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17 novembro 2020

Orgulho de Pagar impostos



No The Conversation o exemplo dos gregos da antiguidade, que tinha orgulho de pagar seus impostos. 

Então, qual era o raciocínio por trás desse orgulho cívico e pagador de impostos? Os antigos atenienses não estavam apenas abrindo suas carteiras para promover o bem comum. Eles esperavam obter um alto retorno na estima pública com os investimentos em sua comunidade que seus impostos representavam .

Esse capital social era tão valioso porque a cultura ateniense tinha o dever cívico em alta conta. Se um ateniense rico acumulava sua riqueza, ele era ridicularizado e rotulado de "homem ganancioso" que "pede emprestado aos hóspedes que ficam em sua casa" e "quando vende vinho a um amigo, ele o vende aguado!"

Imagem aqui

Taylor Swift

Em 2019 o empresário americano Scooter Braun adquiriu a gravadora Big Machine por cerca de US$ 300 milhões. Nessa operação foram incluídos os masters, direitos sobre as gravações de diversos artistas enquanto na gravadora, inclusive os seis primeiros álbuns da cantora Taylor Swift. A cantora então se envolveu em uma longa disputa com o empresário para adquirir os direitos sobre a própria obra.

Agora, segundo a revista Variety, Braun não é mais o titular dos masters da cantora, já que os revendeu a um fundo de investimento misterioso por mais de US$ 300 milhões. Ele recuperou todo o investimento feito na Big Machine com apenas a venda dos masters da Taylor.



VI CCG

 




Rir é o melhor remédio

 


16 novembro 2020

Os Delatores da Petrobras foram punidos; os demais foram absolvidos


A CVM julgou os gestores da Petrobras, os auditores responsáveis pelo relatório de auditoria no período de 2007 a 2014 e os membros dos Conselhos. O resultado final foi horrível, o pior possível. Poucas pessoas foram punidas. Mas nada melhor do que as palavras de um dos diretores da CVM para o resultado final. Elas dizem tudo (grifo do blog):  

Ao encerrar a sessão, o Diretor Henrique machado [sic] consignou que, a par do elevado debate jurídico, travado na forma dos minuciosos votos proferidos pelos membros deste Colegiado, a declaração do resultado deste julgamento impõe uma reflexão sobre as razões de fato e de direito que culminaram na condenação exclusiva dos membros da diretoria da Petrobras que colaboraram com as investigações em sede criminal. Em seu entendimento, tratar-se-ia de um sinal de inadequação de estruturas jurídicas e administrativas.

Mas não foi somente isto. Estamos em 2020 e julgando algo que ocorreu há anos. A CVM adota o processo eletrônico e por várias vezes ocorreu o pedido de vistas. Isto não faz muito sentido (conheço um pouco de processo eletrônico para afirmar isto). Passar a responsabilidade para algo vago, como "inadequação de estruturas jurídicas e administrativas" é cômodo. A CVM poderia ter feito diferença neste processo. Não fez. 

Foto:aqui

Valor de um asteroide


Existem diversos exemplos em que a mensuração tem sido utilizada para monetizar itens estranhos. Uma reportagem da CNN, sobre um asteroide, destaque ele vale mais do que toda a economia da Terra. Este asteroide, muito distante do sol, chama-se 16 Psyche e não é muito grande. O corpo celeste deve ser constituído de ferro e níquel. O link chega a estimar o valor do asteroide em 10.000 quatrilhões. 

Sobre essa estimativa impressionante de que Psyche pode valer $ 10.000 quatrilhões, Elkins-Tanton [cientista que estuda o corpo celeste] diz que assume a responsabilidade por chegar a esse número durante as entrevistas quando a missão da NASA foi anunciada pela primeira vez em 2017. Enquanto a conversa sobre a mineração de asteroides para obter recursos está se desenvolvendo aqui na Terra, Psyche não é o alvo pelo qual devemos nos esforçar, de acordo com Elkins-Tanton. "Não podemos trazer Psique de volta à Terra. Não temos absolutamente nenhuma tecnologia para fazer isso", disse Elkins-Tanton. Mesmo se fosse possível trazer de volta os metais de Psyche sem destruir a Terra, isso provavelmente causaria o colapso dos mercados, disse Elkins-Tanton. "Existem todos os tipos de problemas com isso, mas ainda é divertido pensar sobre quanto valeria um pedaço de metal do tamanho de Massachusetts." 

Provavelmente a cientista fez uma conta simples: quantidade de minério vezes o preço atual no mercado de commodities. Mas como o texto encarrega de destacar que a presença desta quantidade de minério faria desabar o preço no mercado e que seria hoje impossível "explorar o minério". 

Eis um problema do uso do valor de mercado para mensuração. 

Perdido por cem, perdido por mil


Uma boa lembrança ao analisar as demonstrações deste ano:

Este é o ano do “perdido por cem, perdido por mil”. É um ano muito mau para muitos negócios. É um ano em que maus resultados estão imediatamente justificados. É um ano em que os gestores nem têm que dar muitas explicações. Já todos sabem que é mau. O mercado já sabe que vai ser mau. Tão mau, que apresentar prejuízos de 100 ou de 1000 pouco importa, pois é de qualquer forma um ano perdido.

Nestes anos, qual poderá ser a tentação dos gestores? Se o ano está perdido e está, se já vamos apresentar tão maus resultados, então porque não apresentar piores ainda?

E porquê esta motivação dos gestores? Porque, quanto piores forem os resultados este ano, maior é a probabilidade de para o ano a empresa conseguir mostrar melhores resultados, indiciando ao mercado recuperação e crescimento. Tal faz-se à custa de “limpezas” no ativo e/ou pressão no passivo.

Em terminologia anglo-saxónica a expressão usada é “big bath accounting”. Em português tenho adotado “perdido por cem, perdido por mil”.

As limpezas num determinado ano no ativo, feitas, principalmente, à custa de imparidades, traduzem-se em resultados superiores em anos futuros. Constituir imparidades sobre ativos fixos tangíveis, ativos intangíveis ou investimentos financeiros implica, nesse ano, reconhecer gastos. Se forem excessivas, para o ano reverte-se, dando lugar ao reconhecimento de rendimentos e, simultaneamente, uma ilusão de recuperação.

Se forem imparidades excessivas no goodwill, cuja reversão é proibida, no ano seguinte tem-se menores amortizações (quando a empresa usa SNC) ou, pelo menos, é menor a probabilidade de reconhecer imparidade adicional (caso a empresa utilize normas internacionais de contabilidade). Sendo amortizações excessivas, para o ano amortiza-se menos. Sendo imparidades excessivas sobre créditos, ou mesmo incobráveis, para o ano recebe-se os créditos e realiza-se rendimento. Abates excessivos de imobilizado, para o ano são menos amortizações.

Na verdade, qualquer diminuição ou desreconhecimento de ativos num determinado ano, origina ou diretamente rendimento no futuro (via anulação ou reversão) ou, pelo menos, menores gastos. De qualquer das vias, com maior ou menor efeito, traduz-se em maiores resultados do que aquele que se apresentaria na ausência dessa prática.

Também o reforço do passivo é suscetível de “big bath accounting”, usando-se, principalmente, a rubrica de provisões. Provisões excessivas num ano originam gastos nesse ano, é certo, mas rendimentos no ano em que são revertidas. E por aqui se vê que 2020 é um ano para se estar muito atento às contas. É um ano em que a leitura do balanço tem que ser acompanhada de perto da análise do anexo e da interpretação cuidada de tendências e rácios. É um ano em que não dispensa (nunca se deveria dispensar…) a leitura atenta da certificação legal das contas.

A compreensão integral das contas de 2020, e principalmente das estimativas que lhe são intrínsecas, permite avaliar a quota-parte dos resultados de 2021 que traduzirão efetivamente recuperação e crescimento.