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03 outubro 2020

Intangíveis: capitalizar ou não capitalizar


Dois textos distintos discutem a questão da capitalização do intangível ou não. Há uma discussão contábil importante aqui, já que muitos acreditam que a contabilidade está perdendo relevância pelo fato de só levar em consideração no seu balanço o intangível adquirido (vide uma discussão sobre isto em Capitalism without Capital. Quem sabe algum dia faço uma resenha sobre a obra)

O primeiro artigo é uma pesquisa que se mostra que a capitalização pode não ser útil na identificação dos retornos esperados. Ou seja, pode não ser útil no processo decisório. Veja um trecho:

Os intangíveis desenvolvidos internamente estimados contêm poucas informações adicionais sobre os fluxos de caixa futuros da empresa, além do que está contido nos fluxos de caixa atuais da empresa . Além disso, não encontramos evidências convincentes de que a capitalização de intangíveis desenvolvidos internamente estimados produza prêmios de valor e lucratividade consistentemente mais altos.

O segundo texto é sobre um evento denominado International Forum of Accounting Standard Setters (IFASS). Neste evento, o Fasb, através de Christine Botosan, apresentou uma posição um pouco diferente:

apresentou a visão daqueles que acreditam que há um problema que precisa ser resolvido por meio de reconhecimento adicional de intangíveis. Seus argumentos incluíam: a falha em reconhecer itens intangíveis importantes subestima o valor contábil do patrimônio líquido e o desempenho financeiro; a falha em reconhecer itens intangíveis importantes reduz a relevância das demonstrações financeiras; o reconhecimento de alguma quantia é melhor do que nenhum reconhecimento: Desafios de medição não devem impedir o reconhecimento; e as preocupações com a verificabilidade não devem impedir o reconhecimento.

Esta é uma posição diferente do regulador canadense, por exemplo, que acredita na evidenciação adicional. 

Traduzindo a Voz

A forma como as pessoas falam pode ser um importante meio de comunicação. Os cientistas estão explorando a voz para fazer diagnóstico de doenças, como Covid-19 ou depressão. Eis duas figuras que mostram com a voz se altera para uma pessoa com depressão versus uma pessoa normal:


Há diferenças claras no registro das duas vozes. Os cientistas acreditam que será possível caracterizar o jeito que uma pessoa saudável fala em relação a uma pessoa com doença. Para isto, usando uma análise sofisticada que inclui inteligência artificial, estas diferenças podem ser notadas e funcionar como um primeiro diagnóstico. E ao falar com Alexa ou Siri, o programa pode identificar um problema de saúde. 

As pesquisas estão na fase inicial e existem alguns problemas para resolver. 

Contabilidade? - O registro da voz também pode ser usado para identificar uma mentira de um fraudador quando estiver ocorrendo uma auditoria em uma empresa; pode ser útil para identificar se uma pessoa que está fazendo uma operação em uma entidade está agindo de maneira correta ou sob pressão; pode ajudar a identificar executivos mentirosos em uma assembleia dos acionistas (lembram do primeiro episódio de Lie to Me?)

Rir é o melhor remédio

 

Máscaras para prevenir a transmissão, por grau de efetividade. Do Zorro até Mistério. Fonte: XKCD

Retratos da leitura no Brasil

O Instituto Pró-Livro e o Itaú Cultural publicaram a 5ª edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil” que tem como objetivo conhecer o comportamento do leitor. Foram realizadas 8.076 entrevistas, em 208 municípios. O período da coleta ocorreu entre outubro de 2019 e janeiro de 2020.

Em 2015, ano em que a pesquisa foi publicada anteriormente, éramos 104,7 milhões de leitores no Brasil. Em 2019 este número caiu para 100,1 milhões. Quanto ao formato preferido, 67% opta por livros em papel, 17% digitais, e para 16% tanto faz.

Entre os leitores, 82% (77% em 2015) gostaria de ter lido mais e não o fez principalmente por falta de tempo. Achei interessante que entre os não leitores o maior motivo para não se ler também foi a falta de tempo, e não o fato de não se gostar de ler – que foi o segundo colocado.

Quando perguntados sobre o que a leitura significa, tanto o público leitor, quanto o não leitor concordam que a leitura traz conhecimento e ensina a viver melhor.

A pesquisa é bem interessante, há um bocado de informação, inclusive por região, e para acessá-la basta clicar: aqui.

02 outubro 2020

Medo ou Conservadorismo?


Daniel T. Blumstein é um biólogo da Universidade da Califórnia. Recentemente lançou um livro chamado The Nature of Fear. E escreveu um artigo sobre o medo na The Scientist. Eis trechos do artigo que achei interessante:

Todos os animais, do passado e do presente, devem avaliar os riscos de predação com risco de vida e tomar decisões para evitar ou de outra forma gerenciar esses riscos. É um equilíbrio delicado: ter muito medo custa caro se cautela significar que você perderá comida, companheiros ou outros recursos importantes. Ser muito descarado pode acabar muito mal. Indivíduos bem-sucedidos são aqueles que acertam esses trade-offs e, por causa disso, deixam relativamente mais descendentes. (...)

Uma das principais lições que aprendi é que o risco é onipresente e que é impossível eliminá-lo completamente. O medo é uma emoção natural e um motivador poderoso. Na verdade, os humanos compartilham com muitos animais a tendência de superestimar o risco (é melhor prevenir do que remediar!). Isso nos torna vulneráveis ​​a políticos com intenções malévolas que fazem anúncios atraentes que exploram nossos sistemas neurofisiológicos de medo de maneira eficiente. Uma vez que alimentem nosso medo, eles nos dizem que suas políticas propostas garantirão nossa segurança. Mas pense por um momento antes de apoiar esses criadores de medo. Em última análise, devemos aprender a gerenciar nossos riscos. Políticos confiáveis ​​nos conduzem por um caminho de gestão de risco eficiente e reconhecem que a incerteza é natural e onipresente. (...)

É um tesouro herdado, um poderoso aliado. No entanto, também é um companheiro irritante e às vezes intolerável. É uma bússola que, quando devidamente calibrada, nos guia para longe do perigo e para a oportunidade. Cooptado e transformado, pode nos levar por caminhos destrutivos que muitas vezes colocam em risco nossa própria humanidade.

Contabilidade? - Fiquei pensando se o conservadorismo do contador não seria originário do medo. Assim, teria uma raiz na evolução do homem. Assim, o contador seria o individuo com excesso de cautela, mas que pode "perder" a comida por este motivo. O interessante é que o autor considera o lado positivo do medo, ao contrário de alguns que associam o medo (e o conservadorismo) com algo negativo. 

Rir é o melhor remédio

01 outubro 2020

Elites que criam e elites que extraem valor

O estudo das elites é antigo na área de ciências sociais. As elites dominam a economia de um país e gerencia os seus recursos. Uma maneira mais objetiva para tratar este assunto é o Elite Quality. Baseado em um trabalho desenvolvido por professores de universidades europeias (disponível aqui), é possível determinar como as elites "moldam o desenvolvimento humano e econômico, o destino das sociedades, a riqueza das nações e sua ascensão e queda". Haveria dois tipos de elites: de alta qualidade, que possuem um modelo de negócio de Criação de Valor, pois dão mais à sociedade do que recebem, e de baixa qualidade, que fazem o oposto, ou seja, recebem mais do que dão. As elites de baixa qualidade extraem valor. 

Usando 72 índices, os pesquisadores construiram um Elite Quality Index (EQx) para 32 países. A relação dos índices inclui corrupção, participação da mulher no poder, investimentos estrangeiros no país, entre outros. O resultado mostra: o sucesso do modelo germânico (Suíça em segundo e Alemanha em terceiro), a elevada qualidade das elites anglo-saxônicas (Reino Unido e Estados Unidos em quarto e quinto) e uma China emergente (12o. lugar), o que faz com que os BRICS sejam na verdade BRIS, com países onde a elite extrai valor. 

Podemos não gostar do termo usado ("elites"), mas os autores afirmam que as elites são uma certeza (Surpresa 1), que podem ser de elevada qualidade (fato 1), que determina o desenvolvimento econômico e humano (hipótese). As elites são essenciais na coordenação da sociedade (Surpresa 2), mas podem extrair valor se forem de baixa qualidade (fato 2):

Eis um trecho sobre o Brasil (27o. em 32 países)

O Brasil fez progressos desde a restauração de sua democracia em 1985, especialmente recuperando e mantendo o controle da inflação. No entanto, no momento, a fé precisa ser restaurada no governo, com a pontuação do país abaixo da média em todas as áreas de índice. A fim de garantir um caminho de crescimento robusto de longo prazo e alcançar seus pares do BRIC, as elites devem fazer a transição para modelos de negócios de Criação de Valor, ao mesmo tempo que proporcionam condições favoráveis aos negócios e ao empreendedorismo na economia.