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26 agosto 2020

Executivo que afundou a empresa ganha bônus de desempenho


A lei dos Estados Unidos restringe o pagamento de bônus para os executivos de empresas que declararam falência. O que está ocorrendo agora? Um pouco antes de decretar a falência, a empresa efetua uma boa remuneração para estes executivos, alegando que isto é importante para "reter" um bom executivo. O mesmo que não impediu o problema da empresa. Parece sem sentido, e é mesmo. Na verdade é malandragem. Eis um texto sobre o assunto do Financial Times (Companhias pagam bônus antes de falência, Valor, 24 de agosto, Joe Rennison e James Khan):

Empresas em todos os Estados Unidos têm dado bônus de “retenção” multimilionários a altos executivos pouco antes de declararem falência, o que enfurece credores, que classificam esses pagamentos de recompensa por fracassos.

A prática se tornou comum entre empresas em dificuldades e levadas ao extremo pela pandemia do coronavírus. A lista inclui quebras de grande visibilidade, como as de JC Penney, Hertz e Neiman Marcus; empresas pressionadas pela recessão no setor de energia, como a Whiting Petroleum; e grupos menores cujas receitas foram prejudicadas pela crise de saúde pública, como a centenária fabricante de motores para cortadores de grama Briggs & Stratton. 

(...) Mas os credores têm revidado, especialmente contra empresas que premiaram gestores que presidiram o afundamento de seus negócios. É frequente que pagamentos de retenção sejam concedidos semanas ou dias antes de que os grupos demitam trabalhadores e se recusem a pagar empréstimos.

(...) Brad Holly, executivo-chefe da Whiting, recebeu US$ 6,4 milhões em março, dentro de um novo programa de compensação aprovado pela diretoria, que ele preside, menos de uma semana antes de a empresa entrar com pedido de falência. A Whiting, que espera sair do Capítulo 11 da Lei de Falências no mês que vem, informou que Holly deixaria o cargo de executivo-chefe quando isso acontecer e receberia US$ 2,53 milhões adicionais como indenização rescisória.

Prêmios de retenção concedidos às vésperas de declarações de falência tornaram-se mais comuns nos últimos anos, na esteira de uma lei de 2005 que restringiu o pagamento de bônus após a empresa entrar em processo de falência. Os críticos dizem que eles burlam a lei, cujo objetivo era limitar indenizações para executivos com a empresa está em dificuldades.

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Rir é o melhor remédio

 


Lawrence Ward: A Disney irá refilmar Esqueceram de Mim. Esta é uma petição para que eles escalem novamente o Macauley Culkin de 38 anos como o Kelvin McCallister de 9 anos e faça com que ninguém no filme reconheça isso.

Macauley Culkin: Eu tenho um grande problema com esta petição. Na verdade eu tenho 39 anos.

25 agosto 2020

Tarda e Falha ? - Parte 3

Nem bem acabei de postar sobre o pedido de vista, percebo que a CVM divulgou parte do julgamento da Petrobras. A parte é o julgamento dos administradores e conselheiros fiscais. A parte dois e três, os auditores. Em resumo, a questão é a aplicação do impairment entre 2010 a 2014. 

Foram condenados os ex-presidente Gabrielli (multa de R$ 150 mil), o diretor de RI Almir Barbassa (idem), o diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa (idem). Especificamente o teste na Refinaria Abreu e Lima, Graças Foster (idem), Almir Barbassa (idem), José Cosenza (idem), além dos conselheiros de administração (Francisco Albuquerque, Sérgio Quintella e Josué Gomes da Silva, todos com a mesma multa). Mas foram absolvidos outros dirigentes, incluindo Aldemir Bendine, Ivan de Souza Monteiro, Guido Mantega, entre outros. 

Sobre os auditores, a KPMG (e os técnicos Manuel F de Sousa e Bernardo Peixoto Neto) teve a sessão suspensa pelo pedido de vista [E o SEI, pergunto eu?], assim como da sessão PwC.

Tarda e Falha - Parte 2

 

Sobre o julgamento da Petrobras na CVM (aqui a postagem de ontem), o mesmo foi adiado:

Foi adiado o desfecho do caso em que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) analisa se 17 ex-diretores e conselheiros de administração da Petrobrás violaram seu dever de diligência ao aprovar obras bilionárias da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco. O julgamento iniciado nesta segunda-feira, 24, foi suspenso por um pedido de vista do diretor Gustavo Gonzalez. O relator do caso, Henrique Machado, votou por condenações que somariam R$ 10,5 milhões ao grupo. (Mariana Durão, Estado de S Paulo, 25 de agosto de 2020)

Confesso que não entendo bem. A CVM usa o SEI para seus processos eletrônicos. Isto permite que o relator do caso possa disponibilizar o assunto com antecedência e os outros membros acompanharem seu parecer (ou pelo menos estudar os documentos). Qual o sentido de "pedir vista"? Confesso que não entendo. Isto deveria ser proibido ou coibido em qualquer entidade do setor público que estivesse julgando algo. 

É possível a convivência entre ESG e Valor?

Robert Armstrong escreve sobre os limites dos investimentos ambientas, sociais e de governança (ESG). Há uma crítica bem fundamentada nos argumentos. Alguns trechos a seguir (O Apelo Dúbio do Investimento ESG, 25 de agosto de 2020, Financial Times e Valor Econômico)

Portanto os apoiadores do ESG têm razão de que as empresas não podem sempre maximizar os lucros de longo prazo por pretender fazer isso. Elas têm de ter como meta fornecer produtos excelentes, o que cria lucro como efeito colateral. Em muitos casos, a excelência gera bons resultados para as partes interessadas também, que vão desde investimentos nos funcionários até baixas emissões de carbono. Mas isso não significa que os retornos dos acionistas e o bem social sempre possam se alinhar. E existe um caminho importante no qual esses dois fatores têm de se separar.

Este é um primeiro ponto. Nem sempre ESG significa valor (ou retorno dos acionistas). 

Parte da justificativa para o investimento em ESG é que desinvestir de determinados setores produtivos (combustíveis fósseis ou tabaco, digamos) cria pressão econômica em favor da mudança, mesmo efeito passível de ser produzido pelo boicote aos produtos de uma empresa. O desinvestimento aumenta o custo do capital para uma empresa: quando há um número inferior de investidores dispostos a comprar suas ações ou bônus, ela tem de vender esses papéis por valor menor. Isso encarece sua possibilidade de investir em projetos socialmente destrutivos.

Isto funciona se o volume de investimento ESG for suficiente significativo para alterar este padrão. Esta é uma informação que realmente não temos (uma vez que alguns investimentos ESG não podem ser considerados como tal). Em outras palavras, o argumento funciona se a oferta e demanda puder ser alterada. 

Qual é o corolário inevitável? O custo do capital para as empresas amigáveis ao ESG cai, na medida em os dólares são canalizados para elas. Suas ações e bônus ficam mais caros. Mantidas inalteradas as demais variáveis, isso tem de significar retornos mais baixos para os investidores em ESG. Se os retornos não tiverem diminuído, é sinal de que as opções dos investidores em ESG não afetaram os incentivos corporativos em absolutamente nada.

Ou seja, pense pelo lado do investidor. Ele realmente deseja trocar investimento tradicional por outro, classificado em ESG, com rentabilidade menor? 

Pelo fato de as coisas serem assim, muitos defensores do ESG assumem posição diferente. Argumentam que a questão não é mudar os incentivos corporativos, e sim investir em empresas que vão prosperar financeiramente exatamente por levarem o ESG a sério. Pode ser que um futuro distante e ideal nos separe desse objetivo. Mas mesmo os melhores dirigentes corporativos não podem agir tendo em mente o fim dos dias. Eles fazem escolhas sobre o que podem antever com certo grau de confiança.

Mas a economia é baseada em incentivos. 

Nessa amplitude, é evidente que os interesses dos acionistas e das partes interessadas podem conflitar. Se não conflitassem, haveria muito menos demissões anunciadas e muito menos poços de petróleo prospectados. Se o capitalismo dos “stakeholders” significa alguma coisa, é que os dirigentes corporativos têm às vezes que fazer escolhas que beneficiem as partes interessadas à custa dos acionistas.

Se os dirigentes corporativos silenciam, é porque sabem qual será sua escolha quando surgirem conflitos desse gênero. Eles recebem em ações, e, se os incentivos monetários não forem suficientes, há incentivos jurídicos. A maioria das empresas americanas são formalmente constituídas como corporação em Estados em que a lei exige que elas coloquem os acionistas em primeiro lugar. Promessas de virtude não mudam isso. Como destacam Aneesh Raghunandan e Shivaram Rajgopal, da Faculdade de Negócios de Columbia, os signatários corporativos da carta da Business Roundtable têm históricos em ESG piores do que seus pares setoriais.

Esta última frase é importante. Se for verdade, o ESG tornou-se um instrumento de marketing. 

Será que a resposta é, então, uma mudança completa dos pacotes de remuneração dos executivos e, de resto, da legislação corporativa? Não. Reescrever as regras internas do capitalismo corporativo poria em risco um sistema que nos atendeu bem em seu escopo: criar riqueza. Ao mesmo tempo, será que queremos que um maior quinhão do poder e responsabilidade para resolver nossos problemas mais prementes, desde a desigualdade até a mudança climática seja depositado à força nas mãos das corporações, que continuarão sendo comandadas e controladas pelos mais ricos dentre nós? Mais uma vez, não.

O capitalismo dos acionistas é uma excelente maneira de gerir nossa economia corporativa e deveríamos permanecer fiéis a ele. Temos, além disso, um conjunto muito bom, ainda que atualmente negligenciado, de ferramentas para garantir que todos participem dos frutos do progresso econômico.

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Terceirização do trabalho

Tenho pensado bastante em “Bob”. Ele foi um desenvolvedor de softwares americano que trabalhava de casa para uma grande companhia. Em 2013, veio à tona que ele estava terceirizando o próprio trabalho para a China. Ele mandava uma boa parte do seu salário para uma consultoria chinesa, que fazia o seu trabalho para que ele pudesse surfar no Reddit, negociar no eBay, atualizar seu Facebook e assistir vídeos de gatos, segundo postagem de Andrew Valentine no blog da Verizon, que investigou o caso.

A solução esperta de Bob para o equilíbrio entre trabalho e vida particular está em minha mente por causa da sugestão perturbadora de que se você trabalha à distância, seu patrão eventualmente poderá perceber que você pode ser substituído por outra pessoa do outro lado do mundo que fará seu trabalho por um preço menor.

Se o seu trabalho é de qualquer lugar, qualquer um pode fazer? - Andrew Hill - Financial Times

Na minha experiência profissional já vi casos de terceirização de aula por parte de professor. Ou seja, um professor contratava um conhecido para ministrar aula no seu lugar. Nos tempos do Covid isto não ficaria mais comum? 

Agora imagine este problema para um auditor. Como terá certeza que a pessoa que está trabalhando na empresa é Bob ou um chinês? 

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Mercado financeiro x economia real

 Resumo:


We analyze optimal monetary policy when asset prices influence aggregate demand with a lag (as is well documented). In this context, as long as the central bank's main objective is to minimize the output gap, the central bank optimally induces asset price overshooting in response to the emergence of a negative output gap. In fact, even if there is no output gap in the present but the central bank anticipates a weak recovery dragged down by insufficient demand, the optimal policy is to preemptively support asset prices today. This support is stronger if the acute phase of the recession is expected to be short lived. These dynamic aspects of optimal policy give rise to potentially large temporary gaps between the performance of financial markets and the real economy. One vivid example of this situation is the wide disconnect between the main stock market indices and the state of the real economy in the U.S. following the Fed's powerful response to the Covid-19 shock.


Fonte: Monetary Policy and Asset Price Overshooting: A Rationale for the Wall/Main Street DisconnectRicardo J. Caballero and Alp Simsek. 2020