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27 março 2022

Princípio da Precaução versus Análise Custo benefício


Li um extenso ensaio sobre Emily Oster, com um monte de links e uma discussão sobre o uso da economia para a vida diária das pessoas.

Antes de comentar o ensaio, uma contextualização. Quando o Freakonomics surgiu, o trabalho de Oster foi colocado em evidência; o seu trabalho sobre a influência da TV a cabo nas mulheres da Índia. Depois disto, Oster decidiu produzir livros, mostrando como as ferramentas analíticas da economia podem ser aplicadas em situações como gravidez ou decisões familiares. Isto inclui a noção de análise custo-benefício.

O problema é que este tipo de análise rejeita o princípio da precaução, amplamente adotado por ambientalistas e especialistas em saúde pública. Quando temos um cenário de incerteza científica sobre os riscos de algo, os tomadores de decisão devem optar por minimizar ou reduzir o risco potencial. Para Oster, o princípio de precaução pode ser ruim para as pessoas. Há, no artigo, um exemplo dos efeitos do álcool na gravidez. Oster considera que os conselhos sobre o assunto são opressivos para as mães já que considera preocupações desnecessárias e restritivas nas suas escolhas. Os estudos sobre os efeitos do álcool na gravidez são inconclusivos e muitos deles de baixa qualidade. A economista interpreta tal fato como sendo igual a baixo risco, o que seria contra o princípio da precaução.

A posição de Oster tornou-se mais proeminente durante a pandemia. Ela escreveu artigos e publicou pesquisas defendendo uma posição mais flexível nas políticas públicas. Isto agradou a direita, que passou a contribuir financeiramente com o Painel Nacional de Resposta Escolar Covid-19, lançado por Oster. Mas a posição da cientista tornou-se crítica naquilo que seria sua principal crítica do princípio da precaução: a fragilidade dos seus dados. Oster usou dados para decretar que a abertura das escolas teria baixo risco na disseminação viral. Usando dados com uma amostra muito pequena – apenas duas semanas de informações – coletada somente nas escolas que participavam do seu Painel, Oster declarou que as escolas não eram foco de transmissão da doença. O problema é que isto não era possível de concluir de forma científica.

Mais ainda: quando questionada, emitiram uma correção, reconhecendo os problemas da qualidade dos dados, mas sustentaram que os erros não alteravam suas conclusões. Eis a conclusão do artigo:

Nossa falha na resposta pandêmica, que resultou em um milhão de mortes até agora [nos Estados Unidos] foi baseada na substituição total de valores morais ou éticos compartilhados por suposições individualistas sobre riscos, benefícios e valor. As realidades de um surto de doença infecciosa mostraram-se profundamente inconvenientes para os privilegiados, os interesses do capital e os ideólogos de direita, que trabalharam para justificar essas hierarquias. O resto de nós deve considerar a ação coletiva e a solidariedade como pré-condições essenciais para atender às necessidades sociais, enfrentar as crises do planeta e trabalhar na direção de um mundo que não sacrifique o bem social no altar do interesse próprio.

E a contabilidade? - Confesso que não conhecia o princípio da precaução e sua aplicação nas políticas públicas de saúde. Mas sua formulação no texto lembrou o conservadorismo contábil. A aplicação de princípios econômicos de análise, como o uso inapropriado do valuation em mensuração contábil, lembrou o passo que demos na contabilidade a partir dos anos oitenta.

Fadiga de decisão

Decision fatigue is an applicable concept to healthcare psychology. Due to a lack of conceptual clarity, we present a concept analysis of decision fatigue. A search of the term “decision fatigue” was conducted across seven research databases, which yielded 17 relevant articles. The authors identified three antecedent themes (decisional, self-regulatory, and situational) and three attributional themes (behavioral, cognitive, and physiological) of decision fatigue. However, the extant literature failed to adequately describe consequences of decision fatigue. This concept analysis provides needed conceptual clarity for decision fatigue, a concept possessing relevance to nursing and allied health sciences. 

Fonte: aqui

Quando a norma contábil foca na entrega da informação para que o usuário tome a decisão sobre o assunto, está contribuindo com a fadiga da decisão. Mais informação, uma estratégia típica de regulador que não sabe o que pedir, também ajuda no processo. 



26 março 2022

Links


As religiões no mundo

Vídeo: produtos incríveis que saíram do mercado

Os gênios não existem mais? - a participação das pessoas "geniais" na população é cada vez menor (figura acima).  Mas os três argumentos são interessantes: boas ideias são cada vez mais difíceis de encontrar; descobertas são distribuídas nos dias atuais; e a cultura atual não celebra mais os gênios. 

Formações geológicas interessantes

Normas internacionais revisadas recentemente

Rir é o melhor remédio

 

9 ou 6. Uma forma simples de resolver sem confusão. Fonte: aqui

24 março 2022

Representação fidedigna e Mapas da Guerra

Uma das postagens interessantes deste blog nos últimos tempos foi sobre a representação fidedigna. (Se fosse orgulhoso não escrevia isto; todas as postagens do blog são interessantes, não?)

O texto lembra do mapa do metrô, que não reproduz de forma fiel o mapa da cidade e das linhas, mas cumpre sua função sem ser fidedigno. Ou seja, nem sempre a informação deve ter como qualidade este quesito. 

Eis agora uma postagem do Boing Boing sobre os mapas da guerra. Quando a invasão da Ucrânia começou, os jornais apresentavam mapas como este:

Pareciam mapas antigos de guerra. O problema é que o exército não conquista uma extensa área, como parece indicar lá no mapa. Geralmente os soldados caminham por estradas e focam nos seus objetivos militares. Assim, o exército russo não conquistou as áreas em vermelho do mapa acima. 

Com o passar do tempo, alguns jornais mudaram seu desenho para algo assim:
As setas são mais informativas sobre o que está ocorrendo no campo de batalha. Os soldados russos não ocuparam grandes extensões de terras, mas algumas cidades mais relevantes (em vermelho, os círculos). As setas indicam a movimentação das tropas pelas estradas e os traços azuis as barreiras de resistências. É bem mais informativo que o mapa anterior. 

A televisão russa mostra o seguinte mapa:
Bem mais adequado à propaganda russa.