Mesmo quando estamos preocupados somente com o débito e o crédito é necessário ir além. Quando fazemos um lançamento contábil precisamos saber a data, os valores envolvidos e a conta a ser debitada e a conta a ser creditada. Mas isto é bem mais complexo do que parece. Na graduação simplificamos o mundo, dando uma ilusão que com um pouco de conhecimento seria possível um bom profissional. Determinar quando devo reconhecer um evento pode não ser tão simples assim; trabalhamos basicamente com valores monetários, mas sabemos que muitas coisas que acontecem no mundo são difíceis de serem expressos em unidades monetárias.
Estes problemas podem ser solucionados com ajuda de outras ciências. Veja o caso da nova moda na contabilidade, a sustentabilidade. Parece existir uma pressão para que os efeitos de uma entidade sobre o ambiente seja considerados e relatados para a sociedade. A Fundação IFRS está procurando buscar um consenso através do ISSB; o regulador do mercado de capitais dos Estados Unidos já está trabalhando neste assunto. Mesmo a Europa, que poderia contentar em esperar que a Fundação IFRS começasse a produzir seus pronunciamentos, está comprometida com o assunto, já tendo produzido algumas minutas através do EFRAG. As próprias entidades reconhecem a importância do assunto.
Parece que tudo está sendo resolvido. Mas a realidade não é bem assim. Há um vasto campo para pesquisa nesta área e precisamos da ajuda de outras ciências. Mas a contabilidade das empresas necessita levar em consideração algumas questões básicas.
Considere um exemplo: como isto irá aparecer nas informações contábeis? Para responder a esta pergunta precisamos de pesquisar e entender os desafios de cada questão. A entidade pode parar sua preocupação no seu efeito para o ambiente ou pode deve incluir os efeitos da cadeia de valor da qual ela participa. A escolha disto já está sendo debatida. Há uma questão também importante que os reguladores estão respondendo, mas que talvez não seja a melhor resposta: onde divulgar?
Os reguladores estão propondo que as informações sejam divulgadas à parte, fora das demonstrações contábeis. Mas há pessoas insatisfeitas com esta opção e sugerem que isto seja considerado no passivo das empresas. Esta escolha traz resistências por parte das empresas, mas talvez fosse melhor para a sociedade, já que temos um impulsionador para uma ação efetiva das entidades.
Veja agora o caso da área comportamental. Alguns dos conceitos que usamos na área que alguns conhecem como finanças comportamentais, psicologia econômica, economia comportamental ou contabilidade comportamental surgiram há um século, como é o caso do famoso efeito manada. As pesquisas tomaram impulso nos anos 70 e 80. Com este campo aprendemos que a forma é importante e não somente a essência. Que as pessoas cometem falhas nas suas decisões existindo variação de preços na economia.
Considere a situação dos custos perdidos. Na contabilidade de custos aprendemos este conceito. Mas cometemos sistematicamente erros nas decisões, ao considerar tais custos no processo. Existe a falácia do custo perdido e todas pessoas já passaram por situações onde levaram em consideração fatos passados. A relação da área comportamental e a contabilidade é enorme e permite muitas pesquisas.
Vamos olhar agora para um outro campo de pesquisa com elevados desafios: a presença, no mundo atual, de um grande número de dados. Estamos vivendo a era dos grandes dados, mas ainda não a era das informações. Isto abre um campo enorme de pesquisa, mas antes de chegar lá é necessário vencer alguns desafios. Um deles, a necessidade de conhecer instrumentos para trabalhar com os dados. Isto significa, em termos práticos, saber Python ou outra linguagem para tratar os dados.
É interessante notar que esta mudança também afeta os conhecimentos que precisamos ter. Nos últimos anos nós enfatizamos talvez em excesso os econometristas. Agora é hora de estudar a fundo a ciência de dados, que inclui preocupações sutilmente divergentes daquela que tivemos no passado. Veja que isto traz também uma preocupação com o produto da contabilidade. No passado, Kaplan e Johnson questionavam o fato da ênfase na informação contábil estava sendo cada vez maior nas informações trimestrais e esta preocupação era ruim para nossa área. Mas hoje as informações possuem uma periodicidade cada vez menor.
Nós sabemos a reação das pessoas através das mensagens e curtidas das redes sociais, via comportamento de preço de um mercado de capitais mundial e com muitos dados. É bem verdade que dados não significa informação e que muitas empresas conseguem captar dados, mas não produzir informação. Para entender este novo mundo, precisamos ter acesso aos APIs das redes sociais e isto pode ser a cada momento mais urgente.