Robert Armstrong escreve sobre os limites dos investimentos ambientas, sociais e de governança (ESG). Há uma crítica bem fundamentada nos argumentos. Alguns trechos a seguir (O Apelo Dúbio do Investimento ESG, 25 de agosto de 2020, Financial Times e Valor Econômico)
Portanto os apoiadores do ESG têm razão de que as empresas não podem sempre maximizar os lucros de longo prazo por pretender fazer isso. Elas têm de ter como meta fornecer produtos excelentes, o que cria lucro como efeito colateral. Em muitos casos, a excelência gera bons resultados para as partes interessadas também, que vão desde investimentos nos funcionários até baixas emissões de carbono. Mas isso não significa que os retornos dos acionistas e o bem social sempre possam se alinhar. E existe um caminho importante no qual esses dois fatores têm de se separar.
Este é um primeiro ponto. Nem sempre ESG significa valor (ou retorno dos acionistas).
Parte da justificativa para o investimento em ESG é que desinvestir de determinados setores produtivos (combustíveis fósseis ou tabaco, digamos) cria pressão econômica em favor da mudança, mesmo efeito passível de ser produzido pelo boicote aos produtos de uma empresa. O desinvestimento aumenta o custo do capital para uma empresa: quando há um número inferior de investidores dispostos a comprar suas ações ou bônus, ela tem de vender esses papéis por valor menor. Isso encarece sua possibilidade de investir em projetos socialmente destrutivos.
Isto funciona se o volume de investimento ESG for suficiente significativo para alterar este padrão. Esta é uma informação que realmente não temos (uma vez que alguns investimentos ESG não podem ser considerados como tal). Em outras palavras, o argumento funciona se a oferta e demanda puder ser alterada.
Qual é o corolário inevitável? O custo do capital para as empresas amigáveis ao ESG cai, na medida em os dólares são canalizados para elas. Suas ações e bônus ficam mais caros. Mantidas inalteradas as demais variáveis, isso tem de significar retornos mais baixos para os investidores em ESG. Se os retornos não tiverem diminuído, é sinal de que as opções dos investidores em ESG não afetaram os incentivos corporativos em absolutamente nada.
Ou seja, pense pelo lado do investidor. Ele realmente deseja trocar investimento tradicional por outro, classificado em ESG, com rentabilidade menor?
Pelo fato de as coisas serem assim, muitos defensores do ESG assumem posição diferente. Argumentam que a questão não é mudar os incentivos corporativos, e sim investir em empresas que vão prosperar financeiramente exatamente por levarem o ESG a sério. Pode ser que um futuro distante e ideal nos separe desse objetivo. Mas mesmo os melhores dirigentes corporativos não podem agir tendo em mente o fim dos dias. Eles fazem escolhas sobre o que podem antever com certo grau de confiança.
Mas a economia é baseada em incentivos.
Nessa amplitude, é evidente que os interesses dos acionistas e das partes interessadas podem conflitar. Se não conflitassem, haveria muito menos demissões anunciadas e muito menos poços de petróleo prospectados. Se o capitalismo dos “stakeholders” significa alguma coisa, é que os dirigentes corporativos têm às vezes que fazer escolhas que beneficiem as partes interessadas à custa dos acionistas.
Se os dirigentes corporativos silenciam, é porque sabem qual será sua escolha quando surgirem conflitos desse gênero. Eles recebem em ações, e, se os incentivos monetários não forem suficientes, há incentivos jurídicos. A maioria das empresas americanas são formalmente constituídas como corporação em Estados em que a lei exige que elas coloquem os acionistas em primeiro lugar. Promessas de virtude não mudam isso. Como destacam Aneesh Raghunandan e Shivaram Rajgopal, da Faculdade de Negócios de Columbia, os signatários corporativos da carta da Business Roundtable têm históricos em ESG piores do que seus pares setoriais.
Esta última frase é importante. Se for verdade, o ESG tornou-se um instrumento de marketing.
Será que a resposta é, então, uma mudança completa dos pacotes de remuneração dos executivos e, de resto, da legislação corporativa? Não. Reescrever as regras internas do capitalismo corporativo poria em risco um sistema que nos atendeu bem em seu escopo: criar riqueza. Ao mesmo tempo, será que queremos que um maior quinhão do poder e responsabilidade para resolver nossos problemas mais prementes, desde a desigualdade até a mudança climática seja depositado à força nas mãos das corporações, que continuarão sendo comandadas e controladas pelos mais ricos dentre nós? Mais uma vez, não.
O capitalismo dos acionistas é uma excelente maneira de gerir nossa economia corporativa e deveríamos permanecer fiéis a ele. Temos, além disso, um conjunto muito bom, ainda que atualmente negligenciado, de ferramentas para garantir que todos participem dos frutos do progresso econômico.
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