Translate

19 dezembro 2021

2021 - O blog

O ano de 2021 foi mais um ano de nosso blog. No início do ano, eu (César) tinha feito uma promessa de tentar postar 3 itens por dia. Neste momento são 1034 postagens, um pouco abaixo de 1080 postagens necessárias para meta (3 x 30 dias x 12 meses). Setembro foi um mês que sumi das postagens (13 somente), enquanto julho rendeu 130 postagens. 

Neste momento, eu estou tocando o blog sozinho; por motivos particulares, Isabel e Pedro tiraram uma licença, que espero ser provisória. Confesso que em muitos momentos pensei em desistir. Mas volta e meia recebo elogios pelo que fazemos aqui desde 2006. Afinal, são mais de 26 mil postagens. 

Foto: Norouzi

Que venha 2022, agora, sem muitas promessas...

18 dezembro 2021

Rir é o melhor remédio

 

Final de ano e muitas empresas resolvem dar um bônus para seus empregados. Em alguns casos, o presente é muito tosco. Em outros é um insulto. Uma empresa, em 2019, deu um bônus para seu empregado poder usar em 2020: um dia de trabalho em casa. 

17 dezembro 2021

Criminoso português pode escapar por falta de tradutor


Em outubro eu fiz uma postagem sobre João Rendeiro. De uma forma bem resumida, Rendeiro foi fundador e gestor do Banco Privado Português. Esta instituição foi descontinuada em 2010 e desde então o judiciário português provou alguns problemas que ocorreram na instituição, incluindo lavagem de dinheiro, falsificação e problemas contábeis.

Em 2020 um tribunal condenou Rendeiro a 5 anos e 8 meses de prisão. Antes disto, Rendeiro fugiu de Portugal e Europa e começou a ser caçado pela Interpol. Recentemente, ele foi capturado na África do Sul. Só que o Ministério Público de Portugal não conseguiu apresentar um pedido formal de extradição dentro do prazo de quarenta dias. Parte do problema é que as autoridades estão com dificuldades de traduzir as decisões judiciais dos processos onde Rendeiro foi condenado. Em um dos processo, onde ele foi condenado a 10 anos de prisão, a decisão do tribunal tem 422 páginas. Parece mentira:

As dificuldades foram assumidas ao jornal pela diretora do Departamento de Cooperação Judiciária e Relações Internacionais (DCJRI) da Procuradoria-Geral da República, Joana Gomes Ferreira, apontando que só existem dois tradutores para todos os processos do país. 

Dupla contagem do carbono


 Geofrrey Heal, da Columbia Business School, discute a compensação do carbono, com críticas e, também, apontando as vantagens. Mas um ponto importante sobre a questão é a possibilidade de contagem em dobro (ou triplo):

há potencial para uma contagem dupla maciça aqui, se somarmos todas as emissões entre as empresas. Se minha empresa compra eletricidade de uma concessionária local, as emissões associadas são o escopo dois para mim e o escopo um para a concessionária. Se a Exxon vende combustível para aviação para a American Airlines, para uso na aeronave Boeing, as emissões serão escopo três para Exxon e Boeing, mas escopo um para American Airlines. Essas emissões são contadas três vezes, o que é um anátema para qualquer sistema contábil competente. Cada emissão de escopo dois ou três é a emissão de escopo um de outra pessoa.

Certo, há uma dupla ou tripla contagem neste sistema. Mas é preciso considerar os seguintes aspectos. Em primeiro lugar, é necessário ver o efeito da mensuração em cada empresa. Sob pressão, a American Airlines, a Exxon e a Boing podem ter agora incentivos para redução da emissão, sob a forma de equipamentos menos poluentes e melhor uso dos aviões. Assim, a divulgação pode conduzir a melhores atitudes por parte das três empresas. 

Em segundo lugar, a filosofia de Heal é querer que a contagem em cada empresa seja usada para ter uma contagem global, de toda uma economia. É algo similar a querer a mensuração do valor adicionado, sendo que para a empresa o importante é a mensuração do lucro. O objetivo da contabilidade, em termos históricos, foi a mensuração de desempenho para o acionista. 

Terceiro, é melhor incentivar grandes empresas a fazer uma mensuração ampla das emissões do que uma mensuração mais tímida. De certa forma, os relatos das grandes empresas podem funcionar com compensação para a não mensuração dos pequenos agentes econômicos. Uma mensuração somente do escopo um, como parece ser a defesa do autor, pode ser otimista demais, pois não leva em consideração a emissão de todas as empresas. 

Foto: Veeterzay

Um tweet de 68 milhões de euros


Em setembro de 2018, o Grupo Santander convidou o banqueiro italiano Andrea Orcel para ser seu CEO. Logo a seguir, o banco espanhol retirou o convite. Orcel entrou com um pedido de compensação pelo ocorrido, mas o banco alegou que não tinha efetivado a contratação, não cabendo nenhum tipo de indenização. Orcel tinha saído do UBS para assumir o cargo.

Agora, um tribunal espanhol entendeu que cabe a indenização. E uma das provas que o tribunal considerou para sua decisão foram os tweets que Ana Botín, a presidente do Grupo (foto), postou em 25 de setembro de 2018, as boas vindas para Orcel no Santander. 

O juiz do caso considera que as mensagens comprovam que Orcel foi, de fato, contratado. A decisão é de primeira instância e o Santander deve recorrer.

Compensação de Risco

A compensação de risco é um aspecto teórico conhecido desde os anos 70. A ideia básica é que as pessoas ajustam seu comportamento diante da percepção de risco. Em outras palavras, elas serão mais cuidadosas quando sentem que uma situação é de maior risco. O principal ponto da compensação de risco ocorre no sentido contrário: as pessoas tendem a ter um comportamento mais arriscado quando percebem que estão mais protegidas.

O exemplo mais citado da compensação de risco ocorre no trânsito. Os motoristas adotam um comportamento mais arriscado quando possuem equipamentos de segurança. O termo "compensação" é relevante: a melhoria no equipamento de segurança, como freio de melhor qualidade ou cinto de segurança, produz um efeito não esperado dos motoristas agirem de maneira mais imprudente.

A compensação de risco ajuda a explicar por que medidas de prevenção podem não atingir o efeito desejado. Como as pessoas se adaptam a uma nova situação, uma política no sentido de diminuir os riscos pode não surgir os efeitos esperados em razão da mudança de comportamento.

O estudo originário foi publicado em 1975 por um economista da Universidade de Chicago, Sam Peltzman. O estudo de Peltzman, que originou o efeito Peltzman ou compensação de risco, era com trânsito. Apesar do estudo original apresentar muitas falhas e seu modelo não ter tido sucesso em prever a mortalidade, sua influência é enorme. Na verdade, alguns acreditam que é inadequada por levar a uma inércia nas políticas públicas. Afinal, existindo a compensação de risco, qual a razão de melhorar o trânsito ou adotar políticas de saúde de prevenção?

Há alguns exemplos práticos onde foi observado a compensação de risco. Em 1967, a Suécia resolveu mudar a direção do trânsito, abandonando o "jeito" inglês. Os especialistas imaginavam que inicialmente a taxa de mortalidade aumentaria, já que ocorreu uma mudança na mão da direção. Entretanto, por 18 meses, a taxa de mortalidade reduziu, mesmo diante de uma mudança tão grande. Os motoristas suecos responderam ao aumento do perigo percebido tomando mais cuidado. Mas um ano e meio depois, a taxa de mortalidade voltou aos padrões normais: os motoristas já não notavam os efeitos da mudança da direção e passaram a agir normalmente. (Eu gosto de usar este exemplo nas minhas aulas)

Outro estudo, realizado em Munique, comparou os taxis com freios ABS e os taxis com freios comuns. Os automóveis eram semelhantes, mas as taxas de acidentes dos automóveis com ABS era um pouco maior. Ou seja, os motoristas com automóveis mais "seguros" percebiam esta diferença e ajustava seu comportamento.

Apesar da formulação da compensação de risco, os estudos mostram que medidas de segurança realmente reduzem as mortes no trânsito. Um artigo da Slate questiona que as consequências da proposição da compensação de risco tem um efeito danoso sobre melhorias para população:

A compensação de risco foi levantada para questionar uma ampla gama de intervenções em saúde pública, inclusive refrigerante diet, cigarros com pouco alcatrão, tampas de segurança para crianças em medicamentos, tratamentos de hipertensão e programas de troca de seringas. Em cada caso, o raciocínio é que a intervenção pode sair pela culatra porque as massas são burras ou indisciplinas demais para agir no que a comunidade médica considera ser do seu interesse.(...)

Isto inclui

(...) a infame hesitação do CDC e da OMS em recomendar máscaras no início da pandemia teve muitas causas ... Mas a causa básica é muito simples: as autoridades não confiavam no público. (...) A questão - para segurança do motorista, atividade sexual ou saúde pública - não é se algumas pessoas mudam seu comportamento em resposta ao risco percebido. É se, no nível da população, uma intervenção torna o mundo um lugar mais seguro e melhor