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19 fevereiro 2021

Informator: uma parábola da era da informação


Quando Bob Fischer surgiu no mundo do xadrez, derrotando Donaldo Byrne, com 13 anos, naquela que é considerada a partida do século, o seu talento era inegável, mas enfrentava uma barreira: como melhorar seu nível. Nestes casos, as pessoas costumam estudar, mas a literatura de xadrez em língua inglesa, nos anos cinquenta do século XX, era restrita. Para contornar a situação, Fischer começou a estudar russo para conseguir entender os livros de xadrez publicados na antiga URSS. 

Na época da guerra fria, os principais jogadores de xadrez do mundo eram soviéticos ou dos países europeus sob a influência russa. Como eles jogavam bastante entre si, o desenvolvimento de um jogador de xadrez era obtido através de muito estudo e muita prática. Já os adversários ocidentais de Fischer estavam mais dispersos e não tinham a mesma qualidade. E Fischer não tinha acesso ao conhecimento soviético do xadrez e das partidas que eram jogadas do outro lado do muro de Berlim. 

A situação enfrentada por Fischer começa a mudar em 1966, quando foi publicado o primeiro número do Chess Informator. Uma criação de fortes jogadores iugoslavos, o Informator era publicado duas vezes ao ano e as principais partidas que foram jogadas nos últimos meses. Para criar o Informator, os criadores tiveram que superar duas barreiras. A primeira é a reunião das partidas que eram disputadas nos torneios; a segunda, estabelecer um processo de análise que fosse possível o entendimento em qualquer língua mundial. O primeiro problema era um típico problema de captação da informação; o segundo, de comunicação da informação.

Uma partida de xadrez tradicional é anotada por cada um dos jogadores. Ao final de cada partida, a anotação deve ser entregue para os organizadores dos jogos. Esta anotação era o documento de comprovação do resultado, sendo assinada pelos jogadores. Até o surgimento do Informator, muitas súmulas com os jogos se perdiam. É bem verdade que alguns jogadores possuem uma grande capacidade de lembrar os lances de cada partida, podendo reproduzir a partida posteriormente. Mas os demais praticantes não tinham, muitas vezes, acesso a estes jogos. 

O Informator começou a recolher as partidas disputadas e a divulgá-las mundialmente. Com o tempo, os jogadores também encaminhavam as planilhas com os lances para o editores do Informator. E também os organizadores dos torneios começaram a perceber como era interessante divulgar as partidas que aconteceram. Com persistência, o Informator resolveu o primeiro problema. 

O segundo é tornar a divulgação e a análise dos jogos acessíveis para todos. Quando um jogador move o peão do rei na quarta casa, nós anotamos P4R ou “Peão na casa 4 do Rei”. Assim, eu consigo anotar todos os lances de uma partida, indicando a peça que foi movimentada e a casa de destino. Dois problemas aqui, sendo um pequeno e outro enorme. O pequeno problema é que Rei em português é “R”, mas é K em inglês (de King) e assim por diante. O Informator resolveu este problema de língua substituindo a letra de rei pela figura do rei. Com isto estava resolvido a primeira parte. Mas outro problema era a análise. Quando analisamos um lance de xadrez, indicamos se o mesmo foi bom ou ruim, se existia uma alternativa melhor ou a razão de uma alternativa óbvia não ser boa o suficiente. Como “traduzir” isto para que todos os jogadores do mundo pudessem entender? O Informator “inventou” uma forma de comunicação genial para que a análise realizada fosse entendia por todos.

Se o lance era bom, o analista indicava uma exclamação como um sinal de qualidade do lance “!”; um lance melhor receberia duas exclamações e algo genial seria premiado por três exclamações. Um lance duvidoso receberia uma interrogação (?); lances onde há uma dúvida se seria bom ou não, mas era provável de ser um bom lance, teria uma anotação “!?”; sendo duvidoso, mas se o analista achasse que talvez não fosse bom, a anotação seria “?!” (atente para a inversão do sinal). E por aí vai. 

Com isto, a análise do jogo era fácil de acompanhar para quem fazia a tradução da linguagem de sinais do Informator. A publicação chamou a atenção do mundo. Era o grande manual do que acontecia no mundo do xadrez. Fischer, enquanto se preparava para vencer Spassky na Islândia, estudava as partidas do Informator. Se no início as partidas eram analisadas pelos editores do Informator, com o tempo, os maiores jogadores começaram a querer publicar sua análise. Pense em algum grande jogador de xadrez dos últimos 70 anos? Deve ter publicado uma análise no Informator: Fischer, Botvinnik, Karpov, Kasparov, Smyslov, Tal, Petrosian e Spassky, são alguns dos nomes. Petrosian, por exemplo, analisou 509 jogos para o Informator. Mais recentemente, Krmanik, Anand, Duda, Artemiev, entre tantos, contribuíram com sua análise.

Com o tempo, o Informator passou a selecionar os melhores jogos entre aqueles publicados, apresentar uma tabela com alguns finais, informar o resultado dos principais torneios, entre outras coisas. O número de partidas publicadas foi (ainda é) significativo. Somente Korchnoi teve 1709 partidas publicadas lá. A importância do Informator para o xadrez é tamanha que Kasparov declarou: Somos filhos do Informator. 

O Informator ainda existe. Seu site encontra-se aqui www.sahovski.com. Mas o Informator ficou ultrapassado pelas rápidas análises dos algoritmos. Pela base de dados enorme existente nos dias atuais na internet. Ultrapassado, talvez; mas nunca foi irrelevante. 

P.S. Comecei a escrever esta postagem inspirada em um texto do Chessbase. Terminei misturando algumas informações do texto com minhas lembranças pessoais. Cheguei a comprar alguns exemplares do Informator. Para quem algum dia sonhou em ser um bom jogador de xadrez, reproduzir as partidas do Informator era o máximo.

P.S.2 A ascensão e queda do Informator é muito parecida com outras situações, como os jornais, a televisão aberta e outras situações. 

Sobre a Fortuna de Britney Spears


A cantora Britney Spears voltou a ser assunto de comentários depois de que um documentário mostrou como sua fortuna estava sendo administrada pelo pai. Um movimento, o #FreeBritney, pedia que a cantora pudesse gerenciar sua fortuna. Segundo a Forbes, a fortuna de Britney, hoje, é de 60 milhões de dólares. Mas isto não é muito: 

Britney Spears estava no topo do mundo há vinte anos. Ela detinha uma temporada de quatro anos de álbuns de platina nº 1, um Grammy e uma série de turnês mundiais que lhe renderam dezenas de milhões de dólares. Em 2002, a Forbes a nomeou a celebridade mais poderosa do mundo, com uma receita estimada em US$ 40 milhões antes dos impostos e taxas.  

Em termos de ganhos e poder, ela estava à frente de suas contemporâneas Jessica Simpson e Jennifer Lopez. E ainda hoje é possível dizer que ela vendeu mais ingressos para shows e álbuns do que qualquer uma das duas. Mas quando se trata de patrimônio líquido, a ex-rainha do pop ficou para trás. Britney, que já foi uma força dominante e ascendente na cultura pop, tem um patrimônio líquido de US$ 60 milhões. Jessica e Jennifer construíram fortunas de mais de US$ 100 milhões cada uma, segundo estimativas da Forbes. Beyoncé, que começou sua carreira solo alguns anos depois de Britney deixar o Mickey Mouse Club, tem uma fortuna sete vezes mais valiosa, sem incluir nenhuma riqueza de seu marido bilionário Jay-Z. 

Então, o que deu errado? Depois de vários anos sofrendo com o abuso da mídia, Britney sofreu um colapso mental público e foi colocada sob tutela judicial em 2008. A juíza entregou o controle de sua carreira e finanças a seu pai, James, que agora é o vilão do movimento #FreeBritney, um ato que ocorre nas mídias sociais para “libertar” a cantora da tutela. 

Esse cenário não teve impactos positivos em sua carreira e em seu patrimônio. Nos últimos anos, Britney resistiu ao controle de seu pai, ao mesmo tempo em que pagava milhões de dólares em taxas legais vinculadas à tutela, que controla rigidamente seu estilo de vida e a obriga a pagar uma pensão alimentícia para seu ex-marido Kevin Federline. Documentos judiciais analisados ​​pela Forbes no ano passado revelaram que a maioria de seus ativos são mantidos em várias contas de corretagem, imóveis e dinheiro. A fortuna da estrela pop não por falta de esforço: em 2008, ela lançou cinco discos de sucesso e embarcou em seis grandes turnês. Na década seguinte, ela entregou outros quatro álbuns e quatro turnês mundiais, sendo uma delas em Las Vegas, que durou de 2013 a 2017 e arrecadou US$ 137,7 milhões, segundo a Caesars Entertainment. 

Mas as coisas começaram a ficar difíceis. Antes, a cantora era uma escolha popular para parceria com empresas como Pepsi, Skechers e Samsung, mas em 2015 ela parou de fazer comerciais de televisão. Britney não lança novas músicas desde 2016 e parou de fazer turnês em 2018. No ano seguinte, ela cancelou outra residência lucrativa em Las Vegas que a teria feito arrecadar pelo menos US$ 350 mil por noite. 

“Minha cliente me informou que tem medo do pai”, disse o advogado de Britney, Samuel D. Ingham III, no tribunal em novembro, segundo a Associated Press. “Ela não se apresentará novamente se seu pai estiver encarregado de sua carreira.” Na audiência, a cantora esperava destituir permanentemente o pai da posição de tutor. Vivian Lee Thoreen, advogada de Jamie Spears, defendeu sua administração e disse que Britney Spears estava em dívida antes da tutela: “Não acredito que existam evidências suficientes que apoiem a suspensão do meu cliente.” 

Na semana passada, um juiz concordou em manter Jamie Spears como tutor, mas atendeu ao pedido de Britney em nomear Bessemer Trust, uma fiduciária independente, como cotutora permanente. Thoreen e Spears não comentaram o ocorrido. 

Enquanto enfrentava dificuldades, vários de seus colegas astros prosperaram. Jennifer Lopez continuou a trabalhar regularmente, produzindo novas músicas, viajando pelo mundo e estrelando uma residência própria de dois anos em Las Vegas, enquanto embolsava muito dinheiro como apresentadora do “American Idol”. No ano passado, enquanto Britney seguia esquecida, J-Lo ganhou US$ 47,5 milhões ao estrelar “As Golpistas”, fazer turnês pelo mundo e ser patrocinada por marcas como L’Oreal, Kohl’s e Guess. Como artista, os ganhos de Jessica Simpson equivalem a uma pequena fração da fortuna de Jennifer e Britney, mas ela converteu sua popularidade em uma participação acionária em uma empresa de roupas e sapatos que leva o seu nome. Em 2015, ela vendeu sua participação de 62,5% no empreendimento para o Sequential Brand Group por cerca de US$ 120 milhões.  

Enquanto isso, surgia uma nova geração de ícones pop, incluindo Katy Perry, Lady Gaga, Rihanna e Taylor Swift. Taylor realizou cinco turnês mundiais desde seu álbum de estreia em 2006 – sete anos depois do lançamento de Britney Spears. Em 2018, ela embarcou no Reputation Stadium Tour 2018, que se tornou a turnê de maior bilheteria nos Estados Unidos acumulando US$ 266,1 milhões através de 2 milhões em vendas de ingressos. Suas casas, incluindo uma mansão em Rhode Island, duas em Beverly Hills e uma cobertura em Manhattan, valem mais do que toda a fortuna de Britney, sem contar seus dois jatos particulares Dassault. 

Rihanna mostrou como ganhar muito dinheiro fora dos palcos ao converter seu sucesso na música em uma mistura de empreendimentos empresariais. A Fenty Beauty, sua linha de maquiagem com a gigante francesa de luxo LVMH, acumulou mais de US$ 600 milhões em vendas em 2019. Segundo estimativas da Forbes, a participação de Rihanna na marca de cosméticos vale US$ 375 milhões. Sua participação na linha de lingerie Savage x Fenty, que na semana passada arrecadou US$ 115 milhões em sua segunda rodada de investimentos, vale mais de US$ 80 milhões. 

Ninguém sabe o que Britney teria feito se estivesse no controle de seu destino e fortuna. Mas é difícil dizer se ela teria tornado as coisas piores do que seu pai.

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Facebook versus Austrália: uma visão alternativa


Ontem a rede social Facebook bloqueou o acesso dos australianos as notícias. Era uma reação a uma medida do governo da Austrália sobre o pagamento de conteúdo na rede. Uma visão alternativa do problema aparece no The Conversation. Eis o argumento central:

Para qualquer economista, o objetivo da política de concorrência é estimular a concorrência. Nesse caso, mais opções de plataforma digital para os consumidores ou mais opções de conteúdo de notícias. 

Mas a legislação do governo parece ter sido concebida exclusivamente para cumprir nenhum dos dois. 

O código permite que as organizações de notícias negociem com grandes plataformas digitais sobre coisas como como seus algoritmos funcionam para priorizar o conteúdo e dinheiro. 

E o dinheiro é o que realmente importa. As organizações de notícias querem mais, as grandes plataformas digitais têm. É simples assim. 

O código capacita organizações de notícias a obter dinheiro de plataformas digitais por 

  • tornando-o ilegal para plataformas digitais que não pagam para fornecer links para notícias australianas, dando aos grandes meios de comunicação um poder de negociação de quase monopólio 
  • permitir que negócios sejam feitos sem a necessidade de autorização de regulador preocupado com o interesse público 
  •  fornecer um tapa-buraco regulatório caso isso não aconteça, cujo projeto é inclinado no interesse de uma das partes
Esta última etapa requer uma pequena explicação. 

Não é desconhecido, especialmente na Austrália, que a política de concorrência funcione permitindo primeiro que as partes negociem e, em seguida, impondo um acordo regulamentado apenas se elas falharem. 

E normalmente trata-se de capacitar o rapaz , na crença de que é isso que leva a resultados socialmente desejáveis. 

Saga da Wirecard continua


Um tribunal da Alemanha convocou dois auditores da empresa Ernst Young para testemunharem perante uma comissão do parlamento. O testemunho envolve o trabalho realizado na contabilidade da empresa Wirecard AG.

A empresa Wirecard entrou em colapso em 2020 e a história guarda alguns segredos ainda não revelados. Questiona-se sobre o papel de um "espião" entre os executivos da empresa, a incompetência da entidade responsável pela fiscalização do mercado de capitais do país e o lugar da contabilidade neste drama. O escandâlo só foi revelado depois de uma série de reportagens do Financial Times. Logo no início, o regulador tentou frear a investigação do jornal. Mas uma investigação realizada por outra empresa de auditoria revelou uma diferença na conta caixa da empresa de quase 2 bilhões de euros. 

A empresa EY era responsável pela auditoria da Wirecard e não viu a ausência de 2 bilhões.

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Rir é o melhor remédio


 Simplicidade em estatística

18 fevereiro 2021

Efeito do Covid nas normas contábeis

O International Accounting Standards Board (IASB), entidade que emite normas contábeis para diferentes países do mundo, inclusive o Brasil, está propondo uma alteração na norma de aluguel, a IFRS 16. Na verdade, a mudança é relativamente pequena, quando imaginamos o impacto da pandemia na empresa. 

Quando do início da pandemia, o IASB emitiu uma pequena alteração na IFRS 16. A pandemia fez com que muitos contratos de arrendamento tivessem seu pagamento alterado, uma vez que os locatários não tinham condições de arcar com os pagamentos. Em maio de 2020, o IASB propôs uma mudança na norma para adequar a situação existente. Entretanto, o problema de saúde persiste. E a medida emitida em maio partia da suposição que isto estaria "resolvido" em alguns meses. 

Mas os arrendadores continuam fazendo concessões aos arrendatários por conta do Covid. Diante da realidade que os efeitos do Covid persiste, o Iasb propõe prorrogar a emenda emitida em maio. A proposta está aberta para discussão até 25 de fevereiro de 2021 e até o final de março deve ser finalizada, devendo entrar em vigor no dia primeiro de abril. 

Provavelmente a norma deve ser aprovada no Brasil pelo CPC.  

Aqui o comunicado à imprensa. Foto aqui