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05 maio 2021

Vitória da Governança: Acionistas da GE rejeitaram pagamento de executivos


Uma importante vitória da governança corporativa: acionistas da General Electric rejeitaram a proposta de pagamento aos executivos, incluindo o CEO Larry Culp (foto).  No passado este tipo de votação tinha cerca de 70% de apoio, mas na terça a proposta foi rejeitada por 58% dos votos. A proposta incluía pagamentos de até 230 milhões de dólares para Culp. 

Além do elevado valor, a proposta tinha um grande problema. Durante a pandemia, as metas foram reduzidas, tornando mais fácil alcançar o pagamento estipulado. 



Culp foi contratado em 2018, depois de uma crise de confiança com os executivos anteriores. Na contratação, as ações da GE valiam 6 dólares. Com a pandemia, o Conselho de Administração da empresa indicou que a meta de $31 no preço da ação estava sendo revista para $17. Mas se Culp conseguisse atingir a marca de $13, o seu pagamento seria de 124 milhões de dólares. Além disto, no acordo existia a prorrogação do contrato de Culp, o que dava mais tempo para ele atingir a meta. O executivo é admirado pelos investidores, pois limpou o balanço e melhorou a empresa. Mas a remuneração parece excessiva demais.

Dados alternativos e Reguladores



Muito interessante um texto de Shivaram Rajgopal sobre a proliferação de dados alternativos de baixo custo e como os reguladores contábeis lidam com esta questão. Rajgopal é professor da Columbia Business School e relata a dificuldade que Fasb e Sec (mas isto se aplica a Iasb, Ifac e outros) têm em absorver novas sugestões. 

Em 2007 foi solicitado que a DFC fosse elaborada pelo método direto somente. Nada foi feito. Outras demandas: maior transparência nas aquisições, valor agregado, separação de alguns itens de custos nos componentes fixos e variáveis. Os reguladores são lentos em atender as demandas. 

Nos últimos anos surgiram os dados alternativos. Segundo Rajgopal 90% dos dados digitalizados nos dias atuais foram coletados nos últimos 10 anos. E esses dados podem gerar informações sobre a empresa. Isto inclui pesquisas do Google, tweets, postagens do Facebook, LinkedIn, além de listas de empregos, transações de cartões de crédito, registros bancários, imagens de satélite, dados de geolocalização, entre outras. Rajgopal mostra dois exemplos.

O primeiro é o desempenho após uma aquisição de uma empresa. Muitas operações deste tipo não apresentam informações sobre quão bem está indo a empresa adquirida. A aquisição da Whole Foods por parte da Amazon, em 2017, pode ser um exemplo. Uma operação de 13 bilhões de dólares teve algum destaque nas demonstrações de 2017 da Amazon. A informação mostra que a Whole Foods representou um adicional de receita de 5,8 bilhões naquele ano. Mas depois disto é muito complicado imaginar se a decisão de aquisição foi positiva ou não. Uma análise dos dados de transações de cartões de crédito pode ajudar. Ou do perfil dos funcionários no LinkedIn pode sugerir demissões ou contratações. Ou dados de licenças estaduais e municipais para aberturas e fechamentos de lojas. 

O segundo exemplo apontado por Rajgopal é o orçamento em pesquisa e desenvolvimento. Ainda usando a situação da Amazon, Rajgopal cita que a empresa gasta 42 bilhões neste item. Mas ao apresentar a informação, a empresa usa 300 palavras. Novamente o perfil do LinkedIn pode estabelecer um perfil dos funcionários que estão trabalhando nos projetos da empresa. 

Mas há problemas no uso de dados alternativos. A grande maioria deles não estão estruturados e o processamento é dispendioso. Acrescento ainda que algumas das informações não são públicas para que deseja analisar. Isto tudo torna a análise dos dados destes dados cara. Mas Rajgopal aposta que isto ficará mais barato, "antes que os reguladores se tornem ágeis o suficiente para responder plenamente aos apelos dos investidores por informações mais relevantes de valor".


Uma nova perspectiva na conversa


Da revista Inc sobre como Tim Cook, CEO da Apple, assume o controle de qualquer conversa:

Quando a Apple divulgou seu relatório trimestral mais recente , ele mostrou que os lucros caíram, assim como a receita do iPhone. Más notícias? Não necessariamente. As ações dispararam após a teleconferência porque Cook deu uma explicação clara do quadro mais amplo e positivo. Graças ao crescimento de dois dígitos da App Store, Apple Music e outros serviços, o negócio de serviços da Apple sozinho atingiu US $ 11,5 bilhões.

Cook fez uma ponte entre o iPhone e uma visão mais ampla, enquadrando a conversa com essas cinco palavras: 

Do jeito que eu vejo ...

Por exemplo, em resposta a uma pergunta sobre a desaceleração das vendas do iPhone, Cook enfatizou o fato de que os iPhones geraram US $ 26 bilhões em vendas - um grande número em um trimestre. (...)

"Na minha opinião", Cook começou, "tínhamos o portfólio de hardware mais forte de todos os tempos. Temos novos produtos a caminho. (...) 

Ao oferecer uma perspectiva - wearables e serviços estão se aproximando do tamanho de uma empresa Fortune 500 - Cook deu a seus ouvintes um contexto importante sobre sua empresa.

As palavras podem ser "deixe-me contar como eu vejo isso" ou "do jeito que eu vejo" ou similar. Segundo o texto é importante não tentar enganar, mas colocar uma nova perspectiva. 

Ainda sobre NFT


Logo após a venda da obra Everydays: The First 5000 days (imagem), o seu autor, Mike Winkelmann ou Beeple afirmou o seguinte:

Acho que as pessoas não entendem que, quando você compra, você tem o token [ou NFT]. Você pode exibir o token e mostrar que é o proprietário do token, mas não é o proprietário dos direitos autorais [da arte]”

O NFT são tokens não fungíveis. São bens digitais exclusivos, com código no blockchain, que documenta as transações. Os bens podem ser comercializados, mas a tecnologia permite rastrear a propriedade e a validade.


Rir é o melhor remédio

 

voltando ao trabalho, um ano depois do início da pandemia

04 maio 2021

Poseidon


O trecho abaixo foi escrito por um dos maiores escritores de todos os tempos, cujo centenário de falecimento será comemorado em 2024. Tão importante, que mudou a literatura mundial, apesar da vida curta. Retiramos da edição do jornal O Pasquim, n 5, de 1969, página 13. O texto imagina Poseidon trabalhando em contabilidade. Isto mesmo. Parece absurdo, não? Veja se consegue descobri o autor do texto abaixo.  

Sentado em seu escritório, Poseidon trabalhava na sua contabilidade. A administração das águas do mundo inteiro lhe impunham um ritmo de trabalho alucinante. Ele poderia ter tantos auxiliares de contabilidade quantos quisesse e de resto, ele os tinha em grande número, mas como tomava muito a sério suas funções e verificava pessoalmente todas a contas, essa ajuda não era de grande valia. Não se poderia afirma que esse trabalho agradasse a Poseidon. Ele o executava simplesmente porque lhe tinha sido imposto. Muitas vezes pensava em se dedicar a uma atividade mais interessante, mas sempre que faziam alguma proposta nesse sentido tornava se evidente que nada lhe agravava mais do que seu atual emprego. Além disso, era muito difícil encontrar outra colocação para ele. Impraticável, por exemplo, deixar a seu cargo apenas este ou aquele mar, pois além do trabalho administrativo ser igualmente complexo, apenas concentração num objeto menor vasto, o grande Poseidon não poderia ocupar senão um posto superior.

A simples ideia de que lhe oferecessem função alheia ao governo das águas era algo que lhe provocava náuseas, sua respiração divina se entrecortava, sua caixa torácica ofegava. O fato é que ninguém levava a sério seus protestos: quando um grande personagem reclama é preciso fingir que se concorda com ele e isso é tudo. Ninguém cogitava realmente em dispensar Poseidon de suas funções. Desde as primeiras eras, seu destino o fizera Deus dos Mares e assim seria até a consumação dos tempos.

O que mais o agastava - razão principal do mau humor com que se dedicava àquele trabalho - era a imagem que o público fazia da sua vida - Poseidon varando os oceanos, armado com seu tridente. Ao passo que lá esta ele, no fundo dos mares, as voltas com uma interminável contabilidade, tendo apenas o tempo necessário para breves visitas a Júpiter, única distração dessa monótona existência. Visita da qual quase sempre retornava colérico. De modo que tinha dos mares apenas uma visão fragmentada durante suas rápidas ascensões ao Olimpo. Na verdade jamais os tinha verdadeiramente conhecido.

Habitou-se a dizer que deixaria isso para o fim do mundo, pois sem dúvida esse acontecimento lhe daria um pequeno momento de repouso. Exatamente um momento antes do fim, após conferir a última conta, talvez pudesse ele se se apressasse, fazer uma pequena viagem de recreio.

Descobriu? Clique aqui para ler sobre ele

Pandemia e cálculo da inflação


Não li nada sobre isto no Brasil, mas vale o registro acontecendo lá fora. Com a pandemia, o cálculo da variação de preços na economia tornou-se problemático.

De acordo com o Bureau of Labor Statistics (BLS), metade dos dados incluídos no índice de preços ao consumidor (IPC) foi "imputada" no ano passado.

Tradicionalmente um quarto do índice é imputado. Isto aumenta a imprecisão do valor divulgado, tanto para mais, quanto para menos. A pandemia tornou difícil a coleta de dados nos domicílios. E surgiram alguns problemas. O valor do aluguel, apesar da existência de um contrato, deixou de ser cobrado em muitos casos. Como levar em conta este fato em um índice de inflação? 

Imagem aqui