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14 dezembro 2020

Experimentos sociais ou propaganda - 4

A empresa Momondo pediu que diversas pessoas, de diferentes lugares do mundo, indicasse sua origem. Muitos tiveram o orgulho de dizer que eram 100% de um raça (ou país), que sua família tinha lutado na guerra e outras coisas. A entrevistadora perguntou a cada pessoa se tinha algum país ou região que não gostava. Os entrevistados faziam um exame de DNA para verificar suas origens. Os resultados dos testes mostraram que nenhuma das pessoas era 100% de uma região/raça. Um golpe no preconceito e racismo.  

 Este vídeo foi visualizado por mais de 19 milhões de pessoas. Realizado em 2016.

11 dezembro 2020

Experimentos sociais ou propagandas - 3

Alguns comerciais parecem mais experimentos sociais. Este é o caso da Volks da Suécia. A empresa mostrou que as pessoas preferem a comodidade da escada rolante, em lugar de subir pela escada normal. Durante a noite, funcionarios colocaram teclas de piano na escada. Ficou divertido praticar exercício. Mais pessoas passaram usar a escada normal
   

 O vídeo teve mais de 1,5 milhão de visualizações, mas existem versões de outras cidades. Vídeo de 2009.

Airnb

A empresa Airnb é muito conhecida: compartilhamento de moradia. A empresa fez oferta pública e o resultado foi um sucesso:

Desde que a empresa se tornou um unicórnio (com valor maior de 1 bilhão de US$), o valor - baseado em ofertas privadas - tem aumentado. Em 2020, antes da oferta, a empresa teria um valor de 20 bilhões. A liquidez, proporcionada pela oferta, fez o valor disparar para 100 bilhões. Para Damodaran, isto seria excessivo. 

Adendo: aqui a reação do fundador da empresa, quando ficou sabendo da avaliação pelo mercado.

Rir é o melhor remédio

 

2021: você primeiro

10 dezembro 2020

Corrupção da Petrobras sob a visão do corruptor


A denúncia é antiga, mas agora um executivo de uma multinacional que corrompeu funcionários da Petrobras detalhou o que acontecia por aqui

 No Brasil, um executivo da Vitol entregou dinheiro a funcionários da Petróleo Brasileiro SA em troca do “número de ouro” – o preço que a Vitol deveria apresentar para vencer as licitações da estatal brasileira de petróleo. 

As revelações, oriundas de um acordo de ação penal assinado entre a unidade americana do Vitol Group e o Departamento de Justiça, fazem parte do chamado escândalo da Lava Jato no Brasil, descrito pelo chefe da Petrobras como “um MBA em corrupção”. 

Elas são um revés para todos os negociadores de commodities, minando seus esforços para se livrarem da reputação de má-fé que tem perseguido o setor desde os dias de Marc Rich, o pioneiro que passou duas décadas como fugitivo da justiça americana.  

“O risco que as empresas estão assumindo ao se verem comprometidas em tais escândalos é enorme”, disse Jean-François Lambert, consultor e ex-banqueiro de finanças comerciais. “Maus comportamentos simplesmente não são mais tolerados e tais irregularidades serão expostas mais cedo ou mais tarde”.  

Concordando em pagar pouco mais de US$ 160 milhões para reguladores nos Estados Unidos e no Brasil, a Vitol admitiu ter subornado funcionários do governo por mais de uma década, entre 2005 e 2020, mostram documentos do Departamento de Justiça.  

“Entendemos a seriedade do assunto e estamos satisfeitos que tenha sido resolvido”, disse Russell Hardy, CEO da Vitol. “Continuaremos aprimorando nossos procedimentos e controles.”  

A empresa pagou mais de US$ 8 milhões em subornos a executivos da Petrobras entre 2005 e 2014, de acordo com os documentos do Departamento de Justiça. Em troca, funcionários da petroleira brasileira passaram à empresa informações valiosas sobre suas licitações, incluindo o preço da maior oferta dos concorrentes.  

Isso significava que a Vitol poderia fazer uma oferta pelos derivados de petróleo da Petrobras exatamente ao preço que sabia que iria ganhar. Dentro da empresa, isto era conhecido como “número de ouro”, de acordo com os documentos do Departamento de Justiça. Em e-mails internos entre os operadores da Vitol, as informações dos funcionários da Petrobras eram marcadas como “PRIVADO E CONFIDENCIAL – POR FAVOR”, de acordo com um pedido da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities.  

A Petrobras afirmou que é vítima de crimes revelados pela investigação Lava Jato e está cooperando com as investigações.  

Em uma ocasião, no início de 2013, um executivo da Vitol no Brasil enviou por e-mail a seu colega em Houston o preço exato que um dos concorrentes estava cobrando por uma carga de diesel com alto teor de enxofre, segundo documentos do Departamento de Justiça. “Este é o número de ouro”, disse ele. “Ok, ótimo… vamos topar”, respondeu o operador.  

Os mecanismos que a Vitol empregou para pagar subornos não eram exatamente revolucionários.  

A Vitol SA, unidade suíça que administra grande parte das negociações da empresa, enviou dinheiro para empresas intermediárias por meio de contas bancárias nos Estados Unidos, Curaçao, Ilhas Cayman, Bahamas, Portugal e Brasil.  

Em algumas ocasiões, o dinheiro era convertido em moeda brasileira por um “doleiro”, um lavador de dinheiro profissional, antes de ser entregue em espécie a um negociador da Petrobras, segundo documentos do Departamento de Justiça.  

A Vitol e os indivíduos envolvidos no esquema criaram faturas falsas, mostrando que os pagamentos eram por serviços de consultoria e “inteligência de mercado”.  

Os comerciantes se comunicavam usando codinomes, como “Batman”, “Tiger”, “Phil Collins”, “Dolphin”, “Popeye” e “Beb”.  

“Empresas offshore, contratos de consultoria falsos, faturas falsas, contas de e-mail falsas – nada disso é novo”, disse George Voloshin, diretor de inteligência corporativa e investigações da Aperio Intelligence. “Os truques mudaram pouco desde o século passado”.  

Na semana passada, os promotores brasileiros entraram com uma ação civil contra a Trafigura e vários de seus principais executivos, alegando que a empresa também pagou subornos a executivos da Petrobras.  

A Trafigura disse que contratou o escritório de advocacia Quinn Emanuel Urquhart & Sullivan LLP para analisar as alegações. Até agora, os investigadores da empresa acreditam que “quaisquer alegações de que a atual administração esteve envolvida ou tinha conhecimento de supostos pagamentos indevidos à Petrobras não são sustentadas pelas evidências e são falsas”.  

A Glencore, maior trader de metais do mundo, não quis comentar. Já havia dito que está cooperando com a investigação brasileira.  

Organizações não governamentais dizem que as investigações e o acordo da Vitol dão crédito aos seus apelos por uma maior supervisão regulatória sobre as empresas que negociam commodities na Suíça, onde a Glencore está sediada e a Vitol e a Trafigura têm operações importantes.  

O acordo de acusação da Vitol “ilustra vividamente os riscos concretos de corrupção representados pelo comércio de commodities”, disse Anne Fishman, especialista em commodities da ONG suíça Public Eye. “Em um setor onde prevalece a opacidade, as empresas suíças estão mais uma vez nas manchetes – e pelos motivos errados. Isso mostra que a regulamentação desse setor na Suíça está muito atrasada”.  

A Vitol terá de apresentar relatórios à Seção de Fraude do Departamento de Justiça pelo menos uma vez por ano durante três anos, sobre remediação e implementação de um programa de compliance e controles internos, disse o Departamento de Justiça.  

“A Vitol está comprometida em cumprir a lei e não tolera corrupção ou práticas comerciais ilegais”, disse Russell Hardy, CEO da Vitol.  

(Tradução de Renato Prelorentzou)

Experiência pessoal e subjetividade


A contabilidade sempre foi associada a precisão e racionalidade. A números que não mentem e que representam a realidade. Isto é verdadeiro em uma visão de uma entidade ou de um conjunto de entidades. Nos últimos anos temos o fortalecimento da experiência pessoal, sobrepondo a uma análise mais abrangente e geral da realidade. As pessoas tendem a tomar sua vida e algo que ocorreu no seu passado como uma verdade absoluta, como um caso que vale para todo mundo. 

Basicamente é o seguinte: se um evento X ocorreu comigo, passo a supor que o evento X é uma realidade para todos. Um artigo da Unheard, por um autor britânico, faz uma análise deste fato. A seguir, alguns trechos selecionados:

O viés da experiência pessoal das mídias sociais também se infiltrou nas formas mais tradicionais de mídia. Os programas de notícias rígidos, mas autorizados, de minha juventude deram lugar a notícias muito mais focadas na emoção e no interesse humano, algo muito evidente no auge da pandemia. (...)

E nossas escolas também não estão imunes. Recentemente, fui convidado para falar sobre o movimento Black Lives Matter para a sexta turma de uma escola particular para meninas no norte de Londres. Eu fiz o que considero um caso liberal de ceticismo sobre duas grandes suposições associadas ao BLM, primeiro que pouco mudou para os negros nos últimos 40 anos e, segundo, que afirmar que todos os brancos são privilegiados por sua raça é uma maneira útil de promover a igualdade racial.

Citei muitos fatos sobre o avanço dos negros e outras minorias na educação e no emprego, inclusive em empregos profissionais de elite - os britânicos minoritários agora têm maior representação na classe social superior do que os brancos. Eu apontei para a própria escola particular - metade branca, metade asiática - como evidência da relativa abertura da Grã-Bretanha. Isso não caiu bem.

Depois, um grupo de meninas veio até mim e me contou sobre suas experiências de racismo na vida cotidiana. É verdade que o tipo de microagressão de que eles falavam é difícil de capturar ou quantificar em dados objetivos. E para eles, suas experiências ruins inundaram minhas estatísticas de sucesso e eles sentiram que, dando prioridade a esses fatos agregados, eu estava mostrando respeito insuficiente por suas dificuldades individuais.

(...) apegar-se exclusivamente aos "dados" pode produzir uma espécie de cegueira sobre a emoção humana (...)

Por acaso, eu tinha uma consulta com meu fisioterapeuta mestiço no mesmo dia da minha palestra da sexta série. Acontece que ele está envolvido com um pequeno grupo chamado Clube de Saúde Cultural, que está tentando tornar sua profissão mais amigável à diversidade. Perguntei qual era o problema, e ele disse que a fisioterapia era muito branca e de classe média. Eu respondi que este é um país de classe média de maioria branca, então isso dificilmente é uma surpresa. Não, disse ele, mas será que eu percebi que apenas 3% dos fisioterapeutas eram negros? Eu não sabia disso, mas ele percebeu que, de acordo com o censo, apenas pouco mais de 3% da população do Reino Unido é negra (o que significa herança negra do Caribe ou da África negra). Não, ele não tinha percebido isso.

Ele entendeu meu ponto de vista e me pediu para enviar as estatísticas relevantes. Ele mora em uma parte minoritária de Londres, onde é fácil presumir que a população negra do país é muito maior do que realmente é. Eu uso este exemplo não para desafiar ou menosprezar sua realidade - ele me contou sobre uma experiência horrível de ser rejeitado por um paciente por causa de sua raça - mas para sugerir que no argumento democrático a experiência subjetiva precisa ser combinada com algum conhecimento do quadro geral .

Algumas das questões colocadas no artigo são polêmicas - o próprio autor (Goodhart) concorda. Mas não devemos deixar de parar e pensar sobre o assunto. O recado é olhar um pouco além desta subjetividade. 

Mas fiquei me perguntando se isto não seria uma reação ao excesso de objetividade do mundo moderno. 

Contabilidade? - Tenho observado [isto é subjetivo] que os leitores das pesquisas acadêmicas gostam de artigos que contam histórias. Algumas pesquisas na área comportamental mostraram uma entidade do terceiro setor consegue uma maior contribuição dos seus parceiros quando é mais subjetivo, contando um caso de uma pessoa que será beneficiada pela entidade. Citar números não é atrativo para as pessoas. Este é um ponto aproveitado para manipular as pessoas. A subjetividade da experiência pessoal talvez seja, em essência, manipuladora.