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10 agosto 2020

Escravos e a contabilidade

Em uma entrevista com a historiadora Caitlin Rosenthal, a discussão sobre o tratamento do ser humano como mercadoria. Eis um trecho: 

(...) o artigo explora quatro estudos de caso sobre como as pessoas escravizadas eram precificadas e avaliadas. Os três primeiros mostram o processo de comoditização, revelando como os proprietários de escravos viam os escravos não como indivíduos, mas como unidades fungíveis de capital e trabalho. Isto incluía (1) inventários de pessoas escravizadas, (2) listas de preços que classificavam os escravos em categorias comercializáveis e (3) um sistema que classificava as pessoas escravizadas como ¼, ½, ¾ ou inteiras (...) o que permitia aos proprietários de escravos fazer comparações entre diversos grupos de pessoas. A seção (4) do artigo explora a auto compra, examinando como funcionava a precificação quando as próprias pessoas escravizadas participavam de mercados para comprar sua liberdade. Este último gênero de negociação mostra que os proprietários transformaram seu poder sobre os escravos em poder de monopólio, usando-o para extrair preços acima do mercado daqueles que buscavam comprar sua liberdade.

É importante destacar que Rosenthal escreveu um livro com o título Accounting for Slavery: Masters and Management

Ainda sobre o mesmo assunto, a Slate publicou um texto onde analisou a estreita ligação do trono inglês com a escravidão. O texto mostra como os reis britânicos lucraram, na história, com o comércio de escravos. No final:

Nos últimos dias, o duque e a duquesa de Sussex [príncipe Harry e a atriz negra Meghan Markle] argumentaram que, à luz do movimento Black Lives Matter, é hora de a Grã-Bretanha lidar com seu passado “desconfortável”. Mas a monarquia britânica continua se recusando a reconhecer seus laços históricos com o comércio de escravos e a opressão racial.

Novos membros do Comitê de Interpretação da IFRS

Entre os nomeados, a brasileira Renata Bandeira para o IFRS Interpretations Committee: 

Renata Bandeira is the Accounting and Tax Director at GOL Linhas Aéreas Inteligentes in Brazil. She has more than 20 years of experience in accounting, including more than a decade of service as an auditor at Deloitte. She has advised numerous companies on the adoption of IFRS Standards.

Foto: aqui

Futebol, visitante e desempenho

A questão do desempenho é importante para contabilidade, especialmente para contabilidade gerencial. A pesquisa interessa em tentar entender como o desempenho é influenciado por variáveis como dinheiro, recompensa não monetária, pressões externas etc. Em muitos casos, não temos condições de fazer uma verificação adequada em uma empresa. Mas o que acontece em outras atividades coletivas, praticadas em grupos, pode ajudar a entender algumas das questões relacionadas com o desempenho. 

Este é o caso do esporte. Com a pandemia, algumas partidas de futebol (e de outros esportes) estão sendo disputadas em estádios sem torcidas. O fator campo pode ser estudado através desta situação prática. Pesquisa anterior mostrou que o fator campo proporcionava uma vantagem para o dono da casa. A razão disto nunca foi claramente esclarecida. 

E, no entanto, a fonte dessa vantagem nunca foi realmente identificada. Os analistas atribuíram isso a uma variedade de fatores. Alguns dizem que a equipe visitante sofre por causa do cansaço das viagens. Outros acham que é porque o time da casa tem certa familiaridade com o campo - a superfície de jogo no futebol ou as dimensões do parque no beisebol. Alguns afirmam que é porque os árbitros e árbitros são influenciados pela multidão e, portanto, são tendenciosos a favor do time da casa, ou que os sons do estádio e a zombaria da multidão podem entrar na cabeça dos jogadores adversários. 

Os pesquisadores da psicologia também ficaram intrigados com a causa da vantagem do campo doméstico. 

O psicólogo Robert Zajonc propôs uma teoria chamada facilitação social, em que a "excitação" de um artista aumenta na presença de outras pessoas. Nesse contexto, excitação significa que você se preocupa mais com o que está fazendo quando está sendo observado. Para os atletas, significa que eles ficarão mais motivados quando houver multidão. E se a torcida apoiar, isso pode “facilitar” um melhor desempenho do atleta. Mas, desde então, outros relataram que os efeitos da facilitação social nos estudos dos esportes tendem a ser fracos. E há quem acredite que a multidão nada tem a ver com o desempenho.

Fonte: The Conversation. Imagem aqui

Rir é o melhor remédio

 

09 agosto 2020

Contabilidade de empresas chinesas

O governo Donald Trump emitiu ontem suas recomendações para impedir que as companhias chinesas que não se enquadrarem nas normas contábeis dos EUA sejam listadas nas bolsas americanas. (...) 

As medidas forçarão a remoção das bolsas americanas das ações das companhias chinesas auditadas por firmas cujos trabalhos não podem ser analisados pelo Conselho de Supervisão de Assuntos Contábeis das Companhias Abertas dos EUA (PCAOB), por causa das restrições do governo chinês. 

Há anos o PCAOB não consegue analisar as auditorias das companhias chinesas que possuem ações listadas em bolsas americanas. Pequim proíbe a autoridade reguladora americana de inspecionar as firmas de auditoria no país e também o compartilhamento de documentos de auditorias internos. (...)

Fonte: aqui. (Cartoon: aqui)

Há anos esta reclamação - sobre a qualidade das demonstrações contábeis das empresas Chinesas - existe. O caso da Luckin (aqui e aqui) mostrou a dimensão do problema. Existe uma possível solução:

As recomendações do governo Trump preveem uma alternativa às chinesas, a contratação de um auditor adjunto fora da China, possivelmente uma instituição baseada nos EUA e de dentro do mesmo grupo auditor, possibilitando assim ao PCAOB outros meios para analisar as auditorias. A proposta recomenda a retirada das ações de empresas que não se enquadrarem na exigência até 1º de janeiro de 2022, e a proibição de novas listagens sem o cumprimento dessa regra, o que passaria a valer imediatamente.

Donald Trump e a declaração do Imposto de Renda

Há tempos é uma tradição na política dos EUA o presidente abrir seu imposto de renda. Isto demonstra transparência na vida financeira do político mais importante daquele país. Mas esta tradição foi quebrada com o atual presidente, que recusou a entregar suas informações financeiras. Isto provoca uma curiosidade natural. Provavelmente Trump está querendo esconder algo. Uma notícia recente sobre este assunto:

O gabinete de Vance intimou a empresa de contabilidade de Trump, Mazars USA, em agosto de 2019, solicitando as declarações de impostos como parte de sua investigação, que até agora se acreditava estar focada em pagamentos ocultos feitos durante a campanha de 2016 para comprar o silêncio de duas mulheres que disseram ter tido relações com Trump, incluindo a atriz pornô Stormy Daniels. 

Cohen organizou os pagamentos para Daniels e a outra mulher, a modelo Karen McDougal. O escritório de Vance está investigando se alguma lei eleitoral do Estado de Nova York foi violada quando esses pagamentos foram feitos.

Há também uma desconfiança que Trump superestimou seu patrimônio. 

Vivendo sem os Gigantes da Internet

Depoimento interessante sobre como seria a vida sem Amazon, Facebook, Google, Apple e Microsoft. Eis um trecho:

Em seguida bloqueei Amazon, Facebook, Google, Apple e Microsoft, uma por uma - e então todas de uma vez - ao longo de seis semanas. De longe, Amazon e Google foram as empresas mais difíceis de evitar. 

Para eliminar a Amazon da minha vida, tive que perder o acesso a qualquer site hospedado pela Amazon Web Services, maior provedora de espaço na nuvem da internet. Muitos aplicativos e boa parte da internet usam os servidores da Amazon para hospedar seu conteúdo digital, e uma grande fatia do mundo digital se tornou inacessível quando me despedi da Amazon, incluindo a Netflix, concorrente do Amazon Prime Video.

A Amazon também foi difícil de evitar no mundo real. Quando usei o eBay para encomendar um suporte de celular para o carro, o produto chegou em uma embalagem da Amazon, porque o vendedor usou a opção “Enviado pela Amazon", pagando à empresa pelo armazenamento e envio do seu produto. Quando bloqueei o Google, a internet inteira ficou lenta para mim, pois quase todos os sites que eu visitava usavam o Google para o fornecimento de suas fontes, anúncios, rastreamento de usuários e identificação de humanos ou bots. Ao bloquear o Google, perdi acesso ao serviço de armazenamento de dados Dropbox porque o site pensou que eu não era uma pessoa de verdade. Uber e Lyft pararam de funcionar para mim porque ambos dependem do Google Maps para sua navegação. Descobri que, na prática, o Google Maps exerce um monopólio no segmento dos mapas on-line. Até a Yelp, que há muito critica o Google, usa os mapas da empresa para dizer aos usuários de computador onde se localizam os negócios. (...)

Com frequência, diz-se aos críticos das grandes empresas de tecnologia que “se não gostam das empresas, não usem seus produtos". Depois de realizar esse experimento, posso concluir que é impossível fazer isso. Não se trata apenas dos produtos e serviços que recebem diretamente as marcas dessas gigantes, mas também do fato dessas empresas serem donas de uma série de produtos e serviços mais obscuros dos quais é difícil desvencilhar, as ferramentas das quais dependemos para tudo que fazemos, seja no trabalho ou para chegar do ponto A ao ponto B.

Fonte: 

Tentei viver sem as gigantes da tecnologia, e foi impossível. Kashmir Hill, The New York Times 03 de agosto de 2020 | 10h00. Imagem: aqui