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14 novembro 2020

Entendo o caso da auditoria de empresas Chinesas


Uma das “brigas” na contabilidade atual é a questão da fiscalização dos trabalhos de auditoria de empresas chinesas com ações negociadas em uma bolsa de valores dos Estados Unidos. 

Tudo começou com a crise da empresa Enron, em 2001. Para evitar uma nova crise, que abalou a confiança do mercado no trabalho de auditoria nos Estados Unidos, o legislativo, sob o comando de Sarbanes e Oxley, fizeram uma reforma. Esta nova regra, conhecida como lei Sarbanes-Oxley ou lei Sarbox, criou o PCAOB, que faria a supervisão independente das empresas de auditoria, com inspeções rotineiras. Pela lei, todas empresas listadas em uma bolsa nos Estados Unidos deveria ser auditada por uma empresa registrada no PCAOB.  

Algumas empresas chinesas, ou com sede em paraísos fiscais mas com capital chinês na sua origem, poderiam ser inspecionadas. O governo chinês negou que inspetores do PCAOB cumprissem a lei. A China argumentava que a contabilidade de empresas chinesas seria “segredo de estado”. Além disto, o governo forçou que as grandes empresas de auditoria cedessem o controle das filiais chinesas para os chineses. Finalmente, no início de 2020, formalizou-se a proibição de cooperação com reguladores estrangeiros.  

Tudo isto faz com que a qualidade das demonstrações contábeis de empresas chinesas seja questionável. Não se sabe como os auditores trabalham na China. Isto atinge, inclusive, empresas multinacionais, que possuem negócios no país asiático. O laço entre os controladores das empresas com o poder na China torna tudo mais complicado; muitas empresas são instrumentos do governo chinês, conforme diversas denúncias. 

O pouco que se sabe é que a qualidade das demonstrações das empresas é ruim. O caso recente do café Luckin mostrou uma empresa que enganou facilmente seu auditor (ok, isto não é exclusividade dos chineses e Wirecard está aí para provar). E uma inspeção feita em uma auditoria realizada pela Marcum LLP também mostrou isto. Além disto, a atitude do governo chinês, que impõe uma regra tão rígida para todas as empresas, é um indicativo deste ponto.  

Leia mais aqui , incluindo o caso da Marcum

Cartoon via aqui

Golpe do namoro on-line

Saiu no The New York Times uma manchete me chamou a atenção por ter relação com um livro que estou lendo atualmente, que fala sobre golpes. O título traduzido da postagem é algo como “como me envolvi em um golpe romântico mundial”.

A história resumida é a seguinte: o Michael, que escreve o texto, recebeu mensagens no Instagram o alertando que a sua foto estava sendo utilizada em um golpe. As mulheres explicaram que conheceram online a pessoa alegando ser ele, se apaixonaram e o golpista eventualmente solicitou dinheiro.

Com isso, o Michael percebeu que as fotos dele estavam circulando em vários lugares, em diferentes tipos de perfis: um corretor de bolsa de Chicago, um policial florestal de Oregon, um passeador de cães que se chamava Larry. Ele não tinha controle sobre isso.

Uma das pessoas que o contatou repassou um número de WhatsApp e o Michael entrou em contato com o golpista. Conversa vai, conversa vem, ele convenceu o golpista que ele era o verdadeiro Michael. O golpista então explicou que com a pandemia perdeu o emprego e precisava sustentar a família. Essa foi uma forma que ele encontrou de tentar conseguir dinheiro, mas segundo ele, não deu certo. A parte que me surpreendeu na história? O golpista é brasileiro. E pra piorar a história, tentou convencer o Michael com a conversa triste dele e também pediu dinheiro! O Michael se dispôs a doar US$ 25 pra ele, que ele achou pouco.

Segundo o FBI essa é uma das formas mais comuns de fraude online. Está cada dia mais fácil pedir dinheiro para estranhos e esta semana mesmo recebi uma mensagem de alguém bem aleatório no WhatsApp me solicitando uma transferência bancária. (Aqui vale ressaltar que a principal dica para que o seu whatsapp não seja clonado é a verificação em duas etapas.)

É triste quando vemos brasileiros fazendo parte de histórias como essa.

Rir é o melhor remédio

 


13 novembro 2020

Os últimos anos de Stan Lee


Stan Lee foi um dos maiores autores de comics de todos os tempos. Ele foi responsável pelo Homem-aranha, Homem de aço, Thor, Hulk, Black Panther, Demolidor, entre outros heróis. 

A história de Lee também pode ser um exemplo para o ensino de Finanças Pessoais. Ou melhor, como "não" gerenciar suas finanças pessoais. No final da vida, Lee foi vítima de abuso por parte de pessoas próximas, que usaram Lee, seu patrimônio e fama, para enriquecerem. Em alguns casos, roubaram objetos pessoais de Lee, inclusive dinheiro. É uma história bem triste

Para quem se interessar, recomendo fortemente este texto, em espanhol, sobre as desventuras de Lee e sua exploração por parte dos seguranças, advogados e, até, sua única filha. Eis um trecho:

Los retrasos llevan a aplazamientos, y los acusados permanecen en sus casas como el resto de nosotros este año. Como en tantos casos de abuso de adultos mayores, los que involucran el patrimonio de Lee probablemente se reducirán a "él dijo, ella dijo". Excepto que, en esta situación, hay un circo de tres pistas de ladrones y actores que pueden no haber tenido los mejores intereses de Lee en el corazón, en una farsa que se prolongó durante años. Llamémoslo una estafa muy larga, pero "esos tipos de relaciones son mucho más difíciles de señalar como perpetradores", dijo el fiscal de abuso de adultos mayores, Paul Greenwood. "Siempre digo que cuanto más tiempo se conozcan la víctima y el sospechoso, más difícil será establecer más allá de toda duda razonable que se ejerció una influencia indebida sobre esa persona, porque a veces la lealtad es recompensada".

Disney apresenta prejuízo bilionário

Saiu na Exame:

A gigante do entretenimento Disney divulgou resultados anuais na noite de ontem (12/11) [...]. A companhia teve perda de 2,8 bilhões de dólares no ano fiscal de 2020. O resultado é reflexo do impacto da pandemia do novo coronavírus na empresa, que tem como pilares de seu negócio os parques temáticos, o cinema e a transmissão de jogos esportivos. Todas atividades interrompidas pela necessidade de isolamento social. 

No ano fiscal encerrado em 3 de outubro, a receita da Disney com parques temáticos despencou 37%, enquanto o faturamento do setor de filmes caiu 13%. Ainda assim, a receita total teve queda de apenas 6%. A queda mais tímida foi suficiente para animar investidores. Após o balanço, a ação da companhia subia 5,7% no after hours em Nova York. 

O que salvou a companhia foi o streaming. No últimos meses, o Disney + ganhou 16 milhões de assinantes, quase o dobro do esperado por analistas do mercado. Com isso, o serviço tem hoje mais de 73 milhões de assinantes, apenas um ano após seu lançamento. O resultado é que a receita da divisão de negócios direto ao consumidor, que inclui o serviço de streaming Disney +, saltou 81%, chegando a 17 bilhões de dólares no ano fiscal de 2020. 

[...]

Ainda assim, a Disney precisa de seu negócio de parques temáticos para poder respirar aliviada. A companhia teve prejuízo de 710 milhões de dólares em seu quarto trimestre fiscal, ante lucro de 777 milhões de dólares no mesmo período do ano anterior. No ano fiscal, a perda foi de 2,8 bilhões de dólares, ante lucro de 10,4 bilhões de dólares no ano fiscal anterior. Uma reabertura completa só deve ocorrer quando houver uma vacina eficaz contra o novo coronavírus. 

Para se manter até lá, a companhia tem feito mudanças internas importantes, para reforçar suas operações de streaming. Em outubro, anunciou que colocaria redes de TV, estúdio de cinema e divisões que lidam diretamente com o consumidor dentro de um grande grupo chamado Mídia e Entretenimento.

Pandemia como uma questão de informação


Dos textos sobre a pandemia, este apresenta que o problema da pandemia não é de saúde pública, mas é um problema de informação. Isto parece muito estranho, mas ao final da leitura ficamos convencidos dos argumentos apresentados. 

O que precisamos saber é se uma pessoa pode colocar em risco a saúde das demais. Sabendo disto, podemos isolar esta pessoa, até sua cura, evitando a propagação do vírus. Em outras palavras, precisamos melhorar a nossa informação se alguém é infeccioso. Os testes usados, especialmente o PCR, são caros e demoram para sair o resultado. 

Essas desvantagens levaram um número crescente de especialistas em pandemia (como Michael Mina de Harvard, Carl Bergstrom da Universidade de Washington e Eric Topel de Stanford) a defender testes de antígenos que custam apenas US $ 1 a US $ 5 por pessoa e retornam os resultados em cinco minutos . Em vez de procurar fragmentos de RNA, esses testes buscam indicadores de que o vírus se infiltrou nas células. No entanto, os fabricantes de testes rápidos de antígenos têm dificuldade em obter aprovação regulamentar para eles. Os reguladores querem aprovar testes que possam dizer com precisão se alguém está infectado, para que os médicos possam confiar neles para prescrever o tratamento médico.

Mas o problema de informação que enfrentamos é diferente: queremos identificar pessoas infecciosas (em vez de infectadas) para que aquelas que podem espalhar o vírus possam evitar outras. E queremos fazer isso o mais cedo possível. O problema é que alguém pode ser infeccioso antes de apresentar os sintomas, o que geralmente leva as pessoas a fazerem um teste de PCR.

Enquadrar o problema como encontrar pessoas quando estão infectadas pode mudar o padrão pelo qual os reguladores julgam um teste. Uma pessoa é infecciosa quando tem uma grande carga viral presente. Mas o teste de PCR também identifica as pessoas como positivas quando têm uma carga viral baixa. (...)

Assim, com o teste rápido poderia ser usado em lugar de "medir" a temperatura das pessoas que estão entrando em um restaurante, clube ou local de trabalho. 

O autor do texto é Joshua Gans, que está lançando o livro The Pandemic Information Gap: The Brutal Economics of Covid-19 pela MIT Press. 

Contabilidade? - Há muito o que aprender com a pandemia e aplicar na contabilidade. As técnicas de rastreamento da doença possuem uma analogia óbvia com alguns dos principais problemas contábeis, como a questão do crédito de liquidação duvidosa. 

Uber e o comportamento humano

 


Nos últimos anos, os pesquisadores estão usando um grande número de dados para tentar entender o comportamento humano. Em lugar de partir de uma teoria e tentar provar na prática o que está ocorrendo, os pesquisadores fazem o caminho inverso: juntam os dados, analisam, descobrem fatos e buscam a teoria para justificar a realidade. 

Muitas pessoas acreditam que o caminho mais adequado é o primeiro. Ou seja, temos que ter uma teoria antes de começar uma investigação. Isto é uma grande besteira. Algumas das grandes descobertas científicas utilizaram o segundo caminho. Por exemplo, o entendimento sobre o efeito da vitamina C como paliativo do escorbuto, que atormentava as tripulações dos barcos no passado, só foi possível usando o segundo método. Outro exemplo? O uso da penicilina no tratamento médico. 

Este tipo de abordagem é cada vez mais comum nas ciências humanas e nas ciências sociais aplicadas. E tem sido usado em finanças comportamentais também. Usando um grande número de dados, os pesquisadores estão fazendo descobertas. Muitas vezes não conseguem uma explicação razoável para os achados, mas isto não impede que tenhamos um melhor entendimento sobre o comportamento humano. As grandes empresas de dados, como Google, Facebook, Netflix ou Uber, perceberam que precisavam deste tipo de pesquisa. E tinham as informações disponíveis. Muitos pesquisadores notaram a riqueza que desta informação e começaram a usar os dados na pesquisa. 

Veja o caso do Uber. São milhões de motoristas em todo mundo, cada um fazendo um grande número de viagens e tudo isto registrado nos computadores da empresa. Com base nesta informação, a empresa contratou um pesquisador, John List, que fez algumas descobertas interessantes. Eis algumas delas:

** Quando um cliente tem uma experiência ruim com a empresa, a melhor forma de reter o cliente é pedindo desculpas e mostrando que a empresa foi punida pela incompetência. Esta punição pode ser um bônus para uma próxima viagem. Esta estratégia reduz a perda de clientes.

** Se o erro se repetir, a estratégia do pedido de desculpas, juntamente com o bônus, deixa de funcionar. 

** A pesquisa descobriu que os motoristas homens ganham 7% a mais, por hora, do que as motoristas. Isto é interessante, já que a expectativa seria de ganhos iguais. Há diversas especulações sobre o motivo deste resultado: as mulheres geralmente trabalham de Uber em horários menos lucrativos e os homens motoristas dirigem mais rápido (2,5% a mais) são duas das explicações. 

** Os clientes do gênero feminino são mais seletivos na gorjeta do que os clientes masculinos. E as motoristas mulheres recebem gorjetas maiores. 

** A regra do primeiro digito da esquerda, muito conhecida no comércio, também vale para a corrida do Uber. Uma redução de preço de $15 para $14,99 gera um impacto parecido com o corte de $15,99 para $15

Figura: aqui