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03 outubro 2020

Retratos da leitura no Brasil

O Instituto Pró-Livro e o Itaú Cultural publicaram a 5ª edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil” que tem como objetivo conhecer o comportamento do leitor. Foram realizadas 8.076 entrevistas, em 208 municípios. O período da coleta ocorreu entre outubro de 2019 e janeiro de 2020.

Em 2015, ano em que a pesquisa foi publicada anteriormente, éramos 104,7 milhões de leitores no Brasil. Em 2019 este número caiu para 100,1 milhões. Quanto ao formato preferido, 67% opta por livros em papel, 17% digitais, e para 16% tanto faz.

Entre os leitores, 82% (77% em 2015) gostaria de ter lido mais e não o fez principalmente por falta de tempo. Achei interessante que entre os não leitores o maior motivo para não se ler também foi a falta de tempo, e não o fato de não se gostar de ler – que foi o segundo colocado.

Quando perguntados sobre o que a leitura significa, tanto o público leitor, quanto o não leitor concordam que a leitura traz conhecimento e ensina a viver melhor.

A pesquisa é bem interessante, há um bocado de informação, inclusive por região, e para acessá-la basta clicar: aqui.

02 outubro 2020

Medo ou Conservadorismo?


Daniel T. Blumstein é um biólogo da Universidade da Califórnia. Recentemente lançou um livro chamado The Nature of Fear. E escreveu um artigo sobre o medo na The Scientist. Eis trechos do artigo que achei interessante:

Todos os animais, do passado e do presente, devem avaliar os riscos de predação com risco de vida e tomar decisões para evitar ou de outra forma gerenciar esses riscos. É um equilíbrio delicado: ter muito medo custa caro se cautela significar que você perderá comida, companheiros ou outros recursos importantes. Ser muito descarado pode acabar muito mal. Indivíduos bem-sucedidos são aqueles que acertam esses trade-offs e, por causa disso, deixam relativamente mais descendentes. (...)

Uma das principais lições que aprendi é que o risco é onipresente e que é impossível eliminá-lo completamente. O medo é uma emoção natural e um motivador poderoso. Na verdade, os humanos compartilham com muitos animais a tendência de superestimar o risco (é melhor prevenir do que remediar!). Isso nos torna vulneráveis ​​a políticos com intenções malévolas que fazem anúncios atraentes que exploram nossos sistemas neurofisiológicos de medo de maneira eficiente. Uma vez que alimentem nosso medo, eles nos dizem que suas políticas propostas garantirão nossa segurança. Mas pense por um momento antes de apoiar esses criadores de medo. Em última análise, devemos aprender a gerenciar nossos riscos. Políticos confiáveis ​​nos conduzem por um caminho de gestão de risco eficiente e reconhecem que a incerteza é natural e onipresente. (...)

É um tesouro herdado, um poderoso aliado. No entanto, também é um companheiro irritante e às vezes intolerável. É uma bússola que, quando devidamente calibrada, nos guia para longe do perigo e para a oportunidade. Cooptado e transformado, pode nos levar por caminhos destrutivos que muitas vezes colocam em risco nossa própria humanidade.

Contabilidade? - Fiquei pensando se o conservadorismo do contador não seria originário do medo. Assim, teria uma raiz na evolução do homem. Assim, o contador seria o individuo com excesso de cautela, mas que pode "perder" a comida por este motivo. O interessante é que o autor considera o lado positivo do medo, ao contrário de alguns que associam o medo (e o conservadorismo) com algo negativo. 

Rir é o melhor remédio

01 outubro 2020

Elites que criam e elites que extraem valor

O estudo das elites é antigo na área de ciências sociais. As elites dominam a economia de um país e gerencia os seus recursos. Uma maneira mais objetiva para tratar este assunto é o Elite Quality. Baseado em um trabalho desenvolvido por professores de universidades europeias (disponível aqui), é possível determinar como as elites "moldam o desenvolvimento humano e econômico, o destino das sociedades, a riqueza das nações e sua ascensão e queda". Haveria dois tipos de elites: de alta qualidade, que possuem um modelo de negócio de Criação de Valor, pois dão mais à sociedade do que recebem, e de baixa qualidade, que fazem o oposto, ou seja, recebem mais do que dão. As elites de baixa qualidade extraem valor. 

Usando 72 índices, os pesquisadores construiram um Elite Quality Index (EQx) para 32 países. A relação dos índices inclui corrupção, participação da mulher no poder, investimentos estrangeiros no país, entre outros. O resultado mostra: o sucesso do modelo germânico (Suíça em segundo e Alemanha em terceiro), a elevada qualidade das elites anglo-saxônicas (Reino Unido e Estados Unidos em quarto e quinto) e uma China emergente (12o. lugar), o que faz com que os BRICS sejam na verdade BRIS, com países onde a elite extrai valor. 

Podemos não gostar do termo usado ("elites"), mas os autores afirmam que as elites são uma certeza (Surpresa 1), que podem ser de elevada qualidade (fato 1), que determina o desenvolvimento econômico e humano (hipótese). As elites são essenciais na coordenação da sociedade (Surpresa 2), mas podem extrair valor se forem de baixa qualidade (fato 2):

Eis um trecho sobre o Brasil (27o. em 32 países)

O Brasil fez progressos desde a restauração de sua democracia em 1985, especialmente recuperando e mantendo o controle da inflação. No entanto, no momento, a fé precisa ser restaurada no governo, com a pontuação do país abaixo da média em todas as áreas de índice. A fim de garantir um caminho de crescimento robusto de longo prazo e alcançar seus pares do BRIC, as elites devem fazer a transição para modelos de negócios de Criação de Valor, ao mesmo tempo que proporcionam condições favoráveis aos negócios e ao empreendedorismo na economia.

IFRS para sustentabilidade


A Fundação IFRS, que promulga as normas internacionais de contabilidade, está abrindo consulta para a possibilidade de termos um padrão sobre sustentabilidade. Atualmente há diversas entidades tentando criar um padrão que inclua a questão ambiental, social e de governança (sigla ESG). 

No início de setembro o Carbon Disclosure Project, o Climate Disclosure Standards Board, o Global Reporting Initiative, o International Integrated Reporting Council e o Sustainability Accounting Standards Board fizeram uma declaração conjunta (via aqui) favorável a um maior alinhamentos das estruturas. Haveria uma demanda por padrões únicos em razão do crescimento dos investimentos com a preocupação ambiental, social e na governança das empresas. 

Uma proposta é a criação de um conselho específico para a questão da sustentabilidade. As empresas Big Four, de auditoria, também lançaram um documento com métricas sobre o assunto. Isto não deixa de ser estranho, pois não seria papel destas empresas trabalhar a criação de normas. 

Diante da pressão, os curadores da Fundação IFRS divulgaram uma consulta para avaliar a demanda por padrões na área de sustentabilidade. Conforme a resposta, a IFRS pode lançar na tarefa de tentar uma padronização de um assunto que certamente será uma dor de cabeça para a fundação. Mas pode indicar a existência de uma demanda - ou não - por um padrão único. A consulta irá até o final do ano e tem o apoio do IFAC. 

É importante salientar que nos últimos anos a Fundação IFRS trabalhou na conclusão dos diversos projetos iniciados em parceria com o Fasb a partir do acordo de Norwalk. Isto incluiu os padrões de seguros, instrumentos financeiros, estrutura conceitual (ainda não terminado), receita e leasing. Quando ocorreu os descolamento dos projetos, o Fasb - que possui uma experiência e uma estrutura melhor - tratou das suas demandas. Isto inclui uma melhoria na estrutura conceitual e uma atenção maior para o terceiro setor. 

A Fundação não tinha a questão da sustentabilidade na sua agenda. Mas as preocupações recentes e - talvez - a possibilidade de criação de um padrão fora do Iasb deve ter demandado uma pressão para a consulta. 

Rir é o melhor remédio

Ontem faleceu o Quino, cartunista argentino criador da Mafalda. Quem nos acompanha há algum tempo sabe do nosso carinho pelas tirinhas dessa menina esperta, que leva o leitor não só a rir, como também a pensar e refletir. Hoje, em um “Rir” especial, deixamos algumas homenagens que encontramos no Instagram.









30 setembro 2020

EY sabia dos problemas da Wirecard em 2016


A fraude na Wirecard trouxe vexame para sua empresa de auditoria, a EY. Os auditores passaram anos sem fazer uma checagem da conta bancária e no final faltaram quase 2 bilhões de euros na conta corrente da empresa. 

Recentemente o presidente da EY fez uma mea culpa do auditor. Mas parece que isto não será suficiente. O jornal Financial Times revelou que em 2016 um empregado da EY relatou suspeita de suborno e que os executivos da Wirecard poderiam estar cometendo fraude. Quase quatro anos antes do problema ter sido divulgado ao público. 

A notícia surgiu a partir da investigação que foi realizada por outra empresa de auditoria, a KPMG, que encontrou este fato. Entretanto, a informação terminou não sendo divulgada no relatório da KPMG, que implodiu a empresa alemã e o esquema de fraude existente. O Going Concern enfatiza que o Financial Times, novamente, apresenta uma investigação bem apurada sobre o fato. 

O documento obtido pelo FT é importante

O adendo de 61 páginas descreve as conclusões da KPMG que não estavam diretamente sob sua responsabilidade, mas que a empresa considerou tão significativa que decidiu relatá-las de qualquer maneira. O adendo, visto pelo Financial Times, equivale a uma acusação contundente da EY. De acordo com a KPMG, o denunciante não identificado da EY, em maio de 2016, enviou uma carta à sede da EY Alemanha em Stuttgart. A carta não abordou toda a extensão do esquema de fraude global da Wirecard que se desfez este ano, mas se concentrou em uma das quatro áreas contenciosas que foram o foco da auditoria especial da KPMG no final de 2019: uma série de aquisições na Índia que a Wirecard havia fechado no início 2016. A Wirecard pagou € 340 milhões pela Hermes i, GI Technology e Star Global, três empresas de pagamentos que comprou de uma entidade opaca de Maurício chamada Emerging Market Investment Fund 1A. O denunciante da EY afirmou que a “Wirecard Germany senior management” detinha direta ou indiretamente participações na EMIF 1A e, portanto, estava envolvida em um conflito de interesses.

Para complicar, parece que escândalo está chegando na política alemã:

Em uma peça de "análise de notícias" publicada no jornal de terça-feira, o FT relata que o escândalo está se aproximando cada vez mais da chanceler Angela Merkel, que certa vez fez um favor pessoal a um executivo sênior da Wirecard em nome da empresa.

Foto: aqui