Lago Champlain.  No ano seguinte, o então presidente Monroe chegou a visitar o local.

A parte engraçada da história: uma pesquisa descobriu que o forte estava localizado a um quilômetro da fronteira. Ou seja, o forte estava localizado no Canadá. 

Com base nisto, a construção foi abandonada e recebeu este nome (igual a "engano" em português). Outro forte foi construído, agora em território dos Estados Unidos. 

Agora imagine que existia o teste de recuperabilidade em 1816. Como seria o lançamento na contabilidade do governo dos EUA? Em que momento? 

Blogs acadêmicos morreram?


O leitor deve ter percebido que nos últimos meses as postagens do Contabilidade Financeira ficaram inconstantes. E este texto, publicado no LSE questiona se os blogs acadêmicos morreram. Eis alguns trechos (usando DeepL para a versão em português)

O blog pessoal era uma característica definidora da Internet inicial e ainda existem vários blogs acadêmicos de alto nível, mantidos estudiosamente por acadêmicos solitários. No entanto, para pesquisadores novos em blogs acadêmicos, ainda vale a pena criar seu próprio blog? Refletindo sobre sua própria trajetória de blog Mark Carrigan, sugere que talvez seja hora de colocar o blog acadêmico pessoal para descansar.

O que é blog acadêmico? (...) estabeleci um. blog pessoal, que mantive nos últimos 12 anos, abrangendo 4593 postagens em uma ampla gama de tópicos, desde comentários rápidos sobre links e vídeos até ensaios longos. Olhando para trás em minhas postagens, posso ver meu doutorado e duas monografias tomando forma, mas também vejo uma série de outros tópicos, que nunca se tornam parte do meu trabalho "formal".

O blog foi o meio central pelo qual desenvolvi uma perspectiva distinta como pesquisador, fornecendo-me um convite aberto para refletir sobre o que tenho lido, analisado, organizado e ensinado. Faço isso há tanto tempo que acho difícil imaginar o que gostaria de ser um acadêmico sem um blog. Eu sempre me identifiquei Descrição de Cory Doctorow de seu blog como, um cérebro externo que dá sua “direção e recompensa de pastoreio de conhecimento”, permitindo que ele arquive as coisas que despertam sua curiosidade enquanto vagueia pela Internet. Blogar nesse estilo tem sido frequentemente comparado a um livro comum em que os leitores registram material relacionado a um tópico comum.

Se você blogar dessa maneira, sua capacidade de recuperar postagens se tornará tão importante quanto compartilhá-las. Costumo me recuperar de postagens em conversas com colaboradores, lembrando fragmentos relacionados ao que estamos fazendo, mesmo que eu não tenha percebido nenhuma conexão no momento da redação. (...)

De fato, blogs acadêmicos pessoais parecem estar em declínio.

Algumas das razões para isso são óbvias. É percebida como uma atividade demorada (corretamente, se você espera atrair um público), o que o torna indesejável dentro de uma academia definida por pressa crônica. Existe um medo compreensível de que compartilhar tão abertamente possa facilitar o roubo de idéias e deixar alguém aberto a abusos pessoais. A maneira pela qual as mídias sociais consumiram atenção on-line também significa que ficou mais difícil criar um público apenas através de blogs. (...) Isso contribui para um senso de blogs pessoais como relíquias antiquadas de uma era anterior da web, lutando para ganhar atenção no cenário da mídia cacofônica de 2022. O rápido crescimento de plataformas de boletins como TinyLetter e Substack ilustra ainda como ainda há uma audiência para conteúdo escrito de forma longa, mas o modelo mais antigo de blogs a seguir está sendo espremido pela entrega privatizada por e-mail.

O fato de eu estar escrevendo isso na forma de uma postagem no blog é, no entanto, o melhor indicador de que os blogs acadêmicos estão longe de estar mortos.

Beneficiou minha carreira de blogueiro, tanto em termos de apoio à produtividade da minha pesquisa, como alguém que raramente foi empregado como pesquisador, quanto no sentido mais nebuloso de aumentar minha visibilidade entre as comunidades acadêmicas. (...)

O grifo é meu e expressa muito o que penso. O Blog tem funcionado desta forma. Também tem ajudado a escrever e aperfeiçoar minhas possíveis explicações em sala de aula. E, finalmente, é parte do processo de publicar e pesquisar. Muitas pesquisas (quase todas) que sugeri para meus orientandos vieram de postagens. Creio que eles não perceberam isto. 

Viva o Contabilidade Financeira !!! Vida longa para os blogueiros !!!

Futebol europeu e o fairplay financeiro


Há poucos dias postei sobre a questão do Fairplay financeiro. Eis que revendo alguns textos não lidos de meses passados, achei um artigo de Bruno Bonsanti sobre o tema, de abril deste ano. Selecionei um trecho:

Agora que está tudo esclarecido, vamos às novas regras: basicamente, foi estabelecido um teto para gastos dos clubes com transferências, salários e comissões de agentes. Haverá um período de adaptação, mas, em três anos, esse limite terá que ser de 70% – caindo gradativamente de 90% em 2023/24 e 80% em 2024/25.

O controle de custos é um dos três pilares do plano. Os outros dois são solvência, para garantir que os clubes tenham dinheiro para pagar o que devem, e estabilidade, que se assemelha ao mecanismo do Fair Play Financeiro que calculava receitas e despesas para limitar prejuízos. As perdas permitidas foram dobradas: de € 30 milhões para € 60 milhões em um período de três temporadas.

As punições variam de multas a perdas de pontos, rebaixamento dentro das competições da Uefa, limitação do tamanho do elenco, exclusão dos torneios e até suspensão de jogadores individualmente, segundo o Guardian.

A questão do desequilíbrio esportivo passa pelas finanças dos clubes. As entidades que gastam em excesso ou possuem acesso a fontes privilegiadas estarão em vantagem, em relação aos "pequenos" clubes. Mas o desequilíbrio pode ser combatido por medidas como esta? Há uma questão importante que precisa ser contemplada: a relação financeira entre clubes. Se uma entidade esportiva tem uma relação financeira com outra, ambas podem estar em uma mesma competição? 

Foto: Adrià Crehuet Cano

Blockchain e um história da ilha de Yap

Um artigo de Matheus Bombing, Sistema usado por habitantes de ilha até o século 19 pode ter inspirado tecnologia blockchain, publicado na Exame, mostra que a "ideia" do Blockchain remota ao século XIX:

Se você desembarcasse na ilha de Yap com os bolsos cheios de moedas de ouro ou prata, provavelmente não iria conseguir comprar nada.

Isso porque até o século XIX, os habitantes da ilha utilizavam um curioso sistema de pagamento: grandes e pesadas pedras circulares esculpidas em calcário que eram obtidas nas pedreiras da ilha de Palau.


Essas pedras, além de grandes, são muito pesadas, o que não permite que as pessoas da ilha fiquem carregando-as para efetuar suas transações.

E como as transações ocorriam então?

Os habitantes da ilha sabiam conjuntamente quem é dono de qual pedra e possuíam guardados mentalmente os registros das transações passadas.

Se um jovem trabalhador quisesse comprar o barco da pescadora, então ele anunciava para os habitantes da ilha que a pedra dele, localizada na beira da praia, seria transferida e pertenceria à pescadora. Logo em seguida, essa informação era espalhada pela comunidade.

Futuramente, se a pescadora quisesse transferir essa pedra para outra pessoa, os habitantes poderiam permitir, pois todos (ou pelo menos a maioria) sabia que a pedra pertencia a ela. Resumindo, qualquer habitante poderia utilizar uma pedra para comprar algo desde que a maioria da comunidade concordasse que ele é o atual dono da pedra.

Sendo assim, não havia como roubar as pedras, dado que a sua posse era de conhecimento de todos na ilha. O valor de cada pedra não era só devido ao tamanho e peso, e sim pela história. Se muitas pessoas tivessem morrido enquanto esta estava sendo transportada para a ilha, então ela era considerada mais rara e mais valiosa. Ou seja, quanto mais histórias cercavam a pedra, maior era seu valor.

A parte curiosa desse sistema é que a atividade econômica na ilha ocorria sem que qualquer pedra precisasse ser fisicamente movida. Uma pessoa poderia ser dona de uma pedra que está do outro lado da ilha e não precisava se preocupar de alguém roubá-la.


Esse sistema financeiro funcionava tão bem que, mesmo que uma Pedra Rai fosse perdida (caísse no fundo do mar durante seu transporte, por exemplo), todos concordavam que ela ainda deveria existir e ela continuava sendo usada em transações.

A lenda local diz que o povo de Yap descobriu as pedreiras de calcário, em Palau, há cerca de 500 anos, quando Anagumang, um marinheiro yapese, liderou uma expedição para lá. Ele notou que não existiam essas pedras em sua ilha e esse fato as tornava preciosas.

A princípio, Anagumang ordenou que os primeiros blocos fossem cortados em forma de peixe, mas logo depois passaram a recolher pedras em formato de roda, para ficar mais fácil de transportar. Os trabalhadores costumavam colocar um tronco dentro do buraco no meio para facilitar o transporte.

Os Yapeses não levavam as pedras de Rai de graça. Era necessário negociar com o povo de Palau, que exigia grandes quantidades de miçangas e polpa de coco.

Esse sistema de consenso distribuído tem algumas vantagens em relação a um sistema centralizado. Vamos imaginar que uma pessoa da ilha de Yap fosse responsável por manter o registro oficial da posse e das transferências das pedras (ou seja, fazendo o papel de um banco).

Nesse caso, ela poderia facilmente exigir que todos pagassem uma taxa de transação para ela, poderia “roubar” pedras simplesmente alterando o registro de quem possuía aquela pedra e até perder esse registro, o que causaria um caos na ilha.

O sistema de pedras de Rai é, ao mesmo tempo, intangível (sem necessidade de carregar pedras pela ilha) e descentralizado (sem necessidade de confiar em um intermediário).

O grande ponto é que sistemas monetários intangíveis necessitam de confiança. Só cedemos nossa custódia se pudermos confiar em uma instituição ou pessoa que consiga manter um registro fiel. No caso da ilha de Yap, a confiança era no sistema distribuído (registro mental que todos os habitantes da ilha possuíam) e não em um intermediário.

Mas esse sistema funcionou bem até 1871, quando o navegador David O'Keefe naufragou próximo à ilha e foi resgatado pelos habitantes locais.

Após o acidente, O’Keefe percebeu que seria lucrativo adquirir cocos da ilha e revendê-los para produtores de óleo de coco no continente. Porém, nada que ele oferecesse seduzia os locais, que já gozavam de uma boa vida e não viam utilidade nas formas de dinheiro que eram oferecidas.

Dado que apenas as pedras de Rai poderiam resolver, então O’Keefe foi para Hong Kong, adquiriu um barco grande e explosivos, extraiu várias pedras de Palau e as levou para Yap para serem trocadas pelos cocos. Para sua surpresa, os locais não quiseram aceitar as pedras pois, segundo eles, elas foram conseguidas sem esforço. Para eles, somente as pedras extraídas com esforço, sangue e suor teriam valor. Porém, alguns yapeses viram uma oportunidade e aceitaram as pedras em troca de coco.

A consequência é que isso gerou um conflito na ilha e, a partir de então, todo sistema de registro distribuído começou a ruir.

Hoje, a ilha usa o dólar como moeda oficial. Porém, as pedras de Rai continuam sendo usadas em cerimônias sociais, como casamentos, acordos e negócios como uma forma de selar alianças.

Dois aspectos sobre este texto que gostaria de destacar:


1. A lenda da ilha rendeu um filme de 1954, His Majesty O'Keefe, com Burt Lancaster. Em 1991 o famoso economista Milton Friedman comparava o sistema ao padrão ouro do FED. Um artigo de 2022 argumenta que esta, e outras interpretações, não expressam o real significado da pedra. Eis a conclusão do artigo (via DeepL):

As comparações existentes entre o dinheiro de pedra e o Bitcoin parecem insustentáveis, enganadoras e contribui para uma história de deturpação colonial das culturas econômicas iaponesas. Os fundamentos por fazer tais comparações em primeiro lugar são fracas, e as condições discursivas atuais em torno das finanças em cadeia (Blockchain Finance) sugerem que uma comparação extremamente escrupulosa corre o risco de reforçar mitos imprecisos e injuriosos. De modo mais geral, muito mais cautela deve ser adotada no estudo e invocação pedagógica das culturas econômicas iaponesas, incluindo maior cuidado para centrar vozes passadas e presentes, para refletir posicionalidade e incerteza, assim como para suportar testemunha das histórias coloniais. Entretanto, sugiro que as culturas econômicas iaponesas devem continuam a figurar nos livros de economia como uma forma de começar a transformar as dívidas incorridas por deturpações anteriores. Esta poderia ser uma oportunidade para corrigir erros factuais notáveis, apresentar aos estudantes de economia de todo o mundo a história e a cultura Yapese, apresentam conceitos em antropologia econômica, e oferecer alimentos para reflexão sobre a interseção de o poder colonial e a história e o futuro do dinheiro. 

2. Mesmo admitindo a história, o texto mostra que o sistema pode ser mais frágil do que imaginado. Em lugar de enaltecer o Blockchain - que parecia ser a ideia original do artigo - o texto termina por enfatizar suas fragilidades. 

Fotografias do verbete da Wikipedia

Rir é o melhor remédio

 

Letra da apresentação

28 agosto 2022

Modelo de capital intangível

Um modelo para intangíveis propõe tratar de duas características:

Our main contribution is to propose a simple model that captures these two core economic properties of intangibles — non-rivalry within the firm, and limits to excludability. The model has a number of novel theoretical implications. Non-rivalry implies that intangibles are ”scalable”, in a specific sense: the stock of intangibles of the firm, and the firm’s span or scope, are complements. However, imperfect excludability can also limit the incentive for entrepreneurs, managers, or key personnel to create and develop intangibles, potentially leading to inefficiently low investment.

A ideia é a seguinte:

Even once the intangible is stored in a particular medium, it can be difficult to assign control and cash flow rights to the surplus that it creates. We refer to this property as limited excludability. Without some degree of excludability, intangible capital cannot become an intangible asset


ISSB completando seus assentos

 

As cadeiras do ISSB já possuem treze assentos ocupados, com a indicação de mais três membros recentemente. Parece que há uma preocupação com a presença de mulheres, já que seis já foram indicadas. O perfil parece ser do "executivo" que trabalhou nas empresas na área de sustentabilidade. A experiência pode contar aqui, mas talvez seja preciso escutar o que a ciência tem a dizer sobre o assunto. 

Alguns dos indicados só começarão a trabalhar no futuro. Como o Brasil tem sempre um boa presença nos órgãos consultivos - e o país tem um importância natural óbvia - parece faltar o membro brasileiro.