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03 março 2022

Contador abandona Trump


A notícia de meados de fevereiro indicava que a empresa de contabilidade, responsável pelas demonstrações do ex-presidente Donald Trump, tinha abandonado sua tarefa. A Mazars é um grupo de contabilidade, auditoria e consultoria presente em 77 países, com um total de 17 mil profissionais. Com sede na França, a Mazars, fundada em 1940 por Robert Mazars, é a quinta maior empresa de contabilidade da Europa.

A razão para decisão da Mazars é que a empresa de contabilidade entende que pode ter que testemunhar no processo que corre na justiça dos Estados Unidos contra Trump e poderia ter agir como testemunha cooperante contra seu cliente. Isto impediria uma isenção no seu trabalho. Há uma investigação civil conduzida pelo procurador-geral de Nova York que investiga se Trump supervalorizou os ativos para garantir os empréstimos obtidos nos bancos. O trabalho da Mazars foi provisoriamente assumido pela Whitley Penn que fechou a declaração de 30 de junho de 2021.

Segundo a Forbes, a Mazars informou que as informações não apresentam discrepâncias materiais, mas que devido as circunstâncias não devem ser consideradas. Isto inclui um aumento no valor do seu apartamento na cobertura da Trump Tower e no clube de golfe do Condado de Westchester, entre outros ativos.

A informação foi feita ao advogado Alan Garten, da Organização Trump, e que foi incluída no processo. Isto significa que a solicitação de documentos e esclarecimentos deve ser feita para a Organização Trump. A procuradora, por sinal, é do partido democrata, o que faz com que exista a denúncia de que existe o interesse em impedir que Trump concorra na próxima eleição presidencial.


O site Accounting Today faz outra pergunta: por que levou tanto tempo para tomar esta decisão?

O GoingConcern chamou a decisão da Mazars e sua declaração era uma forma de reduzir suas responsabilidades. O site obteve a opinião de diversos especialistas sobre a questão. De uma maneira, estes especialistas lembraram que a Mazars não estava lidando com demonstrações auditadas, já que a Organização Trump não é uma empresa com ações na bolsa.

O que a Mazars fez foi uma compilação, segundo Erik Boyle, da Idaho State University. Isto segue as normas da AICPA. Entretanto, isto não exime a empresa de contabilidade de culpa se comprovado que sabia de problemas nos números ao longo dos anos. Boyle também afirma que a Mazars não afirmou que as informações estão distorcidas, ao contrário do que possa parecer.

Steven Mintz, da Politécnica da Califórnia, afirma que a decisão da Mazars está vinculada a dúvida sobre a veracidade das informações fornecidas e esta confiança, entre contador e cliente, é relevante. E que a Mazars deve manter a confidencialidade das informações, exceto no caso de uma ordem judicial. Mintz questiona por que a Mazars levou dez anos para descobrir este fato.

Randal Elder, da Universidade da Carolina do Norte, também chama a atenção para o fato de não serem demonstrações auditadas para uma empresa com ações na bolsa. Isto seria bem mais preocupante. Elder entende que Mazars não é culpada, exceto se soubessem que os valores estavam incorretos.

John DeJoy, da Universidade Clarkson, entende da mesma forma. Allen Blay, da Universidade Estadual da Flórida, afirma que não ficaria surpreso se alguém processasse a Mazars se ficasse claro que as demonstrações financeiras eram de alguma forma fraudulentas, mas na verdade elas não se responsabilizavam pelas declarações e não deveriam ter nenhuma responsabilidade. A empresa de auditoria não assinou as demonstrações financeiras; o que eles fizeram foi compilar ou, em alguns casos, preparar as demonstrações financeiras. Isso significa que eles pegaram as informações fornecidas pela Organização Trump e prepararam um conjunto de demonstrações financeiras.

Assim, parece existir um consenso que o papel da Mazars foi compilação e não de contador, avaliando os valores. Depois disto, dois promotores do caso renunciaram.

Em 2019, o procurador do distrito de Manhattan Cyrus R. Vance Jr. intimado oito anos das declarações fiscais de Trump da empresa de contabilidade Mazars no que se pensava ser um investigação em "dinheiro silencioso" supostamente pago por Trump à atriz de cinema adulto Stormy Daniels. No entanto, em agosto de 2020, os registros do escritório de Vance sinalizaram uma investigação possivelmente mais ampla sobre fraudes financeiras. Em 2021, a Organização Trump e seu ex-CFO Allen Weisselberg foram indiciados por um grande júri de Manhattan, alegando um esquema de sonegação de impostos de 15 anos que pagou aos executivos da empresa US $ 1,7 milhão em dinheiro não tributado. Se considerado culpado, a empresa pode ser multada e Weisselberg pode ser condenado a até 15 anos de prisão. Com o tempo, a investigação mudou da sonegação de impostos para se Trump inflou ou desinflou artificialmente os valores de seus ativos.

A renúncia ocorre depois que o chefe deles lançou dúvidas sobre a investigação. Isto parece indicar um fracasso no caso em Manhattan. Também há dúvidas que possa ser possível um caso criminal contra Trump.


Indicação política

Bella Bulla traz uma grande análise sobre a conciliação entre indicações políticas legítimas e boas práticas de gestão na área pública. Eis um trecho:

O lobby das indústrias sobre as indicações também preocupa especialistas. "Há muitas pessoas oriundas do que chamamos de 'porta giratória'. Significa que trabalham em uma indústria, são nomeadas para cargos no governo que regulam essa indústria e depois voltam para a indústria. Beira a captura de uma agência - se não, ainda, a captrua do Estado", afirmou o professor emérito de Ciência Política da Colgate University, em Nova York, Michael Johnston. 

Já comentamos sobre isto no blog diversas vezes, alertando para o caso da SEC. Aqui, aqui e aqui. Imagem


aqui

Relembrando o caso Yukos


No início do século, a Yukos, uma empresa atuante na extração, transporte, refino e distribuição de petróleo, era de propriedade de Mikhail Khodorkovsky. Após a queda da União Soviética, Khodorkovsky foi um os beneficiados com o processo de privatização e adquiriu a empresa em 1991. O problema é que Khodorkovsky caiu em desgraça e tornou-se inimigo de Putin. Em 2003 o empresário foi preso e acusado de impostos atrasados, em uma dívida de 27,5 bilhões de dólares. 

Acusado de vários crimes, incluindo fraude, roubo e sonegação fiscal, Khodorkovsky foi condenado a nove anos de prisão, em um processo que durou alguns meses. A empresa foi vendida e posteriormente a estatal Rosneft comprou a adquirente, em 2007. Há uma desconfiança que Putin quis mostrar seu poder para os oligarcas e Khodorkovsky serviu de exemplo; depois dele, todos ficaram subservientes ao manda-chuva russo.

A história a seguir você não acha na Wikipedia, mas está relatada por Francine McKenna. O caso de Trump e Mazzers e a invasão da Ucrânia trouxe de volta os fatos ocorridos há 15 anos. Para constituir o processo contra o oligarca, a justiça russa precisava do apoio da empresa de auditoria que tinha assinado as demonstrações financeiras da Yukos até 2003. Durante dez anos, este trabalho tinha sido realizado pela empresa PwC - entre 1995 a 2004. Seria importante, para os promotores, que a PwC reconhecesse que as acusações eram verdadeiras. 

O governo fez batidas policiais no escritório da PwC em Moscou e montou um processo de investigação criminal por pagamento insuficiente de impostos. A pressão foi muito grande e chegou a ser destaque no Wikileaks, o vazamento de informação que ocorreu logo depois. Em 2007 já estava claro que Putin tinha vencido a queda de braço contra a PwC, que tinha a licença para trabalhar na Rússia sob ameaça. Já no primeiro semestre de 2007, a PwC "reconheceu" a imprecisão, negaram o trabalho realizado anteriormente e afirmaram que os executivos da Yukos mentiram e engaram a empresa. Isto foi dito em junho de 2007. 

Os antigos executivos não gostaram e afirmaram que a posição da PwC afetava sua reputação. Antes disto, os funcionários da PwC russa foram levados para interrogatórios em março e um mês depois três empresas estatais comunicaram que não renovariam os contratos de auditoria com a PwC. O chefe de escritório da PwC em Moscou, Michael Kubena, tentou manter sua posição, mas seis interrogatórios fez com que Douglas Miller, um dos partners da PwC na Yukos, recomendou que ocorresse uma mudança na posição. 

Segundo está no texto de Mckenna, uma pessoa da equipe de defesa de Khodorkovsky teria dito que não teria nada contra a PwC: "eles tinha uma arma apontada na cabeça"

Links


Livros antigos cheiram melhor que os livros novos (foto: Hermans)

OurData World - e números sobre guerra

Facebook incentiva o discurso de ódio através de superusuários

Web3, cripto, nft, bitcoin, metaverso

gap de gênero - uma informação interessante (?): quando as mulheres recebem mais do que os homens, como é o caso do Paquistão, isto pode indicar que as barreiras de trabalho para as mulheres são tão altas que as poucas mulheres com emprego formal, em geral nas multinacionais, são relativamente bem remuneradas. Ou seja, mesmo quando a notícia é boa, ela é ruim. 

Rir é o melhor remédio

 

Primeira pergunta de um curso


02 março 2022

Profissionais da KPMG Canadá e a ética

 


Recentemente a PwC do Canadá foi notícia: tinha adquirido criptomoeda. A imagem era de uma entidade “moderna”. Bom, a PwC Canadá é novamente notícia e novamente isto afeta sua imagem.

Regularmente os profissionais contábeis de alguns países precisam de passar por um teste para verificar se ainda estão aptos para exercer a profissão. No Brasil isto acontece através das horas de treinamento, desde que certificadas pelo Conselho. No Canadá é necessário que o profissional faça exames regulares.

O problema da PwC Canadá foi tão grave que levou uma multa de quase 1 milhão US$. E envolve trapaça, tão idiota, que a notícia parece aqueles textos que são produzidos no dia primeiro de abril.

Cerca de 1.100 auditores fizeram os exames, mas estavam compartilhando as respostas nos exames. Isto ocorreu entre 2016 a 2020 e o fato só foi possível porque a PwC não tinha um controle sobre os exames adequados. Algo como o professor sair da sala para ir ao banheiro durante a aplicação da prova.

Na verdade há controvérsias quanto ao número de pessoas envolvidas e a penalidade. Aqui afirma em 1200 funcionários e uma multa de 750 mil dólares. [sobre este valor há um acréscimo de mais 200 mil] O certo é que ocorreu a famosa cola nos testes dos cursos de treinamento obrigatório em auditoria e contabilidade.

Isto é terrível em um setor onde a ética deveria ser o requisito número um. Além disto, os profissionais devem ser recrutados nas melhores escolas de contabilidade. Ou seja, seriam alunos brilhantes, que não precisam de uma ajuda em um exame deste tipo.