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08 setembro 2020

Co-autoria sem permissão

Recentemente o Retration Watch publicou um caso de uma pesquisa que foi retratada por uma motivo aparentemente insólito: a retirada de co-autoria de uma artigo, que foi publicado sem autorização de alguns pesquisadores (veja o caso aqui). 

Esta situação é mais comum que imaginado. Há alguns dias, atuando como diretor do Congresso da UnB, recebi uma solicitação parecida de um professor: retirada de seu nome de um artigo que foi submetido por sua orientanda, em conjunto com ele e outro professor. Este professor não tinha autorizado a inclusão do seu nome.  

Qual a razão disto ocorrer? Várias possíveis respostas. Em primeiro lugar, a inclusão de um nome "conhecido" pode dar mais visibilidade para a pesquisa que está sendo publicada. Este é um motivo forte e talvez seja a grande razão para isto ocorrer, em qualquer área. 

A segunda razão é uma falha de comunicação. Em muitos processos colaborativos, não fica claro as fronteiras. No passado recebi uma proposta de um pesquisador e seu orientando de incluir meu nome na pesquisa por já ter feito orientação sobre o assunto. Achei que isto não era motivo suficiente e recusei [o artigo acabou sendo publicado em um periódico de bom nível]. Aqui a comunicação foi clara. Mas parece que isto nem sempre ocorre. No caso citado do congresso, a orientanda do professor sequer mandou uma comunicação para seu orientador dizendo que estava fazendo a submissão e quais os nomes que constariam do trabalho. 

A terceira razão são algumas regras que criamos. Aqui as situações são diversas, mas limito a tratar de regras que são construídas em alguns programas de pós-graduação (inclusive o que coordeno), que induzem a produção conjunta entre orientador e orientando. Em muitos casos, só é possível a defesa com a co-autoria. 

Mesmo que estas regras são estejam explicitas, ainda assim são fortes o suficiente para induzir a situação como esta. Veja o caso de um aluno de graduação que fez o trabalho sob orientação (e grande sugestão) do seu orientador. O trabalho foi submetido e aprovado no congresso, somente com um autor. Logo depois, este aluno aparece para o processo seletivo e o seu orientador da graduação, que seria o orientador natural, recusa este encargo. Sabe ele que o trabalho conjunto com o aluno não será reconhecido como tal. Ou seja, seu esforço não será recompensado com a produção. 

Ao longo da minha trajetória, já tive casos onde fui co-autor sem merecer, mas já tive casos que não apareci como participante da pesquisa, apesar de ter feito parte dela. Da minha parte, eu percebo que os primeiros casos são mais difíceis de serem lembrados; mas o segundo grupo, quando participamos da pesquisa e não somos considerados, são inesquecíveis. 

Acho que esta discussão cabe em uma aula de ética. Ou de metodologia. Mas o ponto fundamental é a comunicação franca entre as pessoas que estão fazendo a pesquisa. 

Guerra de espionagem no desenvolvimento da vacina e o elo fraco das universidades

 As universidades em todo o mundo estão no esforço do desenvolvimento de uma vacina para o Covid. A espionagem dos países sabe que a proteção dos dados nestes entidades não é tão forte assim. Diversos serviços de inteligência estão tentando descobrir o que cada país tem em termos do avanço para a descoberta da vacina. Eis um trecho de um reportagem do Estado de S Paulo (Corrida pela vacina contra o coronavírus cria duelo entre agências de espionagem - Julian E. Barnes e Michael Venutolo-Mantovani, The New York Times , O Estado de S.Paulo, 7 set 2020):

Oficiais de inteligência chineses estão focados nas universidades em parte porque consideram as proteções de dados dessas instituições menos robustas do que as das empresas farmacêuticas. Mas o trabalho de espionagem também está se intensificando à medida que os pesquisadores compartilham mais candidatos a vacinas e tratamentos antivirais no processo de revisão por pares, dando aos adversários uma chance melhor de obter acesso às formulações e estratégias de desenvolvimento de vacinas, disse um funcionário do governo americano informado sobre a inteligência.

Eis o infográfico do jornal:


Contabilidade? - parte da proteção dos dados passa pelo processo de governança corporativa e controles internos. A possibilidade dos dados das pesquisas serem roubados pode significa uma grande perda para as entidades que estão fazendo pesquisa. 

Economia na pandemia e o mercado acionário


Spence apresenta uma explicação sobre o descolamento entre o que está ocorrendo na economia (uma recessão brutal) e a euforia do mercado de capitais em diversos lugares do mundo:

Muitos concluíram que o mercado está desvinculado da realidade econômica. Mas, visto de outra forma, os mercados de ações de hoje podem estar parcialmente refletindo poderosas tendências subjacentes amplificadas pela "economia pandêmica". Os preços das ações e os índices de mercado são medidas de criação de valor para os proprietários de capital, o que não é a mesma coisa que criação de valor na economia em geral, onde trabalho e capital tangível e intangível desempenham um papel.

Além disso, os mercados refletem os retornos reais esperados do capital no futuro. Quando se trata de medir o valor presente da renda do trabalho, simplesmente não existe um índice prospectivo comparável. Em princípio, então, se houver uma recuperação econômica antecipada significativa, as perspectivas para a renda do capital e do trabalho poderiam ser semelhantes, mas apenas o futuro esperado do capital seria refletido no presente.

Mas há mais para a história. As avaliações de mercado são cada vez mais baseadas em ativos intangíveis, principalmente na propriedade e controle de dados, o que confere seus próprios meios de criação de valor e monetização. De acordo com um estudo recente do S&P 500, as ações de empresas com altos níveis de capital intangível por funcionário registraram os maiores ganhos neste ano, e quanto menos capital intangível por funcionário as empresas tiveram, pior foi o desempenho de suas ações.

Para o nobel de economia, esta é uma tendência que só fez acelerar com a pandemia:

Em outras palavras, a criação de valor incremental nos mercados e no emprego é divergente. E embora isso fosse verdade mesmo antes da pandemia, a tendência agora se acelerou. Existem pelo menos duas razões para isso. Um é a rápida adoção de tecnologias digitais como parte da resposta às medidas de bloqueio.

A segunda é que muitos setores intensivos em mão de obra (que normalmente agregam valor principalmente com mão de obra e capital tangível) foram parcial ou totalmente desligados como resultado de bloqueios, distanciamento social e aversão ao risco do consumidor.

No caso do Brasil, há um fator adicional: a baixa taxa Selic. Veja o trecho explicativo da Exame:

A diferença deste ciclo de IPOs e ofertas de ações em relação à euforia de 13 anos atrás é a taxa básica de juros — sempre ela. Em 2006, a Selic iniciou o ano estimada em mais de 17% ao ano e, após um ciclo de cortes, terminou 2007 pouco acima de 11%. Em termos conceituais, uma companhia precisava oferecer uma perspectiva de retorno acima de dois dígitos para competir com o investimento no chamado ativo livre de risco, os títulos públicos.

Agora, com a Selic a 2% ao ano, um ativo não precisa de tanto esforço para ser competitivo e mais interessante, o que abre espaço para um número cada vez maior de companhias. 

Rir é o melhor remédio

 

Espere um pouco que 2020 está acabando

07 setembro 2020

Corinthians e o nome do estádio

 Recentemente comentamos sobre a dívida do Corinthians. Ilustramos o texto com a seguinte figura:


Logo depois, o clube anunciou que tinha conseguido comercializar o nome do seu estádio com a empresa Hypera Pharma. Logo após o anúncio, as ações da empresa tiveram um aumento no preço:


Aparentemente o mercado entendeu que houve um ganho para a empresa. Basicamente:

O acordo com a Hypera Pharma renderá R$ 300 milhões pelos próximos 20 anos [para o Corinthians], R$ 15 milhões por ano, reajustados pelo índice IGP-M anualmente. O estádio deixa de ser Arena Corinthians para ser batizado como Neo Química Arena, laboratório do grupo. (Felipe Lobo, Trivela, 4 set 2020)

Talvez o fim não esteja tão próximo assim. Para o Corinthians. 

Exame de suficiência de 2020

 O Conselho Federal de Contabilidade informou que os resultados do exame de suficiência de 2020 estão disponíveis:

A Consulplan divulgou, nesta quarta-feira (2), o resultado preliminar da primeira edição do Exame de Suficiência de 2020 do Conselho Federal de Contabilidade (CFC). A prova reuniu cerca de 40 mil candidatos, no dia 16 de agosto, e foi realizada na modalidade “a distância”. Desse total, 38,19% dos candidatos foram aprovados. O resultado final do exame sairá no prazo de até 50 dias, contados após a aplicação das provas.

A prova deste ano, em razão da pandemia, foi modificada para não presencial. Ocorreram reclamações com respeito ao seu andamento. Veja a relação de aprovação dos últimos anos (coleta da orientanda Luana Oliveira):

O percentual deste ano não apresenta uma grande divergência dos anos anteriores. 


Rir é o melhor remédio

 

Contratando alguém pela metade do preço