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10 fevereiro 2022

Resista à cultura de esclarecimentos


Sempre achei estranho uma entidade emitir uma norma e logo a seguir soltar um documento esclarecendo o que escreveu. Se isto estava ocorrendo a razão era simples: a norma não estava bem escrita. Os últimos anos isto tornou-se uma praga. Achei alguém que pensa da mesma forma:

A SEC e o FASB passam muito tempo "esclarecendo" seus padrões anteriores. Esses esclarecimentos geralmente são procurados por empresas com grandes orçamentos de conformidade. Os esclarecimentos acabam criando uma cultura de atendimento a esses "clientes". É melhor que auditores e executivos exerçam julgamento profissional para aplicar os padrões ao seu conjunto único de circunstâncias. 

Mais ainda:

regras complexas criam seus próprios incentivos perversos: privam o investidor não técnico e desinformado e criam uma porta giratória entre montadores ou reguladores e empresas de consultoria. 

Já postamos que normas são negócios, que há um problema na regulação contábil, entre outros pontos. O ISSB poderia aprender com os erros do passado e começar uma nova era na normatização contábil. 

Igreja, ativo permanente e pandemia


Eis uma constatação no setor religioso:

Muitas instituições religiosas fecharam as portas da noite para o dia, transferindo seus serviços para o Zoom. Agora, à medida que suas instalações reabrem, elas não estão certas se os fiéis retornarão. Se menos congregados aparecerem, duas tendências poderão se intensificar. Muitas organizações religiosas se livrarão de imóveis mal aproveitados. E mais igrejas se fundirão.

Há muito tempo, economistas analisam grupos religiosos como se fossem empresas. Em 1776, o escocês Adam Smith argumentou em Riqueza das Nações que igrejas são empreendimentos similares a açougues, padarias e cervejarias. Em um mercado livre e competitivo, no qual dependem de doações e voluntários, elas devem atuar com zelo e diligência para atrair fiéis. Fusões, aquisições e falências são inevitáveis.

Atualmente, o mercado da religião está em movimento, talvez mais do que nunca. No lado da demanda, as igrejas do Ocidente sofrem com a secularização global iniciada muito antes da pandemia. Mesmo nos EUA, o exemplo mais patente de país rico que prosperou ao lado da religião (dizem alguns que por causa dela), a fatia de cidadãos que se identificam como cristãos diminuiu de 82%, em 2000, para menos de 75%, em 2020.

(...) Uma manobra essencial para qualquer igreja, esteja ela em dificuldades ou prosperando, é equilibrar suas contas, e isso significa lidar com seu portfólio de imóveis. A religião organizada está lutando contra os mesmos problemas que proprietários de lojas de shopping centers abandonados e de escritórios vazios, à medida que os negócios migram para o ambiente online. Eles devem ficar parados assistindo enquanto o público diminui? Se não, de que maneira deveriam repensar seus imóveis?

Por séculos, as religiões acumularam riquezas terrenas na forma de imóveis. O Vaticano possui milhares de edifícios, alguns nas mais requintadas regiões de Londres e Paris. A Igreja da Cientologia é dona de endereços em Hollywood que, estima-se, valem US$ 400 milhões, de um castelo na África do Sul e de uma mansão do século 18 em Sussex. O Wat Phra Dhammakaya, templo da seita budista mais abastada da Tailândia, ostenta centros de meditação em todo o mundo. O tamanho da fortuna da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, mais conhecida como a igreja Mórmon, é um mistério; afirma-se que a instituição possui investimentos de US$ 100 bilhões, incluindo fazendas de gado, um parque temático no Havaí e um shopping center em Utah. Templos, sinagogas e mesquitas assistem atentamente os preços dos imóveis aumentar.

(...) A internet tem sido tanto uma bênção quanto uma maldição. Um sermão virtual do arcebispo de Canterbury, em 2020, foi ouvido por 5 milhões de pessoas – mais de cinco vezes o número de fiéis que frequentavam a igreja semanalmente no Reino Unido antes da pandemia. Mas a participação online cobra um preço. Os fiéis param de frequentar os centros religiosos, e construções tornam-se obsoletas.

Por isso, grupos religiosos têm vendido imóveis mais rapidamente do que antes – ou estão explorando novos usos. Líderes em busca de um lugar no Céu estão aprendendo a vender ou alugar lugares na Terra. Testemunhas de Jeová, que têm 9 milhões de fiéis no mundo, venderam sua sede no Reino Unido. A Hillsong, uma gigantesca igreja australiana de 150 mil fiéis em 30 países, aluga teatros, cinemas e outros espaços para serviços dominicais.

Provavelmente a grande maioria não tem um valor atual dos imóveis. A venda pode significar receita, que pode ser usada para cobrir algumas das despesas. Mas parte destas é fixa e isto resolve o problema no curto prazo. 

Pfizer e seu resultado

 

A empresa Pfizer divulgou seus resultados de 2021 na terça. Com lucro de 22 bilhões de dólares e receita de 81 bilhões, a aposta da empresa na luta contra a Covid mostrou um sucesso também financeiro. Em 2021 a receita aumentou de 42 bilhões para 81 bilhões em parte por conta da vacina, com receita de 37 bilhões. Em 2022 a previsão que a receita da vacina deve ser menor, 32 bilhões, mas será compensada por uma droga contra a Covid. 

Foram 3 bilhões de doses da vacina e isto significa que cada dose gera US$12 de receita ou um pouco mais de 60 reais a dose (este valor pode ser maior ou menor, conforme cada contrato; sabe-se que o governo de Israel, por exemplo, pagou um preço bem alto, mas garantiu as primeiras doses). 

Gráfico: aqui

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09 fevereiro 2022

KPMG e a demanda de US$1,8 bi

Para uma empresa com receita de 32 bilhões um pedido de indenização de 1,8 bilhão não parece muita coisa. A empresa de auditoria KPMG, uma das maiores do mundo, está enfrentando um processo na Inglaterra com conta do seu trabalho na Carillion. Trata-se de um lembrente para que o trabalho de auditoria seja mais sério. O processo originou do fato dos auditores não terem visto diversas "bandeiras vermelhas", tendo aprovado as contas da Carillion por três anos seguidos.

O valor solicitado decorre de dividendos pagos pela empresa antes da falência (210 milhões de libras), honorários profissionais para um serviço de qualidade ruim (31 milhões) e perdas comerciais (1 bilhão).

Trata-se de um dos maiores pedidos de indenizações contra um auditor do mundo. A KPMG alega que a responsabilidade pelo fracasso da Carillion é do conselho e da administração da empresa. Entretanto, recentmente reconheceu que andou manipulando reuniões, atas e planilhas.

Cartoon aqui

KPMG do Canadá investe em Criptomoeda


A KPMG do Canadá anunciou que estaria adicionando no seu ativo criptomoedas. Geralmente os contadores são considerados conservadores e adeptos do status quo e tal anúncio pode ter dois significados. O primeiro, a entidade ganha a imagem de moderna e diferente dos concorrentes. Mas pode existir uma segunda explicação: a empresa está enroscada no Reino Unido e seria uma forma de jogar uma cortina de fumaça.

Outra possível explicação é que a filial atuou no mercado de maneira bem reduzida e independente da matriz. A decisão do braço canadense pode não revelar a posição da empresa no mundo. Afinal, a notícia não revela o valor do investimento. A KPMG tem sede na Europa, com receita de 32 bilhões de dólares.