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18 fevereiro 2021

Valor e Preço

 


De Damodaran:

O valor, como argumentei, é uma função dos fluxos de caixa, crescimento e risco, refletindo a qualidade do modelo de negócios de uma empresa. O preço é determinado pela demanda e pela oferta, onde, além de, ou talvez até opressor, fundamentos, você tem humor, ímpeto e vingança (...) jogados na mistura. Uma vez que os dois processos são impulsionados por forças diferentes, não há garantia de que os dois produzirão o mesmo número para um investimento ou empresa em um determinado momento:

Simplificando, você pode ter o preço maior do que o valor (supervalorizado), menor do que o valor (subvalorizado) ou aproximadamente o mesmo (razoavelmente valorizado). O último cenário é aquele em que os mercados são razoavelmente eficientes e, nesse cenário, os dois processos não vazam um para o outro. Em termos de especificações, quando o valor de uma ação é aproximadamente igual ao seu preço. (...)

No mundo real, existem muito poucas pessoas que acreditam na eficiência absoluta do mercado, mesmo com os mais fortes defensores da ideia aceitando o fato de que o preço pode desviar-se do valor para algumas ou muitas empresas. Quando isso acontece, e há uma lacuna entre preço e valor, existe o potencial para um ciclo de feedback, onde o preço de uma empresa pode afetar seu valor. Esse ciclo pode ser virtuoso (em que preços fortes para uma empresa podem aumentar seu valor) ou vicioso (em que preços fracos para uma empresa podem diminuir o valor).

Foto: aqui

Fraude, Continuidade e Auditoria


 A distância entre o que o público imagina e o que o auditor faz, com respeito a fraude e a continuidade, está sendo discutida pelo IAASB. A entidade reconhece existir uma distância entre o que o usuário imagina que a auditoria entrega e o que realmente a auditoria faz. 

Eis um trecho da introdução do documento que apresenta uma perspectiva global:

The purpose of this Discussion Paper is to gather perspectives from all our stakeholders about the role of the auditor in relation to fraud and going concern in an audit of financial statements, and to obtain input on matters about whether our standards related to fraud and going concern remain fit-for-purpose in the current environment.

The information collected will help us to make an informed decision(s)  about possible further actions – we are openminded as to how we could contribute to narrowing the expectation gap, bearing in mind our role as a standard-setter, the proportionality of any proposals and the objective of a financial statement audit.

We have set out certain matters for consideration that have been raised to us through feedback forums or research, but we are not committing to any specific actions at this stage—decisions will be made once we have an informed view about the issues that we need to address and have considered the most appropriate way to address them.

Although the primary focus of this Discussion Paper is on matters that are relevant to the IAASB’s remit (i.e. audit standardsetting and related activities), we encourage all participants in the financial reporting ecosystem to evaluate the necessary changes each stakeholder needs to implement if we, collectively, are to be successful in narrowing the expectation gap.

São citados casos recentes, onde a auditoria cometeu "falhas". 

O fato da IAASB reconhecer este "gap" (como está no documento) pode ser uma evolução. Mas pareceu tímida demais. 

Facebook versus Austrália


Tudo começou quando a Austrália passou uma lei obrigando o Facebook a pagar pelas notícias produzidas pelos editores de notícias do país. Ontem, quarta, o Facebook anuncia que não irá permitir mais links para artigos de notícias na Austrália. Ou seja, os usuários australianos não poderão conectar-se a nenhum artigo de notícia e os editores de notícias não terão permissão para postar no Facebook. Mais ainda, os usuários do Facebook no resto do mundo não poderão ver ou compartilhar os links relacionados com as fontes de notícias da Austrália (via aqui

Muito radical. Mas a Facebook fez a ameaça de retaliação antes da lei ser aprovada. O Google (que hospeda este blog) tinha feito um acordo para fazer pagamentos à News Corp, um agência de notícias da Austrália, em troca das notícias. A Microsoft também parece ter concordado. 

O Facebook diz que a lei penaliza a empresa: os usuários e editores tomaram livremente a decisão de postar artigos na rede social. 

O mercado australiano é reduzido, assim como as postagens de notícias no Facebook da Austrália. A questão é mais ampla: como ficaria se todos os países começassem a aprovar leis deste tipo? Discussão boa aqui.

Cartoon aqui

Rir é o melhor remédio


 Procrastinação

17 fevereiro 2021

Uma história da Mckinsey e da Enron


Da nota de rodapé do artigo do NakedCapitalism

Alguns de vocês devem se lembrar que o prodígio da McKinsey, Jeff Skilling, tinha a Enron como seu cliente e então abandonou o barco [da empresa de consultoria] para se tornar um executivo e posteriormente CEO [da Enron]. Em um encontro de ex-alunos da McKinsey em meados dos anos 2000, uma pessoa falou na sala: “Quantos de vocês trabalharam com Jeff Skilling?”

Cerca de 1/3 das mãos se levantaram.

Próxima pergunta: “Quantos de vocês estão surpresos por ele estar envolvido em algo que não passou no teste de cheiro?”

Nenhuma mão levantada.

Imagem: aqui

McKinsey é uma empresa do mau?


A empresa de consultoria McKinsey é muito, muito influente. Fundada há quase 100 anos, pelo professor da Universidade de Chicago James McKinsey, a empresa presta consultoria estratégica para governos e outras organizações. Como afirma o verbete da Wikipedia:

a empresa está associada com numerosos escândalos notáveis, incluindo o colapso da Enron em 2001 e a crise financeira de 2007-2008. Também está envolvida na controvérsia da Purdue Pharma, a entidade de emigração dos Estados Unidos e regimes autoritários. 

Parece forte. Mas um texto do Naked Capitalism é mais ainda: Goldman é mau, mas McKinsey é pior. 

É notável a maneira como a McKinsey vai de um desastre em outro, mas consegue se retratar como uma espécie de Zelig da América corporativa: sempre em cena, mas sem fazer nada em particular. Isso apesar do fato (por exemplo) de a McKinsey ter sido a única responsável pelo maior negócio de destruição de valor de todos os tempos (...) que foi a aquisição da AOL pela Time Warner. A McKinsey apresentou a AOL ao conselho da Time Warner cinco vezes e o conselho teve coragem de rejeitá-lo apenas quatro vezes.

Ou que tal a falência da Enron? A McKinsey estava em toda a Enron, tanto quanto a Arthur Andersen, mas não deixou impressões digitais na cena do crime, como assinar os dados financeiros da Enron ... mesmo que fosse amplamente reconhecido como tendo aprovado o tratamento contábil que afundou a Arthur Andersen. 

O foco do texto é a crise dos opoides, onde a empresa parece ter desempenhado uma função crucial. Por conta disto, pagou 600 milhões de dólares. Lembram do caso da família Gupta, da África do Sul? KPMG e McKinsey?

E Isabel dos Santos? Uma lista foi postada aqui. A resposta da pergunta do título parece ser óbvia, não?


Linguagem e desempenho: duas pesquisas

 


Dois artigos interessantes. O primeiro estabelece uma relação entre legibilidade e custo do capital. Eis o abstract:

Using a large panel of U.S. public firms, we examine the relation between annual report readability and cost of equity capital. We hypothesize that complex textual reporting deters investors' ability to process and interpret annual reports, leading to higher information risk, and thus higher cost of equity financing. Consistent with our prediction, we find that greater textual complexity is associated with higher cost of equity capital. Our results are robust to a battery of sensitivity checks, including use of multiple estimation methods, alternative proxies of annual report readability and cost of equity capital measures, and potential endogeneity concerns. In addition, we hypothesize and test whether the nature of the relation between readability and cost of capital depends on the tone of 10-K filings. Our results show that the effect of annual report complexity on cost of equity is greater when disclosure tone is more negative or more ambiguous. We also find that the effect of annual report readability on cost of equity capital depends on the degree of stock market competition, level of institutional investors' ownership, and analyst coverage.

No mesmo periódico, um artigo que analisa a relação entre a linguagem positiva e o retorno do acionista. A conclusão é importante: que exagera na linguagem positiva não entrega resultado. Eis o abstract: 

We examine S&P 500 firms over 1999–2014 that characterize their annual performance with extreme positive language. Only 18% of such firms increase shareholder value, while over 80% have either negative or insignificant abnormal returns. Our evidence suggests that firms often base their claims of extreme positive performance on high raw returns or strong relative accounting performance. In comparison to firms that generate positive abnormal returns without boasting, our sample firms tend to have superior accounting performance. We conclude that boasting about performance is rarely associated with value creation and is more consistent with an emphasis on accounting metrics.

Imagem aqui