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09 setembro 2020

Precificar ou Avaliar?


Precificar ou Avaliar? Depende da situação. Veja um exemplo (‘O valor da Amazônia tem de ser precificado’, diz Rubens Ometto - Entrevista com Rubens Ometto Silveira Mello, presidente do conselho de administração do Grupo Cosan - O Estado de S.Paulo, 9 set 2020)

Em tempos de ‘novo normal’ – que nem sabemos o que é – como a Cosan reage às novas prioridades?

Estamos no agronegócio e na energia renovável. O Brasil tem grandes vantagens nos dois setores. Temos a matriz energética mais limpa do mundo, por meio de hidrelétricas, energia solar, energia eólica, do etanol que você adiciona à gasolina, do álcool que se usa diretamente nos carros flex fuel. Outra coisa marcante é a produção de grãos, somos o celeiro do mundo. E o Brasil tem solo, ótima qualidade da terra, chuva na hora correta. E temos a Amazônia. O mundo está pendurado na Amazônia. Ela é o maior sequestrador de carbono do planeta e produtora de oxigênio. Tem de ser muito valorizada.

De que forma?

O Brasil tem de montar campanha. E não cair na armadilha de alguns países e empresas. Claro que você tem maus empresários, que praticam crimes na Amazônia, mas não é tudo isso que sai na imprensa. Eu vivi isso há 20 anos atrás, quando o etanol começou a crescer e o setor sucroalcooleiro foi muito atacado. Diziam que ele ia invadir a Amazônia – e nada disso aconteceu. Hoje, as empresas que fazem agronegócio em outras partes do mundo tentam arrumar uma taxação pra proteger seus produtores. Acho que temos de contra-atacar. Essa Amazônia vale ouro para o mundo e isso precisa ser precificado. Tem muita gente lá fora que depende disso pra trabalhar e se sustentar.

O mais adequado seria "avaliado". Mas certamente "precificar" parece mais culto. Imagem: aqui

Quando a análise incremental não é usada ...


Uma das lições básicas da disciplina de custo é que a análise da decisão é feita sob a ótica incremental (ou marginal). Assim, na decisão de continuar ou parar uma obra, a análise deveria ser feita verificando os custos de cada uma das situações. Aqueles valores que não se alteram, não deve ser levado em consideração. Básico. 

Mas em alguns casos percebemos como esta lição não foi apreendida (ou esquecem de forma proposital). Em uma reportagem sobre a usina Angra 3, o Estado de S Paulo toma a opinião de várias pessoas, incluindo o presidente da Eletronuclear. Eis o trecho que provoca calafrios:

A decisão de prosseguir com a obra justifica-se, em boa medida, pelo alto custo que teria a decisão de desistir de Angra 3. Guimarães [presidente da Eletronuclear] confirma que para abandonar o projeto a Eletronuclear teria de arcar com uma fatura da ordem de R$ 12 bilhões, somando financiamentos já sacados e contratos firmados com dezenas de fornecedores.

Ora, o financiamento irá existir, independente se a obra irá ou não continuar. Ou seja, é irrelevante para decisão. 

Rir é o melhor remédio

 

Quando Putin oferece chá e você é alérgico a cianeto

08 setembro 2020

Co-autoria sem permissão

Recentemente o Retration Watch publicou um caso de uma pesquisa que foi retratada por uma motivo aparentemente insólito: a retirada de co-autoria de uma artigo, que foi publicado sem autorização de alguns pesquisadores (veja o caso aqui). 

Esta situação é mais comum que imaginado. Há alguns dias, atuando como diretor do Congresso da UnB, recebi uma solicitação parecida de um professor: retirada de seu nome de um artigo que foi submetido por sua orientanda, em conjunto com ele e outro professor. Este professor não tinha autorizado a inclusão do seu nome.  

Qual a razão disto ocorrer? Várias possíveis respostas. Em primeiro lugar, a inclusão de um nome "conhecido" pode dar mais visibilidade para a pesquisa que está sendo publicada. Este é um motivo forte e talvez seja a grande razão para isto ocorrer, em qualquer área. 

A segunda razão é uma falha de comunicação. Em muitos processos colaborativos, não fica claro as fronteiras. No passado recebi uma proposta de um pesquisador e seu orientando de incluir meu nome na pesquisa por já ter feito orientação sobre o assunto. Achei que isto não era motivo suficiente e recusei [o artigo acabou sendo publicado em um periódico de bom nível]. Aqui a comunicação foi clara. Mas parece que isto nem sempre ocorre. No caso citado do congresso, a orientanda do professor sequer mandou uma comunicação para seu orientador dizendo que estava fazendo a submissão e quais os nomes que constariam do trabalho. 

A terceira razão são algumas regras que criamos. Aqui as situações são diversas, mas limito a tratar de regras que são construídas em alguns programas de pós-graduação (inclusive o que coordeno), que induzem a produção conjunta entre orientador e orientando. Em muitos casos, só é possível a defesa com a co-autoria. 

Mesmo que estas regras são estejam explicitas, ainda assim são fortes o suficiente para induzir a situação como esta. Veja o caso de um aluno de graduação que fez o trabalho sob orientação (e grande sugestão) do seu orientador. O trabalho foi submetido e aprovado no congresso, somente com um autor. Logo depois, este aluno aparece para o processo seletivo e o seu orientador da graduação, que seria o orientador natural, recusa este encargo. Sabe ele que o trabalho conjunto com o aluno não será reconhecido como tal. Ou seja, seu esforço não será recompensado com a produção. 

Ao longo da minha trajetória, já tive casos onde fui co-autor sem merecer, mas já tive casos que não apareci como participante da pesquisa, apesar de ter feito parte dela. Da minha parte, eu percebo que os primeiros casos são mais difíceis de serem lembrados; mas o segundo grupo, quando participamos da pesquisa e não somos considerados, são inesquecíveis. 

Acho que esta discussão cabe em uma aula de ética. Ou de metodologia. Mas o ponto fundamental é a comunicação franca entre as pessoas que estão fazendo a pesquisa. 

Guerra de espionagem no desenvolvimento da vacina e o elo fraco das universidades

 As universidades em todo o mundo estão no esforço do desenvolvimento de uma vacina para o Covid. A espionagem dos países sabe que a proteção dos dados nestes entidades não é tão forte assim. Diversos serviços de inteligência estão tentando descobrir o que cada país tem em termos do avanço para a descoberta da vacina. Eis um trecho de um reportagem do Estado de S Paulo (Corrida pela vacina contra o coronavírus cria duelo entre agências de espionagem - Julian E. Barnes e Michael Venutolo-Mantovani, The New York Times , O Estado de S.Paulo, 7 set 2020):

Oficiais de inteligência chineses estão focados nas universidades em parte porque consideram as proteções de dados dessas instituições menos robustas do que as das empresas farmacêuticas. Mas o trabalho de espionagem também está se intensificando à medida que os pesquisadores compartilham mais candidatos a vacinas e tratamentos antivirais no processo de revisão por pares, dando aos adversários uma chance melhor de obter acesso às formulações e estratégias de desenvolvimento de vacinas, disse um funcionário do governo americano informado sobre a inteligência.

Eis o infográfico do jornal:


Contabilidade? - parte da proteção dos dados passa pelo processo de governança corporativa e controles internos. A possibilidade dos dados das pesquisas serem roubados pode significa uma grande perda para as entidades que estão fazendo pesquisa. 

Economia na pandemia e o mercado acionário


Spence apresenta uma explicação sobre o descolamento entre o que está ocorrendo na economia (uma recessão brutal) e a euforia do mercado de capitais em diversos lugares do mundo:

Muitos concluíram que o mercado está desvinculado da realidade econômica. Mas, visto de outra forma, os mercados de ações de hoje podem estar parcialmente refletindo poderosas tendências subjacentes amplificadas pela "economia pandêmica". Os preços das ações e os índices de mercado são medidas de criação de valor para os proprietários de capital, o que não é a mesma coisa que criação de valor na economia em geral, onde trabalho e capital tangível e intangível desempenham um papel.

Além disso, os mercados refletem os retornos reais esperados do capital no futuro. Quando se trata de medir o valor presente da renda do trabalho, simplesmente não existe um índice prospectivo comparável. Em princípio, então, se houver uma recuperação econômica antecipada significativa, as perspectivas para a renda do capital e do trabalho poderiam ser semelhantes, mas apenas o futuro esperado do capital seria refletido no presente.

Mas há mais para a história. As avaliações de mercado são cada vez mais baseadas em ativos intangíveis, principalmente na propriedade e controle de dados, o que confere seus próprios meios de criação de valor e monetização. De acordo com um estudo recente do S&P 500, as ações de empresas com altos níveis de capital intangível por funcionário registraram os maiores ganhos neste ano, e quanto menos capital intangível por funcionário as empresas tiveram, pior foi o desempenho de suas ações.

Para o nobel de economia, esta é uma tendência que só fez acelerar com a pandemia:

Em outras palavras, a criação de valor incremental nos mercados e no emprego é divergente. E embora isso fosse verdade mesmo antes da pandemia, a tendência agora se acelerou. Existem pelo menos duas razões para isso. Um é a rápida adoção de tecnologias digitais como parte da resposta às medidas de bloqueio.

A segunda é que muitos setores intensivos em mão de obra (que normalmente agregam valor principalmente com mão de obra e capital tangível) foram parcial ou totalmente desligados como resultado de bloqueios, distanciamento social e aversão ao risco do consumidor.

No caso do Brasil, há um fator adicional: a baixa taxa Selic. Veja o trecho explicativo da Exame:

A diferença deste ciclo de IPOs e ofertas de ações em relação à euforia de 13 anos atrás é a taxa básica de juros — sempre ela. Em 2006, a Selic iniciou o ano estimada em mais de 17% ao ano e, após um ciclo de cortes, terminou 2007 pouco acima de 11%. Em termos conceituais, uma companhia precisava oferecer uma perspectiva de retorno acima de dois dígitos para competir com o investimento no chamado ativo livre de risco, os títulos públicos.

Agora, com a Selic a 2% ao ano, um ativo não precisa de tanto esforço para ser competitivo e mais interessante, o que abre espaço para um número cada vez maior de companhias. 

Rir é o melhor remédio

 

Espere um pouco que 2020 está acabando