Há 50 anos Milton Friedman publicava um
artigo no New York Times Magazine sobre a responsabilidade social dos negócios. Trata-se de um manifesto onde Friedman afirmava que a responsabilidade é aumentar os lucros. Trata-se, talvez, da frase mais citada, da ideia econômica mais relevante do século XX. Influenciou a política econômica de Ronald Reagan e Margaret Thatcher.
Friedman foi professor da Universidade de Chicago, prêmio Nobel de Econômica e faleceu em 2006, aos 94 anos de idade. O jornal NY Times preparou uma edição especial com artigos sobre o tema. Para quem recebe a newsletter de Andrew Sorkin por e-mail é possível ter um bom resumo dos artigos. Alguns dos artigos não concordam com os argumentos de Friedman, como o artigo de Schulz (Starbucks).
Eis um trecho interessante:
A visão de primazia do acionista da corporação - que dá pouca voz aos trabalhadores, clientes e comunidades que são impactados pelas decisões corporativas - tem sido o modus operandi do capitalismo dos Estados Unidos. Por que essa visão se tornou tão dominante? Uma justificativa era prática. Em vez de ser solicitado a equilibrar vários interesses, muitas vezes conflitantes, entre as partes interessadas, o gerente recebe uma função objetiva simples. Mais importante, porém, era a crença ingênua, dominante na escola de Chicago na época, de que o que é bom para os acionistas é bom para a sociedade - uma crença que se apoiava no pressuposto de mercados em perfeito funcionamento. Infelizmente, esses mercados perfeitos existem apenas em livros de economia. (Marianne Bertrand, da Universidade de Chicago)
De Daniel Loeb:
O ensaio atemporal de Friedman ressoa hoje à medida que a América corporativa abraça o "capitalismo das partes interessadas", um conceito popular que é inconsistente com a lei. O capitalismo das partes interessadas distorce o incentivo que leva os investidores a arriscar seu capital: a promessa de lucro em seu investimento. Portanto, compartilho da preocupação de Friedman de que um movimento em direção à priorização de "partes interessadas" mal definidas pode permitir que alguns executivos busquem agendas pessoais - ou simplesmente camuflem sua própria incompetência (até que seja claramente revelada por baixos retornos para os acionistas). [Isto faz lembrar a confusão da Estrutura Conceitual em definir o usuário principal da contabilidade. Será válida a crítica de Loeb?]
Erika Karp tenta conciliar as duas visões (crítica de Bertrand e apoio de Loeb) com uma ressalva: impor o termo "longo prazo" na frase de Friedman.
Há uma ponto de ciúme na análise de Stiglitz quando diz:
Eu dei uma palestra na Universidade de Chicago por volta dessa época, apresentando uma versão inicial da minha pesquisa estabelecendo que, na presença de mercados de risco imperfeitos e informações incompletas - isto é, sempre - as empresas que buscam a maximização do lucro não levam à maximização da sociedade bem-estar. Expliquei o que havia de errado com a conjectura da mão invisível de Adam Smith, que dizia que a busca do interesse próprio levaria, como se por uma mão invisível, ao bem-estar da sociedade. Durante o seminário, e em longas conversas posteriores, Friedman simplesmente não podia ou não queria aceitar o resultado; mas tampouco, é claro, ele poderia refutar a análise - já se passou meio século e minha análise resistiu ao teste do tempo. Sua conclusão, por mais influente que tenha sido, não foi.
Hubbard lembra que o argumento de Friedman foi polêmico e ainda é polêmico. Mas é mais ou menos correto.
No ProMarket, Oliver Hart, nobel de Economia, faz uma análise do ensaio de Friedman.