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03 março 2022

Relembrando o caso Yukos


No início do século, a Yukos, uma empresa atuante na extração, transporte, refino e distribuição de petróleo, era de propriedade de Mikhail Khodorkovsky. Após a queda da União Soviética, Khodorkovsky foi um os beneficiados com o processo de privatização e adquiriu a empresa em 1991. O problema é que Khodorkovsky caiu em desgraça e tornou-se inimigo de Putin. Em 2003 o empresário foi preso e acusado de impostos atrasados, em uma dívida de 27,5 bilhões de dólares. 

Acusado de vários crimes, incluindo fraude, roubo e sonegação fiscal, Khodorkovsky foi condenado a nove anos de prisão, em um processo que durou alguns meses. A empresa foi vendida e posteriormente a estatal Rosneft comprou a adquirente, em 2007. Há uma desconfiança que Putin quis mostrar seu poder para os oligarcas e Khodorkovsky serviu de exemplo; depois dele, todos ficaram subservientes ao manda-chuva russo.

A história a seguir você não acha na Wikipedia, mas está relatada por Francine McKenna. O caso de Trump e Mazzers e a invasão da Ucrânia trouxe de volta os fatos ocorridos há 15 anos. Para constituir o processo contra o oligarca, a justiça russa precisava do apoio da empresa de auditoria que tinha assinado as demonstrações financeiras da Yukos até 2003. Durante dez anos, este trabalho tinha sido realizado pela empresa PwC - entre 1995 a 2004. Seria importante, para os promotores, que a PwC reconhecesse que as acusações eram verdadeiras. 

O governo fez batidas policiais no escritório da PwC em Moscou e montou um processo de investigação criminal por pagamento insuficiente de impostos. A pressão foi muito grande e chegou a ser destaque no Wikileaks, o vazamento de informação que ocorreu logo depois. Em 2007 já estava claro que Putin tinha vencido a queda de braço contra a PwC, que tinha a licença para trabalhar na Rússia sob ameaça. Já no primeiro semestre de 2007, a PwC "reconheceu" a imprecisão, negaram o trabalho realizado anteriormente e afirmaram que os executivos da Yukos mentiram e engaram a empresa. Isto foi dito em junho de 2007. 

Os antigos executivos não gostaram e afirmaram que a posição da PwC afetava sua reputação. Antes disto, os funcionários da PwC russa foram levados para interrogatórios em março e um mês depois três empresas estatais comunicaram que não renovariam os contratos de auditoria com a PwC. O chefe de escritório da PwC em Moscou, Michael Kubena, tentou manter sua posição, mas seis interrogatórios fez com que Douglas Miller, um dos partners da PwC na Yukos, recomendou que ocorresse uma mudança na posição. 

Segundo está no texto de Mckenna, uma pessoa da equipe de defesa de Khodorkovsky teria dito que não teria nada contra a PwC: "eles tinha uma arma apontada na cabeça"

Links


Livros antigos cheiram melhor que os livros novos (foto: Hermans)

OurData World - e números sobre guerra

Facebook incentiva o discurso de ódio através de superusuários

Web3, cripto, nft, bitcoin, metaverso

gap de gênero - uma informação interessante (?): quando as mulheres recebem mais do que os homens, como é o caso do Paquistão, isto pode indicar que as barreiras de trabalho para as mulheres são tão altas que as poucas mulheres com emprego formal, em geral nas multinacionais, são relativamente bem remuneradas. Ou seja, mesmo quando a notícia é boa, ela é ruim. 

Rir é o melhor remédio

 

Primeira pergunta de um curso


02 março 2022

Profissionais da KPMG Canadá e a ética

 


Recentemente a PwC do Canadá foi notícia: tinha adquirido criptomoeda. A imagem era de uma entidade “moderna”. Bom, a PwC Canadá é novamente notícia e novamente isto afeta sua imagem.

Regularmente os profissionais contábeis de alguns países precisam de passar por um teste para verificar se ainda estão aptos para exercer a profissão. No Brasil isto acontece através das horas de treinamento, desde que certificadas pelo Conselho. No Canadá é necessário que o profissional faça exames regulares.

O problema da PwC Canadá foi tão grave que levou uma multa de quase 1 milhão US$. E envolve trapaça, tão idiota, que a notícia parece aqueles textos que são produzidos no dia primeiro de abril.

Cerca de 1.100 auditores fizeram os exames, mas estavam compartilhando as respostas nos exames. Isto ocorreu entre 2016 a 2020 e o fato só foi possível porque a PwC não tinha um controle sobre os exames adequados. Algo como o professor sair da sala para ir ao banheiro durante a aplicação da prova.

Na verdade há controvérsias quanto ao número de pessoas envolvidas e a penalidade. Aqui afirma em 1200 funcionários e uma multa de 750 mil dólares. [sobre este valor há um acréscimo de mais 200 mil] O certo é que ocorreu a famosa cola nos testes dos cursos de treinamento obrigatório em auditoria e contabilidade.

Isto é terrível em um setor onde a ética deveria ser o requisito número um. Além disto, os profissionais devem ser recrutados nas melhores escolas de contabilidade. Ou seja, seriam alunos brilhantes, que não precisam de uma ajuda em um exame deste tipo.

Competência no Setor público mundial


O IFAC lançou um endereço específico para os governos que desejem fazer a transição do regime de caixa para o regime de competência. O endereço baseia-se no Estudo 14 do IPSASB, Conselho Internacional de Normas Contábeis para o Setor Público, com conteúdo atualizado e ferramentas para a transição.

A posição do IFAC é que a competência melhora a transparência, as decisões e a prestação de contas no setor público. Entretanto, nem sempre sua adoção parece ser simples.  A ferramenta é uma resposta para o aumento do interesse pelo regime de competência no setor público. Segundo Ian Carruthers, até 2025, metade das juridições do Índice Internacional de Responsabilidade do Setor Público de 2021 deve usar o regime de competência.  

Herança digital


Gomes, em Quem fica com meus dados e redes sociais quando eu morrer? Herança digital motiva ações na Justiça trata da chamada herança digital. O Brasil ainda não tem uma legislação acabada sobre o assunto e que desperta questões sobre quem pode ou não ficar com o conteúdo online do indivíduo que faleceu. Mas como o problema é recente, em outros países ainda existe uma discussão em andamento.

Este conteúdo pode ter um valor sentimental grande para os amigos e familiares. Por esta razão, envolve uma discussão sobre a vida privada do falecido. Mas há um caráter de privacidade da pessoa que faleceu. Gomes destaca que as opiniões estão entre o direito à personalidade, que inclui a privacidade, e o direito sucessório. Na Alemanha e Espanha prevalece os direitos sucessórios; nos Estados Unidos prevalece a privacidade.

Quando uma pessoa abre uma conta em uma rede social, o usuário concorda com as condições. E isto inclui este ponto. O Facebook transforma o perfil do falecido em um memorial e permite que um herdeiro possa gerenciar o perfil. O Instagram não tem a figura do herdeiro da conta.

Vamos voltar no tempo e retroceder ao ano de 1924. Neste ano, o escritor Franz Kafka faleceu, não sem antes pedir, em testamento, que seu amigo Max Brod, destruísse seus esboços ainda não publicados. O dilema de Brod foi satisfazer o desejo do amigo ou privar a humanidade de obras como O Processo e O Castelo. Venceu a segunda opção e Brod desrespeitou o desejo de Kafka.

Poderíamos imaginar alguém como Kafka nos tempos atuais, com uma conta em uma rede social. Sua partida física deixa as postagens que ele fez nos últimos anos e que podem ser importantes para a compreensão da sua obra. Deveríamos deixar o conteúdo ser apagado por uma empresa como o Facebook ou permitir que os herdeiros possam preservar este conteúdo? Parece que o pêndulo seria favorável para o direito hereditário aqui.

Mas vamos considerar outra situação. Uma pessoa produziu rascunhos que, pelo seu crivo, foi rejeitado. É justo tornar público uma obra de baixa qualidade, que pode ajudar a compreender o processo de produção do artista, mas que não condiz com a qualidade? A questão da privacidade aqui também deve ser levada em consideração. No passado, as pessoas escreviam e recebiam cartas de amor. Esta correspondência era algo pessoal; será ético entrar na vida de alguém que já faleceu?

E a Contabilidade - Há uma questão contábil interessante nesta discussão. Uma conta pode representar um ativo, na medida que há uma possível geração de riqueza com o seu conteúdo. Há uma interesse econômico em deter este conteúdo. Como a internet ainda é algo novo, a questão ainda é recente e não está na lei. Mas isto pode ser um “ativo” para a rede social, que pode explorar o conteúdo de alguém famoso postado por ele.


Links: previsões


Qual a chance de Putin continuar no poder até o final de 2022 - segundo o mercado de previsão é 73%, mas já foi maior. Mas o próximo líder do G20 a deixar o poder não é Putin (foto acima). Lembrando que é um mercado de aposta. Somente isto. Mas se você gosta do assunto, não deixe de ler AstralCodex,

Enquanto isto, leia também sobre a possibilidade de uma guerra nuclear aqui