Nos últimos anos, os pesquisadores estão usando um grande número de dados para tentar entender o comportamento humano. Em lugar de partir de uma teoria e tentar provar na prática o que está ocorrendo, os pesquisadores fazem o caminho inverso: juntam os dados, analisam, descobrem fatos e buscam a teoria para justificar a realidade.
Muitas pessoas acreditam que o caminho mais adequado é o primeiro. Ou seja, temos que ter uma teoria antes de começar uma investigação. Isto é uma grande besteira. Algumas das grandes descobertas científicas utilizaram o segundo caminho. Por exemplo, o entendimento sobre o efeito da vitamina C como paliativo do escorbuto, que atormentava as tripulações dos barcos no passado, só foi possível usando o segundo método. Outro exemplo? O uso da penicilina no tratamento médico.
Este tipo de abordagem é cada vez mais comum nas ciências humanas e nas ciências sociais aplicadas. E tem sido usado em finanças comportamentais também. Usando um grande número de dados, os pesquisadores estão fazendo descobertas. Muitas vezes não conseguem uma explicação razoável para os achados, mas isto não impede que tenhamos um melhor entendimento sobre o comportamento humano. As grandes empresas de dados, como Google, Facebook, Netflix ou Uber, perceberam que precisavam deste tipo de pesquisa. E tinham as informações disponíveis. Muitos pesquisadores notaram a riqueza que desta informação e começaram a usar os dados na pesquisa.
Veja o caso do Uber. São milhões de motoristas em todo mundo, cada um fazendo um grande número de viagens e tudo isto registrado nos computadores da empresa. Com base nesta informação, a empresa contratou um pesquisador, John List, que fez algumas descobertas interessantes. Eis algumas delas:
** Quando um cliente tem uma experiência ruim com a empresa, a melhor forma de reter o cliente é pedindo desculpas e mostrando que a empresa foi punida pela incompetência. Esta punição pode ser um bônus para uma próxima viagem. Esta estratégia reduz a perda de clientes.
** Se o erro se repetir, a estratégia do pedido de desculpas, juntamente com o bônus, deixa de funcionar.
** A pesquisa descobriu que os motoristas homens ganham 7% a mais, por hora, do que as motoristas. Isto é interessante, já que a expectativa seria de ganhos iguais. Há diversas especulações sobre o motivo deste resultado: as mulheres geralmente trabalham de Uber em horários menos lucrativos e os homens motoristas dirigem mais rápido (2,5% a mais) são duas das explicações.
** Os clientes do gênero feminino são mais seletivos na gorjeta do que os clientes masculinos. E as motoristas mulheres recebem gorjetas maiores.
** A regra do primeiro digito da esquerda, muito conhecida no comércio, também vale para a corrida do Uber. Uma redução de preço de $15 para $14,99 gera um impacto parecido com o corte de $15,99 para $15
Figura: aqui