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02 março 2021

Como a pandemia alterou a publicação científica


Como a pandemia alterou o processo de publicação científica? Uma resposta baseada na experiência profissional, em outra área, mas que parece fazer sentido para artigos de contabilidade também:

A publicação científica é um aspecto do sistema científico que certamente foi afetado pela crise de Covid. Entre outras mudanças, os critérios usados ​​para avaliar os manuscritos submetidos parecem ter mudado. Isso impacta a ciência no centro de seus mecanismos de autorregulação e garantia de qualidade. Resta saber se mudou para melhor.

No início da pandemia, revistas científicas e seus editores criaram sistemas acelerados para conteúdos relacionados com COVID-19, permitindo rápida revisão e evitando o atraso desnecessário da publicação.  Estudos têm demonstrado que esses esforços são altamente eficazes, com o tempo médio entre o envio e a publicação sendo reduzido em quase 50% em amostras de periódicos médicos. Embora esses esforços sejam obviamente louváveis, eles levantam questões sobre o conteúdo e a qualidade do processo de revisão: os documentos relacionados à Covid-19 são igualmente examinados e mantidos de acordo com os mesmos padrões de qualidade de outros manuscritos? Quais são os efeitos duradouros dessas mudanças para a revisão editorial por pares? E que implicações isso tem para a qualidade da pesquisa e a confiança (pública) na ciência?

(...) Usando o modelo aberto de revisão por pares em duas revistas médicas, comparei os manuscritos submetidos antes da pandemia com aqueles submetidos durante a pandemia, tanto para conteúdo relacionado ao COVID-19 quanto para conteúdo não relacionado ao COVID-19. Acontece que a revisão dos artigos relacionados à Covid-19 não parece ser menos completa - apesar de ser muito mais rápida - mas vemos uma mudança notável nos critérios de qualidade usados ​​para avaliar esses manuscritos.

Na avaliação de manuscritos acadêmicos que lidam com conteúdo relacionado ao COVID-19, editores de periódicos, revisores e leitores parecem ser um pouco mais brandos em suas opiniões, usando diferentes critérios de qualidade e estando satisfeitos com padrões potencialmente mais baixos. Em particular, eles parecem pedir menos experimentos adicionais, estão satisfeitos com amostras menores e sugerem estratégias diferentes para abordar reivindicações muito fortes. Os autores não são, por exemplo, solicitados a remover, estender ou melhorar dados de baixa qualidade, mas sim encorajados a meramente afirmar isso como uma limitação ou mesmo conclusão de seu estudo. (...)

Política Pública, fertilização e casamento

 Um exemplo de como uma política pública pode mudar o perfil e as decisões pessoais. Em Israel, a partir de 1994, o governo começou a cobrir os gastos com fertilização in vitro. Isto trouxe duas mudanças relevantes para as mulheres. 

As mulheres passaram a casar mais tarde, adiando a decisão de maternidade (gráfico acima, esquerda, que mostra a idade e o ano do casamento). Além disto, a diferença de idade entre homem e mulher muda (gráfico da direita)


Rir é o melhor remédio


 Trabalho que exige experiência. Mas para ter experiência é necessário trabalho. 

01 março 2021

História da Contabilidade: um resumo da Alvares Penteado quando fez 50 anos


Ainda no O Observatório, desta vez na edição 197, de 1952. Um pequeno trecho trata da Alvares Penteado:

Em dois de julho corrente a Escola de Comércio "Alvares Penteado" comemorou o cinquentenário de sua fundação. Desde o início de sua atividade tem-se ela constituído num centro de ensino de que se orgulha a civilização paulista. A Escola de Comércio "Alvares Penteado", pioneira de estudos comerciais no Brasil, começou com a denominação de Escola Prática de Comércio, instalando-se modestamente a dois de julho de 1902, no prédio no. 36 da Rua Libero Badaró, esquina da Rua Direita, cedida gentilmente pelo Conde de Prates. Organizado o corpo docente, selecionado em nossas escolas superiores e nos centros econômico-financeiros, a 15 de julho tiveram início as aulas, regularmente matriculados, quantidade considerada elevada para o acanhado ambiente em que se instalara. O decreto federal no. 1.339, de 9 de janeiro de 1905, reconheceu de caráter oficial os diplomas expedidos pela Escola Prática de Comércio e providenciou sobre a organização dos curso, dividindo-os em dois: um geral, de comércio, e outro superior, de ciências comerciais, com várias vantagens para os diplomados. Em 5 de janeiro de 1907 a diretoria e a congregação da Escola de Comércio de São Paulo, reunidas em sessão extraordinária sob a presidência do diretor-presidente, senador Lacerda Franco, por unanimidade de votos resolveram ligar perpetuamente o nome do Conde Alvares Penteado à Escola. Daí a atual denominação de Escola de Comércio "Alvares Penteado"

Presentemente [1952] a Fundação mantém os seguintes cursos: comercial básico, técnico de contabilidade e técnico de secretariado. Desde de 1932 funciona também, mantido pela Fundação, a Faculdade de Ciências Econômicas de São Paulo que possui os seguintes cursos de grau superior: ciências econômicas, ciências contábeis e ciências atuariais. Nada menos de 53.188 alunos já passaram pelos vários cursos da Fundação e muitos deles ocupam postos de destaque na administração pública e particular. Até 1951, diplomaram-se 9.343 alunos, assim distribuídos: auxiliar de escritório, 759; guarda-livros, 783; secretários, 275; contadores e peritos contábeis, 3.597; técnico em contabilidade, 1.978, e bacharéis em ciências econômicas, 973. 

Confesso surpreso com o número de formados com o título de contador. Espera mais os concluintes com a função de guarda-livros. 

Foto: aqui

Balanço de 1944 de uma Construtora

 Ainda no O Observatório, ed. 111 de 1945, o balanço de uma construtora, a Dourado. O balanço foi assinado por um guarda-livros, que colocou seu número de registro:


Na estrutura do ativo, que também iniciava com as contas menos líquidas, obras contratadas e obras em construção:

Este era o principal ativo da empresa. Isto tinha reflexo no passivo, cuja principal conta eram oriundas das obrigações com estas obras:
Em lugar da DRE, a conta de Lucros e Perdas:

Veja que interessante: do lado do débito, as despesas; e do crédito, as receitas e o saldo do exercício anterior. 

Balanço de 1937 da Cia Antarctica

 

Eis o balanço da Companhia Antarctica Paulista, referente ao dia 31 de dezembro de 1937, publicado no O Observador Economico, ed. 027, de 1938. A empresa foi uma fabricante de cerveja conhecida, até ser adquirida pela Brahma para dar origem a Ambev. Há alguns pontos interessantes neste balanço:

(1) a ordem do ativo e do passivo (não tinha a terminologia "passivo e patrimônio líquido) é inversa. No caso do ativo, inicia-se com os valores imobiliários e a conta caixa está no final. No caso do passivo, inicia-se com Capital e Fundo de Reserva, do grupo Capital e Reservas, e finaliza com Porcentagem da Directoria. Em ambos os lados, as "contas compensadas"

(2) no ativo, o principal grupo são os imobiliários, com destaque para a instalação em São Paulo, no bairro da Mooca. Mais de 10% do ativo. O valor das instalações e máquinas neste imóvel também é elevado. Há a contabilização de "animais". Lembremos que estamos em 1937 e os animais eram usados 

(3) O valor de mercadorias é expressivo e há valores em caixa e selos dos impostos. Existe o grupo de Devedores em Conta Corrente e Títulos, que corresponderia aos Clientes dos dias atuais. Há um grupo chamado de "Valores Aleatórios", com subgrupo de Depósitos para Recursos Fiscais. O valor não é expressivo. 

(4) Do lado do passivo, metade do patrimônio líquido é capital. Boa parte do passivo é oriundo das operações, existindo um financiamento via Debêntures. 

(5) Junto, o Certificado dos Auditores - esta palavra "certificado" dá muita credibilidade, não? Moore Cross, Chartered Accountant, assinam que o balanço "demonstra a verdadeira situação financeira da Companhia naquela data". 

Não é divulgado uma demonstração de resultado ou algo próximo. Mas o relatório da diretoria é bastante amplo. A primeira página encontra-se a seguir:

O primeiro item do Relatório é "impostos". A empresa reclama da carga tributária e afirma que pagou mais imposto que o próprio capital da Companhia. Mais ainda, os impostos pagos em cinco anos foi mais de 10 vezes o volume de dividendos distribuídos. (Parece uma versão antiga da DVA). A página seguinte do relatório trata de outros assuntos:
Os títulos desta página são: Cultivo de Cevada e Lúpulo, Leis Sociais, Empréstimos por debêntures, Negócios em Geral e Distribuição dos Lucros. Com respeito a isto há um texto indicando um lucro bruto, que deduzida "despesas e encargos", inclusive "depreciação, ficou a sobra de (...)". Por sinal, o lucro líquido é bastante adequado: 7/61. [Achei bem interessante a presença da depreciação]

Na página seguinte, na continuação, a empresa apresenta a distribuição deste lucro, entre dividendos, provisão para liquidações. E o item chamado "O Malogro de Tentativas Manhosas", onde a diretoria descreve uma tentativa de um inventariante de ocupar um cargo na direção da empresa. 

Rir é o melhor remédio

 

Quando podemos aceitar o UEPS