O trecho abaixo foi escrito por um dos maiores escritores de todos os tempos, cujo centenário de falecimento será comemorado em 2024. Tão importante, que mudou a literatura mundial, apesar da vida curta. Retiramos da edição do jornal O Pasquim, n 5, de 1969, página 13. O texto imagina Poseidon trabalhando em
contabilidade. Isto mesmo. Parece absurdo, não? Veja se consegue descobri o autor do texto abaixo.
Sentado em seu escritório, Poseidon trabalhava na sua contabilidade. A administração das águas do mundo inteiro lhe impunham um ritmo de trabalho alucinante. Ele poderia ter tantos auxiliares de contabilidade quantos quisesse e de resto, ele os tinha em grande número, mas como tomava muito a sério suas funções e verificava pessoalmente todas a contas, essa ajuda não era de grande valia. Não se poderia afirma que esse trabalho agradasse a Poseidon. Ele o executava simplesmente porque lhe tinha sido imposto. Muitas vezes pensava em se dedicar a uma atividade mais interessante, mas sempre que faziam alguma proposta nesse sentido tornava se evidente que nada lhe agravava mais do que seu atual emprego. Além disso, era muito difícil encontrar outra colocação para ele. Impraticável, por exemplo, deixar a seu cargo apenas este ou aquele mar, pois além do trabalho administrativo ser igualmente complexo, apenas concentração num objeto menor vasto, o grande Poseidon não poderia ocupar senão um posto superior.
A simples ideia de que lhe oferecessem função alheia ao governo das águas era algo que lhe provocava náuseas, sua respiração divina se entrecortava, sua caixa torácica ofegava. O fato é que ninguém levava a sério seus protestos: quando um grande personagem reclama é preciso fingir que se concorda com ele e isso é tudo. Ninguém cogitava realmente em dispensar Poseidon de suas funções. Desde as primeiras eras, seu destino o fizera Deus dos Mares e assim seria até a consumação dos tempos.
O que mais o agastava - razão principal do mau humor com que se dedicava àquele trabalho - era a imagem que o público fazia da sua vida - Poseidon varando os oceanos, armado com seu tridente. Ao passo que lá esta ele, no fundo dos mares, as voltas com uma interminável contabilidade, tendo apenas o tempo necessário para breves visitas a Júpiter, única distração dessa monótona existência. Visita da qual quase sempre retornava colérico. De modo que tinha dos mares apenas uma visão fragmentada durante suas rápidas ascensões ao Olimpo. Na verdade jamais os tinha verdadeiramente conhecido.
Habitou-se a dizer que deixaria isso para o fim do mundo, pois sem dúvida esse acontecimento lhe daria um pequeno momento de repouso. Exatamente um momento antes do fim, após conferir a última conta, talvez pudesse ele se se apressasse, fazer uma pequena viagem de recreio.
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