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19 janeiro 2022

Links: cinco gráficos do Statistica

A seguir cinco gráficos do site Statistica com dados curiosos. O primeiro, os países com maior poder militar, originário de um estudo mundial sobre o assunto. É curioso que não aparece a Coréia do Norte (30o. lugar), mas sim a do Sul. O Brasil está em décimo, atrás do Paquistão, com 0,1695

A seguir, os telefones que emitem mais radiação. Os dados originais, da Alemanha, podem ser acessados aqui. O padrão considerado como razoável é de 0,60 e os listados aqui apresentam mais do que o dobro. 


Confesso que não lembro quando a mídia social foi suspensa no Brasil, mas isto aparece no gráfico a seguir. O texto comenta que em 2015 o Whatup foi banido do Brasil. Procurando encontrei que o aplicativo foi banido por 13 horas por conta de uma decisão de uma juíza, que foi revogada a seguir. Faz sentido o gráfico? 
O número de apps com mais de 100 milhões de gastos mundiais. Cada vez maior este número. 

Finalmente, a listagem das melhores cidades para estudantes. 


Rir é o melhor remédio

 

Artigo da nature sobre a falta de acessibilidade da ciência. Irônico

18 janeiro 2022

Desempenho dos Ativos em 2021

 


Desastres naturais: redução nos últimos anos

Recentemente postamos que os custos dos desastres naturais atingiu valores elevados. E temos uma grande preocupação ambiental, o que incluiu a criação de uma entidade específica para emitir normas sobre o assunto. Agora uma grande surpresa: os dados temporais mostram que o número de desastres relacionados ao clima reduziu nos últimos vintes anos em 10% (divulgado por Shellenberger na Forbes). 

Os dados são do EM-DAT, coletados na Bélgica. Um ponto interessante é que o "conceito" de desastre, que envolve um dos seguintes critérios: 10 ou mais pessoas mortas, 100 ou mais pessoas afetadas, a declaração de estado de emergência e um pedido de assistência internacional. 

Os dados são mais confiáveis a partir de 2000, quando a coleta de dados melhorou. Mesmo assim, o número de pessoas mortas reduziu substancialmente. Durante a década de 1920 os desastres naturais provocaram 5,4 milhões de mortes. Nos anos de 2010 este número foi de 400 mil, mesmo com o aumento da população mundial, de 2 bilhões para 7 bilhões. 

Há algumas possíveis razões para explicar este declínio. Uma delas é a adoção de medidas simples, como sistemas de alertas contra ciclones e abrigos contra tempestades. Um exemplo citado pelo artigo foi o ciclone Ampham, na Índia e Bangladesh, que matou 120 pessoas; segundo o texto, há cinquenta anos teria matado milhares de pessoas. 

Baseado na minha experiência recente também colocaria o desenvolvimento do sistema de comunicação. Recentemente fiz uma viagem para minha cidade natal e o caminho que geralmente uso estava interrompido por conta das chuvas. Tomei um caminho alternativo, evitando o problema de barreira. Nos dias atuais, uma notícia de um desastre natural é rapidamente divulgada, permitindo que as pessoas ajustem suas decisões. 

Importância da China para o valor da Apple


Lendo sobre a relevância da China para a Apple em The China story behind Apple's 3 trillion valuation anotei alguns pontos interessantes, apesar da entrevista parecer um tanto quanto imparcial. Foi um podcast com Doug Guthrie, ex-funcionário da Apple University, que viveu e trabalhou na China. 

Um primeiro ponto é que a discussão destaca o papel da China no valor de 3 trilhões de dólares da empresa Apple. Duas informações relevantes: nos últimos cinco anos, 20% das vendas da empresa foram na China. Outro mais ainda: a Apple controla 35% do mercado de smarphones no mundo e 95% do lucro deste mercado. Segundo o texto, a explicação para isto é o fato da empresa conseguir "pressionar os fornecedores para fazer o que eles querem". 

Segundo e mais importante é a sintomia entre a Apple e o governo chinês. Isto está expresso no dispach labor system, um sistema de movimentação de empregados pelo país. Neste sistema, a população de trabalhadores é "flutuante" e seu número é de 350 milhões de pessoas. Ou seja, o governo muda estas pessoas conforme a necessidade de mão de obra. Veja um trecho:

That’s the dispatch labor system. The dispatch labor system moves people, and it moves people around the country, and it’s a very interesting system because it’s a state-run system. And so people are actually moved around the country and they are actually employed by the dispatch labor system.

Não é necessário dizer que os trabalhadores, neste sistema, recebem abaixo de um funcionário comum. 

Análise custo-benefício


Most cost-benefit analyses assume that the estimates of costs and benefits are more or less accurate and unbiased. But what if, in reality, estimates are highly inaccurate and biased? Then the assumption that cost-benefit analysis is a rational way to improve resource allocation would be a fallacy. Based on the largest dataset of its kind, we test the assumption that cost and benefit estimates of public investments are accurate and unbiased. We find this is not the case with overwhelming statistical significance. We document the extent of cost overruns, benefit shortfalls, and forecasting bias in public investments. We further assess whether such inaccuracies seriously distort effective resource allocation, which is found to be the case. We explain our findings in behavioral terms and explore their policy implications. Finally, we conclude that cost-benefit analysis of public investments stands in need of reform and we outline four steps to such reform.

The Cost-Benefit Fallacy: Why Cost-Benefit Analysis Is Broken and How to Fix It - Journal of Benefit-Cost Analysis, October, pp. 1-25, doi 10.1017/bca.2021.9. (via aqui)

Tim Harford faz uma análise sobre o artigo acima aqui. A análise custo-benefício seria, segundo Harford, a melhor técnica de decisão. A proposta dos autores é "consertar" a técnica, melhorando a estimativa de custo. 

Figura: aqui

Rir é o melhor remédio


Concorrência

Castigat ridendo mores (correção dos costumes pelo riso) (Jean de Santeuil)

Como explicar o sucesso estrondoso de uma sátira escrita há mais de meio século contra uma determinada pessoa pública que não se mantinha nos trilhos?

Um dos diversos teóricos do riso, Vladimir Propp afirma que a essência da sátira é a derrisão dos defeitos dos homens. Afirma também, em seu livro Comicidade e riso (1992), que é possível rir do ser humano em quase todas as suas manifestações, tanto na vida física quanto na vida moral e intelectual.

A sátira seria uma espécie de arma utilizada, às vezes, para coibir excessos e desvios sociais e/ou individuais. A crítica, seja irônica, sutil, ferina ou mordaz, provoca o riso de zombaria, que é um dos tipos de riso mais frequentes na sociedade. Baltazar Guimarães (1926), meu conterrâneo e parente (temos ascendentes comuns), residente em Patos de Minas (MG), fez uma espécie de cordel satírico, com 16 vesos (4 estrofes) em redondilha maior (heptassílabos), com rimas alternadas, tipo de verso muito apreciado na poesia popular.

Para melhor entendimento de sua sátira, é mister fazer uma prévia contextualização.

Em meados do século passado, em Patos de Minas, havia um prefeito que andava enamorado por uma bela cidadã. Como era casado, contratou-a como chefe de gabinete. Destarte estaria sempre a seu lado, sem levantar suspeitas. Acontece que sua preferida era casa e afeita à poligamia. Namorava também um serralheiro, que gostaria de tê-la por perto.

Certa feita, a prefeitura abriu concorrência pública para a construção de mata-burros nas estradas rurais, com aproveitamento de velhos trilhos de ferrovia. Como se tratava de um serviço próprio de serralheiro, o namorado número 2 vislumbrou a possibilidade de ganhar a concorrência para frequentar mais assiduamente o gabinete onde ela trabalhava. Com esse intuito, montou uma firma de engenharia, contratou engenheiro e fez uma proposta com custo bem abaixo do mercado, na certeza de ser contemplado. Ciente do estratagema de seu rival, o prefeito agiu nos mesmos moldes. Arranjou outra firma para cobrir a proposta em iguais condições e com os mesmos valores. Em caso de empate, cabia a ele decidir por uma das duas. Evidentemente, escolheu a que lhe convinha.

O serralheiro, despeitado pela proximidade cotidiana do rival com o objetivo de seus desejos e indignado com sua atitude desonesta, por ter violado a proposta e feito outra igual, começou a maldizê-lo em rodas de bar. Incomodado com essas maledicências, o prefeito resolveu partir para a agressão. Casualmente, entrou em uma lanchonete onde se encontrava seu desafeto. O malfadado encontro acabou em tapas, socos e safanões.

No dia seguinte, o carro do prefeito apareceu com marca de tiro em uma porta lateral. Seu rival foi acusado de tentativa de homicídio. No entanto, o exame de balística comprovou que a bala era proveniente da arma do próprio prefeito. Baltazar Guimaraes expôs a situação de maneira jocosa, com cadência cordelística:

CONCORRÊNCIA

Em questão de Concorrência

Cada um tem seu pensar

Perdeu a pública, paciência

Disputa a “particular”

Foi feita a licitação

pra se fazer mata-burros

Dai surgiu discussão

com xingos, tiros e murros

Comenta língua indiscreta

A causa real da luta

“foi concorrência secreta

por alguém que se dis...PUTA”

TAÍ. DÂO tiro na rua

Um crime quase PERFEITO

O homem já vai à lua

e Patos não toma jeito

Baltazar datilografou os versos em quatro vias, com papel carbono. Na época não existia fotocópia. Duas dessas cópias caíram no chão, durante um campeonato de futebol da UEP (União dos Estudantes Patenses). Quem as encontrou, possivelmente algum desafeto do prefeito, resolveu fazer a divulgação. Levou-as ao escritório de Valdemar Mendes. Durante uma semana, os versos foram datilografados centenas de vezes, de 4 em 4 vias, para atender à demanda, que se avolumava como bola de neve. Formava-se fila de espera de cópias, à porta do escritório.

Os versos anônimos acabaram caindo nas mãos da imprensa da capital, acrescidos de uma nota explicativa. Posteriormente foram publicados por uma jornal carioca. A rápida divulgação causou espanto ao autor, que fazia questão de se manter no anonimato, por temer represálias do alvo da sátira, pessoa nem sempre pacífica.

Na época, Patos de Minas ainda era uma pequena cidade, local propício para fofocas e maledicências. Alguém acabou dando com a língua nos dentes, e Baltazar viu-se perseguido pela administração pública. No entanto um providencial imprevisto o livrou do castigo: o capotamento de um carro da prefeitura, na estrada de Unaí, provocou a morte dos encarregados de castigá-lo pela indevida “molecagem”.

Quem foi castigado, de fato, foi o prefeito, que se viu à mercê da maledicência pública. Na época da colonização, Padre Antônio Vieira já dizia que Gregório de Matos, com seus epigramas maliciosos, corrigia e educava mais rapidamente a sociedade brasileira do que ele com seus sermões.

Nota:

Em recente bate-papo com o autor, ele frisou a ambiguidade do título (“Concorrência” pública e amorosa) e ressaltou alguns detalhes que não devem passar despercebidos:

TAI.DÃO tiro na rua: o responsável pelo tiro, chamado Ataídes, tinha a alcunha de TAIDÃO

por alguém de se dis...PUTA: do verbo disputar (a concorrência) e ao mesmo tempo menção à vida poligâmica do pivô do conflito.

Um crime quase PERFEITO: perfeito/prefeito “quase” porque o exame de balística pôs fim à farsa de tentativa de homícidio.

O homem já vai à lua: isso aconteceu na época da primeira viagem do homem à lua. (

Do livro O Diálogo das Formas, de Jô Drumond, p. 109 a 112.)

[A primeira vez que escutei esta história foi durante minha graduação na UnB, no apartamento do meu irmão, Caio, contada pelo meu pai, o Baltazar da crônica. Ouvi de uma pessoa presente, já falecida, que lembrava que chegou a ser perseguido, pois era "poeta". Aos 96 anos, meu pai ainda lembra dos detalhes da história, que Jô Drumond (foto) transformou em crônica no livro O Diálogo das Formas)