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03 fevereiro 2022

Crime precisa ter um bom contador?


Usando dados da máfia italiana, a resposta é SIM. Eis o abstract: 

We investigate if organized crime groups (OCG) are able to hire good accountants. We use data about criminal records to identify Italian accountants with connections to OCG. While the work accountants do for the OCG ecosystem is not observable, we can determine if OCG hire “good” accountants by assessing the overall quality of their work as external monitors of legal businesses. We find that firms serviced by accountants with OCG connections have higher quality audited financial statements compared to a control group of firms serviced by accountants with no OCG connections. The findings provide evidence OCG are able to hire good accountants, despite the downside risk of OCG associations. Results are robust to controls for self-selection, for other determinants of auditor expertise, direct connections of directors and shareholders to OCG, and corporate governance mechanisms that might influence auditor choice and audit quality.

O paper pode ser acessado aqui, via aqui. Foto: Rezaei

Um exemplo de decisão empresarial ruim


As livrarias estão lotadas de obras descrevendo decisões sábias das empresas. Mas poucas obras analisam os erros. A vida empresarial é feita de muitos erros e poucos acertos. Mas os empresários de sucesso divulgam os "grandes" acertos, que muitas vezes é muito mais sorte do que uma decisão pensada e planejada. 

Gosto muito do exemplo a seguir, da Yahoo, se bem que são várias decisões ruins. Vejamos

1998 - a Yahoo recusa comprar o Google por US$1 milhão

2002 - a Yahoo oferece comprar o Google por 3 bilhões, mas o Google queria 5 bilhões. A Yahoo recusou a oferta

2006 - Yahoo quer comprar o Facebook por 1,1 bilhão, mas seu CEO baixou a oferta para 800 milhões e o Facebook recusou

2008 - A Microsoft ofereceu comprar a Yahoo por 44,6 bilhões, mas a empresa recusou

2016 - A Verizon comprou a Yahoo por 4,6 bilhões. 

Da mesma empresa, comprou Tumblr por 1,1 bilhão e vendeu por 3 milhões, seis anos depois.

Links

 

Quase todos os sites estão presos em um sistema de capitalismo de vigilância, no qual roubam dados ou dependem de tecnologia que rouba dados." - sobre as razões dos principais meios de comunicação não lutarem pela regulamentação da publicidade de vigilância

Com inflação oficial de 36%, o presidente da Turquia demitiu a pessoa responsável pelo cálculo da inflação

Quem é Joe Rogan, que causou um grande problema com suas opiniões (ou fake news) para o Spotify



Rir é o melhor remédio


 Estudando contabilidade 

02 fevereiro 2022

IPSASB propõe mudanças na EC do Setor Público


A entidade que emite normas para o setor público, o IPSASB, está propondo diversas alterações na Estrutura Conceitual. Parte das mudanças reflete as alterações ocorridas em 2018 na Estrutura do Iasb, na qual as normas do setor público são inspiradas. 

A proposta ainda está na fase da minuta, mas podemos destacar aqui quatro alterações relevantes.  

Prudência - O antigo termo conservadorismo sempre foi marcado por polêmica e a mudança de nome, para prudência, não eliminou os problemas. Há uma acusação que o excesso de prudência pode descaracterizar a mensuração contábil e impedir a representação fiel. Se a presença da prudência traz problemas, a ausência pode ser muito pior. Os políticos perceberam isto durante a crise de 2008 e pressionaram para que o termo estivesse presente na estrutura conceitual. Além disto, incorporar a prudência na Estrutura é reconhecer algo que já fazemos na prática: o teste de recuperabilidade e o custo ou mercado são situações práticas onde a prudência domina. 

As cabeças pensantes do Iasb e do Fasb apostaram na neutralidade. Mas em 2018, o termo retorna na EC do Iasb de uma forma torta e confusa. Sem retirar a representação fiel e a neutralidade, o Iasb disse que seria possível a convivência com a prudência. O IPSASB resolveu bater na mesma tecla e repetiu a dose na proposta: a neutralidade é suportada pelo exercício da prudência e isto significa o exercício da cautela quando fazer julgamentos em condições de incerteza - ou seja, sempre. 

Nesta situação, a prudência não seria subestimar as receitas e ativos, nem subestimar as despesas e passivos. Mas como fazer esta mágica não é explicado. Talvez o Iasb quisesse dizer: seja conservador, ma non tropo. Na proposta, os argumentos se repetem nos itens 3.14 e 3.15. Mas mais adiante, no item BC3,16 e 17, o IPSASB reconhece que a não inclusão da prudência nas características qualitativas da informação é problemática. 

Materialidade - Assim como o conservadorismo perdeu terreno para a representação fiel, a materialidade também cedeu espaço para relevância. Mas uma vez que o próprio Iasb está revendo o termo em termos da preparação das demonstrações e no âmbito dos erros e estimativas, através da emenda ao IAS 1 e IAS8, o IPSASB resolveu acrescentar algumas mudanças neste sentido. Mais ainda, o IPSASB considerou que o termo obscuring information é importante para o setor público. 

A própria entidade entende que em lugar de ser uma restrição, a materialidade é um aspecto qualitativo. Mas de forma incoerente, manteve a materialidade como subitem de restrição. 

Ativo - os chamados elementos são essenciais para a contabilidade. A definição de ativo, para o setor público, seria de "um recurso controlado presentemente pela entidade, como um resultado de eventos passado". A definição proposta não inclui nenhum termo que possa lembrar "fluxo esperado". E assim como o Iasb, mantém os três elementos: recurso (recurso econômico no caso do Iasb), controle e eventos passados. Há outras pequenas diferenças, como o fato do Iasb usar "past events" - no plural - e o IPSAB usa o termo no singular. 

Passivo - o termo passivo agora enfatiza a transferência de recursos como resultado de eventos passados. As diferenças entre a definição do Iasb e do IPSASB são similares as listadas anteriormente, para o ativo. Diante da mudança da definição, há uma mudança no texto sobre os critérios relacionados com o termo. 

Fortalecendo o ISSB


Em meados do ano passado, a Fundação IFRS anunciou que estava interessada em criar uma entidade que pudesse trabalhar, de forma exclusiva, com a questão da sustentabilidade. A oficialização desta entidade aconteceu durante o encontro ocorrido em novembro, na Escócia, quando foi anunciada a criação da ISSB. 

Um dos pontos sobre o processo de criação é que a nova entidade parecia ser mais uma, dentre as dezenas existentes, que trabalham com a regulação de evidenciação na área ambiental, social e de governança. Assim, um dos desafios era a legitimação da entidade e, por consequência, do seu trabalho. A nova entidade conseguiu resolver em parte este problema: duas entidades prometeram se juntar ao trabalho da ISSB. A primeira entidade é a Value Reporting Foundation, cuja associação está marcada para meados de 2022. A segunda entidade é a Climate Disclosures Statements Board (CDSB), menos conhecida, mas que oficializou o matrimônio com a ISSB agora. Uma das vantagens para o ISSB é que a entidade pode usar o trabalho já realizado pelo CDSB e VRF, enquanto não produz suas próprias normas. Previsto para começar a funcionar na metade do ano, a produção de normas para áreas tão complexas pode demorar um pouco. 

Somente no final do ano é que o Chairman foi escolhido. Em janeiro, a vice também foi anunciada e neste mês, fevereiro, começam as entrevistas para preencher as cadeiras que faltam. 

Foto: Sandy Millar

Climate Disclosure Standards Board (CDSB)

Fundos ESG e a manipulação da ingenuidade do investidor

Investir em fundos que sejam sustentáveis, com empresas de elevada governança e cuidado com os recursos humanos, passou a ser a nova moda do mercado. Segundo Lance Roberts, The Epoch Times (via aqui) o assunto ESG em Wall Street virou sinônimo de roubo de investidores ingênuos. Se em 2008 os fundos ESG correspondiam a zero por cento do total de fundos, hoje o valor investido é superior a 16 trilhões. Significa que Wall Street mudou? Provavelmente não, pois parece não passar de um modismo, segundo os dados de Roberts.

Na tabela, lado esquerdo, um fundo com "ESG" no nome e sua carteira. No lado direito, um fundo normal. O primeiro cobra uma taxa de 0,25% e o segundo 0,09%, mas a composição é praticamente a mesma. Muitos dos fundos sequer inclui o risco de desmatamento na análise. Outro dado, o BNP Paribas é o principal financiador de combustível fóssil, mas possui "investimentos sustentáveis" para seus clientes. Finalmente, um último dado: dos 253 fundos que mudaram seu foco para ESG, em 2020, nos Estados Unidos, 87% foram simplesmente renomeados, incluindo palavras como "sustentável" ou "verde" no nome, sem mudar sua carteira.